Olhei minha mala de roupas, cadernos e livros que poderia vir a precisar jogada no canto do quarto.
Eu ficaria uns dois dias na casa do Logan e outros dois na casa do Matt, um na casa da minha amiga linda da aula do Circo, a Cassadee.
Tipo, de boa, eu não estou mesmo afim de ver a cara da Ana Beatriz, do meu vizinho fiodeumacaveiramanca, muito menos o melhor amigo do meu irmão de intercambio.  
O que me faz chegar a conclusão de que essa casa me odeia.
Olhei no relógio, faziam exatamente 103 horas e alguns minutos que eu a Ana Beatriz havíamos brigado, e eu não aguentava nem os ensaios da peça, onde ela mandava em mim all the time.
Recolhi meus CD's por cima  da cama, todos separados para a estadia na casa do Logan e do Matt.
Quer dizer, quem disse para ela que eu trocaria o Christian pelo Seth? Ou pelo Matt?
Seth quebrou meu coração quando tudo que eu não precisava era um coração partido, Matt era meu melhor amigo, ate onde eu sabia, eu não queria ter um caso com ele.
Coloquei a mochila no ombro, ela pesava, mas eu ignorei o peso e escrevi o bilhete para colocar na porta "Caros quase familiares, estou na casa do Logan/Matthew/Cassie, qualquer coisa, meu celular esta ligado, se eu não atender, eu não morri, só quero ficar quieta.
P.S: Ana tem o quarto de volta para você, aproveite.", colei na porta e sai pra escola.
A escola foi o mesmo tédio, então, finalmente, depois de muito esperar, chegou o horário do intervalo.
Eu dividia meus dias de intervalo entre o Logan e o Matt sentados na mesa no fundo do refeitório, fazendo guerras de comida particulares, discutindo filmes e falando de livros, e a mesa dos Nerds - popularmente falando, já que o certo seria Geek -  junto do Matt, quando Logan queria ficar sozinho, onde eu acabava de constar que geeks eram sim as melhores pessoas do mundo.
A Ana?
Bem, eu via ela durante o intervalo andando feliz pelos corredores com o Justin - não sei o que ele ainda estava fazendo aqui -, o Chris, o Chaz e o Ryan - os últimos ainda falavam comigo, só que menos.
Chris havia saído da peça, deixando Seth como Romeu.
Foda-se, pensei, passando minha batata frita no milk-shake do Logan e mordendo.
Matt estava na biblioteca, adiantando um trabalho de química que eu e Logan - ele amava química, por um motivo mais do que óbvio -  faríamos mais tarde.
Ele queria passar a tarde zerando Zelda pela décima quinta vez no mês, esse Matthew viciado em tecnologia.
Logan cutucou meu braço e eu virei para ele, no momento em que ele colocou um pouco de milk-shake no meu nariz e sorriu.
- Agora ta bonita. - Ele falou, em um tom vitorioso.
- To mesmo? - Eu ri, comendo mais uma batatinha.
- Agora seduz ate o professor substituto de artes, que é gay por sinal.
- AI SIM! - Gritei rindo, e ele riu da minha cara. - Mas eu vou ficar com o nariz grudento Logan. - Fiz um bico de choro, e ele riu.
- Relaxa, você lava depois. - Ele piscou para mim.
- VOCÊ NÃO ENTENDE? ELE VAI FICAR FOREVERMENTE GRUDENTO! - Eu fiz drama e ele riu mais, me dando um pedaço de pano para mim limpar o sorvete.
Só um perfeito cavalheiro britânico carrega um paninho para limpar toda a sujeira que qualquer um por perto possa fazer.
Ele ficou batucando no tampo da mesa enquanto eu acabava de me alimentar, pensando em um milhão de coisas ao mesmo tempo, e a principal era: Por que infernos Seth estava andando em minha direção?
- Quer que eu saia? - Logan perguntou, vendo que eu já havia localizado meu carma 1 andando para cá, enquanto o carma 2 olhava esperando o que iria acontecer.
- Não, pode ficar ai, é melhor mesmo. - Respondi, passando a mão no cabelo, com um pouco de medo ajeitei o casaco do Logan mais rente ao corpo, sentindo o calafrio.
- Hey. - Ele falou, sentando na mesa, como se Logan ao menos existisse.
- Hey. - Falei de volta, comendo mais batatas no estilo: eu vou engasgar com tantas batatas em meu canal digestivo que eu não lembro o nome.
- Então eu queria que você me ouvisse dessa vez. - Ele falou, me olhando nos olhos, e eu bufei, negando.
- Não me enche o saco? Por favor ok, você já “quebrou meu coração” uma vez, tentar consertar suas merdas agora só vão fazer pior.
- Se você nunca me deixar falar, eu nunca vou poder concertar minha babaquisse.
Foi ai que notei: Eu não queria desculpas, porque eu apenas estava magoada e iria passar.
- Não Seth, é tarde demais para concertar qualquer merda que fez a meses atrás. Eu não quero que concerte nada, porque meu coração ficou intacto, na verdade, foi meu ego ferido, minha dignidade destruída e minha consciência magoada que ficaram fazendo parecer que meu coração fora quebrado.
Respirei fundo, umedecendo os lábios e continuando: - Eu gostaria de nunca mais ouvir sua voz, ou ver seu rosto, mas moramos na mesma cidade até o final de julho, e então, eu posso viver sem você em minha vida.
Ele olhou para os próprios tênis, visto que eu usava botas fodonas, e pensou um pouco antes de olhar nos meus olhos, com um sorriso sincero nos lábios.
- Amigos pelo menos? Teremos que ser parceiros pelo menos pela peça e... - Eu assenti, e se instalou um silêncio desconfortável.
Ele foi embora, já que não tinha mais nada aqui.
Agora o Carma 2 - ou Christian, como queira - me olhava indignado e eu sentia uma vontade louca de mandar o dedo do meio para ele.
Ana começou a me olhar feio também, comecei a sentir que o refeitório era pequeno e estava ficando cada vez menor.
Sentar o mais longe possível da mesa deles não parecia fazer diferença.
- Só para mim que o refeitório parece menor do que qualquer dia antes? - Falei olhando para o Logan, que riu pelo nariz.
- Eu sei exatamente como é isso, por isso passo os intervalos no jardim e... - Ele foi interrompido pelo barulho do celular dele, olhou o visor rapidamente lendo uma mensagem. - Quer faltar seus últimos períodos indo para a casa do Hugo, tocar violão, falar merda e beber?
Logan sempre foi genial, mas o jeito como ele adivinhava o que eu e todo mundo precisava - desde um abraço ate uma boa bronca - ainda me assustava.
- Por favor. - Ele digitou uma mensagem e eu acabei de tomar o milk-shake dele, que basicamente se tornará meu.
Em alguns minutos que discutíamos sobre o livro de Romance da Segunda Guerra que Logan estava lendo na aula de literatura - eu por acaso tinha roubado o de Ryan para ler e já tinha acabado - ouvimos o refeitório inteiro se calar e levantamos nossos rostos para procurar o motivo do silencio.
Hugo - que agora estava ruivo, me lembrando um pouco Bill Weasley - entrava no refeitório portando bons fones de ouvido e balançando a cabeça no ritmo de seja lá o que tocava, enquanto buscava por mim e Logan.
Eu não tinha ideia de que ele apareceria aqui e ri pelo nariz, quando Logan levantava a mão e acenava brevemente.
-  Tá que eu sabia que vocês não mudariam, mas porra, me olhar sempre do mesmo jeito, cansa. - Ele falou para todos enquanto andava com aquele sorriso torto perfeito no rosto.
Olhei em volta, vendo Ana Beatriz praticamente babando enquanto gritava “DEAR LORD FUCK ME NOW” e colocava as mãos sobre a boca, como se não quisesse ter feito isso.
Quer dizer, ela fazia isso no Brasil, quando alguma parte significante da população não entendia o que ela falava.
- Talvez depois. - Ele falou, gargalhando.  
Me levantei quando ele estava perto da mesa e abracei ele, como velhos amigos faziam.
De certa forma era isso que parecia, já que, quando eu estava com Logan e Matt sumia, nós íamos para o estúdio de tatuagem dele.
Eu sabia que ele havia largado a escola ao 16 - um ano antes Logan havia entrado no high school, conhecido ele e o tento como melhor amigo até hoje, apesar de não admitir isso - porque odiava todos naquele lugar.
Me pergunto se ele já tinha todas essas tatuagens, segundo Logan, ele tinha os dois braços fechados em tatuagens já.
- Umpaa loompa *-*! - Ele falou, me abraçando.
Me chamava de umpaa loompa desde que eu falei que queria pintar o cabelo de verde um dia.
- Barney *-*! - Respondi o abraço, minha vingança era chamá-lo de Barney, porque ele jurou que ia pintar as madeixas de roxo ou vinho, quando eu pintasse de verde.
As pessoas ainda estava quietas a nossa volta, e o Logan murmurou o “hey” de sempre.
PORRA, ESSAS PESSOAS NÃO TEM MAIS O QUE FAZER? U_U
- Deu, eu sei que é emocionante rever o Hugo, mas por favor, cuidem da vida de vocês. - Falei para todos, não soltando da cintura do Hugo, porque né, para que isso?
As pessoas aos poucos voltavam seu interesse ao seu circulo de amigos, provavelmente fofocando sobre ele.  
Logan e ele discutiam sobre tudo o que precisariam comprar para o dia de hoje, enquanto eu só fazia comentários.
Chris não tirava os olhos da nossa mesa e eu sentia uma vontade insana de chorar até dormir.
Algo dentro de mim ainda batia por ele e esse algo me falava que eu havia errado, apesar de que, para grande parte de mim, o que eu fiz foi quase completamente certo.
Talvez só a parte de Seth eu houvesse errado, talvez eu fosse mesmo uma idiota, desgraçada e filha da puta.
Olhei de volta para ele, vendo como ele parecia certo de algo, magoado e com raiva.
As lágrimas quiseram vir, mas a alguns anos eu havia aprendido a segurar o choro, antes que eu começasse a chorar no meio de todo mundo.
Hugo ria de alguma piada interna dos dois enquanto Logan sorria de um jeito divertido.
A amizade dos dois era de sua própria e estranha forma perfeita, quase nunca via os dois brigando - nem como eu costumava fazer com a Ana, discução de meia hora, lágrimas, e depois piadinhas como o “Alcione o botão” -, e eles “dividiam” um apartamento, apesar de Logan ficar muito pouco tempo lá, já que costumava fazer companhia para a mãe nos dias de semana - ela trabalhava nos finais de semana, por isso ele ficava com Hugo, ou com a gente.
Hugo era alcoólatra praticamente, tinha aqueles cantis de bebida que andavam no bolso de trás da calça justa, enquanto no outro, trazia um maço de cigarro.
Logan se poderia não seria tão diferente, agora, pelo menos, já poderia portar seu próprio maço de cigarro, o cantil ainda era inviável.
- GRAY, QUANTAS VEZES JÁ DISSE QUE NÃO PODERÁ ENTRAR NESSA ESCOLA COM AS COISAS QUE POSSUI NOS BOLSO DE TRÁS! - Ouvi a voz do diretor, e Hugo bufou virando para ele.
- Vejo que esta exatamente igual, mas eu não estudo mais aqui, então, suas regras não valem para mim. - Ele fez um cafuné no Diretor que era mais baixo.
- O que me lembra que, se você não estuda mais aqui, pode se retirar. - Ele falou com um certo tom de felicidade.
Hugo se virou para nos e falou: - Lugar de sempre.
Obviamente eu não entendi, mas Logan entendeu e acenou.
Hugo colocou seus fones de ouvido novamente e saiu pela porta para o corredor do mesmo jeito que entrou.
O Carma 2 e o resto da mesa dele olhavam para mim e para o Logan, que juntamos nossas coisas, e fomos para o Jardim dos Fundos.
Sorri para os amigos de Matt que discutiam algo sobre planetas e continuei andando.
Logan me explicará que o lugar de sempre era uma falha no muro do jardim, onde tinha algo que era para parecer um bosque.
- Natália! - Eu não teria percebido que Chris nos seguirá se ele não tivesse chamado meu nome.
- O que você quer? - Dessa vez foi Logan que respondeu por mim, fazendo Christian rir pelo nariz e falar:
- Eu estou falando com ela, não se meta. - Soando tão estúpido que me fez revirar os olhos, olhei para Logan, e assenti como se falasse que estava logo atrás, estávamos perto da falha do muro da escola, onde iríamos ir encontrar Hugo.
Contrariado ele continuou andando.
- O que você quer? - Eu soava fria e calculista quando meus olhos queriam se debulhar em lágrimas salgadas.
- Falar com você. - Ele começou. - Sabe, eu te perdôo.
Ergui uma sobrancelha para ele, duvidando que meus ouvidos haviam escutado certo.
- É, te perdôo por ser idiota e ficar falando que vai casar com o Matthew, sabe, meu ego realmente ficou incomodado, mas no fundo ele sabe que você é minha e de mais ninguém.
A única coisa coerente que passava na minha mente era: quando ele havia se tornado um idiota sem tamanho?
Notei que ele havia bebido pouco, talvez fosse só a bebida, mas quando se fica bêbado, você fala e faz o que não tem coragem de fazer sóbrio não é?
Balancei a cabeça, rindo.
- Eu não sou sua, não sou um objeto para te pertencer, e quer saber? Eu não quero perdão, porque não fiz nada de errado, meu único erro foi com Seth na peça. - Posso estar parecendo um pouco mais dura e fria do que o habitual, mas se não fosse isso, eu iria estar morrendo lentamente pelos cantos.
Talvez eu tivesse errada, magoando o Chris por causa da peça, por causa das minhas brincadeiras sobre o Matt, mas nenhuma das duas coisas foi pra magoar ele, a primeira foi algo que eu me deixei levar, e talvez devesse pedir desculpas pelo o que aconteceu com Seth, talvez mais tarde, quem sabe.
Eu errei em deixar que Seth me beijasse, e pedir desculpas por isso era completamente o certo.
Christian não respondeu nada, apenas se aproximou e segurou meus pulsos com força, me prensando contra a árvore e beijando - ou espremendo - minha boca com a sua antes mesmo que eu pudesse dizer “me solta”.
Eu me debati mas não resolveu muita coisa, ate que Christian foi acertado por um murro.
Ofegando, olhei dando um sorriso dentro do possível para Hugo que xingava a dor nos dedos.
Pelo menos ele era mais forte do que Logan.
Ele me abraçou pelo ombro e saímos andando, enquanto Chris se perguntava o que o tinha atingido.
Nunca entendo porque ninguém vê essa maldita falha no muro, talvez fossem os grandes arbustos.
- Eu disse que era melhor eu ter ficado lá. - Logan resmungou, quando começávamos a ir para o apartamento do Hugo no centro da cidade.
Paramos para comprar bebida e cigarro, certa hora Hugo sumiu para comprar alguns cigarros - isso incluía maconha, se gostaria de saber -  e só, porque Logan o proibira de comprar coisas mais fortes na minha presença.
Esse povo super protetor.
Não duvido que tenha coisas mais fortes já na casa do Hugo, porque né.
Depois de uma hora andando e comprando tudo no caminho da casa do Hugo - que não era tão longe assim - chegamos a uma rua com prédios antigos, acabamentos bem feitos, janelas com varandas pequenas, que eram protegidas por grades de ferro que pareciam esculpidas.
Ao entrar naquela rua, me senti em Londres, e todo o ódio que me habitava ficou ali, na esquina daquela rua.
Agarrei-me aos braços dos dois, como se estivesse em pleno século 80, e fomos ate o prédio de Hugo.
O apartamento ficava no terceiro ou quarto andar, as paredes eram foradas de jornal - fizera isso junto de Logan em um dia de tédio mórbido - e o quarto que era reservado para a maior idade de Logan tinha exatamente a cara dele: as paredes azuis escuras foradas por posters, um toca discos antigo só que com entrada para CD, e uma vitrola também - aquelas que tocam Vinil - ao lado de duas caixas de diversos discos para usar na vitrola, ambos em uma mesa encostada na parede que era seguida de vários posters do chão ao teto.
Uma escrivaninha coberta de papeis - alguns desenhos, outros textos e partituras de música - ao lado o violão rabiscado de sempre que estava encostado na TV antiga.
O armário também era antigo e a cama, coberta por uma colcha de patwork, parecia ser box.
Era o quarto mais do que perfeito para Logan.
- Se quiser ficar aqui enquanto ainda estiver brigada com a Ana, o quarto é seu. - Logan falou, enquanto deixava as nossas coisas em cima da cama e ia para o armário, abrindo e mostrando que estava vazio.
Eu queria dizer que sim, mas não conseguia me imaginar ficando ali, era o lugar do Logan, não o meu.
- Porque você não mora aqui? - Perguntei.
- As vezes eu venho e fico aqui uns 5 dias, fiz isso direto quando a Ana volto para o Justin. - Ele falava, guardando nossas coisas no armário, provavelmente ficaríamos ali durante os dias que passaria com ele. - Hugo sempre consegue me animar, desde noitadas na represa ate fumar um cigarro enquanto falávamos merda.                    
Me permiti sentar na beirada da cama, e ir ajudando a arrumar as coisas no armário enquanto ele falava.
- Apesar de toda a posse, ele é um cara legal, como obviamente já percebeu, - Ele acabou de desfazer a própria mochila e me ajudava com a minha. - mas as pessoas da época em que ele estava na escola nunca se deram o trabalho de falar com ele e notar que ele era gente boa. Ele sofria tanto quanto eu, antes de vocês chegarem.
Sorri, pensando pelo fato de que salvei Logan de um futuro incerto naquela escola.
- Pelo menos agora você terá o Matt com você. - Comentei, esperando ajudar um pouco, considerando que iríamos embora em Julho.
- Não sei. - Ele falou e continuamos nosso trabalho em silencio, ate ouvirmos a primeira faixa do CD Days and Age, do The Killers entrar pelos nossos ouvidos e Hugo aparecer na nossa porta com um cigarro e o cantil, cada um em uma mão.
O resto do dia foi relativamente bom, eu havia fumado - eu engasguei loucamente e o Logan ficou rindo de mim enquanto o Hugo me olhava compreensivo, viu? Vou te trocar Logan - , bebido, rido, quase chorado, gritado, feito drama e tudo que eu precisava para me sentir melhor.
Acabamos jogados no chão da sala vendo qualquer coisa que passava na TV, enquanto o Hugo cochilava no meu colo e eu conversava com Logan.
Depois de um momento de silencio estranho, eu perguntei como Logan se apaixonara pela Ana.
Sim, eu sei, isso é papo de gente que fumou, bebeu, e fez o caralho a quatro - sem maldade aqui, só o jeito de falar - a tarde toda.
- Eu não sei, acho que quando ela me deu uma cortada no dia em que a gente se conheceu, algo em mim já tinha mudado, quebrado e crescido.
Sorri, porque o jeito como ele descrevia era bonito.
- Como você descobriu que amava ela? - Para mim, sempre parecia óbvio que amava todos os caras com quem eu tive um platônico e enfim.
- Um dia eu só olhei para ela e percebi que a amava mais do que amava você, mais do que só amigos, - Ele falou. - eu gosto do jeito como ela me faz sentir, nas nuvens.
Sorri mais para ele, pois sabia que o jeito como ele se sentia pela Ana era assim, eu via nos olhos e sorriso dele quando estavam juntos, e mesmo depois, quando ele olhava para ela, tinha o mesmo brilho.
-Tenho medo do futuro. - Eu concordei com ele, falando que não sabia o que seria de mim de volta ao Brasil, apesar de ter saudades.
Quando o assunto “o que será do Futuro” acabou, eu me concentrei no suco de laranja batizado, mexendo o suco de um lado para o outro.
Minha mente voltou para o Chris,  pra primeira vez em que eu vi ele, pro primeiro sorriso que ele me deu e pra primeira vez que ele me reconfortou, pro nosso primeiro beijo, pro acampamento...
Todas as pequenas coisas voltaram para mim, não só do nosso estado civil “namorando”, mas pra época em que ainda éramos melhores amigos, da nossa amizade colorida boba, do modo como ele era super protetor - não só comigo, mas com a Ana também.
Adorava ter ele como amigo, adorava poder rir junto dele de novo, porque ele não podia ser mais do que meu amigo, e com isso eu não digo que meu namoro com ele foi algo errado, apenas que foi algo que não era tão certo assim, porque meus sentimentos por ele não eram tudo isso.
Nunca fui extremamente fofa e romântica com ele, como ele costumava ser comigo, eu apenas era fofa, sem juras de amor.
Uma lágrima correu meu rosto antes de que eu virasse o copo de suco.


Nos dormimos na casa do Hugo, Logan foi dormir cedo comparado a mim e ao Hugo, que ficamos conversando e bebendo ate mais tarde, nos mudamos para o quarto dele, abrindo a janela que dava para um parque - a vista era completamente linda, e eu fiquei uns cinco minutos vendo ela - não sei a que ponto nos começamos a nos pegar, apenas quando notei, já estava deitada na cama dele, com ele por cima de mim, beijando meu pescoço loucamente.
Depois de um tempo com ele me beijando ele saiu de cima de mim, mas eu o puxei de volta pela camiseta e disse: - Fica, eu quero mais.
Ele me olhou primeiramente assustado e depois deu um sorriso sacana.
-Tudo bem então - ele disse voltando com seus lábios nos meus.
Quando notei que ele não tinha grande interesse em tirar a minha blusa fiz isso eu mesma, quebrando o beijo e tirando a blusa do Star Wars que pertencia ao Matt.
Matt...
Pensei em como seria se fosse ele no lugar do Hugo agora, mas esse pensamento fugiu de mim quando os lábios dele foram em direção ao meu pescoço novamente.
Gemi, e ele começou a me dar leves mordidinhas, fazendo com que eu virasse a cabeça mais pra trás e virasse os olhos.
Seus beijos foram abaixando até que alcançaram a altura do meu seio, onde ele deu um beijo por cima do sutiã mesmo e foi em direção a barriga fazendo um caminho de beijos até perto de onde meu jeans se encontrava.
Enquanto eu tentava não me contorcer na cama de prazer ele abriu meu botão e desceu meu zíper com um sorriso no rosto.
Era boa essa sensação de que ele comandava.
Senti minhas calças sendo puxadas para baixo até que elas saíram da minha vista. E logo depois as calças dele sumiram antes que eu me desse conta.
Eu não tinha exatamente muita experiência quando o assunto era pegação e sexo. Eu e o Chris sempre fomos carinhosos depois e fofos demais um com o outro, para termos qualquer coisa a mais do que beijos e abraços. Com o Seth sempre que ele tentava avançar eu barrava.
Acho que devia aproveitar meu estado semi-sóbrio para fazer o que não tinha coragem sóbria por completo. Além do mais, era impossível não se sentir atraída por Hugo.
Seus beijos eram rápidos e quentes, e me faziam querer mais e mais. Não tinha controle sobre as minhas mãos quando comecei a puxar a barra de sua camiseta pra cima, aos poucos consegui chegar com ela até perto de seus braços.
Ele quebrou um beijo por alguns segundos para tirar a camiseta por completo e depois voltou para mim.
Ela começou a me acariciar por cima da calcinha fazendo com que eu gemesse, despreocupadamente com o fato de que Logan poderia acordar e ouvir. Nada passava pela minha mente, a não ser, eu, o Hugo e o prazer que o seu toque me dava.
- Você quer mais? - ele perguntou e eu balancei a cabeça afirmativa.
Então ele colocou a mão devagar por abaixo de minha calcinha e continuou a beijar meus lábios fazendo com que a minha mão fosse em direção a sua nuca rapidamente.
Desci minha mão até suas costas e fiquei sentindo cada centímetro dele.
Senti sendo penetrada pelo seu dedo e não pude evitar de dar um gemido um pouco alto de dor.
Hugo quebrou o beijo me olhando um pouco assustado.
- Não me diga que... - ele começou me encarando nos olhos - Natalia, você é virgem?
Pensei em mentir, mas seria impossível, ele sabia.
Apenas balancei a cabeça enquanto mordia o lábio.
- Eu não posso fazer isso - ele disse saindo da cama e colocando a calça novamente.
- Por que eu sou virgem? - Perguntei na cara dura, não fazia diferença de qualquer jeito.
- Não, porque você esta bêbada. E sua primeira vez quando esta bêbada não ia ser bonita.  - Ele falou, indo para o banheiro. - Vira para o lado e dorme, logo mais eu voltarei para cama.
Ia ser boa, resmunguei mentalmente antes de virar para o lado e ficar olhando pela janela aberta.
- Mas Hugo, quantas meninas poderiam dizer “eu tive minha primeira vez quando tava bêbada, no quarto dele, e ele fez minha primeira tatuagem”? Ia ser diferente, eu não gosto de ser normal mesmo.
Eu tagalerei, e ele só respondeu quando voltou para o quarto depois de uma ducha de quinze minutos: - Metade delas responderiam assim, menos a última parte.
Dei de ombros, antes de sentir ele me abraçando e virando para que eu ficasse com o rosto enterrado no peito dele.
Fofo e foda até depois de me chamar de virgem, isso que significa “ser o Hugo”.
Ok, talvez eu deva dormir de uma vez e ficar quieta.
Dormi depois de quinze minutos com Hugo mexendo no meu cabelo e cantando alguma coisa desconhecida.

O som do meu celular ao longe me acordo em um susto, dando de cara com um Hugo de olhos abertos me encarando.
-  Hey you, this is me. - Era o toque de chamada do Matt. - The idealist inside that holds your love on a string.
Hugo me soltou dando um sorriso fraco e levantando junto comigo.
- MATTHEW, NUNCA MAIS, NUNCA, OUVIU? ME ACORDE ASSIM! QUE PORRA É ESSA? NEM DORMIR POSSO MAIS? - Logan havia atendido e fazia o favor de berrar com Matthew as sete, ou algo como, da manhã.
Minha cabeça parecia explodir e morria de sono ainda.
Matt fez a replica dele, e quando Logan começou a responder com um palavrão, eu apareci na porta, com Hugo abraçado em mim, praticamente dormindo de novo.
- Caro Hugo, me largue ou cairá no chão. - Eu falei, e ao que parece ele resolveu cair no chão, porque eu sai correndo para roubar o celular da mão do Logan.
Hugo ficou estirado no chão, de olhos abertos, fazendo um movimento preguiçoso de joinha com uma das mãos.
- Mattzinho. - Falei, sem emoção.
- NATALIA! - Matt gritou do outro lado. - Você tem ideia de que horas são?
- Não, só sei da minha cabeça doendo loucamente aqui. - Falei me jogando na cama e bocejando.
- São sete e meia.  - Parei para perceber que não daria tempo de chegar na escola pra primeira aula.
Seria artes, melhor para mim.
- LOGAN COMEÇA A SE TROCAR. - Hugo e Logan começaram a mexer no armário e algumas roupas caíram na minha barriga - uma calça, uma blusa do Nirvana e um casaco - olhei para Hugo, fazendo um joinha. - Vou tentar chegar antes do segundo tempo, reze por mim, eu to no centro.
Matt riu do outro lado da linha.
- Eu to falando serio. - Comecei a vestir a blusa de algum jeito engraçado.
Quando eu precisava que Hugo me ajudasse ele não fazia porra nenhuma (y)
- O que você ta fazendo... ah, quer saber, foda-se, porque não ligou ontem a tarde sua chata? - Ele resmungou e eu ri.
- Ah desculpa, - Eu tava bêbada demais para lembrar que tinha que te ligar. - eu acabei esquecendo.
- ‘Tá, te vejo na escola. - Ele desligou na minha cara e eu coloquei a calça depois de jogar o celular na mochila.
Enfiei meu caderno lá, e vi que Hugo tinha colocado um Cantil, lembrei vagamente dele falar “para quando você precisar afogar suas magoas, e um chiclete, para deixar te deixar com bom hálito depois e ninguém descobrir.” e depois piscando para mim.
Ri lembrando, pegando o comprimido que Hugo colocara em cima da bancada americana da cozinha junto com um copo de água.
- Terão de conhecer o interior do meu Empala para conseguir chegar a tempo. - Hugo comentou, enquanto saiamos do quarto e íamos para a cozinha, ele vestiu uma blusa de uma banda qualquer e fugiu para o próprio quarto, buscando a calça, o cantil e o maço de cigarro.
Deu um beijo na minha testa enquanto eu comia a maça e abraçou meu ombro enquanto íamos ate o carro.
Eu fingi que nada de ontem a noite havia acontecido, talvez fosse mais fácil, apesar de lembrar de tudo, outra coisa que não era comum vindo do meu eu bêbado.
Cheguei a lembrar até que tinha de falar com Chris, e anotei isso mentalmente.