— Lydia. Lydia? Lydia. — O garoto só conseguia repetir o nome da menina inconsciente, segurando seu rosto com força. — Lydia, vamos! Não, não, não. Lydia, acorde. Vamos. Acorde.

A garota permanecia inerte, as pálpebras imóveis, o corpo flácido caído na maca. Stiles a encarava, sem acreditar, sem aceitar e intercalava o olhar para Deaton e Scott, buscando alguma solução em suas expressões, esperando o momento que alguém diria que estava tudo bem, mas os dois pareciam sem reação, olhavam para Lydia e olhavam para ele.

O humano tirou os cacos de vidro que caíram no rosto da garota, querendo acreditar que não se passava de um pesadelo, mas ele sabia que aquilo era real, pois sentia a pele quente da menina contra sua palma e em seus sonhos, ele jamais conseguiria imaginar uma dor tão surreal quanto a que ele sentia.

— Consegue me ouvir, Lydia? Lydia, abra os olhos. Vamos. — Suas palavras se tornaram um clamor, ele implorava por alguma reação, implorava que ela não tivesse morta. — Escute-me, Lydia. Mostre-me seus olhos! Lydia, precisa abrir seus olhos. Lydia?

Não houve resposta, não houve movimento.

Stiles levantou levemente a cabeça dela, erguendo da maca. Scott e Deaton desistiram simultaneamente, abaixando suas cabeças, fechando os olhos, aceitando a realidade que Stiles não acreditava.

Ele não queria acreditar, não queria aceitar, nem sequer se permitia pensar que o pior tinha acontecido. Uma lágrima escorreu de seus olhos, ele não conseguia pensar, não conseguia enxergar, o mundo parecia um borrão, suas pernas estavam fracas, a cabeça doía.

— Não. Você está bem, está tudo bem. — Falou para si mesmo, tentando se convencer e então, naquela situação, em meio a tristeza, a confusão, Stiles fez o impensado, desesperado para ver novamente os olhos verdes.

O humano aproximou o rosto do da garota lentamente, suas bocas se encontraram, se encaixaram. Ele respirava forte, lançando lufadas de ar no rosto da menina e ela, não respirava.

Suas bocas se encostaram, os lábios finos dele, foram consumidos pela boca imóvel, inerte, até que com um arquejo, os lábios de Lydia se separaram. Ela sugava o vazio, em busca de ar, seu pulmão ardia por falta de oxigênio, mas não encontrou o ar que buscava, pois com seu movimento agoniado de sucção, ela encontrou um sabor doce e conhecido.

O lábio inferior de Stiles, foi puxado involuntariamente para a boca da garota, que arregalou os olhos, assustada, surpresa. Foi obrigada a respirar pelas narinas em chamas, pois era incapaz de se mover, era incapaz de se afastar do toque sutil da boca do garoto.

Ele arregalou os olhos marejados e se afastou imediatamente, liberando mais uma lágrima que atingiu a bochecha de Lydia. Eles fixaram os olhares em silencio, ambos buscando o ar que parecia escasso.

— Você está bem? — A pergunta saiu rouca de sua boca e a menina, fraca, assentiu com a cabeça, os olhos verdes brilhando como chamas. — Você está bem. — Repetiu em uma afirmação, desviando o olhar e se deparando com os sorrisos de Deaton e Scott que assistiam tudo em silencio.

A Banshee ergueu uma mão em direção ao humano e ele, rapidamente, envolveu a mão fria e suada, juntando seus dedos, apertando, querendo ter a certeza de que ela não sumiria a qualquer instante.

— Quer tentar sentar? — Quando ele voltou a falar, a garota já conseguia sorrir minimante, concordando, mais uma vez, com um movimento mínimo da cabeça.

Stiles continuou segurando suas mãos e Scott, deu apoio as costas da menina, juntos, ergueram a coluna de Lydia, até que ela sentasse, fazendo com que diversos cacos de vidros desabassem no chão.

Ela olhou em silencio para os lados, a expressão confusa, aliviada, até notar a presença da mãe.

— Mãe?

— Querida. — A mulher foi direto até ela, a envolvendo em um abraço forte, encaixando a cabeça de Lydia em seu ombro.

Ela devolveu o abraço, mas não conseguia desviar os olhos de Stiles. Deaton e Scott, sorriam e o humano estava tão assustado, tão incrédulo, que não conseguia sorrir, só olhava com desespero para a menina, tentando se certificar que de fato, Lydia estava bem.

— Eles salvaram a minha vida, mãe. Stiles me salvou.

E então, a menina sorriu para o garoto. Ele, sem acreditar, encarou Deaton e Scott, voltou a olhar para Lydia e finalmente foi capaz de sorrir.

Conectado naquele intenso olhar, Stiles sabia que a relação dele com Lydia, nunca mais seria a mesma. Ele finalmente conseguiu, seu plano de fazê-la se apaixonar, foi concluído, tinha essa certeza só ao encarar as feições da Banshee.

— Eu não vou pagar pelas janelas. — Murmurou repentinamente, apontando para os vidros estilhaçados.

Aquela era a forma de Stiles aliviar a tensão, de fazer o peso em suas costas desaparecer e Lydia sabia disso, ela o entendia como nunca antes foi capaz de entender.

Os dois adolescentes, estavam dominados pela certeza de que aquele dia seria o marco, para finalmente, começarem algo novo, firmarem um relacionamento, mas naquele momento, não pensaram nisso, aproveitando a felicidade que pairava sobre todas as pessoas na clínica.

Ele, pela primeira vez, se sentia um herói e ela, pela primeira vez, se sentia apaixonada.