A garota da echarpe Vermelha escrita por Gaby Uchiha


Capítulo 1
Sob Flocos de Neve


Notas iniciais do capítulo

Oláááá!

BOM DIA!
Como avisado na Página do Face, começaremos o dia com uma one novinha em folha ^^
A garota da echarpe Vermelha é uma fic que eu tive muita felicidade de escrever, principalmente para afundar meu lado mais romântico e meigo, nada melhor do que esses adjetivos para presentear minha tão querida LeLeLiMa ^^

Alê, minha eterna companheira de surtos por fanfics, hoje não é seu aniversário, mas ele está muito breve. Por causa de ocupações pessoais, provavelmente não poderei entrar no Nyah para postar no dia, por isso, deixo meu presente já registrado para você! Por isso, por causa de você, essa fic não poderia ser diferente...
Para você, SasuSaku jornalistas, romântico e com a presença fofa da Sarada!
Feliz Aniversário querida!

E para todos os outros...
Divirtam-se!



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— Papa! – Gritou a pequena garotinha vindo correndo em minha direção.

Agachei-me e abri os braços para receber com um grande sorriso a garota de passos trôpegos e dificultados pela neve espessa e pesados agasalhos. Peso demais para uma pequena criança de apenas quatro anos.

— Hummm... que abraço gostoso – brinquei em seu ouvido assim que a risonha menina se jogou nos meus braços.

Afaguei os curtos cabelos negros de Sarada antes de afastá-la minimamente para observar o rostinho infantil de largo sorriso, eventuais sardas pipocavam pelo rosto alvo de narizinho vermelho pelo frio.

Beijei rapidamente a ponta de seu nariz o que a fez rir mais um pouco.

— Está com frio? – Perguntei preocupado, mexendo em todo aquele agasalho que tornava a delgada garotinha em uma pessoa mais falsamente roliça. O último item mexido foi o longo echarpe vermelho que caia como uma longa cauda atrás da garotinha.

— Papa – bufou cruzando os braços, fazendo um pequeno bico de constrangimento com seus finos e infantis lábios um pouco ressecados. – Eu estou bem. Estou mais empacotada do que encomenda frágil do FedEx!

Acabei rindo um pouco da minha menina que olhava furtivamente para seus outros amigos de creche, para ver se eles haviam visto minha superproteção para com ela.

Beijei rapidamente sua testa coberta pelo gorro cor de vinho, antes de erguê-la para levar ao nosso carro.

— Sua mama chega hoje e vamos buscá-la no aeroporto – a menina assentia com felicidade, enquanto afivelada sua cadeirinha. – Só que como o voo dela infelizmente atrasou, vamos passear, que tal?

A pequena abriu um grande sorriso.

— Podemos ir ao Central Park, papa? Quero ver os enfeites de Natal!

— Claro, minha princesa – depositei um leve beijo em sua testa antes de fechar a porta traseira de meu simples sedã negro, acomodando-me logo em seguida ao volante.

Apesar do horário calmo, a leve queda de flocos de neve deixavam as pistas mais escorregadias e o trânsito lento, mesmo assim, embalados pelo leve som da rádio local e das infantis histórias de Sarada sobre o seu dia na creche, chegamos rapidamente às redondezas do Museu Americano de História Natural, estacionando meu carro na Columbus Avenue.

Desci e logo fui acertado pelo frio nova-iorquino de final de ano, apressando-me logo para retirar minha filha que se agitava em sua cadeirinha.

— Para onde estamos indo, papa? O Central Park é para o outro lado – informou apontando para além do grande prédio do museu coberto pelo tapete de neve.

— Vamos comprar um café para você. Está muito frio e eu sei que você adora ter seu nome escrito no copinho – tirei uma risada e um assenti fervoroso da menina no meu colo enquanto entrava no Starbucks quase vazio, daquela avenida, devido ao mal tempo.

Pedimos nossos cafés prediletos – por mais que Sarada fosse apenas uma criança, não conseguimos evitar que ela aderisse ao nosso vício –, antes de sair novamente para a rua ao som das despedidas dos atendentes que logo se simpatizaram com Sarada.

Diferente de mim, Sarada era uma criança que tinha muita facilidade de expressão e de contagiar os outros. Eu agradecia todos os dias por ela ter herdado aquele traço e costume de sua mãe, sendo tão diferente do homem taciturno e até difícil em se expressar quando o uso da fala era necessário.

— Olha papa, que lindo! – Chamou a minha atenção para o grande prédio do museu, com alguns enfeites natalinos e grandes painéis que anunciavam sua atual exposição.

— Realmente é muito lindo – sorri antes de beber do meu café, enquanto carregava a pequena criança em meu braço direito. Caminhando cada vez mais para o interior do Central Park, quase totalmente deserto, com exceção de poucos exemplares de famílias, enamorados ou artistas de rua.

Minhas botas esmagavam a neve com passadas fortes, enquanto continuava a desbravar aquele longo corredor branco de árvores invernais de galhos pontudos e aparência morta, que formavam a tênue abóbada protetora acima de nós dois.

Sarada se encantava com a beleza do lugar, por mais que em minha opinião o Central Park fosse mais belo durante a primavera, minha filha e minha esposa sempre tiveram grandes olhos admiradores para a magia do Natal e do inverno que cobria a impetuosa Nova York e nos subordinava às intempéries da natureza, mostrando toda a sua soberania.

— Chegamos – anunciei assim que passamos pelos portões que identificavam a entrada do Shakespeare Garden. – Ai – gemi botando a garotinha no chão – você está ficando pesadinha, Sarada – brinquei tirando um biquinho da criança que segurava com cuidado o seu copo do Starbucks. Sorri de canto para aquela expressão antes de apontar com o queixo informando que ela poderia ir.

Logo ela trocou sua expressão para uma animada, saindo correndo em meio àquela queda incessante de flocos de neve, cortando toda aquela imensidão monocromática com o corte impetuoso e veloz de sua echarpe que tremeluzia e voava às suas costas.

Segui minha filha com passos largos e calmos, pondo minha mão esquerda em meu bolso, enquanto a direita levava até a minha boca, com intervalos longos, o líquido amargo e quente que me esquentava parcialmente daquele intenso frio.

Sarada ria e pulava tentando pegar algum floco de neve no ar, outras vezes, se agachava para pegar um pouco de neve com sua pequena mão esquerda enluvada.

Nesse ritmo caminhamos pelo longo corredor de divisórias feitas de toras de madeira, até chegarmos em uma pequena elevação de terreno, onde, na parte superior, encontrava-se alguns bancos feitos daquele mesmo material.

Sarada subiu com um pouco de dificuldades a escada de pedra devido a neve, mas com persistência, alcançou o topo e gritou um "Vem mais rápido papa!".

Assenti com um sorriso a alcançando sem muitas dificuldades.

Tirei o excesso de neve sobre um dos assentos e me sentei, prontificando-me a colocar minha pequena filha coberta de neve sobre a minha perna direita.

— Deveria beber seu café antes que esfrie, Sarada – aconselhei bebendo o resto da minha bebida.

A menina assentiu, segurando sua bebida com as duas mãozinhas antes de beber um pouco do líquido amargo com chocolate, fazendo logo em seguida uma expressão de agrado e felicidade por aquela bebida tão banal.

Não pude deixar de sorri para aquele ato tão sublime de aproveitar a simplicidade sempre com tanta intensidade e carinho, sendo feliz até mesmo com um café de um dólar e poucos centavos.

— Papa – chamou a pequena com o olhar baixo, enquanto seus dedinhos tamborilavam pelo copo em claro nervosismo.

— Sim?

— Posso fazer uma pergunta? – Indagou levantando os olhinhos negros e brilhantes, cobertos pelos óculos simples de grau, vermelho.

— Claro. Você sempre pode me perguntar o que você quiser, Sarada – estranhei aquela atitude da minha filha, enquanto ajeitava com nervosismo o meu próprio óculos.

Ela sorriu abertamente antes de perguntar com leves lufadas de ar quente saindo de sua boca:

— Você pode me contar como o senhor se apaixonou pela mama?

Aquele pedido repentino me surpreendeu, mas devido o olhar brilhante em expectativa, fez ser impossível resistir ao sorriso que brincou em meus lábios sem permissão.

Olhei em volta, vendo que estávamos sozinhos e ainda tínhamos bastante tempo até termos que ir buscar sua mãe, por isso apenas assenti para a felicidade da menina que se aconchegou ainda mais em meu colo para ouvir a história, apoiando até mesmo sua cabecinha em meu ombro, esperando pelo início da narrativa.

Abracei-a com o meu braço direito, enquanto a minha mão esquerda repousou, com o copo de café, no banco ao meu lado.

Não pude deixar de sorrir percebendo que todos os fatores que influenciaram no início de nosso relacionamento estavam ali, ao redor de mim e de nossa filha.

Parecia que não importava a distância, a presença de Sakura sempre estaria ao nosso redor.

Nosso início de romance poderia ser resumido em poucas palavras:

Café.

Natal.

Inverno.

E echarpe vermelha.

Poucos fatores, mas que nos renderam um futuro juntos e muitos anos repleto de momentos felizes e tristes, tudo o que um casal e pais de uma menina estão sujeitos a vivenciar durante os dias intensos e, às vezes, até calmos de Nova York.

Não sei muito bem como tudo começou ou quando notei que olhava diferente para a recém-formada em jornalismo, a qual era responsável pela tão indesejada e nova, coluna alimentícia, sobrando para ela abraçar aquela chance de trabalhar em um jornal mediano de uma cidade grande.

A única coisa que eu sei é que tudo começou devido à uma maldita echarpe vermelha.

Lembro-me de não ter dado muita atenção para a mulher, quatro anos mais nova, que me desejou bom dia no elevador, enquanto seu nervosismo transbordava visivelmente de suas mãos inquietas que alisavam incessantemente o envelope pardo com seus possíveis documentos para a entrevista de emprego.

Naquele dia, apenas assenti com educação, fazendo com que quase um ano depois eu me arrependesse por não ter tido coragem ou interesse de puxar algum assunto com a nervosa candidata.

No entanto, nunca saberei o porquê, mas apesar de seus chamativos traços, o que mais me chamou atenção foi a echarpe de tecido fino e vermelho que cobria o seu colo naquele final de outono nova-iorquino.

Ela conseguiu o emprego e a coluna indesejada apesar da clara expressão de que não sabia o que fazer com ela.

A moça de cabelos cor de rosa logo teve sua mesa na redação disponível para o seu trabalho, mas por infortúnio ou obra do destino, ela ficava em meu campo de visão à duas mesas de distância, fazendo com que eu a visse todos os dias sentada naquela simples mesa de raros enfeites de acordo com a estação ou feriado do ano.

Talvez fosse pelo fato de a observar todos os dias em meu campo de visão, mas meses depois, devido a uma bolinha de papel jogada em minha cabeça por Kiba com os escritos "Fecha a boca!", eu finalmente percebi que a garota da echarpe vermelha estava chamando a minha atenção mais do que o normal.

Por isso, entre intensos estudos e preparos da minha coluna sobre o mercado financeiro, tentei me afundar e fingir que eu não estava me interessando por uma moça criativa, que usou sua coluna para falar sobre como economizar e comer bem e saudavelmente em meio a loucura da vida nova-iorquina, chamando a atenção do público jovem e solteiro que começava a se tornar fã daquela jornalista desconhecida.

No entanto, eu não podia evitar me amaldiçoar por ler sua coluna semanal, logo após comprar a primeira leva daquela edição, enquanto ainda caminhava pela tumultuosa população que transitava pelas largas calçadas da Quinta Avenida, seguindo rumo ao prédio que alojava o jornal em que nós trabalhávamos, carregando sempre em minha mão esquerda um copo de café comprado de última hora.

Tudo só piorou quando, durante a tiragem dos nomes do amigo oculto do Natal, um ano depois dela ter iniciado com aquele emprego, eu, por destino ou acaso, acabei retirando o nome da moça de cabelos coloridos.

Não pude evitar as bochechas coradas ou o estranho suor frio que se alastrou pela minha nuca enquanto relia aquele pequeno papel de letra simples com o nome dela.

Amaldiçoei os seres celestes que pareciam zombar da perturbação intensa que eu começava a sentir pela garota que mal me notava e só trocava algumas poucas palavras cordiais quando nos encontrávamos pontualmente às nove na copa de nosso trabalho, para tomar o café que ela sempre preparava para nós dois na simples cafeteira.

Antigamente eu não tinha tanto costume de beber aquela bebida amarga, mas sempre às nove, os meus pés me levavam para aquela pequena copa de poucos armários para vê-la e pedir que preparasse um café para mim.

Entretanto, agora eu tinha que arrumar um presente natalino para a garota de eterno echarpe posicionado de maneiras tão diversas no decorrer dos dias.

Certa noite, depois de um intenso dia de trabalho e muitas variações da bolsa de valores, acabei vendo o momento em que a garota esperava a abertura do semáforo para pedestres, no entanto, a noite de fortes ventanias ao fim das intensas chuvas do dia, resultou desafortunadamente em sua echarpe, de corte simples e detalhes de crochê, voando para longe do pescoço de sua dona.

Sakura sempre fora uma moça de movimentos gentis e calmos, porém, ao ver sua echarpe voando para longe, seus olhos se arregalaram em assombro e suas pernas logo se movimentaram com pressa tentando alcançar o tecido que voava ao ritmo intenso dos ventos, enquanto a pobre dona olhava para o alto e pulava sobre os saltos tentando alcançar o inalcançável devido a sua pouca altura.

Antes que eu mesmo pudesse fazer algo, o fino tecido caiu em uma vala, sujando o tecido querido da dona de olhar triste para a visão, mesmo assim, Sakura pegou o objeto e sumiu da minha visão sendo camuflada pela população sempre tão apressada.

Naquela noite, enquanto dirigia, me sentia perturbado, mas tudo se desfez dos meus pensamentos quando, passando pela Times Square, vi em um manequim de uma loja feminina requintada, uma echarpe vermelha de tecido fino terminando suas pontas com elegantes trançados de crochê.

Não pensei duas vezes antes de estacionar, apenas me dei conta da minha impulsividade quando já estava dentro da loja, sendo observado com curiosidade pela atendente que me aguardava com expectativa.

Não há palavras para descrever o meu constrangimento de ser o único homem daquele lugar querendo uma echarpe de uma vitrine.

As palavras não saiam coesas pelos meus lábios e amaldiçoei-me novamente de sempre ter aquele problema de me expressar desde muito novo, limitando toda a exibição de meus pensamentos em longos e analíticos textos jornalísticos.

Eu seria capaz de escrever um longo texto sobre os significados do vermelho de uma echarpe e até a remota possibilidade de aquilo ser comparado ao fio vermelho da lenda chinesa como certa vez a moça da coluna de astrologia havia me dito, porém, eu não era capaz de pedir uma simples echarpe para presente, sem gaguejar.

Para a minha felicidade, entre meias palavras e gaguejos, a prestativa atendente supôs que eu estava querendo comprar a fina echarpe para presentear a minha namorada naquele Natal.

Aquilo só fez a fervura em meu rosto aumentar cada vez mais, no entanto, limitei-me apenas a assenti de acordo, suspirando aliviado quando sair da loja com a pequena sacola de presente com desenhos natalinos.

No dia marcado para a troca de presentes, não tínhamos costumes de nos reunir, beber e fazer brincadeiras de "advinha quem eu tirei", apenas nos limitávamos a ir na mesa do outro para entregar o presente no horário que lhe era adequado. Eu, por outro lado, senti receio de andar aqueles poucos metros e lhe estender a embalagem que eu encarava desde o dia da compra, imaginando como eu iria entregar.

Por isso, diferente dos outros, aproveitei o horário que ela ia tomar café, para preparar um pequeno bilhete com letras recortadas de jornais.

Deixei a pequena instrução sobre a sua mesa e desci até o hall movimentado do prédio comercial em busca da árvore de natal com tantas luzes que ali existia.

Coloquei o pequeno pacote ali seguindo caminho para uma área escondida, vendo o momento em que a mulher com uma expressão confusa e bilhete em mão, caminhava para a árvore e pegava o seu presente.

Desde o dia do incidente, ela usava echarpes de outras cores, mas assim que abriu o presente e viu o longo echarpe que eu havia comprado, deleitei-me com sua expressão surpresa seguida de largo sorriso, levando o tecido fino até o alcance de suas narinas para inalar o agradável odor que ela tinha.

Nesse momento, percebi que sorria de canto, mas meu sorriso se desfez quando ela olhou em volta, procurando pelo responsável. Abaixei-me e me escondi atrás do balcão de mogno para a surpresa dos recepcionistas que me olhavam confusos, entretanto, apenas sorri sem graça, saindo de lá assim que a moça já havia adentrado no elevador, para voltar ao trabalho.

Ela não colocou a echarpe naquele dia e me pegava ansioso para saber como ela ficaria com o que eu havia lhe dado e se ela usaria no dia seguinte, porém, o dia seguinte chegou com a surpresa dela não ter ido trabalhar.

Minha perna balançava impacientemente durante aquele dia que muitos dos meus olhares furtivos direcionavam para a mesa vazia de enfeites natalinos, até que Shikamaru, o jornalista da mesa ao lado, me informou em um bocejo que ela havia entrado de férias e só voltaria no início de janeiro.

A frustração foi instantânea, mas apenas assenti e foquei em meu trabalho.

Os dias passavam lentos e sem ao menos que eu me desse conta, as festas natalinas e comemorações de Ano Novo passaram rapidamente, chegando o tão aguardado janeiro, que para os outros poderia ser sinônimo de tristeza e fim de recesso, mas para mim era a possibilidade de rever a garota de estranhos cabelos rosas.

A primeira semana foi como veio, sem nenhuma notícia daquela mulher, porém, na segunda-feira seguinte, a surpresa foi instantânea quando a vi entrar no departamento, completamente ocupada com a bolsa e impossibilidade de usar uma de suas mãos devido ao café que carregava.

Mesmo assim, a única coisa que ganhou minha total atenção foi a echarpe que ela usava...

A mesma que eu havia a presenteado há poucas semanas.

Meu sorriso de canto retornou sem comando, fazendo com que eu ouvisse um bufar entediado de Shikamaru e um empurrão na nuca de Kiba.

— Você deveria falar logo com ela – reclamou o homem de estranha feição animalesca.

Assenti, dizendo para mim mesmo que aproveitaria aquele dia para finalmente falar com ela e quem sabe dizer que fora eu quem havia a presenteado.

Esperei com ansiedade a chegada das nove horas, no entanto, os traços cada vez mais nítidos de ansiedade faziam-se presentes em meu corpo a cada novo segundo que demorava para chegar.

Perdi a conta de quantas vezes verifiquei o relógio de parede nos fundos da sala, ou de quantas vezes a vi colocar uma mecha teimosa atrás da orelha, enquanto um pequeno vinco se formava entre suas sobrancelhas finas, analisando um produto enlatado à sua frente.

Depois da longa tortura e nenhuma lauda escrita no editor de texto do meu computador, as nove horas chegaram para a minha felicidade e desespero.

Sakura se levantou com sutileza de sua cadeira, caminhando calmamente pelas mesas, distribuindo leves sorrisos para as pessoas que falavam com ela, eu, por outro lado, fui um desastre na discrição.

Ao me levantar, uma pasta caiu devido ao meu esbarrão na mesa fazendo um grande barulho quando as tantas folhas se espalharam pelo chão para o meu desespero e vergonha pelos olhares confusos na minha direção.

— Tsc – praguejei baixo, inclinando-me para juntar todos aqueles papeis com velocidade e ainda ter tempo de alcançá-la na copa. Para a minha sorte, Kiba bateu com força na minha cabeça chamando a minha atenção para o seu queixo raivoso que indicava que eu deveria ir logo e que ele arrumaria tudo para mim.

Agradeci rapidamente antes de me erguer e caminhar com as mãos nos bolsos em direção ao ambiente quase não usado naquele horário.

Minhas mãos suavam quando cheguei na porta e encarei a costa da mulher que estava entretida com a máquina de café e uma música que ela cantarolava baixo, sem mover os lábios.

Inspirei profundamente antes de dar um leve toque na madeira denunciando a minha presença.

Com calma, a mulher olhou por cima do ombro e deu um largo sorriso ao reconhecer seu companheiro de cafés matinais.

— Oh, Sasuke! Bom dia!

— Bom dia – falei com um sorriso de canto.

— Deixe-me adivinhar, café sem açúcar ou qualquer outro acompanhamento – brincou piscando um olho, continuando a rir levemente.

Meu sorriso aumentou um pouco enquanto assentia, esperando encostado no balcão, que ela preparasse nossas bebidas.

Sakura voltou ao seu ofício, enquanto observava o jeito que ela se vestia.

As botas de couro e a calça escura colada, revelavam as curvas que a moça tinha naquele lugar, no entanto a longa blusa cinza de mangas e botões na frente, faziam com que ela se portasse como uma pessoa que não gostava de mostrar suas curvas para o mundo, até mesmo a echarpe cobrindo o colo alvo, mantinham a áurea de mistério em torno do corpo completamente coberto, além de dar cor ao look sóbrio.

— Aqui está o seu café, Sasuke – anunciou me entregando com cuidado uma pequena xícara da bebida recém preparada.

Ela sorria com docilidade e me esforcei ao extremo para não tremer enquanto pegava a pequena xícara de suas mãos, resultando em um toque de peles, que pareceu não a afetar, voltando prontamente para o seu próprio café, colocando cubos de açúcar em sua bebida.

A mulher sorveu um pouco da bebida antes de sorrir deliciada como se aquela fosse a melhor iguaria que havia tomado.

Sorri com aquele jeito tão estranho dela, mas que eu já estava acostumado a observar.

— Como sempre você acertou no ponto – comuniquei depois de tomar um pequeno gole.

— Obrigada – sorriu agradecida. – Sabe Sasuke, – começou apoiando o quadril no armário atrás de si – posso não saber cozinhar muito bem, mas acho que pelo menos nisso eu me saio bem – riu de si mesma.

— A garota da coluna alimentícia, não sabe cozinhar? – Ergui uma sobrancelha com divertimento. – Acho que estamos vendendo um produto de qualidade duvidosa.

— Para – gargalhou um pouco mais com a sua própria situação. – Não tenho culpa se não nasci com tais habilidades para a cozinha – fez um pequeno bico de frustração, antes de voltar a sorrir. – Só tinha aquela vaga, ou era a coluna alimentícia ou a próxima entrevista de emprego! Mas vejamos o meu lado, sei sobreviver com enlatados de maneira saudável e é sobre isso o que eu falo.

— Isso é útil de certa forma, ainda mais que Nova York é uma cidade com um grande número de jovens e solteiros que vivem sozinhos e também têm que sobreviver com esses alimentos, muitas vezes não conseguindo administrar o saudável com o prático – dei de ombros.

— Olha só – deu leve palminhas, surpresa. – Fico muito feliz em saber que há alguém que acha útil a minha coluna.

— Ela é muito boa e o senhor Hatake sempre diz que você está tendo cada vez um número maior de leitores – encolhi os ombros, elogiando-a na tentativa de não gaguejar no processo. – Mas se esse trabalho tanto a desagrada, você deveria seguir o ramo do café – comentei recebendo uma gargalhada alta e deliciosa de se ouvir vindo dela.

— Ok, vou abandonar tudo e virarei concorrente do Starbucks – piscou um olho.

— Pelo menos já tem um cliente fiel garantido em sua loja – brindei-a com um leve erguer da minha xícara vazia.

— Ótimo, se você tomar uns dez cafés por dia, acho que dá para me sustentar – ri junto com ela.

— Tentarei fazer esse esforço para o bem do seu negócio.

A mulher balançou a cabeça em negação, continuando a sorrir assim que pegou as nossas xícaras para lavar.

O silêncio foi instantâneo e a ansiedade voltou pois não sabia o que falar para chamá-la para sair.

Não tínhamos muita convivência, apenas aqueles quinze minutos diários em uma copa vazia, mesmo assim, nossas conversas eram leves e eu gostaria de levar para além daquelas quatro paredes.

— Sakura, eu... – comecei, mas fui interrompido pela entrada brusca de um ser que em nada me agradava.

— Minha flor de cerejeira, que saudade – falou Naruto, o homem que jogava charme para qualquer par de pernas à sua frente e sempre se vangloriava das mulheres que já havia levado para cama.

Nunca tive uma boa impressão do jornalista responsável pela coluna de esportes e que se deitava com a filha do empresário Yamanaka, apenas para ter mais privilégios em seu jornal, não se importando com os sentimentos da mesma, apenas com si próprio.

Havia sido Naruto que tinha me tirado no amigo oculto. Com muita má vontade, ele me presenteou com um sorriso cínico, entregando-me um envelope branco, dentro se encontrava um pacote completo de uma noite inteira com uma exemplar da Casa das Flores Dançantes, uma casa noturna da alta classe com show de strip-tease à qualquer hora e programas com as dançarinas nos quartos dos andares superiores.

A garota contratada era uma tal de Pétala do Verão e no cartão havia a foto da morena de olhos extremamente claros com lingerie e posição sexual.

Naruto disse que era sua favorita e que sabia fazer um bom oral.

Joguei fora o meu presente assim que o loiro deu as costas, aumentando ainda mais a minha antipatia pelo Don Juan da empresa.

Agora ele estava ali, tentando flertar com a sua nova vítima que ainda não havia conseguido acrescentar em sua lista de conquistas.

— Ah... oi, Naruto – falou desanimada e com claro receio, a rosada que enxugava as mãos.

— Sabe, boneca, estava pensando aqui, não nos conhecemos muito bem e bom, gostaria de saber se você não me daria a honra de me acompanhar em um jantar.

Estreitei o meu olhar ao perceber que ele estava passando na minha frente e, ainda por cima, convidando-a sem se dar ao trabalho da minha existência ali.

Sakura olhou surpresa pelo pedido repentino, desviando o olhar para mim de vez em quando enquanto gaguejava.

— Ah... é que... sabe como é... eu estou ocupada esses dias, Naruto. Quem sabe da próxima – sorriu amarelo para o loiro que sabia que aquela não era a verdade, mesmo assim, fingiu um largo sorriso antes de segurar o queixo pequeno da mulher.

— Claro, vou cobrar – brincou se aproximando dela, mas Sakura desviou o rosto o máximo que pode, mostrando que não queria nada vindo dele, mesmo assim, Naruto beijou sua orelha e sussurrou algo baixo o suficiente para eu não ouvir, mas fazer o rosto feminino corar.

Ele se afastou acenando satisfeito com o resultado, lançando o olhar esnobe e superior.

— E aí cara da bolsa de valores – bateu em meu ombro, cumprimentando-me como se eu tivesse acabado de chegar ali.

Nem me dei ao trabalho de lhe dar um falso sorriso, apenas escutei ele se afastar assobiando.

Sakura fazia uma expressão de nojo, enquanto arrumava o cabelo.

— Sei que não é cortês falar dos seus colegas de trabalho, mas... – começou a dizer – eu não suporto aquele cara.

Acabei sorrindo junto com ela.

— Bem-vinda ao clube.

— O que você ia me dizer quando foi interrompido? – Perguntou interessada, mas desisti depois de me lembrar que ia a pedir para sair, mas o loiro havia feito questão de atrapalhar minha tentativa.

— Nada não – suspirei derrotado, sabendo que aquela não era a melhor hora.

Ela assentiu confusa antes de se pronunciar:

— Bom... eu preciso ir. Há uma latinha de sardinha que eu preciso analisar enquanto ainda não tenho meu negócio de café expresso – riu levemente sendo acompanhada por mim antes de me contornar e voltar para a sua mesa.

— Droga – praguejei batendo na minha testa, por ter perdido aquela oportunidade, antes de voltar a minha rotina diária.

Para a minha sorte, o dia seguinte foi muito mais produtivo do que eu esperava de princípio.

Devido as saídas constantes que a rosada tinha que fazer por causa das empresas alimentícias, no fim do expediente, com pressa para não perder o metrô, vi que ela havia esquecido a echarpe sobre a sua mesa, já que retirara em certa altura devido ao intenso calor que fazia dentro do prédio devido aos problemas no ar condicionado, apesar do inverno em que estávamos.

Peguei o leve tecido que já aderia ao cheiro floral dela, enquanto corria para alcançá-la no térreo do prédio.

Sabia que a estação era próxima dali e praguejava para o elevador que demorava a chegar e a subir.

As portas mal se abriram para o meu andar e eu já me jogava para dentro, equilibrando-me com a pasta e echarpe carmim em minhas mãos.

A ansiedade já começava a me assolar pela demora de chegar ao hall, mas assim que as portas se abriram, parei a poucos centímetros de distância da mulher de feições preocupadas que adentrava no elevador.

— Oh, desculpe Sasuke – afastou-se de imediato, mas suas feições se suavizaram quando viu a sua echarpe em minhas mãos. Seus olhos brilharam em agradecimento. – Você pegou para mim! – Supôs. – Muito obrigada, graças a você, Sasuke, não perderei o meu metrô. – Abraçou-me com velocidade, me deixando estático, mas assim que ela puxou o tecido, não consegui soltá-lo.

— E-eu posso te dar uma carona – consegui proferir com um leve gaguejar.

— Não, não precisa. Não quero incomodar, conseguirei pegar o metrô – tentou sorrir puxando com um pouco mais de força o tecido, mas não obtendo sucesso para a sua confusão.

— Você não vai conseguir e você sabe disso – falei em um sussurro, fazendo a garota abaixar o olhar em derrota. – Vamos, eu vou te deixar em casa.

Sem dizer mais nada, contornei-a sem soltar a minha ponta da echarpe, enquanto Sakura me seguia segurando a outra ponta.

Nevava levemente, mas o frio ainda era forte como o do fim de dezembro, por isso a ofereci a minha ponta para que ela se agasalhasse da melhor forma possível.

Com um sorriso agradecido, ela enrolou o tecido com habilidade em seu pescoço e adentrou no banco do carona quando ofereci passagem para que ela entrasse.

Nunca negarei, estava nervoso por aquele momento e tudo o que eu consegui fazer enquanto estava dentro do carro foi perguntar onde ela morava e fixar meu olhar na direção.

Descobri que ela morava em uma região do centro do Brooklyn, em uma região próxima à casa dos meus pais e onde eu fui criado, por isso, por facilidade e conhecimento, dirigi sem muitas dificuldades pelas ruas de altos arranha-céus de Manhattan, cercados por diversos painéis de propaganda.

Sakura parecia entretida com todo aquele mundo que já me era tão comum desde muito novo.

Seus olhos estavam arregalados e sua boca aberta com todas aquelas luzes e neve, ainda com espírito natalino em sua decoração.

Logo estávamos atravessando o Rio East, dirigindo por pacatas ruas de construções típicas do início de outros séculos.

Os grandes prédios eram substituídos cada vez mais por construções de três andares que se colavam umas às outras em uma grande vizinhança padronizada, enquanto crianças brincavam na rua, jogando bolas de neves uns nos outros, enquanto mães chamavam seus filhos para jantar.

— É aqui onde eu moro – apontou para uma das típicas casas cor de vinho e detalhes brancos.

Assenti, estacionando em frente da construção, entre dois carros da década de 70 com uma fina película de neve acobertando-os.

Assim que saí do carro, esfregando minhas mãos pelo frio, observei melhor a construção. Em alguns pontos haviam fissuras e as janelas estavam descascadas em certas partes.

— Não é tão luxuoso como Manhattan, mas é tudo o que eu tenho por hora – sorriu tímida, se pondo ao meu lado. – Obrigada pela carona...

— Estava pensando – a interrompi antes que ela desse por finalizada a nossa conversa – eu vi uma cafeteria aqui perto e já está tarde. Tenho certeza que você não jantou assim como eu, além do dia ter sido agitado no jornal.

— Você quer me levar para lanchar no meu concorrente número um? – Perguntou divertida e só então notei que a tal cafeteria no final da rua era um Starbucks.

Entortei minha boca ajeitando meus óculos, antes de ri com ela.

— Eu te convidaria para entrar, mas não sei o que a sua namorada iria achar...

— Namorada? – Perguntei confuso.

— Sim – piscou três vezes, também confusa, tirando resquícios de neve de seus cabelos curtos e rosados.

— Eu não tenho namorada.

— Desculpe – cobriu a boca com as mãos enluvadas – eu jurava que você e a garota da coluna de moda tinham algo.

— Eu e Karin? Por quê? Eu nem falo com ela.

— Ah... é que... uma vez estava no banheiro e ela comentou com as amigas que estava saindo com você – apesar da pouca iluminação do poste, pude ver seu rosto corar – além do Naruto ter comentado certa vez que vocês tinham algo.

Minha boca se abriu surpresa por aquela revelação.

Sakura nunca me daria qualquer sinal de que eu poderia avançar pensando algo do tipo, por isso, apressei-me a explicar:

— Eu nunca tive nada com a Karin, não sei porque ela disse algo do tipo e o Naruto não é confiável.

— É... parece que sim – falou tímida olhando para as botas sujas de neve.

— Então, podemos sair sem você achar uma desculpa? – Arrisquei ser um pouco mais ousado, recebendo uma expressão surpresa da mulher, mas que logo suavizou com um sorriso.

— Posso fazer um café para nós dois e tenho uma torta de limão em casa.

— Pensei que não soubesse cozinhar...

— É do supermercado – falou envergonhada, rindo logo em seguida.

— Vou adorar tomar um café com você.

Ela assentiu permanecendo com um leve sorriso no rosto enquanto subimos os degraus de concreto cobertos de neve.

Sakura tirou um grande molho de chaves da bolsa abrindo a porta de madeira com trincos que rangiam.

Batemos as botas e retiramos o máximo de neve sobre nós dois antes de caminharmos para dentro do ambiente estreito com forte cheiro de mofo e madeira antiga.

— Moro no terceiro andar – explicou enquanto subíamos as estreitas escadas de madeira que rangiam perigosamente a cada passo dado.

Risadas altas e canções podiam serem ouvidas das portas do segundo andar, provavelmente da família que era dona daquela construção e alugara o apartamento do terceiro andar para Sakura, como era costume de algumas famílias fazerem, principalmente para turistas que passavam temporada em Nova York.

Assim que alcançamos o terceiro andar, Sakura teve um pouco de dificuldades para abrir a porta emperrada. Ela sorriu sem graça para mim, mas a minha infância em bairro semelhante me fez achar comum situações como aquela.

— Não é nada luxuoso – justificou-se dando-me passagem para entrar no pequeno apartamento de poucos cômodos.

A porta de entrada dava para a pequena sala de móveis simplórios, mas não pude deixar de sorrir vendo a decoração colorida e cheio de vida que a moça havia feito naquele pequeno espaço, dando o ar de sua dona na própria moradia. Até mesmo a míngua árvore de natal torta, com infinitas luzinhas multicoloridas piscando, parecia trazer vida ao apartamento pequeno.

— Pode pendurar o casaco aqui – comunicou tirando as botas, a echarpe e o pesado casaco que usava, ficando apenas com a calça e uma camisa de tricô cinza de mangas compridas. – Vou ligar o aquecedor e fazer o nosso café. Pode ficar à vontade – sorriu corada, antes de sair para o cômodo que tinha acesso à nossa direita.

Limitei-me a tirar minhas botas, sobretudo, casaco e luvas, indo me sentar logo em seguida no sofá pequeno de dois lugares sob a grande janela.

A porta de acesso ao quarto da Sakura estava aberta. Não invadiria mais sua particularidade, mas um objeto sobre sua cama, chamou a minha atenção...

Era a echarpe que havia caído na vala durante aquela ventania.

Sem perceber que eu havia ficado tanto tempo encarando o objeto, fui despertado apenas com o tilintar de louças sendo postas na mesinha de centro.

— Café amargo sem açúcar ou qualquer outro acompanhamento – falou animada me entregando o meu café.

— Obrigado – agradeci com um sorriso de canto. – Você não parece ser de Nova York – comentei depois de experimentar a deliciosa torta.

— Ah não... eu não sou de Nova York. Eu sou de Idaho – corou quando viu a minha expressão surpresa.

— Você veio do outro lado dos Estados Unidos? Das montanhas? O que uma garota das montanhas que usa uma echarpe vermelha veio fazer no Brooklyn?

— Bom – encolheu os ombros em constrangimento – é o sonho de toda garota nascida e criada no interior, fantasiar em um dia poder morar em uma grande cidade. Meus pais são fazendeiros, mas eu resolvi entrar para outro ramo devido aos sonhos de menina. Foi difícil me despedir deles e atravessar o país devido à uma grande chance no jornal onde eu trabalho hoje. Agora você deve entender porque eu aceitei a coluna alimentícia – sorriu sem graça, caindo o olhar sobre sua própria bebida. – Não queria jogar fora o sonho de um dia morar em Nova York por tão pouco.

— Bom – eu não sabia direito o que dizer, mas não queria que nossa conversa morresse. Aquela era a minha chance e eu não deixaria que ela fosse levada ao vento sem batalha. Sakura era uma garota muito mais corajosa do que aparentava ser. Ela deixou tudo o que ela conhecia e amava por um sonho, enquanto eu era apenas um simples rapaz responsável pela coluna do mercado financeiro e que mal sabia como chegar em uma mulher que me interessava – eu nasci aqui mesmo no Brooklyn, estudei jornalismo na Universidade de Columbia e nunca sequer fui mais longo do que New Jersey – Sakura riu da minha sentença.

— Uau, você atravessou o Rio Hudson, isso é realmente muito longe daqui – gargalhou alto e não pude evitar seguir sua risada pensando que o máximo que eu havia feito foi atravessar Manhattan.

— Posso fazer uma pergunta? – Indaguei um pouco nervoso, tamborilando a porcelana simples com o meu resto de café.

— Claro!

— Por que uma echarpe vermelha? – Apontei para a antiga. – E por que você ainda guarda ela depois de ter caído na vala?

— Co-como você sabe disso?

Constrangi-me por ter sido tão descuidado com as palavras. Agradeci mentalmente pela única iluminação da sala ser a dos pisca-piscas com suas luzes multicoloridas que iluminavam nossos traços.

— Bom – ergui desistindo de esconder aquele fato. Caminhei a passos largos e inseguros até o gancho onde estava a echarpe que eu a havia dado. Peguei o fino tecido e me virei para a mulher que me olhava sem entender, ainda com a xícara em mãos – eu estava na frente do prédio comercial quando vi sua echarpe voar para longe – caminhei lentamente até a moça e me sentei ao seu lado – e-eu – pigarreei tentando limpar a minha voz e proferir com clareza as minhas palavras. – Fui eu quem te tirei no amigo oculto da empresa, Sakura, e naquela noite, depois de tudo – abaixei meu olhar para a echarpe, sorrindo de canto – vi essa echarpe enquanto passava pela Times Square e pensei em você. Não pensei duas vezes em presentear a garota da echarpe vermelha com outra – sorri sem graça, levantando meu olhar medroso para a mulher que sorria gentilmente.

Ela pôs a xícara na mesinha, antes de apoiar as mãos em suas coxas.

— Obrigada, eu adorei o presente. Você deveria ter me contado antes que era você, passei minhas férias imaginando quem poderia ter pensado em um presente tão significativo para mim.

— Desculpe por demorar tanto para te contar – sussurrei enlaçando seu pescoço com o longo tecido, tirando uma risada leve da mulher com o meu ato.

— Sabe por que eu uso tanto uma echarpe vermelha e guardei aquela antiga apesar de estar manchada? – Indagou, alisando o fino tecido que a envolvia. Apenas neguei com a cabeça, continuando a segurar as pontas do longo tecido. – Era da minha avó materna, ela era uma mulher muito próxima a mim e era uma imigrante chinesa. Aquela echarpe foi presente do meu avô antes do casamento deles. Ele disse que aquele era o Akai Ito, o fio vermelho do destino, deles. Que aquela echarpe representava o amor dele por ela e que todas as mulheres que olhassem para ela, saberiam que o Akai Ito dele, era com ela. Antes dela partir dessa vida, ela me entregou sua echarpe para mim desejando que eu encontrasse a outra ponta do meu Akai Ito.

O sorriso angelical permaneceu em seu rosto e nem a surpresa me fez não ceder ao seu sorriso, correspondendo-a.

No fim, tudo havia um significado e por mais que aquele discurso pudesse assustar os outros, a única coisa que eu sabia era que eu não queria soltar as pontas da echarpe.

Eu não queria que ela fosse para longe.

Por isso, em meio ao cheiro de café, sob luzes natalinas, envoltos no frio do inverno de Nova York, eu puxei as pontas de nosso fio vermelho sem desviar o meu olhar do rosto multicolorido que fechava os olhos para o mundo, em busca do inevitável.

Sem roteiros ou pensamentos sobre o depois, decidi mergulhar no desconhecido e me aventurar pelos lábios mornos com gosto de café com canela.

Os movimentos eram inexistentes no início, mas assim que as pequenas mãos se apoiaram sobre o tecido da minha camisa fria, deslizando lentamente para a minha nuca e, consequentemente, para o meu cabelo úmido por causa da neve, não pude evitar não aprofundar o beijo pedindo passagem com a ponta da minha língua que acariciou a linha fina entre seus lábios.

Sakura suspirou se aproximando mais de mim, pondo seus joelhos ao redor do meu quadril, antes de me dar mais passagem para explorar sua boca com o gosto amargo que eu tanto gostava.

As pontas de seus dedos acariciavam com calma o meu couro cabeludo enquanto minha língua duelava com a dela em busca da dominação, acariciando suas outras partes sensíveis e até mesmo seus lábios levemente trêmulos nos insípidos intervalos para respirar ou mover lentamente nossas cabeças em movimentos alternados, buscando a melhor posição para explorar e agradar o outro ao máximo.

Antes mesmo que eu percebesse, meu tronco já estava deitado sobre o estreito e pequeno sofá, enquanto a mulher, presa ao meu agarre em sua echarpe, colava seu corpo quente ao meu sem se importar com o depois.

Estávamos apenas desejando o agora e poder saborear mais daquela bebida amarga que parecia tão impregnada em nossos lábios...

— PAPA! – Ralhou minha pequena filha, tirando-me dos meus pensamentos.

Sorri sem graça notando o que eu estava começando a me lembrar e a contar para a minha pequena.

— Desculpa princesa – beijei o topo do seu gorro cheio de farelos de neve.

— Mas voltando à estória... isso quer dizer que esse é o verdadeiro significado da echarpe vermelha e você se apaixonou pela mama justamente por ela usar esse vestuário? – Perguntou animada e eu apenas assenti sorrindo. – Que lindo – seus olhos brilharam para a echarpe vermelha envolta de seu pescoço. – Agora eu entendo porque a mama gosta tanto que eu use a echarpe da bisavó! – Apertou com carinho o tecido com leves manchas em alguns pontos, quase invisíveis após Sakura ter tingido o tecido de vermelho.

— Você é a nossa pequena fita vermelha do destino – acariciei a bochechinha rosada pelo frio. A menina sorriu ainda mais feliz. – Você é a prova do nosso amor, Sarada. A prova dos nossos sentimentos e laços!

— Eu também amo você, papa! – Disse feliz me abraçando com força, apesar de seus bracinhos serem curtos e infantis.

Correspondi ao abraço de minha pequena antes de me erguer do banco com ela no colo.

— Hora de buscar a mama no aeroporto! – Anunciei entregando meu copo de café para ela segurar enquanto a carregava.

Assim que vimos uma lixeira, inclinei a minha pequena na direção dela, ameaçando jogá-la ali dentro, mas ela apenas riu mais alto, jogando os dois copos ali dentro antes de voltar a me abraçar para caminharmos de volta para o nosso carro.

— Quero mais café, papa – pediu assim que a coloquei na cadeirinha.

Ri um pouco, sentindo-me um péssimo pai por ter dado aquele mal costume para ela.

Contornei o carro e entrei no banco do motorista para iniciar o longo percurso até o Aeroporto de LaGuardia.

— Prometo que a sua mama fará café quando chegarmos em casa, mas nada de contar que eu te levei no Starbucks, ela não vai gostar nada de saber que estávamos na sua concorrência – Sarada riu entendendo a que eu me referia. – Quem sabe não podemos vim nós três ao Central Park à noite, assim podemos ver as luzes natalinas acessas.

— Eu adoraria – gritou levantando as mãozinhas no ar.

Sorri vendo a minha pequena animada durante o caminho, tornando todo aquele trânsito mais agradável de se vivenciar, nem ao menos percebendo quanto tempo passamos para chegar no estacionamento do aeroporto que se localizava às margens do Rio East.

O desespero me assolou assim que eu vi as horas e o avião pousando.

— Ela chegou – avisei saindo do carro, correndo para pegar minha pequena filha no banco de trás.

— Calma papa! Mama vai entender se não nos ver logo de cara – tentou me acalmar enquanto eu sorria para ela, caminhando o mais rápido possível que o gelo e a leve queda de flocos de neve me permitia.

O frio intenso ficou para trás assim que entramos no ambiente de potentes aquecedores ligados.

Como já conhecia o lugar, rumei pelo mar de gente até chegar na aglomeração de familiares esperando e se encontrando com seus entes queridos que chegavam de viagem.

Olhei para diversas direções, mas não encontrava a cabeleira tipicamente rosa de minha esposa, até que Sarada apontou gritando em uma direção:

— Ali, papa! Olha a mama!

Virei na direção e vi a mulher – bem vestida com roupas de inverno e sua eterna echarpe vermelha – olhando para o visor do celular com preocupação, enquanto voltava a levantar procurando por alguém.

— Sakura! – Chamei alto, chamando mais atenção do que só a da minha esposa que logo trocou a feição surpresa por um largo sorriso ao nos ver.

Caminhei apressado com Sarada no meu colo, enquanto minha mulher andava apressada sobre os saltos, puxando uma pequena mala, pondo fim a nossa distância com um largo abraço.

— Ai mama... papa... você estão me apertando – reclamou nossa menina com um muxoxo entre nós dois.

— Também senti falta de você, princesa – brincou com a bochechinha rosada da menina tirando risos da pequena.

— Colo – pediu pondo os braços para o alto, sendo prontamente atendida por uma mãe cheia de saudades que encheu sua pequena cria com múltiplos beijos, fazendo a menina gargalhar por causa das cócegas.

— Ai mama... pare! – Pediu entre risos.

— O marido também não recebe carinho – comentei com falsa decepção, pondo as mãos nos bolsos.

— Pensei que ia querer esperar até a Sarada dormir, querido – falou com um ar malicioso, cheio de diversão, enquanto envolvia o meu pescoço com seu braço direito, levando-me aos seus lábios para um beijo rápido mais cheio de saudades e de promessas por mais.

— Ecaaa... sou criança, não preciso ver, nem ouvir isso – resmungou tampando os olhinhos.

Ri me afastando de Sakura, deixando para matar a saudade mais tarde, mas assim que nossos lábios se separaram, vi a expressão confusa de minha esposa.

— Você está com gosto de café – franziu o cenho sentindo o cheiro do hálito da Sarada.

— Ih... ferrou, papa!

— Vocês foram em alguma cafeteria antes de virem me buscar.

— Sabe como é querida, não aguentamos ficar muito tempo longe dos seus deliciosos cafés, por isso temos que matar a saudade com a concorrência...

— É... mas eles não chegam aos seus pés, mama – apoiou-me nossa pequena.

— Não acredito! Agora vocês dois são cúmplices nesse ato de traição? – Falou dramaticamente.

Nós três acabamos rindo da situação.

— Vamos meus amores, quero chegar em casa logo, tirar esses saltos e tomar um longo e relaxante banho de banheira para tirar todo esse cheiro de hambúrguer de mim. Kakashi que me desculpe, mas mandarei a coluna pronta só amanhã – revirou os olhos e Sarada riu, enquanto me aproximei furtivamente das costas de minha esposa, sussurrando ao pé de seu ouvido:

— Eu posso te ajudar a relaxar...

Os olhos dela brilharam de excitação antes de rebater:

— Onde está o meu marido tímido e quem é você?

— Sou o outro lado que existe quando estou só com você.

— Hmmm – sorriu deliciada com a conversa – muito bom saber disso. Vou precisar de uns servicinhos seus antes que o meu marido volte.

— Estou ao seu dispor madame – beijei a mão livre da minha esposa antes de segurá-la com força, caminhando ao seu lado e de nossa amada filha entre os flocos de neve que caiam calmamente sobre a paisagem alva e nublada de Nova York.

Talvez eu tenha me enganado, talvez Sakura não seja a garota da echarpe vermelha, mas sim, ela e a nossa filha, são...

Minhas eternas e amadas garotas das echarpes vermelhas!

 

FIM!


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Notas finais do capítulo

Obrigada por todos que leram essa fic até o final! ^^Espero que tenham gostado e que eu possa ler a opinião de vocês!Beijos galera! Até a próxima pessoal o/



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