Atendimento #018: Janelas

            Ai, ai. Muitos atendentes não são técnicos de informática, porém sempre que um destes “leigos” chega a uma central, logo percebe que são necessários alguns conhecimentos básicos de computadores.

Não importa o quão abstrato e distante o atendimento esteja de um computador, em dado momento um cliente vai ter de usar um PC, e quando isso acontecer meu amigo… você vai ter dois problemas para lidar.

— Webcam não é? — Ezequiel perguntou a cliente, sua voz saiu de forma estranha. Comia naquele momento o bolo que seu supervisor comprou, sim aquele mesmo do atendimento anterior. Igor já ganhara tantas apostas devido suas táticas que já tinha ficado sem graça vencer e portanto resolveu usar o dinheiro para comprar um lanche para os três.  — Certo então a senhora já instalou ela em seu computador e a imagem ainda não está aparecendo?

— Isso meu filho. — a voz idosa da senhora Wignia Maria era carregada de paciência e tranquilidade. — Você me perdoe, mas eu não sou muito boa nessas coisas.

— Não, tudo bem senhora Wignia estou aqui para auxiliá-la no que for necessário. — logo o atendente emendou: — Vamos fazer assim verifique no site da câmera se tem alguma área de suporte.

A ligação ficou em silêncio, geralmente quando o cliente é muito leigo ele precisa realizar as tarefas com cautela. Você sabe que quando quer fazer as coisas com calma o silêncio é sempre bom, ou por acaso é fácil pra você colocar uma linha em uma agulha ouvindo heavy metal? Então…

— Pronto. — anunciou a senhora toda empolgada. — Já resolvemos?

— Não senhora. — Ezequiel deixou escapar a risada, não caçoava da mulher, mas era engraçado como alguém de tanta vivência era tão inocente em um assunto que ele dominava. — Clique aí no link e me diga o que aconteceu.

Quase trinta segundos depois o som do CLICK foi ouvido.

— Consegui! Agora aqui no canto está aparecendo uma propaganda eu vou ler aqui pra você “Mãe solteiras precisam de cace ”

— NÃO PRECISA LER! — O atendente elevou o tom impedindo a cliente de continuar. — Vamos manter o foco aqui senhora, eu estou querendo ajudar então apenas clique no link que diz “instale agora”

A cliente demorou muito, mas após percorrer toda a tela com o mouse umas duas vezes, clicar em lugares aleatórios e um pouco de magia negra da parte de Ezequiel, o arquivo começou a ser baixado.

— Isso! Perfeito senhora, agora faça o favor de fechar todas as janelas que ainda estiverem abertas aí está bem? — a ordem foi normal assim como as demais, ele já previa que ela demoraria então isso já não o irritava.

— Todas não é? — A pergunta da cliente pareceu normal a primeira vista.

— Sim isso mesmo, assim vai ficar mais fácil de fazer o procedimento. — Ezequiel reafirmou mantendo a mesma postura.

— Tá, espera um pouco.

A cliente largou o telefone sobre alguma superfície, logo em seguida o som de cadeira sendo arrastada chegou até Ezequiel. Não demorou e um som metálico de algo sendo arrastado também ecoou.

— Não, não eu não acredito. — O atendente caiu na risada, a senhora Wignia não o ouvia, pois estava longe, no entanto a chamada não estava muda. — Não acredito que você tá fazendo isso. — A gargalhada subiu de volume.

Algumas arrastadas de cadeira depois a cliente retornou ao aparelho, sem nem dizer nada ela escutou a risada do atendente. A senhora Wignia percebeu seu erro…

— Nossa! Como eu sou burra! — A própria cliente caiu na risada sem nem perceber. — Eram as janelas do computador! HAHAHA

— Senhora? senhora? — Ezequiel falava já sem fôlego de tanto rir. — Posso fazer uma pergunta se não for ofender?

— Faz a pergunta meu filho. — A cliente também já começava a ficar fraca de tanto rir.

— A senhora... — Segurou a risada. — a senhora tá no escuro?

A cliente deixou o telefone cair, a gargalhada dela era tão alta que os vizinhos conseguiam ouvi-la com clareza. Após alguns segundos de descanso e recuperação de fôlego, o CLICK do interruptor do quarto da cliente chegou até Ezequiel fazendo-o chorar de rir.