Um domingo qualquer escrita por Raquelzinha


Capítulo 1
Frio


Notas iniciais do capítulo

Amei escrever! E há horas não sei o q é amar escrever... kkkkk bjs



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Ainda de pijama deitei sobre o estofado do sofá enrolando as pernas com as mãos. Fazia frio, muito frio. O sol não dera as caras apesar de já passar das nove horas da manhã. Na TV nada de especial passava, ao menos não para mim, para o meu mau humor.

Aquele seria mais um domingo daqueles quando ficaria apenas sentada assistindo sem ver a todos os programas idiotas da televisão. Comendo feito uma maluca e pensando em todo o trabalho que me esperava no dia seguinte.

De repente uma brisa fria cruzou pela fresta da janela que intencionalmente deixei aberta, o que provocou um olhar zangado. Teria que sair do meu lugar quentinho para fechar aquele maldito buraco que eu mesma abrira. Mas, não fiz nada, apenas fiquei observando como se a janela pudesse se fechar simplesmente com a força da minha mente.

Nada aconteceu como era de se esperar, quer dizer, nada além de mais vento frio, tão frio que parecia ter a única intenção de congelar meus ossos.

Com um suspiro chateado me ergui finalmente. Fechei o infeliz buraco e permaneci parada no mesmo lugar mais tempo, o movimento da rua era grande para um domingo gelado como aquele. Havia pessoas de todos os tipos na calçada. Nenhuma delas olhava em minha direção. Acho que poderia passar ali o restante do dia que ninguém se atreveria a erguer o olhar para o lugar onde me encontrava.

Enrolei o moletom contra o corpo retendo o pouco calor vindo dele o mais próximo possível e esse simples gesto trouxe memórias que queria esquecer. Há pouco mais de um mês não estaria ali sozinha abraçando a mim mesma numa tentativa inútil de me aquecer. Não, ele estaria comigo. Circulando minha cintura com seus braços quentes.

Agora, Daniel estava lá, no apartamento dele, longe de mim, assim como eu estava no meu.

— Chega! – falei, já chegava de pensar no que não tinha solução.

Voltei à frente da televisão, um casal se beijava emocionadamente numa propaganda de perfume.

— Ah, isso ajuda muito! – retruquei e num ímpeto apertei o botão desligando o aparelho de TV.

Ficar ali sentada sentindo pena de mim mesma com certeza não me ajudaria em nada. Pulei do sofá, era hora de mudar aquela situação. Tomei a direção do quarto. Ia sair. Não fazia a menor ideia para que lugar, mas iria.

Cerca de uma hora depois, uma loira de lábios carnudos, olhos verdes, e sorriso besta me encarava. Passei as mãos pelo vestido que tentava, sem conseguir, esconder meus quilos a mais e subitamente a ideia de sair me pareceu estupidez. Mas, já estava pronta mesmo. O que custava dar ao menos uma volta no parque?

— Não custa nada. – falei para minha própria imagem enquanto pegava o casaco pendurado ao lado do espelho gigantesco.

Devia fazer um lembrete, estava na hora de trocar aquele espelho por um menor. Tudo o que eu não precisava naquele momento era de um objeto dentro da minha casa que gritasse o quanto eu estava fora de forma.

Assim que coloquei os pés na soleira da porta da rua senti o maldito ar frio bater direto na pele do meu rosto, a única parte realmente desprotegida do meu corpo. Uma linha de vapor escapou entre o batom que enfeitava meus lábios reforçando a ideia de frio. Contrariando tudo isso, um leve raio de sol me saudou, será que era um sinal de que tomara a decisão certa?

Talvez.

Lentamente desci os degraus que me levariam à calçada. Uma sequência de poucos passos que tinham grande representatividade já que eu pretendia passar o dia todo no sofá. Olhei em volta, não havia tantas pessoas na rua naquele momento.

Melhor assim. Falei para mim mesma e tomei a direção do parque, lentamente dando ritmo à caminhada. As botas de cano alto se acomodavam aos meus pés e as minhas panturrilhas com precisão milimétrica, além de serem quentinhas, tornando a caminhada gostosa e suave. Detesto sapato me apertando.

Ajustei um pouco mais o cinto do casaco e quando ergui o olhar percebi os olhos de um rapaz que vinha em direção oposta a minha diretamente sobre mim. Imediatamente senti algo se manifestar no meu estômago e desviei o rosto como se estivesse observando algo do outro lado da rua.

Estou perdendo a manha. Pensei contrariada por agir como uma adolescente boba e retornei os olhos na direção dele, mas era tarde demais, ele já não me olhava. Se pudesse teria me dado uns tapas ali mesmo. Entretanto não era possível. Segui em frente, quem sabe daria sorte e toparia com outro par de olhos interessados na minha loirice fofinha.

 O parque estava movimentado, o sol finalmente dava o ar de sua graça, raios tímidos apareciam aqui e ali entre as espessas nuvens de frio. Me senti como ele, me soltando aos poucos, abrindo pequenas brechas a medida que caminhava.

Havia pessoas sentadas nos bancos de madeira, alguns mais idosos, poucos na verdade. Alguns casais. Passei direto, não queria sentar, virava os dias sentada diante de um computador. Para que ficar sentada mais tempo? Não fora para isso que escapara de casa.

Dois meninos passaram correndo desesperadamente por mim. Não havia pais no encalço daquelas crianças? Depois reclamam se acontece alguma coisa pensei parando para ver aonde eles iam. Já tinham sumido. Oh maldita lerdice que me atrapalha a vida!

Uma curva que acabava numa subida levemente íngreme me conduziu a ponte seca, parei no meio dela, observei as pessoas passando lá embaixo. Engraçado que ninguém olha mesmo para cima.

Minutos depois continuei a caminhada até uma bifurcação, decidi pela direita, o caminho era longo, reto e movimentado, mais chance de ver alguém interessante que fizesse aquele cara virar realmente passado na minha vida.

Mas tudo o que consegui foi ver alguém parecido com ele. Até o jeito de caminhar se parecia. Alto, pernas longas, pele em tom de caramelo queimado. Meu coração saltou. Nem era ele droga. Por que as reações ainda pareciam iguais?

Desviei o olhar e puxei os óculos de sol sobre os olhos. Se por acaso caísse na estupidez de olhar não queria que ele visse que estava olhando. Mas com todas as forças do meu orgulho ferido disse a mim mesma que não olharia. Não, não olharia mesmo!

Mas foi impossível. Ele vinha nas mesmas passadas tranquilas. Lentamente, percebi que havia reduzido as minhas também. O que isso queria dizer? Que pretendia fazer com que aquele momento demorasse para passar?

Estúpida! Sim era isso. Era como se ele estivesse vindo em minha direção como sempre fazia quando nos encontrávamos aqui antes da discussão idiota que... olhei em volta assustada. Aquele parque não fora uma escolha aleatória. Era intencional. Queria vê-lo, ou tentar vê-lo.

Como uma mulher adulta pode esconder as próprias intenções de si mesma?

Não sabia, mas fora isso que fizera. Saíra em busca de uma oportunidade de vê-lo. Afinal, mais cinquenta metros e ficaria exatamente de frente para a rua que abrigava o prédio onde ele morava.   

O rapaz parecido com ele já passava por mim. Ah, tinha um aroma tão gostoso de homem bonito! E graças aos céus em nada lembravam o dele. Ao menos uma coisa diferente. Porque até o estilo de roupas era o mesmo.

Será que todos os homens bonitos se vestem da mesma forma? Estava aí um bom tema para um estudo. Se todos os homens bonitos cheiram bem e se vestem igual. Sim, até o suor deles é bom. Então, o bom gosto também deve fazer parte do cardápio.

O parque acabou. Lá estava eu, de frente para a rua dele,  puxei os óculos de sol para a ponta do nariz e observei a janela ao longe, parecia fechada. Só poderia estar fechada com todo aquele frio. Será que estava em casa? Se estava, com certeza havia alguém com ele. E esse alguém era do sexo feminino. Ele nunca, jamais ficava sozinho.

Girei sobre os calcanhares e virei em direção ao meu próprio prédio. Mais um lembrete mental. Procurar urgentemente um imóvel que ficasse no mínimo há dez quilômetros do dele. Mas ai, ia ficar longe do trabalho também! Droga! Nem isso poderia fazer.

Ele que mudasse.

Mas ele não mudaria.

O negócio era nunca, nunca, nunca mais fazer o que estava fazendo... nunca mais tentar vê-lo, mesmo que inconscientemente. Apesar de... saber que toparia com aquela figura alta, cheirosa, bronzeada e perfumada pelos corredores do prédio onde trabalhamos todos os dias. Se bem que, disse a mim mesma, não significava a mesma coisa, afinal, era apenas trabalho, não um passeio estupido com a intenção de ir até o prédio dele.

De qualquer forma... não é saudável ver quem você não quer ver, ainda mais assim todos os dias. Pensando bem, talvez devesse procurar um novo emprego. Sempre estão precisando de pessoas que trabalhem na minha área mesmo.

Não! Ele que mude.

Mais uma esquina, agora estava bem perto de casa. Parei, olhei, talvez devesse atravessar a rua e seguir em direção à cafeteria. Tomar um chá, ler alguma coisa. Sim, era uma boa ideia. Um segundo a mais de indecisão e o sinal fechou. Suspirei, talvez fosse um indicativo de que deveria voltar para casa.

Desviei o olhar em direção ao meu prédio há duas quadras, na reta e o vi. O coração parou, a respiração parou. De jaqueta preta fechada até o pescoço, pernas longas em calças jeans, óculos de sol, e as mãos nos bolso da jaqueta. Ah como adoro isso! Podia até imaginar o cheiro dele.

A pulsação acelerou sem autorização desta vez. Ele olhava o chão, como  se não estivesse preocupado com quem passava por ele, ou como se não estivesse indo a lugar algum. Ou ainda, como alguém que conhece o caminho muito bem.

Espera ai, ele vinha... ergui os olhos, ele vinha sim... inconscientemente sorri, e estava sozinho.

Estupida. Se ele quisesse falar com você teria ido até sua mesa durante o expediente. Não deixaria para fazer isso num domingo frio pela manhã.

O sinal abriu e as pessoas em volta começaram a caminhar. Senti como se minhas pernas estivessem presas ao chão. Elas simplesmente não queriam me obedecer. Daniel ainda não me vira e mais uma vez me perguntei o que ele estava fazendo? De onde vinha?

Finalmente olhei para a frente, o sinal continuava aberto, ia seguir, sim, ia atravessar a rua, tomar um chá com biscoitos na cafeteria e ler um...

— Bia!

Ele me chamou? Ou será que foi pura imaginação. Dei um passo para a rua. Era imaginação definitivamente.

— Beatriz!

Oh! Meu! Deus!

Parei.

Olhei na direção em que ele vinha, Daniel estava quase ao meu lado. As mãos agora fora dos bolsos mostravam que ele acelerara o passo, seus lábios sorriam. De repente pensei que todo o meu corpo se transformava nunca caixa acústica e que o som de um tambor sairia pelos meus lábios assim que os abrisse para dizer qualquer uma daquelas muitas estupidez que sou capaz de falar quando estou nervosa.

Mas, disse apenas:

— Oi...

— Oi Bia... – ele veio logo beijando minha bochecha como se nada tivesse acontecido.

 Ficamos em silêncio, ele ainda com aquele sorriso bobo que eu adoro brincando nos lábios, provocando as malditas covas que quase o transformavam no menino das fotos que vi na casa da avó dele.

— Você... – ele começou e eu estranhei a leve insegurança que de repente surgiu em sua voz.

— Eu? – insisti.

— Você tem algo importante... quer dizer... você...

— Eu ia tomar um chá com biscoitos...

Para que mentir? Era o que pretendia fazer mesmo.

As mãos se enfiaram nos bolsos da jaqueta outra vez, ele olhou o chão como se estivesse pensando no que dizer.

Tomei coragem e perguntei:

— Você quer ir?

Ele não me olhou, apenas sorriu novamente.

 - Quero.

Paramos lado a lado em frente ao sinal fechado, senti o calor do braço dele contra o meu. Claro que é imaginação, afinal havia muitas peças de roupas entre nós. Apertei as mãos enluvadas diante do corpo e respirei fundo o ar frio e perfumado, perfumado com o perfume dele e também sorri. 

Estava tudo normal?

Ainda não. Mas em breve tudo estaria normal. Ele sentaria diante de mim na cafeteria e me contaria sobre sua última conquista, aquela que ele fizera enquanto estávamos brigados. Eu riria do que ele me contaria. Ele perguntaria pelo meu ficante, ia dizer a verdade, como todos os outros era passado. Daniel riria, seguraria minha mão e asseguraria novamente que se continuássemos assim, um dia ele e eu não teríamos mais ninguém para namorar exceto um ao outro.

Será que algum dia esse dia chegará?

Talvez chegue. Talvez não chegue. Tudo o que sei é que mal consigo viver sem a presença dele nos meus dias. Sem seu calor amigo. Sem seus braços quentes. Sem seu sorriso de menino. Sem seu charme arrasador. Sem nossas conversas bobas. E sem... Ah! Meu! Deus!


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Notas finais do capítulo

Se merecer review, deixem. Até qualquer hora gurias. Bjs



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