Lydia Martin

Todos os olhares eram direcionados a nós naquele momento, não que eu já não estivesse acostumada, mas eram olhares de pena e preocupação, totalmente diferente do que eu lidava no dia-a-dia. Depois de passar dois dias vagando nua pela cidade, terminar o meu relacionamento que era exemplo para todos da cidade, eu ainda havia perdido minha melhor amiga.

O Chris, pai da Allison, havia pedido para que eu e Isaac ficássemos ao seu lado durante todo o velório e enterro. Não poderia negar algo para ele naquelas circunstancias, e nem mesmo em outras, ele me tratava como sua filha, o adorava por isso. Sabia que Isaac sentia o mesmo.

Meus olhos ardiam por trás dos óculos escuros em quanto o caixão,  que carregava a melhor amiga que alguém um dia já conheceu, descia lentamente se escondendo dentre a cova. Senti a mão do Senhor Argent pesar sobre o meu ombro esquerdo e percebi que ele fazia o mesmo nos ombros de Isaac que continha o choro. Mas eu era incapaz disso.

Ainda não conseguia acreditar, a ficha custava para cair. Allison estava morta e eu não sabia como iria lidar com isso daqui pra frente. Não que eu fosse me afogar em lagrimas, isso não era para mim, guardaria a dor no fundo do meu peito, junto com a saudade da minha melhor amiga. Deixaria que as lembranças e os momentos bons viessem a tona todo momento. Ela estaria para sempre comigo.

Meus olhos seguiram durante a multidão de amigos e conhecidos de Allison até encontrar o único par de olhos que estava preso em mim a todo o momento, e por nenhum segundo desviou o olhar.

Stiles tinha os olhos castanhos, e bastante fundos, em mim.

Não queria mais nada do que me ligasse ao sobrenatural. Se não fosse por um membro do outro mundo eu não estaria aqui hoje, chorando e sofrendo. Stiles e Scott faziam parte daquele mundo.

Desviei o olhar rapidamente antes que ele percebesse, voltando a me concentrar nas palavras ditas pelo padre.

***

— Sabe que a nossa casa sempre estará de portas abertas para você, não sabe? – Chris perguntou, franzindo a sobrancelha.

Grande parte das pessoas já haviam ido embora, sobraram apenas poucas pessoas, as mais próximas de Allison, e eu realmente precisava descansar, duas noites mal dormidas não me favoreceriam naquela situação.  Então resolvi me despedir dele, para que finalmente pudesse voltar para a minha casa.

— Sei – respondi sorrindo. – Pode me ligar sempre que precisar – ele assentiu agradecendo. – Muito obrigada por tudo!

— Eu que agradeço, Lydia – disse. – Allison amava muito você, nunca se esqueça disso.

Respirei fundo, afim de que a força de suas palavras não me atingissem de maneira negativa, sem sucesso nenhum, é claro.  O abracei rapidamente e segui para fora do cemitério em passos largos, na esperança de que o caminho durasse bem menos do que eu esperava.

Parei bruscamente quando vi Stiles em frente ao meu carro olhando para os próprios pés, ele murmurava coisas em quando chutava o ar e só depois de algum tempo foi me perceber por ali.

— Lydia – chamou.  – Você sabe que precisamos conversar sobre isso.

Forcei meus pés para que eles dessem alguns passos, e resolveram me obedecer, aproximando-se do meu carro.

— Não, nós não precisamos. – respondi dando à volta até o banco do motorista, e destravando o carro.

— Pode me odiar o quanto quiser, e tem motivos pra isso – suas bochechas que antes eram tão rosadas, hoje não havia nenhum pingo de cor. – Mas quero conversar com você sobre isso.

— Não estou brava com você, Stiles – falei. – Foi aquela coisa, e não você. Mas não quero nada que me envolva nesse mundo, quero distancia de tudo isso.

Eu realmente não estava brava com ele, e tudo o que havia dito era verdade. Sabia que a culpa não era sua.

— Lydia ...- o interrompi.

— E se pra isso terei que ficar longe de vocês, eu vou ficar!

— Você não pode fazer isso – ele disse, se desesperando. – É uma Banshee.

Suspirei e disse antes de entrar no carro:

— Não sou mais.