Warriors escrita por Malina Endou


Capítulo 2
Warriors.


Notas iniciais do capítulo

Yo!

Antes de mais quero agradecer a todos os que me enviaram as suas fichas! Foram todas excelentes e amei cada uma das personagens! Vou dar o meu melhor para as representar da melhor maneira na minha fic!

Para já, deixo-vos com o capítulo 2!´

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/678311/chapter/2

Cristen

1 de janeiro, 2050

12:13

Ouvi passos pesados no corredor que se aproximavam cada vez da antiga enfermaria da Raimon, que agora, após restaurada, nos servia.

Inicialmente, pensei que fosse alguém com pressa para ir ao quarto, já que temos sempre que passar por este corredor primeiro, pois as escadas do outro lado estão interditas devido ao desmoronamento, até ao instante em que a porta foi repentinamente aberta, fazendo-me dar um enorme pulo e quase deixar cair os remédios que arrumava com todo o cuidado no armário próprio para tal que os rapazes arranjaram.

Virei-me de imediato para a porta, avistando com os meus olhos verdes, um Goenji cansado e ofegando, carregando uma desmaiada e desconhecida rapariga ruiva, nos braços.

—Que susto!- foi a primeira coisa que me surgiu dizer- Quem é ela?

—Agora não tenho tempo para explicar.- E correu até uma das três camas que ainda temos à nossa disposição, onde a deixou com a minha ajuda- Ela está completamente molhada e a tremer imenso. O que achas que têm?

Coloquei-lhe a mão na testa e quente era coisa que não estava, por isso febre não tinha.

—Ela está realmente gelada.- Reparando logo sangue que escorria da sua cabeça, corri até à única mesa ali existente, pegando no estojo de primeiros socorro e retirando de lá o necessário- O que lhe aconteceu, afinal?

—Eu não sei. Encontrei-a quando estava prestes a ser levada por um G-bot(1) e um Patrulha(2) e já estava nesse estado. Além disso, está frio lá fora, o que também não deve ter ajudado muito.

Corri até ela, e ao olhar novamente para a sua face, vi os seus lábios começarem a ganhar um tom arroxeado.

—Ela deve estar a entrar em hipotermia.- Com a ajuda dele, puxamos o lençol e o pequeno cobertor para cima, tapando-a.

—Achas?

—É provável.- Encarei-o- Depressa! Vai pedir a alguém para me vir aqui ajudar e que traga roupa de alguém. Uma coisa quente, de preferência.

—Está bem.- Correu até à porta, só que vi-o parar antes de sair- Ela vai ficar bem?

—Se te despachares, sim!- E sem dizer nada mais, saiu, fechando a porta.

Atei os meus cabelos castanhos e ondulados num longo e alto rabo-de-cavalo, deixando apenas a franja solta, iniciando outra vez a minha correria, pegando na única cadeira daquela sala e levando-a para junto da cama da rapariga, indo rapidamente até ao lavatório onde encharquei um pano com água quente e coloquei-o dentro de um pequeno alguidar, pousando-o em cima da cadeira. Por último, peguei em tudo o que era necessário para curar a ferida dela e corri novamente até à cama.

Posei tudo ao seu lado, vendo que ainda tremia, para começar a limpar o sangue da sua face e pescoço, pois já havia chegado à gola alta e negra da camisola bicolor.

Seria tudo mais fácil se a Serena aqui estivesse, mas como faz hoje um mês que o esposo desapareceu, é normal que sinta abalada com a situação, e não a censuro por isso. Acho que se alguma coisa acontecesse ao meu Taiyou, desesperaria.

No momento em que estava a colocar o penso para evitar que o golpe que tinha feito entre a testa e o inicio da raiz do cabelo continuasse a sangrar, vi-a abrir os olhos pouco a pouco.

—Olha quem acordou.- Só com as minhas palavras é que me fitou. Parecia confusa.

—Onde é que estou?

—Não te preocupes.- Peguei no pago com água quente e coloquei-o por cima da sua testa- Estás em segurança. O Goenji trouxe-te para aqui quando desmaiaste.

—Goenji?- não era muito nítido, mas vi-a que tinha um pequeno sorriso nos lábios- E quem és?

—Chamo-me Miller Cristen, e tu?- queira continuar a puxar conversar para ver se ela não adormecia novamente.

—Endou Malina.

Fiquei espantada com o nome que ela pronunciara.

O Endou disse-nos que os seus familiares tinham morrido todos nos ataques dos robôs.

—Bom, Malina, não te preocupes.- Coloquei uma mão sobre as suas costas, empurrando-a devagar para cima- Vai ficar tudo bem, sim?

 

Starfox

12:25

A sorte do Goenji é que eu também não tenho nada mais que fazer, depois que o Atsuya saiu em patrulha com os outros para o sul de Tóquio, e só voltará em dois dias, o que me deixa sozinha com os meus origamis.

Posso até não admiti-lo em voz alta, mas sinto a sua falta, porque, sinceramente, entre ter de atura-lo e ter que andar a perguntar a cada uma das minhas companheiras se têm roupa para uma rapariga que apareceu do nada, e que está com indícios de hipotermia, prefiro mil vezes aturar o Salmão Atómico.

Percorri quase todo o velho prédio escolar à procura de alguma delas, até finalmente encontrar a irmã mais velha da Cristen, que acabou por ir até à pouca roupa da irmã mais nova, pegando numa lingerie verde, num velho, mas bem estimado, polar azul-claro, com uma camisola rosa-clara, com um laço negro na gola, incluindo uma saia com o mesmo tom de rosa, uns collants negros, e para finalizar, umas galochas também elas azuis, mas escuras.

Cheguei junto à porta da enfermaria e comecei logo a ouvir alguém a espirrar, enquanto a Cristen gritava apenas “Tapa-te!”.

Bufei, fazendo alguns dos meus cabelos negros baloiçarem.

Abri a porta e deparei-me com uma rapariga ruiva, completamente despenteada, seminua, sentada em cima da cama e com a cara tão encarnada como o seu cabelo.

—Afinal parece que a hipotermia desapareceu.- Entrei e fechei a porta. Era dispensável que mais alguém a visse naqueles preparos.

—É normal que ela esteja um pouco melhor. Já não tem a roupa ensopada em cima e andei a passar um pano de água por todo o corpo dela, o que também está a ajudar.- Limitei-me a revirar os olhos. Se ela o dizia.

—Enfim.- Murmurei, caminhando até elas- Aqui estão as roupas. Não sei se isto te vai servir, mas é uma questão de ver isso.

—Obrigada.- Era notável a tremura na sua voz, já para não falar nos lábios divididos entre o roxo e o vermelho.

Pegou na roupa e foi para trás da cortina que separa as camas, começando a vestir-se. Eu limitei-me a sentar na cama onde ela antes estava, enquanto a Cristen arrumava tudo no seu devido lugar.

—Onde é que foste buscar as roupas?

—A tua irmã deu-mas. Foi buscar às tuas.

—O quê?! Como assim?! A roupa é minha! Ela não tem que ir mexer!- ouvimos a cortina mexer, vendo a tal rapariga espreitar por lá com uma cara de culpa.

—Eu posso esperar que a minha seque e podes levar a tua, não há problema.

—Não!- largou logo o que fazia e voltou-se para nós- Não era isso que eu queria dizer! Eu só não gosto que a minha irmã mexa nas minhas coisas sem autorização. Mas se te servirem, fica com elas, Malina- afinal era esse o nome dela-, tenho várias e não vou morrer por menos uma.

—Obrigada.- Antes de voltar para dentro, olhou para mim- Já agora, como te chamas?

Fiquei na dúvida se lhe devia responder.

—Starfox.- E sorriu.

—Sou a Endou Malina. É um prazer, Starfox.- E desapareceu por trás da cortina.

Endou? O sobrenome dela é esse? E terá ideia do que aconteceu ao Mamoru?(3)

 

Amber

12:26

Foi estranho o suficiente a Star pedir-me roupas que já não usasse, mais estranho ainda foi o facto de ter chegado alguém novo e nós não termos sido avisadas. O Goenji ao menos podia ter dito algo sobre isso.

Sei bem que não foi boa ideia mexer nas coisas da minha irmã sem lhe pedir, mas era por uma boa causa. Além disso, se foi ela quem fez aquele pedido, tinha de resolver o problema com os seus próprios meios, já que fui obrigada a interromper uma sessão de tarot.

Há dias que ando a tentar ler nas cartas alguma coisa sobre o paradeiro do rapazes que desapareceram no mês passado, mas parece que tudo me impede de o fazer; ou é as missões, ou porque chegou a minha hora de ir patrulhar, combater, cozinhar, ou o que seja necessário, e nunca me consigo concentrar em condições. Confio bastante naquilo que as cartas me dizem, só que também elas parecerem não ajudar na sua leitura.

Desde aquele dia em que fomos combater alguns G-bots, e quando apareceram os de tipo MG(4), que não sabemos do paradeiro deles. Todas nós conseguimos escapar, e alguns dos rapazes também, mas muitos deles desapareceram. Todos os dias peço aos céus para que os ajude, os mantenha vivos e que nenhum mal lhes aconteça.

—Precisam de ajuda?

Logo que atravessei a porta da cozinha, fazendo a pergunta, vi duas morenas, uma de cabelos negros e outra castanhos, com diferentes olhos de cores castanho e azul, que se voltaram para mim, parando o que estavam a fazer.

—Dava jeito.- A Rin realmente não acha piada nenhuma ficar ela a cortar os vegetais.

Felizmente, desta vez o que trazia vestido era apenas uns calções, com uns collants, obviamente, e uma camisola acompanhada com um casaco, porque da última vez que cozinhei com estas duas, o meu vestido preferido ficou completamente sujo. Fiquei furiosa com elas.

Atei o meu cabelo castanhos-escuros num longo rabo de cavalo, enquanto os meus olhos verdes viam o que era necessário cortar.

—Já sabem quem é a tal rapariga?

—Qual rapariga?- A Yasmin foi a primeira a perguntar algo, continuando a mexer a sopa.

—Aquela que o Goenji trouxe para aqui.

—Agora que falas nisso- continuou a Rin, levantando-se e levando alguns dos vegetais cortados até à panela-, ele passou aqui à pouco, perguntámos-lhe o que estava aqui a fazer e respondeu-nos apenas que explicava mais tarde. Mas se sabes alguma coisa, diz.

—Sei apenas que a Star me veio pedir umas roupas para uma tal rapariga que ele ajudou, não sei grande coisa também. Ele disse que tinha que ir ter com os outros ver se tinham descoberto alguma coisa sobre os rapazes.

Um perturbador silêncio instalou-se na cozinha, ouvindo-se apenas o som da água a bater contra o lavatório de metal da antiga sala de economia doméstica.

Parei logo de cortar o resto dos vegetais.

Tinha acabado por me esquecer por completo que a Rin namora com o Kurama, um dos nossos amigos que desapareceu.

—Rin, desculpa, eu não queria tocar nesse assunto, apenas...

—Está tudo bem, Amber.- E voltou-se para mim com um... sorriso- Eu sei que não o fizeste por mal.- Fechou a água, pegou num dos panos e limpou as mãos molhadas- Vou ver quem é a tal rapariga.- E sem dizer nada mais, saiu da cozinha.

Encostei-me para trás, batendo nas costas da cadeira e dando um longo suspiro.

—Só digo asneiras.

—Ela sabe que não foi com intenção. Mas também temos de ver o lado dela.- Só aí, parou de mexer na sopa, baixou um pouco a chama do fogão, e voltou-se para mim, encarando-me com uns brilhantes olhos castanhos. Isso fez-me lembrar os primeiros dias de tristeza- Como te sentirias se o Yukimura-kun desaparecesse?

Limitei-me a olhar para o meu reflexo na faca pousada à minha frente, sem saber o que responder.

Realmente não sabia o que haveria de fazer. Provavelmente estaria perdia.

É por isso que a invejo. Invejo aquela força que a Rin tem para continuar a sorrir. E não só a ela...

 

Rin

12:30

Todos sabem que sou uma chorosa irremediável, mas não gosto de chorar em frente a elas. Sinto como se fosse a mais sensível entre todas nós, que não tem feito outra coisa ultimamente se não chorar pelo desaparecimento do namorado. Acho que todos estão a fazer mais do que eu para o procurar e aos outros rapazes, e eu sinto-me uma completa inútil.

Disse que ia ver quem era a nova rapariga, mas, sinceramente, estava sem cabeça para isso. Se ao menos tivessem dito que o Kurama voltou, são e salvo, com todos os outros, com toda a certeza que iria a correr para onde quer que eles estivesse.

Na ida para o corredor dos quartos(5) masculinos, tive que passar pela parte de baixo dos quartos femininos, parando uns segundos diante da porta de uma albina, que mesmo depois de ter perdido o marido, continuava a sorrir e acreditar no seu regresso.

Perder assim alguém com certeza foi um grande choque para ela. Poderá ter ficado viúva.

Abanei a cabeça para que esses pensamentos desaparecessem. Se isso acontecesse só queria dizer que eu também terei ficado, de certe forma, viúva.

Invejo-a pelo seu sorriso e capacidade de continuar a acreditar no regresso do esposo.

Segui o meu caminho até ao quarto dele, abrindo a porta e avistando-o, de novo, completamente vazio e gelado, como fica sempre no último mês e cada vez que o deixo.

Fechei a porta tentando ao máximo conservar o pouquíssimo calor que ainda possuía aquele escuro local. Sempre fora um pouco sombrio, mas desde que ele desapareceu, parece que a escuridão piorou, e começou a tornar-se reconfortante para mim porque sei que ele adorava ter assim o seu espaço.

Tenho saudades de lhe mandar arrumar o quarto e acorda-lo todos os dias com um beijo, ou vê-lo dormir depois de uma noite cansativa de vigilância.

Sentei-me, uma vez mais, em cima do colchão de ginásio que servia de cama a muitos de nós, peguei na almofada e chorei novamente sobre ela, tentando ao máximo abafar os meus soluços.

Não sabia mais o que fazer, passei as primeiras semanas a escavar, o que podia, e quando podia, os destroços do prédio. Percorri todas as ruas de Inazuma de dia e noite, e nada. Claro que não desisti, mas sinto que o que fiz não serviu para ajudar a encontra-los.

—Que inútil.

Ouvi passos no corredor a aproximarem-se deste local. Talvez os rapazes já tivessem voltado.

Pelo menos foi o que pensei até ouvir bateram à porta.

—Rin, estás aí?- percebi logo que era voz da Amber do outro lado.

Retirei a almofada da cara, colocando-a no meu colo, pondo os fios do meu cabelo negro, para trás.

—Sim.- No momento a seguir, a porta foi aberta, fazendo-me tapar um pouco os olhos por toda a luz que a porta aberta deixava entrar, antes de ser novamente fechada.

Olhei para ela, encontrando os seus olhos esverdeados com os meus azuis, vendo-a, simplesmente, sorrir... Um sorriso triste.

Caminhou até mim, sem dizer uma só palavra, ajoelhando-se sobre o colchão e pegando nas minhas mãos.

—Lamento imenso. Eu não queira deixar-te assim.- E logo a seguir, abraçou-me- O Kurama está bem. Tenho a certeza. E nós vamos encontra-lo, prometo.

Não pude evitar o choro e abraça-la também, enterrando a face na curva entre o seu pescoço e ombro, soluçando para quem me quisesse ouvir.

 

Yasmin

12:33

Sei que a Amber não fez por mal, mas ela devia começar a ter cuidado com aquilo que diz. A Rin e a Serena andam muito sensíveis depois do desaparecimento dos rapazes. Ainda assim, vi que saiu a correr da cozinha, o que só queria dizer que ia ter com ela e perdi-lhe novamente desculpa. Sei bem como é a Miller Amber.

Só de pensar que podia ter acontecido o mesmo ao Shirou...

Suspirei. Sentia-me felizarda por saber que ele estava bem.

—Cheira bem!- olhei para a porta, vendo a Mika entrar juntamente com a Stéfanni.

Pareciam ambas cansadas. Provavelmente passaram outra vez a noite acordadas a ver os novos Patrulhas que lhes trouxemos na última missão.

Sendo a Stéfanni e a Mika ótimas em computação, geralmente costumam analisar os robôs que trazemos, depois de lhes tirarmos os dispositivos de localização, claro. Em conjunto, vêem os seus pontos fracos e aproveitam várias das armas que eles possuem. É pena nunca termos conseguido um MG, esses sim, seriam bastante úteis de analisar. Têm-nos a todos na antiga sala do jornal da escola, que é uma das salas que permaneceu completamente intacta, tal como o ginásio, que serve agora de local para os nossos treinos com as armas, apesar de estar um pouco destruído, aqui e ali, por culpa nossa, obviamente.

—Obrigada. Mas hoje é sopa de legumes.

—Tal como tem sido nos últimos meses.

—Vá lá, Saah. Sabes bem que tem sido extremamente difícil arranjarmos comida decente ultimamente, e temos de cozinhar com aquilo que temos. E além do mais, vão comer o que há porque quem está a fazer o almoço esta semana, sou eu.- A Mika limitou-se a rir, enquanto ambas se sentavam, vendo-me apontar-lhes a enorme colher de pau.

—Ok, ok. Já cá não está quem falou.- E voltei-me novamente para a frente, provando um pouco a sopa.

—E os rapazes? Ainda não voltaram?

Levantei a cabeça, olhando para o relógio de parede por cima do lavatório.

—Já passa do meio dia e meia, por isso devem estar a chegar.

Logo a seguir, ouvi uma cadeira arrastar pelo chão, olhei para trás, vendo a Stéfanni levantar-se.

—Quando o almoço estiver pronto, alguém que me chame.- E saiu, vendo apenas o seu cabelo descolorido, baloiçar com os seus caracóis.

—O que tem ela, afinal?

—Continua chateada com o Kariya-kun.- Tinha de ser.

—Deixa-me adivinhar.- Baixei novamente a chama do fogão, tapei a grande panela, e fui sentar-me junto a ela- Fez asneira outra vez.

—Sabes bem que eles se conhecem há imenso tempo e que são melhores amigos...

—Aquilo mais me parece um casal, mas enfim.

—Como queiras.- Ri-me- Só que o Kariya-kun anda sempre a sair por causa do Kirino-kun.- Um dos desaparecidos- E basicamente está sempre a desprezar a Saah e ainda ontem tive que sair da sala quando ele entrou, e começaram logo a discutir.

Encostei-me às costas da cadeira, dando um longo suspiro. As coisas no ultimo mês têm estado horríveis. Antes a nossa única preocupação e discussão eram os robôs, agora parece que o fazemos por tudo e por nada. Só espero que isto não comece a destruir o grupo.

—Já sabes da rapariga que o Goenji trouxe para aqui?

—Não! Que rapariga? Não sei de nada. Passei a noite com a Stéfanni na sala a ver os últimos Patrulhas.- Eu bem sabia- Mas quem é?

—Também não sei, ainda não pude sair daqui para ver.- No instante a seguir, vi-a levantar.

—Eu vou lá ver e já te digo alguma coisa!- e saiu a correr, deixando-me sozinha...

Outra vez.

 

Mika

12:37

Corri até enfermaria para ver essa tal rapariga. Passar o tempo todo trancada numa sala deixa-nos quase anti-sociais. Além do mais, estava curiosa por saber que ela é.

Mal cheguei à porta do local, vi-a ser aberta pela Star que encarou os meus olhos tão azuis quanto os dela, surpresa com a minha presença.

—Se vens ver a nova novidade do local, está ali dentro com a Cristen.

—Ei! Eu não um animal de circo.- A voz feminina que resmungou era desconhecida, o que queria dizer que só podia ser a tal rapariga.

A morena limitou-se a sair da minha frente, caminhando na direção em que eu viera sem dizer nada mais, para além de ter revirado os olhos para aquela frase.

Olhei para dentro da sala, vendo, sentada nada cama, e tapada com um cobertor, uma jovem ruiva e de claros olhos verdes, que me fitava com curiosidade, tal e qual eu fazia, fechando a porta.

—Malina, apresento-te a Kuromoto Mika. Mika, apresento-te a Endou Malina.

—Olá.- Ela foi a primeira a dizer algo enquanto me aproximava de ambas, vendo que ela tinha roupas da Cristen.

—Olá.- Foi então que me apercebi de algo- Espera lá... Endou?

—Sim. Já sei o que vais perguntar, se sou parente do Endou Mamoru, e sim, sou. Somos... Primos.- Por alguma razão o somos saiu em conjunto com um suspiro e com um sorriso que se começou a apagar.

—Então já sabes na situação em que se encontra. Enfim... Que não se encontra. Tu percebes.- Ouvi apenas a minha companheira rir.

—Sim. A Cristen e Starfox já me falaram sobre o que aconteceu.

—Então sabes que ele está desaparecido, assim como outros rapazes, e provavelmente está...

—Morto. Sim. Eu sei.

Não foi minha intenção deixar aquele constrangimento à nossa volta, apenas queria saber se estava informada de situação do, provavelmente, único parente dela.

Aparecer assim de repente e saber sobre isso deve ter sido um grande choque. Notava-se isso na sua expressão.

De repente, o único som que ouvimos do meio do silêncio, foi o de um estômago a pedir por alimento. Eu e a Cristen olhamos uma para a outra, e vi-a negar com a cabeça, tal como eu, fitando logo a seguir a Malina.

—Peço desculpa.- As suas bochechas estavam a ficar tão encarnadas quanto o seu cabelo, o que me deu um súbita vontade rir.

Vi a morena levantar-se da cadeira ao lado da cama, indo até à janela, onde afastou o cortinado cheio de remendos, espreitando para lá do vidro.

—Ainda bem que tens fome. Porque chegou a hora de comer.

—Porque dizes isso?- fazia-me a mesma pergunta.

Ela apenas olhou novamente para nós com um sorriso.

—Porque os rapazes chegaram.

 

Stéfanni

12:36

Sei que elas não me mereciam que lhes virasse assim as costas, mas dispensava ficar ali a falar sobre os rapazes.

Já me sentia mal o suficiente depois da discussão que tive com o Masaki. Não lhe devia ter dito o que disse. Tenho noção que ele está abalado pelo desaparecimento do Kirino, afinal, são grandes amigos, mas eu também não estou a lidar propriamente bem com o desaparecimento deles e por vezes acabo por me exaltar com as pessoas, coisa que não quero. Infelizmente, acaba por acontecer, e quando dou por tudo à minha volta, as coisas ficaram piores do que já estão.

Abri a porta e entrei para a antiga sala do jornal da escola, sentindo o cheiro a óleo, e o frio que emanava do local que para muitos era considerado sombrio. Ainda me lembro das vezes que o Masaki me dizia para sair, e de ver a sua cara de arrepio quando encontrava os olhos dos robôs.

Dei um pequeno sorriso, o que, sinceramente, é raro em mim, mas ele realmente faz-me feliz. É o meu melhor amigo e está sempre cá para mim... Ou estava.

Sinto-me uma egoísta da primeira, mas não o consigo evitar.

Fechei a porta e fui até à minha cadeira, onde me sentei para continuar o meu trabalho de desmontar um dos novos protótipos de robôs Patrulha.

Quem quer ande a fazer estas modificações nos robôs, está a torna-los cada vez mais fortes, e nós testemunhamos isso no mês passado.

Atei o meu cabelo num baixo rabo de cavalo, coloquei os óculos de proteção e comecei a tentar abrir o maldito robô.

Sempre que penso que se tivesse um MG em mãos e o pudesse analisar, nada daquilo teria acontecido e nós podíamos muito bem ter saído todos ilesos daquele ataque.

Bati na mesa com toda a minha força, cerrando os dentes.

—Que raiva.

Nem mesmo a Mika, com a sua capacidade de hanker, conseguiu fazer algo. Como iria eu conseguir fazer algo no seu mecanismo? Posso ser extremamente inteligente, mas por vezes sinto que isso não serve de nada.

No mesmo instante, ouvi bateram à porta.

—Sim?- mas ninguém respondeu.

Achei estranho. Além disso, estou sem paciência para brincadeiras.

Levantei-me e fui até à porta ver quem era a engraçadinha que me queira chatear na pior altura do dia.

—Mas ouve lá...- terminei logo a minha frase, porque mal abri a porta, dei de caras com o vazio.

Não havia ninguém à minha frente.

Ia avançar um pouco para olhar para os lados e ver se encontrava quem fora, quando bati com os pés em algo.

Baixei a cabeça, vendo um saco do lixo cheio de ondulações e com um bilhete branco por cima.

Peguei no saco, percebendo pelo som que devia ser algum robô, para variar. Com toda a certeza não seria um MG.

Só então, olhei para o bilhete, que dizia:

Sei que não é o que querias, mas espero que te sirva de algo.”

Virei o papel vendo que tinha algo mais.

PS: Perdoas-me?

Achei piada.

Quer dizer, eu sentia-me culpada e com remorsos, achando que devia pedir desculpa, e ele é que pede?

Era por essas e por outras que adorava aquele homem.

 

Serena

12:39

Um mês.

Passou-se exatamente um mês desde que o Mamoru e os outros rapazes desapareceram, e há um mês que não deixo chorar por isso todas as noites.

Tento manter a esperança de que ele vai voltar para mim e que tudo não terá passado de um pesadelo, algo para apagar da memória e nunca mais recordar, porque o meu coração não aguentar perder mais ninguém. Primeiro os meus pais, depois os meus irmãos e até... O meu filho. Se o Mamoru jamais aparecer, não sei o que será de mim.

Abanei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos absurdos, agarrando no pequeno pingente em forma de menino com uma safira incrustada, que parecia brilhar a meus olhos dessa mesma cor, que se escondia por baixo do cachecol tão branco quanto os mesmo cabelos.

Dei uns quantos passos até uma roseira completamente despida da sua bela flor, tal como as árvores à sua volta, que tinha sido deixadas pelas suas folhas mal chegou a neve, a qual formava os meus passos.

Continuei a caminhar até ao pequeno barracão de metal e remendos de madeira, uma das poucas coisas que ficou de pé na cidade Inazuma.

Foi o local onde o meu amado esposo passou a maior parte da sua adolescência, lutando por aquilo que mais amava; o seu querido futebol, que desde os ataques, nunca mais poder jogar. Nem se quer tocou numa bola no último ano, mas o seu sorriso, esse tão grande e doce sorriso que não tiro da minha mente, permaneceu sempre, dando-me apoio e alento para continuar a seguir em frente, mesmo depois de tudo o que já passamos juntos.

Aproximei-me do barracão, vendo uma pequena placa de madeira, onde tinha escrito “Clube de futebol”. Mal se via o que lá estava, o tempo começara a apagar cada traço que formava da palavra, mas nunca me esquecera do que lá estava. Era algo importante para o Mamoru, logo era para mim também.

—Outra vez a caminhar sozinha?- mal ouvi a voz da Starfox, voltei-me para trás, vendo-a aproximar-se com um sorriso- Sabes que mesmo que estejas dentro dos muros da escola, continuas sujeita a um ataque, ainda mais sem arma, Serena.

—Eu sei.- Não pude evitar sorrir- Mas sabes que gosto sempre de vir aqui. Mantém-me próxima do Mamoru.

Silêncio foi tudo o que ouvi como resposta ao que dissera.

No que estaria ela a pensar?

—Os rapazes estão a chegar. É hora de irmos para dentro comer.

—Eu vou já.

—E é melhor passares antes pela enfermaria.

—Porquê?- porque dizia isso? Eu sentia-me perfeitamente bem e não estava ferida. Do que estaria a falar?

Voltou-me as costas e começou a andar.

—O Goenji trouxe para cá uma nova rapariga. O nome dela é Endou Malina. Talvez a conheças.

Bastou ela pronunciar o nome para dar por mim a correr e a ultrapassa-la, deixando a minha companheira para trás, no meio da neve e árvores, enquanto eu corria o mais rápido que conseguia até à enfermaria da escola, subindo de dois em dois degraus, tentando ao máximo não tropeçar.

Se ela estava ali, isso só queria dizer que ainda havia uma réstia de esperança. Queria dizer que milagres realmente acontecem depois do Mamoru ter dado a sua querida prima como desaparecida há um ano.

Assim que passei a última curva para o corredor da sala médica, vi a Cristen e a Mika saírem de lá, sendo logo seguidas por um ruiva, que me fez logo sorrir, juntamente com as lágrimas de felicidade que não conseguia esconder.

—Malina.- Mal me ouviu chamar o seu nome, encarou-me com os seus brilhantes olhos verdes, acompanhados de um sorriso.

—Serena!

Vi a mais nova correr até mim, antes de me abraçar com um enorme fôlego, que fora correspondido.

Não podia estar mais feliz com a sua aparição.

Deus finalmente me havia dado uma pequena luz de esperança.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

(1) Um G-bot é o nome daquele robô que no capítulo 1 disse à Malina para o acompanhar. Eles são uma espécie de policia da cidade. Tem uma forma quadrada, são muito rápidos, e um pouco fáceis de destruir com qualquer arma, apesar da imensa força o que muitas vezes impede aqueles que ele apanha com as garras, de se mexer, dando choques elétricos através do seu corpo quando o detido está junto a ele.

(2) Um Patrulha é isso mesmo, um patrulha. Existem imensos, por todo o país que todos os dias procuram aqueles que sobreviveram aos ataques de dia 1 de janeiro de 2049. Mesmo à distância, conseguem alertar os G-bot, informando-os sobre a sua localização e quantas pessoas localizou, e os G-bots aparecem logo. São robôs relativamente pequenos, não passando dos joelhos, são muito facilmente destruídos e tem uma forma parecida com a do robô do filme Wall-E (o próprio Wall-E, não a Eve), só que a parte em que parecem olhos, é completamente quadrada.

(3) Como deu para entender durante o capítulo, houve vários rapazes que desapareceram durante um ataque, um deles foi o Mamoru e até mesmo o Kurama e o Kirino, que fazem par com O.C's, para além de outros que não fazem par com ninguém. Eles vão aparecer! Não estão mortos porque enfim, né... Coitadas! XD Mas vai demorar uns poucos capítulos, não serão muitos, prometo.

(4) MG-bot ou MG, são os robôs mais fortes de todos, são uma espécie de soldados de entre todas as categorias de robôs (porque ainda há muitas mais). São os mais fortes, rápidos e extremamente difíceis de derrotar, daí que quando os Warriors lutaram contra eles terem perdido. Têm uma forma muito parecida com a dos humanos, apesar de levar sempre armas nas mãos e deles próprios serem uma arma de destruição.

(5) Os quartos não são bem quartos. Não se esqueçam que eles estão abrigados na escola Raimon e não numa casa. Por isso, os quartos são nada mais, nada menos do que as antigas salas de aula, um pouco modificadas (e parcialmente destruídas, algumas completamente) que todos usam para seus quartos.


Espero que tenham gostado! ^^
Reviews?!
Kissus!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Warriors" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.