Foram muitas as vezes que Ladybug e Chat Noir se encontraram em situações desfavoráveis. Fosse enfrentando inimigos poderosos, tendo suas miraculous quase roubadas por um triz, lidando com entes queridos postos em perigo...

Mas definitivamente, a pior delas era quando o tempo de suas transformações se esgotavam e tinham que sair correndo antes que alguém visse suas identidades secretas.

Embora Adrien quisesse saber quem era a garota por quem se apaixonara, ele preferia que fosse por ela mesma e não pelas mãos de alguém possuído por um akuma.

De fato, ele preferia.

Com o passar do tempo, Hawk Moth conseguira produzir Akumas cada vez piores e mais difíceis de derrotar. O loiro perdera a conta de quantas vezes tivera que dar desculpas sobre machucados profundos que demoraram a se curar. Mesmo a proteção de Plagg e seu Cataclysm estavam começando a parecer cada vez menos eficientes.

Ele sabia que o mesmo acontecia com Ladybug, pelas vezes que a vira lutar e permanecer em pé mesmo que não aguentasse mais.

Sua perseverança era uma das coisas que mais amava nela, mas ao mesmo tempo era uma das coisas que o matavam de preocupação, ele tinha medo que algum dia - por pura teimosia - ela se encontrasse num beco sem saída onde não teria volta e nem toda a sorte do mundo pudesse salvá-la.

Por isso, quando a viu ir de encontro ao chão com testa ensanguentada, pode jurar que seu coração veio parar na sua boca.

—LADYBUG!! - Gritou e correu na direção dela, suas pernas e corpo ardendo devido ao seu próprio cansaço e ferimentos.

E quando chegou perto o suficiente, segurando com cuidado em seus braços e com o coração batendo tão forte ao ponto que doer em seu peito, uma estranha luz vermelha apareceu e a cobriu lentamente.

Chat Noir piscou uma, duas, três vezes.

Diante de si, estava uma Marinette Dupain-Cheng desacordada com um pequeno ser vermelho no mesmo estado repousando em seu peito.

O mundo pareceu parar.

Não havia akumas, não havia Paris, não havia perigo.

Era só ele e a garota.

Ele franziu o cenho, tentando entender o que estava acontecendo.

Marinette? Marinette era Ladybug? Mas...? Mas como? Elas eram tão... Diferentes...? O quê...?

Em meio ao seu turbilhão de pensamentos confusos, ouviu uma voz fina e delicada o chamar e quando olhou para a garota mais uma vez, deparou-se com os olhos azuis e redondos de sua kwami.

—Por... Por favor, ajude a... Mari... - Sua voz estava fraca e ele podia ver que ela lutava para manter a consciência. Diante de tal visão, o garoto não pode mais aguentar ficar parado, apenas balançou a cabeça para clarear um pouco sua mente e segurou a garota firmemente antes de correr em direção à cidade, deixando o akuma para trás.

Mesmo com o peso extra, ele não viu dificuldade nenhuma em pula de prédio em prédio, correndo o mais rápido que sua forma transformada o permitia até que finalmente aterrissasse no terraço da casa da garota.

Pouco depois de entrar no quarto dela e colocá-la sobre a cama, uma luz verde surgiu em volta de si e uma criaturinha negra com características felinas voou até a outra que pedira por socorro.

—Tikki! Tikki, vamos, recomponha-se!

—Eu... Eu estou bem, Plagg...

Adrien piscou seus olhos rapidamente, não acreditando no que via.

—E- Espera! Vocês se conhecem?!

—Ora, é claro que sim! Já existiram outros Chat Noirs e Ladybugs antes de vocês dois! Eu e Tikki lutamos lado a lado a séculos! - Os bigodes de Plagg se agitaram impacientemente. - Agora precisamos achar um queijo pra ela e rápido!

—Eu não como queijo, Plagg...

—Ah, certo, esqueci que você tem mau gosto para comida.

—Plagg! - O loiro o repreendeu.

—Biscoitos, né? - Mas o kwami o ignorou. - Onde tem?

—Deve ter na cozinha. - O garoto bufou e se virou para a garota mais uma vez. - É melhor você ir lá pegar.

—Eu?!

—É mais difícil verem você roubando um biscoito do que eu! E mais, eu preciso cuidar da Marinette também!

—Argh, certo. Aguentaí, joaninha, não é hoje que você vai partir de uma dessa pra melhor ouviu! - O gatinho preto apontou para Tikki - que apenas sorriu levemente - antes de voar para o andar de baixo.

—Mari... - A kwami vermelha murmurou, arrastando-se para mais perto dela.

—Não se force. - Adrien pediu e aproveitou a chance para pegar o pulso da morena e checar sua respiração. Suspirou aliviado quando constatou que ambos estavam estáveis. - Ela vai ficar bem, só preciso cuidar do ferimento na testa dela.

—Graças a Deus...

—Tikki. - Ele a chamou gentilmente. - Sei que está cansada, mas preciso saber onde guardam o kit de primeiros-socorros.

Ela lhe devolveu o olhar com seus grandes olhos azuis.

—No banheiro, na porta perto da parede...

Sem perder tempo, o loiro correu até lá e recolheu a caixa. Tirou rapidamente todos os utensílios que precisaria para cuidar do machucado e voltou com a mesma rapidez para o quarto da garota.

Ele ainda não acreditava que a tímida e desajeitada Marinette e a impetuosa e confiante Ladybug eram a mesma pessoa! Quer dizer, elas não possuíam nada em comum!

Foi enquanto abria o desinfetante que uma mini epifania clareou seu cérebro por inteiro.

Não tinham nada em comum...? Não, aquilo não era certo.

As vezes que ela rebatia as ofensas venenosas de Chloe, as vezes que ela se colocava na linha de frente quando alguém precisava de ajuda, as vezes que surgia com as ideias mais incríveis em momentos difíceis e até mesmo as vezes que ela dava um fora nos trejeitos de Chat...

Todas elas eram características que ela dividia e sempre dividiu com Ladybug, talvez pelo fato da garota agir tão diferente na frente dele foi o que o impediu de perceber isso mais cedo.

Ao limpar o ferimento em sua testa e ver seus olhos tremerem levemente, percebeu também como seus cabelos eram iguais, tinham o mesmo cheiro, o mesmo brilho. A cor dos olhos de ambas eram de um azul tão límpido quando o céu de verão.

A curvatura de seu rosto, a cor de seus lábios, suas bochechas rosadas, seus dedos finos, a figura de seu corpo...

Ela era ela.

Marinette era Ladybug.

Claro como cristal e inegável assim como o sol era quente e o mar era profundo.

—Você sempre esteve tão perto... - Ele murmurou, acariciando as maçãs de seu rosto com o dedo polegar. Nesse meio tempo, Plagg já havia retornado com os biscoito de Tikki e saído outra vez atrás de um queijo para recuperar suas forças.

Enquanto comia o doce com calma, a kwami observava o garoto com cautela e sorriu quando viu os olhos verdes dele suavizarem seu olhar.

Assim que terminou o biscoito e se viu apta a flutuar novamente, Tikki foi até ele.

—Adrien?

Ele piscou e voltou sua atenção para ela, parecendo ter sair de um transe.

—T- Tikki? Você não pode se forçar...

—Eu estou bem. - Ela o assegurou. - Escute... Preciso lhe pedir um favor.

O loiro a encarou surpreso, mas assentiu sério.

—Você poderia, por favor, guardar o segredo a Marinette...

—Mas é claro-!

—... Até dela mesma?

Ele parou.

—O quê...? - Aquela devia ser a vigésima nona vez que piscava confuso naquele dia.

—Acredite. Ela iria revelar a Chat Noir - a você - quem ela era de verdade, quando fosse o momento certo... Por isso, tenho mais do que certeza que não é assim que ela queria te contar.

Tikki o encarou com olhos expressivos.

—Então, por favor, você poderia esperar mais um pouco?

Adrien encarou a Kwami e depois a morena, deixando que seu olhar persistisse no rosto sereno dela.

—É claro. - Respondeu, a voz baixa. - Por ela, eu esperaria até o fim do mundo.

A kwami sorriu.

—É um ótimo menino, Adrien. - E rodopiou em volta dele. - Fico muito grata e feliz que seja o parceiro da minha Marinette.

O loiro sentiu suas bochechas se aquecerem com o elogio sincero, mas devolveu o sorriso.

—Obrigado, Tikki.

Um murmúrio vindo da garota e um chamado vindo de Plagg chamaram a atenção de ambos, cortando-os do momento.

—Adrien, temos que dar o fora daqui! Os pais dela chegaram e é melhor ela não te ver quando acordar.

—Mas e se ela perguntar-?

—Não se preocupe, inventarei algo para acobertar vocês. - Tikki assentiu.

—Que raios você tá fazendo voando?! - O kwami negro protestou. - Vai descansar!

—Eu já vou, gatinho, não se preocupe.

O loiro se voltou para a morena mais uma vez e segurou sua mão, antes de trazê-la até os seus lábios.

—Fique bem, minha lady.

Logo depois, saiu correndo para o telhado com Plagg logo atrás e a pequena vermelha pode ver uma figura negra correr por entre os prédios de Paris.

Quando Marinette acordou, Tikki lhe disse que Chat Noir a encontrou em meio aos feridos da batalha e a trouxe para sua casa, além de tratar seu ferimento. A garota ficou surpresa, mas quando perguntou se ele a tinha visto, a kwami mentiu negando a cabeça.

—É um bom parceiro o que você tem, Marinette. - Ela falou. - Tenha certeza de cuidar bem dele.

Ela levou sua mão até o curativo em sua testa e assentiu antes de soltar um sorriso pequeno.

—É claro.

Depois, quando conseguiu convencer a kwami vermelha de que estava bem, ela se transformou e saiu correndo pelos prédios em busca de Chat, para que salvassem o dia mais uma vez.

Juntos.