Gabriel escrita por Bella P


Capítulo 6
Capítulo 5




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AS PALAVRAS DE CASTELO FIZERAM O coração de Lorenzo falhar uma batida dentro de seu peito. Como assim soberana Estrela estava prestes a declarar guerra aos demônios sem nem ao menos ter as considerações finais da investigação deles? De Hunter, em tese, que ela não sabia que, pela primeira vez em sua vida miserável, resolveu procurar caçadores de verdade para evitar fazer uma cagada sem volta. Estrela não havia dado uma semana para mestiço descobrir o assassino de Acqua? O que a fez mudar de ideia? Por que ela estava voltando em sua promessa? Anjos quebrando regras era um paradoxo dimensional. Algum universo paralelo deveria estar entrando com colapso diante desta violação de uma cláusula pétrea da existência angelical. 

— Não me parece ser do feitio da soberana Estrela abrir fogo contra o adversário sem antes ter certeza de que está atacando a pessoa certa. Sejam eles demônios ou não. Agora, me explique algo que não compreendi: que bebê? — senhoras e senhores, ‘and the Oscar goes to…”, cardeal DeMarco que era realmente bom em blefar. Lorenzo invejava o homem, sério, o inveja de forma profunda. Ele nunca foi bom em mentir e quando criança sempre cedeu facilmente à pressão, especialmente quando estava sob a interrogação de Carmem. Se a sua avó queria descobrir qual dos netos havia aprontado no QG, bastava ir diretamente nele. Lorenzo contava tudo diante de um olhar da matriarca. Guardar segredos, então? Pode esquecer. Se fossem os seus próprios segredos, Lorenzo era um túmulo. De terceiros? Roma e arredores saberiam da fofoca antes do dia terminar. 

Castelo não reagiu à pergunta acusatória de DeMarco. Pelo contrário, apenas ficou em silêncio, mirando o cardeal por alguns segundos, com uma expressão indecifrável em seu rosto, e em seguida deu às costas para DeMarco e saiu da sala sem nem ao menos se despedir, sendo acompanhado pelos seus seguranças. Hunter não o seguiu, até porque o anjo não pediu para que ele fizesse isto, e por dois minutos os que ficaram para trás ficaram parados, em silêncio, até que Hunter foi até onde Lorenzo estava e o arrancou de seu esconderijo com um puxão pelo braço.

— Eu não mandei você ir embora? — ele sibilou para o caçador e o seu rosto era frustração pura. Lorenzo causava esse tipo de reação nas pessoas, provavelmente porque ele nunca fazia o que era mandado, especialmente quando a ordem vinha de alguém que naturalmente lhe dava nos nervos. 

— O quê? — porém, naquele momento, Lorenzo estava genuinamente confuso. Quando foi que Hunter o mandou fazer alguma coisa na última meia hora? Ele perdeu o memorando. 

— A mensagem, você não a recebeu? — Hunter rebateu com incredulidade, soltando o caçador após perceber que passou mais tempo que o propriamente aceito segurando o outro homem. 

— Era você? Como você conseguiu o número do meu celular? — a não ser que Hunter tivesse algum talento escondido, como ser um hacker nas horas vagas, Lorenzo não lembrava de ter divulgado este número para o mestiço. Na verdade, ele até fez isto, nove anos atrás, quando era um idiota apaixonado que achou que Hunter era o seu namorado. Mas depois do vergonhoso fora que levou após o choque de realidade, aquele onde o mestiço disse que ele não passou de uma boa foda, a primeira coisa que Lorenzo fez foi trocar o seu número. 

— Tem sorte que o cheiro forte de madeira e livros abafou o seu cheiro, porque se Castelo te visse aqui… — Hunter continuou, ignorando a pergunta de Lorenzo, e recuperando a expressão que mostrava o quão frustrado ele estava com o homem mais novo e a sua incomparável teimosia. Uma mula, empacada e atolada, era mais maleável que o caçador. 

— Você conhece aquele anjo simpático? — Lorenzo rebateu com deboche e Hunter soltou um grunhido do fundo da garganta, que assemelhou-se a um rosnado. Interessante. 

— Quem você acha que me contratou sob as ordens de Estrela?

— E o que ele disse quando te viu aqui?

— Nada. Ao contrário de você, eu sou bom em mentir — Hunter acusou e Lorenzo engoliu um ganido de ultraje, antes de dizer:

— O quê? Eu sou bom em mentir! — mentira, claro, como já dito antes Lorenzo não tinha vocação alguma em mentir se a sua vida dependesse disso. Omitir, claro! Ele era ótimo nisso. Mas o maior ultraje dele estava no fato de que Hunter sabia dessa vergonhosa falha sua. Afinal, o que era um caçador que não sabia mentir direito? Vivendo uma vida que precisava dessas pequenas gafes. Mais, como é que o mestiço sabia isto sobre ele. Hunter e Lorenzo tiveram o que poderia ser chamado de ‘namorico de verão’. Disseram muitas coisas um para o outro, verdade, e agora Lorenzo tinha a certeza que metade das coisas que Hunter disse foram mentiras, já que ele assumiu ser bom no assunto, mas em troca Lorenzo nunca disse ao mestiço sobre este seu pequeno defeito.

Era intrigante, e enervante o quanto Hunter parecia saber coisas sobre ele quando, ao mesmo tempo, Lorenzo não conhecia nada do meio-demônio. Nada que fosse além do conhecimento geral dos caçadores. 

— Rapazes — cardeal DeMarco os chamou, encerrando aquela conversa antes que a mesma escalasse para uma discussão sem fim. Era como se ele soubesse exatamente que tipo de temperamento encontrava-se naquela sala, representado pelos dois homens, e que fim desastroso um embate de vontade entre eles teria – Eu me preocuparia mais com as notícias da guerra iminente.

— Soberana Estrela me deu uma semana e eu ainda tenho seis dias. O que pode tê-la feito mudar de ideia? — Hunter explicou e DeMarco o olhou longamente antes de dizer:

— Você sabe como funciona a política dos anjos e demônios? São curiosamente semelhantes para duas raças que se detestam. Eles têm um líder, soberanos para os anjos e regentes para os demônios, há um vice-líder, como um vice-presidente, que são os primeiros-ministros, e há um conselho de decisão, o que equivale a um parlamento. No caso dos anjos, a tradição é que o soberano seja sempre uma fêmea, o primeiro-ministro um macho, para assim ter harmonia. Há três casos em que o primeiro-ministro assume o poder: quando a soberana morre e a sua sucessora ainda não está apta a governar, geralmente por ainda ser um infante, quando a soberana está temporariamente incapacitada por doença ou ferimentos graves, ou quando a soberana vai para a guerra.

— É uma bela história padre — Hunter cruzou os braços sobre o peito em um gesto petulante e DeMarco lançou à ele um olhar penetrante, um que dizia que sabia que Hunter havia sido desrespeitoso ao chamá-lo de padre quando estava claro em suas vestes que ele era um cardeal, isto fez com que o meio-demônio descruzasse os braços e trocasse o peso do corpo de uma perna para a outra, em um gesto nervoso. Este geralmente era o efeito que DeMarco tinha sobre as pessoas que não o conheciam, a absurda calma dele incomodava os desavisados — Mas onde o senhor quer chegar? — completou e Lorenzo tinha uma vaga ideia.

— Está querendo dizer o quê? — o caçador argumentou — Que isto é uma armação política de Castelo? A sucessora está morta e se Estrela for para a guerra e morrer, ele assumirá o poder. É isso?

— Não exatamente — DeMarco explicou — Estrela tem uma outra filha que está apta a assumir o posto em caso de morte. E mesmo se este não fosse o caso, a soberana sempre é uma fêmea, o conselho escolheria uma outra sucessora dentro da linhagem real. E Castelo é fiel a sua soberana — então Lorenzo não entendia mais nada e estava sem teorias válidas — Mas você pareceu surpreso diante da possibilidade de Estrela saber da gravidez de Acqua.

— Bem, sim — e Lorenzo começou a explicar ao cardeal a razão dele estar trabalhando com Hunter — Por isso não faz sentido — disse por fim — Se a soberana sabia da condição de Acqua, por que contrataria Hunter para encontrá-la?

— Ela não sabia — o cardeal esclareceu — Estrela preza os costumes e as tradições acima de tudo. Se ela soubesse da gravidez, Acqua seria uma excluída e a sua morte não causaria este furor que está causando.

— Mas Castelo sabia da gravidez. E mais, ele sabe que o bebê está vivo — Hunter comentou — Como ele sabe disto?

— Talvez a resposta para todas as nossas perguntas esteja neste bebê — Hunter e Lorenzo miraram o cardeal, sem entender, após esta colocação deles — Anjos são altamente férteis e por isso evitam ao máximo copular quando não possuem um parceiro escolhido. Se Acqua engravidou fora de uma interligação, ela iria querer livrar-se do bebê, não mantê-lo. E pelo que Lorenzo me falou, o tempo em que ela ficou escondida entre humanos foi tempo o suficiente para esta criança nascer. Se alguém tentou esconder o fato de que Acqua esteve grávida, era porque queriam que o corpo dela retornasse ao ninho para os devidos rituais fúnebres. Que ela voltasse como uma filha pródiga, não como uma desonrada. Logo, era alguém que se importava.

— Ótimo, um demônio se importando com as tradições dos anjos. Porque os exames foram claros, o ferimento na barriga foi feito pelas garras de um demônio — Hunter falou.

— Castelo disse que o bebê foi levado por demônios — Lorenzo virou para Hunter — Talvez devêssemos visitar o seu amigo Bee de novo — e Hunter rolou os olhos.

— Ele sabe de alguma coisa, fato, mas ele não vai abrir a boca porque teme algo mais do que o meu punho na cara dele — Hunter resmungou e Lorenzo pensou por um segundo antes de obter a resposta.

— Eu conheço alguém que pode conseguir esta informação para nós — disse com um sorriso de triunfo que, pela expressão de Hunter, não agradou em nada ao mestiço. Era como se ele soubesse exatamente em quem Lorenzo estava pensando.

Novamente, o caçador não queria nem começar a conjecturar o que se passava na cabeça caótica de Hunter. Ou como ele sabia tanto da vida de Lorenzo e as companhias que ele mantinha. 

 

oOo

 

— LORENZO CRIPIANI – O SORRISO DE Lorena, ao abrir a porta e ver quem estava do outro lado, era tão largo que poderia ser caracterizado como o típico sorriso de orelha a orelha — Eu não deveria falar com você depois da desfeita da noite passada — resmungou com um biquinho adorável e Lorenzo riu.

— Aposto que você resolveu o problema rapidinho — Lorena desfez o bico e soltou uma risada afetada como resposta, dando um passo para o lado para permitir que Lorenzo e Hunter entrassem no apartamento.

— Claro, eu sou uma mulher moderna — disse coquete e o olhar de Lorenzo a percorreu dos pés à cabeça. 

Lorena era uma mulher perfeita. Linda e deslumbrante e que despertava paixões avassaladoras. Lorena era independente e geniosa, não gostava de se apegar a ninguém, prezava a própria liberdade acima de tudo, e cada centímetro dela foi perfeitamente esculpido pelas mãos habilidosas de renomados cirurgiões plásticos. Isto porque, tecnicamente, Lorena não nasceu uma mulher, embora essa definição fosse mais aplicada à raça humana. Na verdade, ela não nasceu uma fêmea demônio, isso sim, e foi assim que Lorenzo a conheceu. 

Na época Lorena se chamava Luigi e o ajudou em uma caçada, o apontando para o caminho certo, e desde então eles mantiveram contato. Foi com Lorenzo que Lorena testou o seu novo corpo depois da cirurgia de redesignação de gênero e desde então não parou de testar.

— Então é claro que terminei o trabalho sozinha — completou. 

— E pensou em mim? — Lorenzo gracejou.

— Sempre — Lorena respondeu e sapecou um beijo nos lábios entreabertos de Lorenzo, um beijo que se teve a intenção de ser breve, não foi exatamente o que aconteceu. Em um momento os seus lábios estavam se roçando, no outro se devorando e línguas foram incluídas no processo.

Hunter rosnou baixinho ao lado deles e Lorenzo viu de rabo de olho o mestiço abortar um movimento de braço umas três vezes, como se a intenção dele fosse descolar Lorenzo da boca de Lorena à força.

O beijo encerrou quando o rosnado de Hunter ganhou um volume significativo e ameaçador.  

— Amiga sua, Lorenzo? — o mestiço perguntou com uma expressão de quem estava prestes a rasgar a jugular de alguém, com os dentes, e Lorenzo, sem fôlego diante daquele beijo cinematográfico e inédito, olhou com confusão para Lorena que gargalhava ao seu lado.

— Somos amigos com agradáveis benefícios — Lorena disse de forma provocadora e deslizou uma mão pelo peito de Lorenzo em uma carícia sensual, depois deslizou os dígitos abusados pelo braço do caçador, descendo pela cintura, até chegar ao seu traseiro, onde ela deu um aperto generoso neste, o que fez Lorenzo dar um pulo no lugar, não pelo toque ousado, pois ele estava acostumado com as mãos de Lorena sobre o seu corpo, mas pelo fato de que ela o tocou de forma tão despudorada diante de uma plateia. 

Hunter, por outro lado, obviamente não gostou de presenciar tal cena e o rosnado dele ficou mais alto e intenso e os seus olhos ametistas escureceram de forma perigosa. Lorena afastou-se de Lorenzo com a graciosidade de uma bailarina e com um sorriso cheio de promessas brincando em seus lábios vermelhos. 

— O que deu em você? — Lorenzo sibilou para Hunter, quando Lorena afastou-se o suficiente, tomando o caminho da sala de estar — Isto é aquela coisa de demônios e territórios?

Demônios eram territorialistas e o território em si podia ser qualquer coisa, desde um terreno muito grande, a uma casa, ou até mesmo um mísero apartamento, mas se era deles, era deles, e as suas regras tinham que ser obedecidas. E demônios também podiam ser territorialistas com pessoas, mas esses casos eram bem específicos, envolvia as tradições de acasalamento e Lorenzo não queria criar esperanças dentro de seu coração estúpido sobre o assunto. Acreditar por um momento que mesmo que o lado humano de Hunter tenha sido frio e calculista, o usado e abusado dele e o jogado fora, o lado demônio do mestiço tinha outras ideias no que dizia respeito a Lorenzo, que o via de outra forma, que não o via somente como um caso passageiro.

— Não seja ridículo — Hunter rebateu com nojo permeando a sua voz e somente isto fez Lorenzo abafar esta ideia absurda dentro de seu ser com a mesma ferocidade com que se abafava uma brasa, antes que esta se transforme em um incêndio florestal.

— Espero, porque de toda forma nós estamos no território de Lorena, então você tem que respeitá-lo.

— Eu faria isto se não fosse só o apartamento que ela quisesse clamar como território — Hunter murmurou baixinho e Lorenzo piscou repetidamente, duvidando que tinha ouvido o que ouviu, e mirou o mestiço que desviou o olhar e tinha um curioso tom rosado em suas bochechas pálidas. 

— Sentem-se, por favor — Lorena interrompeu a fascinante troca que ocorria entre os dois homens parados perto da porta de entrada, e deu tapinhas na almofada do sofá onde ela estava acomodada como a própria Cleópatra sobre um divã. O olhar dela esta fixo em Lorenzo, o que demonstrava que o convite havia sido especificamente para ele, e o jovem caçador já estava indo para lá, para sentar ao lado dela, quando foi puxado bruscamente pelo braço e forçado a sentar na poltrona de um lugar. Lorenzo piscou de forma atordoada, tentando entender exatamente o que aconteceu, mas Lorena somente gargalhava e Hunter já tinha sentado na poltrona do lado oposto a ele.

— O que aconteceu aqui? — Lorenzo lançou para Hunter um olhar azedo e fez menção de levantar, ir para o lugar que intencionava tomar originalmente, mas um outro rosnado do mestiço cessou os seus movimentos.

— Melhor ficar aí, querido. O carpete é importado, portanto tirar a mancha de sangue dele dará trabalho — Lorena disse entre uma risada e outra — Raramente você me procura pelas manhãs, Lorenzo. E quando faz isto, é porque quer um favor.

— Não é a primeira vez que você pede um favor a ela? — Hunter interrompeu com desgosto puro escorrendo de seu tom de voz — Você faz ideia do que significa dever um favor a um demônio?

— Eu não sei Hunter. Sabe como é, eu não fui treinado desde os sete anos para ser um caçador, não estou caçando desde os dezesseis e venho de uma longa e antiga linhagem de Caçadores que existe desde que o primeiro humano abateu o primeiro demônio ou anjo nesta Terra. Então, por favor, me explique o que é dever favores a um demônio – Lorenzo disse com puro sarcasmo gotejando de sua voz e isto foi o suficiente para fazer Hunter calar a boca.

Sinceramente, Lorenzo gostaria de saber se demônios ou meio-demônios estavam fadados a terem transtornos mentais semelhantes àqueles que acometiam os humanos, porque Hunter estava bem perto de ser diagnosticado com uma bipolaridade aqui e acolá. As variações de humor dele eram como uma partida ágil de tênis e acompanhá-la estava causando torcicolo em Lorenzo.

Hunter agia como se Lorenzo fosse um ser humano comum, ignorante e indefeso, e esquecia quem ele realmente era e qual era o seu sobrenome. Era como se ele ainda o visse como o garoto de dezesseis anos que resgatou das garras de um wendigo. O garoto movido a adrenalina e estúpida coragem, cujas mãos tremiam enquanto tentavam recarregar a sua espingarda, que soltou um grito de pavor quando o wendigo praticamente voou em sua direção em um ataque, e que só não foi estripado naquele instante porque um tiro acertou o monstro no estômago, o obrigando a recuar e a fugir, para lamber as feridas. 

Lorenzo havia caído de joelhos no chão quando finalmente o seu cérebro conectou e informou a ele que ainda estava vivo, vomitou o seu café da manhã sobre o concreto e talvez tenha derramado algumas lágrimas de pavor. Todo o treinamento que teve não era nada comparado a vida real e ele entrou em pânico, e a primeira coisa que viu quando voltou a si foi o rosto bonito e preocupado de Hunter, na sua frente.

Até hoje ninguém do clã sabia que Lorenzo somente passou em seu Teste dos Dezesseis Anos graças a ajuda de Hunter. Ele seria a vergonha e a chacota da família por ter quebrado uma tradição secular. 

Porém Lorenzo não era mais o menino amedrontado que Hunter conheceu, ele já era um homem e já viveu e sobreviveu a muitas caçadas depois daquela e, portanto, sabia no que se metia, muito obrigado.

Dever favores a demônios era o mesmo que dever favores a máfia. Uma hora o favor seria cobrado e não seria nada agradável. Mas o caso de Lorena era outro. Lorena ajudou Lorenzo em uma caçada porque um dia ela já foi a caça. Se os caçadores não tivessem o costume de investigar a fundo um caso antes de sair abatendo criaturas sobrenaturais, Lorena não estaria ali hoje, toda sorridente, provocando Hunter sabe-se lá por quê. Ela já teria virado pó só porque todas as evidências apontavam ela como culpada, mas os instintos de Lorenzo diziam o contrário, e foi isto que a salvou.

Lorenzo salvou a vida de Lorena e, perto disso, ela ainda estava devendo à ele retornar o favor. O débito dela ainda estava aberto com o caçador. 

— A minha situação com Lorenzo é especial — Lorena falou isto com tanta insinuação nas entrelinhas, que Lorenzo viu uma veia saltar na testa de Hunter e, sinceramente, essa montanha-russa emocional estava começando a cansá-lo. Foi por isso que ele protestou sobre trabalhar com Hunter, porque sabia que uma hora ou outra os fantasmas do passado voltariam para assombrá-lo — Mas diga querido, o que posso fazer por você? — Lorena interrompeu a linha de pensamento de Lorenzo com esta pergunta e ele pôs-se a explicar, não com muitos detalhes, pois Lorena não precisava saber de tudo, sobre o caso do anjo encontrado morto em um beco.

— Ela tinha traços de beladona sob as unhas e o único lugar onde essa droga circula aqui em Roma é no…

— Por Una Cabeza — Lorena completou, interrompendo Lorenzo — O que ela estava fazendo em um clube que só tem demônios, um ou outro humano casual, e manipulando beladona? A droga não tem efeito em anjos.

— Essa é a pergunta da hora e é isto o que eu estou te pedindo, que você descubra. O dono do clube sabia do que estávamos falando, mas se recusou a dizer qualquer coisa. — Lorena ajeitou-se no sofá, abandonando a sua pose de Cleópatra, fez uma expressão pensativa por um segundo de suspense e finalmente disse:

— Faz tempo que eu não vou a um clube. O que você acha que eu devo vestir? — Lorenzo sorriu para ela em agradecimento e ignorou totalmente a cara amarrada de Hunter.

Se o mestiço estava com problemas para aceitar Lorena, isto não era problema de Lorenzo, não é mesmo?

 

oOo 

 

— DEIXE EU TE DIZER O que eu acho deste plano ridículo e sem sentido. Ele é ridículo e sem sentido! — Lorenzo considerou bater com a testa na parede às suas costas ao ouvir pela enésima vez Hunter resmungar sobre o quão aquele plano era péssimo.

Ambos usavam a viela formada por dois prédios, na calçada oposta ao Por Una Cabeza, e as sombras geradas pelas construções, como esconderijo e forma de camuflagem e, desde que montaram acampamento ali, há uns cinco minutos, que Hunter estava resmungando sobre a péssima ideia que era usar uma civil, pior, uma demônio, para ajudá-las nesta caçada.

O Por Una Cabeza ficava em uma das várias ruas estreitas do centro de Roma, na esquina de um cruzamento, e já havia uma fila de espera na entrada do clube, cujo letreiro néon sobre a porta piscava, lançando reflexos coloridos sobre os demônios elegantemente vestidos e absurdamente bonitos. Era como se a Victoria's Secrets e a Calvin Klein estivessem dando uma festa com todos os seus melhores modelos presentes. Lorena havia entrado há uns seis minutos, com um rádio comunicador preso em sua orelha e escondido sob o longo cabelo escuro.

Já era meio da noite, o que significava que Lorenzo e Hunter tiveram que esperar até altas horas para prosseguir com o trabalho, o que os deixou extremamente tensos desde a hora em que eles saíram do apartamento de Lorena, até o momento em que foram buscá-la para levá-la ao clube. Cada segundo perdido era um segundo a mais para começar uma guerra e ambos passaram horas sem fazer nada, esperando chegar o momento para colocar o plano de Lorenzo em ação. Por isso que Hunter resmungava tanto. Isto e o fato de que Estrela estava ficando impaciente, segundo a mensagem que ela havia mandado mais cedo para o mestiço, e prestes a descer de seu pedestal para o submundo para declarar guerra aos demônios. E o cardeal DeMarco, segundo Walter, estava se desdobrando para atrasar a vingança da soberana o máximo possível, mas parecia que qualquer palavra sensata que o cardeal sussurrava nos ouvidos de Estrela, alguém vinha e sussurrava palavras opostas, desfazendo todo o trabalho de DeMarco.

Lorenzo apostava o seu mísero salário de caçador que o espírito de porco incitando Estrela a declarar guerra aos demônios era o Castelo.

Depois de deixarem o apartamento de Lorena pela manhã, ambos tomaram o caminho de volta ao QG, onde Hunter foi informado que o seu jipe o aguardava na entrada de uma das ruas de acesso à praça Navona. Hunter partiu com a promessa de encontrar Lorenzo em frente ao Vaticano às nove horas da noite, para buscarem Lorena e entregarem a ela o equipamento de comunicação.

Com isto, Lorenzo teve dez horas e meia nas mãos para passar o tempo. Horas que ele usou colocando o sono em dia, socando alguns sacos de areia no ginásio do QG, repassando todo o plano para Marcelo, Carmem e Walter, e reportando tudo o que foi descoberto até o momento.

“Não tiro a razão de suspeitar de Castelo” Walter falou durante a conversa que tiveram mais cedo, quando Lorenzo terminou de relatar a conversa que testemunhou entre Castelo e o cardeal. “Um primeiro-ministro não teria razão para vir pessoalmente supervisionar este caso, mesmo que seja um desta grandeza. Quando um ataque afeta diretamente o coração do governo dos anjos, o procedimento padrão é que todos se mantenham unidos e evitem sair do ninho.”

“Sem contar que Castelo sabe do bebê, enquanto Estrela não” Lorenzo completou. Ao menos esta era a suspeita principal, não? Estrela ignorante da existência desse filho de Acqua, Castelo ciente do assunto mas o omitindo a sua soberana, porque Estrela disse à Hunter que Acqua fugiu de casa, mas não disse a razão e cardeal DeMarco estava tentando aprofundar-se mais no assunto, porque as informações estavam muito truncadas para o gosto dos Cipriani. Havia algum boi nessa linha. 

“Não necessariamente” todos voltaram as suas atenções para Marcelo diante deste comentário. “A tensão entre os anjos e os demônios piora a cada ano e uma fagulha qualquer pode ser a razão para começar uma guerra. Acqua pode ser esta fagulha.”

“Está dizendo o quê? Que a morte de Acqua foi causada pelos próprios anjos e eles a fizeram de modo a colocar a culpa nos demônios? Que Estrela é quem está por trás deste circo, querendo ter uma razão qualquer para ir para a guerra e usou a própria filha como bucha de canhão, para isto?” Lorenzo não acreditava nisso, até porque a necrópsia mostrou dois ferimentos: o que matou Acqua e um causado após a sua morte. E era este segundo ferimento que estava intrigando Lorenzo. Por que um demônio iria querer encobrir a gravidez de um anjo? Mais ainda, onde entrava a gravidez de Acqua nesta equação se este fosse o verdadeiro cenário? 

“É uma possibilidade, já que o golpe fatal não foi feito por um demônio, apenas foi feito para simular as garras de um demônio. E eu não engulo que soberana Estrela contratou Hunter porque não confia em nós. A Soberana Estrela sempre confiou no nosso trabalho” Marcelo completou.

“Colocar Hunter na jogada é um modo de evitar que a verdade seja descoberta” Carmem continuou “Hunter não tem os recursos que nós temos, logo nunca descobriria o que descobrimos” a sorte é que Hunter teve um lapso de consciência e resolveu procurar os Cipriani. Talvez Estrela não soubesse que o clã estava agora na jogada, mas deveria estar ao menos desconfiando de que alguma coisa estava errada, que alguém por trás dos panos estava adiando o desastre que ela planejava “E você mesmo falou que um anjo tentou matá-los. Para mim, isto é encobrir evidências.”

“E eu tenho certeza que aquele Bee sabe de alguma coisa” Lorenzo informou.

“É uma possibilidade. Ele é um mestiço comandando um clube que é frequentado somente por demônios. É provável que ele saiba quem é o demônio que andava com Acqua, o demônio que tentou encobrir a gravidez dela” Walter completou.

“Agora o que eu não gosto” Carmem cruzou os braços sobre o peito e mirou Lorenzo com severidade “é que você vai usar um demônio para fazer o trabalho de um caçador” Lorenzo rolou os olhos. A sua avó estava chiando sobre isto desde que ele contou a todos sobre os seus planos para continuar esta investigação, antes que Estrela abrisse fogo.

“Lorena é de confiança", ao menos Lorenzo esperava que ela fosse.

— Então — a voz de Hunter trouxe Lorenzo de volta ao tempo presente — Há quanto tempo Lorena e você estão juntos? — Lorenzo virou vagarosamente na direção do mestiço, com isto desviando a sua atenção da entrada do clube, para focar no outro homem um olhar incrédulo. Que tipo de pergunta era aquela?

— Como é?

— Lorena e você…

— Eu te ouvi da primeira vez, o que eu não entendo é no que isto te interessa — se Lorena e ele estavam juntos, namorando, fudendo, dançando a hula em noites de lua cheia, nus, na Fontana di Trevi, isto não era da conta de Hunter, não é mesmo?

— É que eu já aviso que demônios e humanos não foram feitos um para o outro. É uma combinação volátil e geralmente o relacionamento não dura — Hunter disse de uma forma displicente, como se tivesse fazendo um favor a Lorenzo ao repassar aquela informação, ou ao menos tentou colocar um tom de descaso em sua voz. Os ombros tensos dele mostravam que o que ele verdadeiramente pensava da situação era outra coisa. 

— Eu sei. Você fez questão de me ensinar isto, há nove anos — Lorenzo não quis deixar transparecer o quanto a lembrança ainda doía, na verdade, em um bom dia, ele nem gostava de admitir isto ou lembrar deste fato, mas a presença de Hunter de forma constante, nas últimas horas, em sua vida, estava pouco a pouco descascando o muro de indiferença que ele havia construído de maneira tão cuidadosa ao redor de seu coração. 

— Você ainda está se apegando a isto? — Hunter comentou com um resmungo e, aparentemente, para ele, a presença de Lorenzo de volta a sua vida não tinha o mesmo impacto, não é mesmo? — O nosso caso foi há anos, e foi bem curto, pelo que lembro. 

— Exatamente! O que significa que você não tem cacife para ficar me perguntando sobre a minha vida amorosa.

— Vida amorosa? Já está neste nível? — Hunter retornou com deboche e, Lorenzo arriscava dizer, um claro ar de despeito. 

Lorenzo bufou e virou para jogar na cara de Hunter umas poucas e boas que estavam entaladas em sua garganta há anos, mas a voz de Lorena soando no comunicador dentro de sua orelha o interrompeu.

— Meninos, embora esteja sendo divertidíssimo ouvir vocês brigarem como um casalzinho de adolescentes, tem uma coisa que vocês precisam saber: Peter está aqui.

— Quem? — Hunter perguntou confuso.

— Para alguém que descende desta raça, você sabe muito pouco sobre ela. Sucessor Peter. O herdeiro do regente Elias — Lorenzo explicou e para Lorena ele disse:

— O que Peter está fazendo aí? A família real evita contato com os humanos — A família real dos demônios era um bando de frescos que consideravam os humanos a escória da escória, mais do que os outros demônios, e por isso evitavam vir à superfície ao máximo.

A última vez que alguém viu um integrante daquela família circular entre humanos, foi há uns cinquenta anos. E agora vinha o herdeiro do regente estar entre pobres mortais? Era, no mínimo, suspeito.

— Não faço ideia — Lorena respondeu — Quer que eu vá lá perguntar? — Lorenzo piscou repetidamente e pressionou com a ponta do indicador o comunicador mais para dentro de sua orelha, como se isto fosse fazê-lo entender melhor o que Lorena disse.

— Isto foi uma pergunta retórica? — Lorena riu do outro lado da conexão.

— Óbvio que não! Dê-me alguns minutos para eu trabalhar o meu charme — Lorenzo não a via, mas conhecia bem a preparação de Lorena para trabalhar com o seu ‘charme’. Um retoque no batom, uma ajeitada no decote, um jogar de cabelo sobre o ombro, e muita lábia.

— Se um membro da família real está na superfície, deve ter uns milhares de seguranças escondidos nas sombras e de olho nele. Lorena jamais chegará perto de Peter — Hunter comentou, com o olhar fixo e atendo na entrada do clube. 

— É que você não conhece o charme de Lorena — Lorenzo brincou.

— Mas você conhece, certo? E muito bem — o tom do mestiço era áspero e Lorenzo viu por cima do ombro que o outro homem estava com as sobrancelhas franzidas e os lábios torcidos em uma expressão de descontentamento. O caçador cruzou os braços sobre o peito e girou na direção de Hunter, com toda a intenção de confrontar o mestiço sobre qual era o problema dele. A única hipótese que chegava na sua mente, e que fazia farpas serem cravadas em seu coração, é que Hunter, assim como dezenas antes dele, caiu nos encantos de Lorena com apenas um olhar. 

— Isto é algum ritual de acasalamento dos demônios que eu desconheço? Ódio antes do amor? Porque essa é a única explicação que eu encontro para compreender tamanha hostilidade sua em relação a Lorena — Lorenzo falou, tentando esconder a mágoa que de forma traiçoeira escapou em seu tom de voz, e ouviu Lorena sussurrar em seu ouvido algo que soou como:

— Gente, como ele pode ser tão estupidamente inocente? — Lorenzo só não sabia dizer se ela falava sobre Peter ou sobre ele.

— O quê? — Hunter arregalou os seus exóticos olhos de cor ametista — Você acha que eu estou interessado na Lorena? — e riu e em seguida, sem dar maiores explicações.

— Se não é este o caso, então… — Lorenzo se calou, franziu as sobrancelhas, olhou fixamente para Hunter, cuja postura estava completamente na defensiva, e parece que algo finalmente clicou dentro de seu cérebro. A mais absurda das possibilidades, tão absurda que fazia o seu coração acelerar no peito de forma desgovernada. — Você está com ciúmes?

— Não — Hunter negou, rápido demais, com um rubor brotando em suas bochechas e com um desviar dos olhos.

— Você está com ciúmes — Lorenzo atestou em completo choque, tanto que a sua afirmação saiu em um fio de voz, porque ele perdeu o fôlego diante da surpresa que essa revelação causou — Por quê? — completou. Porque em nenhum momento, em nenhum segundo, de todas as últimas horas que eles passaram juntos, Hunter deu algum sinal, mínimo que fosse, que o único mês de paixão intensa que viveram há anos o abalou tanto quanto abalou Lorenzo, que o marcou tanto quanto marcou Lorenzo. 

— Como assim? — Hunter questionou em um tom baixo. 

— Por quê? — Lorenzo repetiu — Por que do ciúme quando você deixou claro, há anos, quando você ainda deixa claro ao jogar na minha cara, em toda oportunidade que tem, que eu fui um caso passageiro, que eu fui uma conquista barata, que eu fui apenas uma boa foda? 

Hunter trincou os dentes, ficou calado por alguns segundos, diante das acusações de Lorenzo, então enfim respondeu:

— Devo lembrá-lo de como nós nos conhecemos? — Lorenzo grunhiu ao ouvir isto.

Uma única falha durante um trabalho e seria lembrado disto pelo resto da vida? Não era como se Hunter fosse o senhor perfeição no assunto, não é mesmo? Há quanto tempo ele caçava antes de conhecer Lorenzo? Uns dois, três anos? Hunter também deve ter cometido as suas falhas de novato, como qualquer pessoa comum. Caçadores também eram humanos e errar era a principal característica de um ser humano, embora dos caçadores fosse cobrado a perfeição.

— Você vai ficar me lembrando disso até quando? Além do mais, o que isto tem a ver com o assunto? Mas se quer realmente saber, era a minha primeira caçada, eu tinha apenas dezesseis anos! — Lorenzo se defendeu, sentindo as bochechas esquentarem de vergonha. Hunter deu três passos à frente e o corpo dele ficou tão próximo do corpo de Lorenzo, que o caçador pôde sentir o calor do mestiço passar pela sua roupa e tocar a sua pele por debaixo das camadas de tecido.

— Exatamente! — Hunter disse com uma voz rouca e os olhos ametistas estavam escurecidos, com as pupilas tão dilatadas que as íris nada mais eram do que um anel lilás ao redor delas — Você só tinha dezesseis anos e é um Cipriani. Se o seu clã descobrisse o que aconteceu entre nós, o caçado seria eu — Lorenzo realmente queria se afastar de Hunter, mas o olhar dele cravado em seu rosto o prendia no lugar.

Hunter inclinou sobre Lorenzo, que sentiu um arrepio descer pela sua espinha quando o hálito morno do mestiço tocou a sua orelha, soprando alguns fios castanhos de cabelo para longe dela.

— Mas você não tem mais dezesseis anos e eu não dou a mínima por você ser um Cipriani.

Lorenzo engoliu em seco e recuou um passo, mas havia uma maldita parede atrás dele, o que impediu a sua fuga. O canto esquerdo da boca de Hunter ergueu em um sorriso de predador que capturou a sua presa e Lorenzo sentiu-se ridículo por estar sendo intimidado pelo outro homem e, ao mesmo tempo, por sentir-se excitado pela proximidade de seus corpos.

Hunter ergueu a mão esquerda e com as pontas dos dedos tocou um cacho do cabelo de Lorenzo, descendo dos fios de cabelo para a testa dele, deslizando o dedo de um modo tão suave sobre a pele que a carícia em si era uma tentação e atiçava todas as extremidades nervosas do corpo do caçador. Lorenzo fechou os olhos e suspirou, entreabrindo os lábios logo após molhá-los com a ponta da língua. O seu coração era praticamente uma bateria dentro de seu peito, fazendo o som do sangue sendo bombeado com força pelas suas veias ecoar em seus ouvidos. Um sopro quente tocou os seus lábios e Lorenzo sabia que não precisava estar de olhos abertos para ver que Hunter se aproximava, que a boca dele estava a centímetros da sua, e diminuindo a distância entre eles a cada milésimo de segundo passado.

Lorenzo sentia-se fraco, todo o seu sangue subitamente desceu de seu cérebro e foi direto para partes mais íntimas de seu corpo, Hunter o cobria com o seu corpo, como uma colcha quente e formada por músculos firmes e pele com um aroma amadeirado delicioso. O ar ficou entalado na garganta de Lorenzo, os seus dedos encontraram a barra da jaqueta do mestiço, amassou o tecido quando o apertou em um punho, e o usou como âncora para puxar Hunter para mais perto de si. Hunter que estava igualmente excitado e cujo encontro de seus corpos causou uma fricção deliciosa entre as suas virilhas. Tudo o que faltava agora era o beijo prometido, para selar aquele acordo pecaminoso. 

— Meninos? — o chamado de Lorena foi praticamente como se uma geleira inteira tivesse sido derrubada sobre eles e fez ambos pularem de susto e se afastarem aos tropeços. Bem, Hunter afastou-se aos tropeços, com os olhos largos, a respiração descompassada, o rosto rosado, as pupilas dilatadas e a ereção aprisionada de forma incômoda pelas calças. Lorenzo não foi muito longe porque a parede às suas costa o impedia, então ele somente abriu os olhos rapidamente e viu que Hunter mirava uma jardineira na varanda de um apartamento metros acima da cabeças deles, como se esta fosse a coisa mais fascinante do mundo — Eu estou com um proble… — as palavras dela foram interrompidas por um chiado.

— Lorena? — o cenário de perigo que Lorenzo visualizou em sua cabeça, diante dessa comunicação interrompida, foi o suficiente para acalmar o seu corpo de volta ao estado natural — Lorena?! — Lorenzo repetiu o chamado, praticamente gritando no comunicador, mas a única resposta que obteve foi apenas o silêncio.

— E agora? – Hunter perguntou, também visivelmente recuperado, e Lorenzo olhou para ele e depois para a entrada do clube, onde ainda havia uma fila de espera.

— Agora? — Lorenzo recolheu a sua fiel PUMP, que estava escorada na parede ao seu lado, dando um tranco nesta com uma única mão, de forma que o seu tambor deslizou pelo cano com um click, a engatilhando.

A arma poderia parecer um exagero, mas quando se está em uma região onde havia mais caça do que caçador, todo poder de fogo era válido.

— Agora nós vamos a uma festa.

 

 


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