O Mal Entendido

Após Atena ter derrotado Hades na grande batalha dos mundos, foi feito um acordo entre os deuses para que os cavaleiros que morreram na batalha voltassem à vida, porém Atena não queria mais vê-los lutando, eles mereciam uma vida normal, como homens normais.

E assim cada um seguiu seu caminho.

Os cavaleiros de ouro fizeram faculdade, como eles tinham uma inteligência acima do normal não houve dificuldade para nenhum deles conseguir o diploma e começar uma vida nova, normal, então cada um seguiu em frente.

Como era do conhecimento de todos, os cavaleiros de Atena em sua grande maioria eram homossexuais, talvez pelo fato de quase não terem tido contato com o sexo oposto durante suas vidas. Dentre os doze cavaleiros de Atena muitos casais formaram-se, Camus e Milo foram os primeiros a assumirem seu amor e se casaram em uma bonita cerimônia que reuniu todos.

Com cada um levava sua vida, os antigos companheiros de batalhas e agora amigos da vida, não queriam perder o contato uns com os outros, e por isso fizeram um acordo de que todo mês eles se reuniriam em algum local, ou na casa de um deles, ou em algum bar, o importante era que se reunissem.

E foi o que fizeram.

Certo dia estavam reunidos da casa de Saga, todos conversavam alegremente, Aioria sentia falta de uma pessoa ali, ele nunca comentara sobre seus sentimentos com ninguém, mas o fato é que seu coração sempre batia acelerado por causa de Shaka, e o virginiano até aquele momento não havia chegado.

— O Shaka não vem? – Aioria perguntou a Saga tentando fazer a voz mais desencanada possível, mas quem respondeu foi Afrodite o olhando curioso.

— Ele não vem hoje... então não sabe da novidade? – O companheiro de Matteu, antigo máscara da morte, respondeu feliz por finalmente contar uma novidade.

— Não... que novidade? – O leonino respondeu olhando pela casa.

— Shaka e Mu vão morar juntos! Nossa achei que todos sabiam, - Dite sorriu – acho que vai dar certo, pois os dois são metidos com as coisas naturebas, o Aldebaran também não vem hoje, foi ajudar os dois na mudança, imagine fazer a mudança justo no dia do nosso encontro mensal – falou em tom de reprovação.

Aioria ficou sem saber o que dizer. Shaka e Mu morando juntos? Mas ele nem sabia que os dois tinham alguma coisa, sim eram amigos, mas nunca pensou que seriam namorados e já estariam neste nível de chegar a morarem juntos. Ele tentou disfarçar o ciúme que sentiu, não ia passar a imagem de quem estava com dor de cotovelo.

— Não, não sabia – respondeu a Afrodite e se levantou indo tomar um ar, o pisciano não deixou de reparar a atitude do leonino, apenas sorriu malicioso e nada falou.

A reunião seguiu normalmente, apesar de Aioria ter se tornado um tanto quanto monossilábico, coisa que não foi notado pelos demais cavaleiros. Eles jogaram, beberam e conversaram até altas horas da madrugada, Aioria saiu mais cedo, ainda tentava digerir o que tinha descoberto.

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Passaram alguns meses sem que Aioria fosse às reuniões, ele sempre inventava uma desculpa diferente, mas a realidade era que o leonino não queria ver Shaka e Mu juntos, ele não saberia lidar com isso, não poderia ter um ataque de ciúmes, afinal ninguém sabia dos sentimentos dele pelo loiro, algumas vezes ele achava que Shaka também sentia algo por ele, mas nunca chegaram a conversar a respeito, também raramente se encontravam sozinhos, Aioria não se conformava tê-lo perdido para Mu, não que o ariano fosse feio, não... Mu era lindo, mas ele não conseguia aceitar a ideia de vê-los juntos como um casal.

De repente o celular começou a tocar, Aioria olhou quem era e sorrindo atendeu. - Fala Deba, tá com saudade de mim, é?  - Brincou.

— Sempre jovem!  Tá sumido por quê? Algum problema? – Preguntou direto Aldebaran como era de seu feitio.

— Não, claro que não! Só o tempo que tá curto – continuou o leonino.

— Onde vai passar o réveillon? - Perguntou o taurino.

— Nossa, cara! Já estamos no fim do ano? - Aioria falou com surpresa.

— Sim, e já vi que não tem planos! Então vai passar a festa de fim de ano comigo e eu não quero saber de desculpa esfarrapada, te levo nem que seja abaixo de tapa, ouviu?  - O taurino falou brincando, mas com autoridade.

— Pelos Deuses, quer pedir a minha mão em casamento para o meu irmão? - Respondeu Aioria rindo do jeito autoritário do amigo. - E onde vamos passar o réveillon?

Aldebaran, que ria, respondeu com simplicidade, - Na casa do Mu.

Aioria sentiu o coração congelar de ansiedade. - Eu vou pensar e...

— Não quero saber, você vai e pronto já prometi pro Mu que eu levaria você, e você vai! – Aldebaran disse finalizando a ligação.

"Réveillon na casa do Shaka, mas que merda eu nem me liguei até já estamos no fim do ano. Tá vendo imbecil, é por isso que ele não está com você!”,  - Pensou  Aioria se maldizendo.

— Droga! - Falou sozinho agora não tinha jeito, ele teria que ir, e por que diabos Mu queria que ele fosse, seria para esfregar na cara dele a felicidade do casal? Aioria suspirou fundo.

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Finalmente chegou o tão temido dia da virada, Aioria pensou muito em como deveria agir, não iria dar bandeira ficaria um pouco e logo após a virada arranjaria uma desculpa para ir embora.

Aldebaran chegou por volta das nove horas da noite para buscar Aioria.

Shaka e Mu são naturalistas não são de perder noite então quando algum deles programava algo era sempre cedo, e agora, morando juntos o costume não mudara, apenas abriam algumas exceções, e o réveillon era uma dessas.

Chegaram em uma casa simples, mas com um toque rústico que fazia a diferença.

Na entrada se via um pequeno jardim, com um lago que possivelmente foi construído para abrigar duas carpas douradas lindas, o jardim dava um ar harmonioso e oriental ao lugar.

Mu os recebia na entrada da casa.

— Aioria! Que bom te ver, e que bom que veio, fico feliz! – O ariano se adiantou e deu um abraço no leonino.

Aioria se sentiu mal com a demonstração de carinho, pois nos últimos tempos não tinha qualquer pensamento amistoso em relação ao amigo – Er... bom te ver também, Mu. – Falou ao se separar do abraço, o leonino estava tão ansioso para ver Shaka que não reparou na troca de olhares dos dois amigos.

— Oi, Deba! – Mu cumprimentou cordial.

— Olá, pequeno! – Provocou rindo o taurino.

— Sou pequeno, mas não sou meio, e você é grande, mas não é dois! – Respondeu Mu do seu jeito doce, ao que parecia ser uma piada dos dois, pois Aldebaran riu do comentário do “pequeno”.

— Vamos, entrem! Eu estava me perguntando se vocês não viriam... – Mu os guiou para dentro da casa.

A casa era decorada com uma mistura harmoniosa de motivos hindus e chineses, em sua grande parte ela era de madeira com algumas partes em alvenaria.

Aioria foi entrando, sentia um certo desconforto por estar ali, não fosse a insistência de Deba ele não teria ido. 
— Cadê o resto do pessoal? – Perguntou o leonino.

Desta vez foi Shaka quem respondeu aparecendo na sala vestido com uma bata indiana e uma calça de linho estilo hippie, na cor vermelha, para os hindus o branco é sinal de luto, então o indiano sempre passava essas datas com cores vivas.

— Bom até agora só temos o Mu, o Aldebaran, eu e você. – Sorriu – Como vai Aioria?

Aioria estava parado como se hipnotizado observando o loiro se aproximar, os olhos azuis tão raros de se ver em outras épocas, agora o encaravam de volta com naturalidade e Shaka estava deslumbrante... lindo... quando percebeu que o indiano o encarava com a mão estendida, riu sem graça. – Ah! Olá Shaka feliz ano novo! Desculpe, me distrai.

Shaka sorriu de lado. – Ok! Acontece, obrigado por vir, Aioria, nossa... faz tempo que não nos vemos, acho que você nunca veio aqui, não é?

— Não, ele nunca veio aqui! Por que não mostra casa pra ele, Shaka? – Sugeriu Mu solicito.

O leonino ficou um tanto sem graça, ele iria conhecer a intimidade do casal, - respirou fundo pedindo calma e autocontrole, e disse por fim: – Ok, me mostre a casa de vocês.

— Vamos preparar alguma coisa pra bebermos, Deba – falou Mu pegando o taurino pelas mãos e o levando até a cozinha.

Shaka estava corado e não sabia bem o porquê, de repente ficar a sós com Aioria o fez ficar sem graça. - Bem, vamos, então... fazer um tour pela casa! Essa aqui é a sala de visitas, óbvio... – comentou sorrindo.

Aioria o acompanhava. – Ok, Sala de visitas... – Repetiu.

— Bem aqui temos uma sala de meditação. Nós realmente passamos horas aqui, você sabe como somos... – Shaka continuou divertido.

Aioria sorriu constrangido ao ouvir isso.

— Aqui temos um jardim ornamental, Mu quem o cultiva e quem arrumou, ele leva muito jeito pra isso, não é?

— Aqui fica o quarto do Kiki, que está viajando de férias com o Seiya e o pessoal do orfanato da fundação; ali é o quarto do Mu e o meu quarto é lá em cima, viu a casa nem é tão grande – terminou Shaka sorrindo.

"O quarto de Mu? O quarto do Shaka ficava lá em cima? Mas como? Eles não eram casados ou namorados, o que fosse?" – Aioria ficou absorto em seus pensamentos quando foi despertado dos seus devaneios por um Shaka sorridente.

— Aioria, está tudo bem? Você me parece distante hoje. – Observou o virginiano, sorrindo olhando para o outro.

— Hã...eu... eu... preciso beber alguma coisa – e dizendo isso Aioria rumou para a cozinha com um Shaka afoito a segui-lo.

— Não, Aioria espere! – Shaka tentava avisá-lo sussurrando, mas o leonino não ouviu e entrou na cozinha parando de supetão ao ver um beijo pra lá de “caliente” entre Mu e Aldebaran, o ariano estava suspenso nos braços do taurino com as pernas cruzadas entre sua cintura, eles estavam tão envolvidos no beijo que não repararam o invasor adentrando no local. Shaka fez sinal para que Aioria não fizesse barulho e o afastou da cozinha.

Assim que chegaram na sala, Aioria foi o primeiro a falar. – Shaka, eu não entendo... o Mu com o Aldebaran, e você nesta calma?

— E por que eu estaria nervoso? – Questionou o virginiano confuso.

— Oras, você e o Mu não são casados? Digo não estão morando juntos? – Continuou Aioria tentando entender o que se passava.

Shaka olhou para o leonino incrédulo – Mas... de onde você tirou isso?

Aioria tentava lembra se chegou a ouvir de alguém que os amigos estavam namorando, porém não a única coisa que ele escutou era que eles iriam morar juntos, ninguém nunca mencionou que eles estariam namorando ou não, foi ele Aioria quem tirou as conclusões precipitadas.

— Desculpe, Shaka eu... eu achei que vocês... – O leonino falava sem jeito.

— Eu e o Mu? – repetiu Shaka balançando a cabeça. – Você tem cada idéia.

— Sei lá, Shaka depois que você namorou o Ikki a gente perdeu o contato, digo... não nos falamos mais com a frequência de antes – desabafou Aioria.

Shaka, que estava até achando graça da confusão de Aioria, olhou para o leonino sério. – Eu era considerado a pessoa mais casta do santuário, mas pelo jeito você acha que eu sou praticamente um galinha, não é?

O virginiano estava realmente magoado.

— O Ikki é meu amigo, uma pessoa confusa, o pobre era cheio de traumas o que eu fiz foi ser amigo dele, tentar passar algo de bom pra ele, eu nunca...Aioria... ele era um garoto, bem mais novo que a gente... eu por acaso tenho cara de papa anjo? Eu jamais me aproveitaria de um adolescente problemático, e pelo que eu saiba hoje em dia ele está muito bem com o Hyoga, francamente que ideia você faz de mim! – Continuou chateado, e dizendo isso Shaka foi para a cozinha cruzando com os amigos que voltavam do cômodo trazendo algumas bebidas.

— O que houve aqui? – Perguntou Mu a Aioria assim que chegaram a sala.

— Ele se irritou porque falei que achava que ele namorava o Ikki! – Respondeu Aioria sem querer dizer do mal-entendido que teve em sua cabeça.

— Ah! Aioria... – suspirou Mu. – Quando vai entender que o leonino do qual o Shaka gosta não é o Ikki?

Aioria levantou a cabeça olhando para Mu como se esperasse que ele explicasse direito.

— Pelos Deuses Aioria, vai querer que eu desenhe pra você? Anda, vai lá falar com ele, achei que estando sozinhos vocês finalmente se entenderiam! – Reclamava Mu do seu jeito sereno.

O leonino foi até o jardim e encontrou Shaka sentado com os olhos fechados, Aioria sabia que o virginiano fazia isso toda vez que precisava se acalmar.

— Shaka, eu... eu preciso falar com você. – Aioria começou sem jeito. – Não tive a intenção...

Mas logo ele foi interrompido por Shaka.

— Veio perguntar com quem mais do santuário eu fiquei? Saga... Shura, ou será que eu peguei todos os meninos de bronze? – Shaka falava com sarcasmo.

Aioria ficou de frente para Shaka e falou provocativo – Saga, Shura ... você ... eles?

Shaka abriu os olhos e fez uma expressão zangada. – Não acredito que você está pensando isso! - Quando Shaka tentou sair de perto de Aioria sentiu uma mão forte o segurando pelo braço.

— Espera, tô brincando! Me desculpe, Shaka... é que eu... – Aioria tentava dizer ao virginiano o que sentia, mas as palavras não saíam.

— Você...? – Incentivou Shaka.

Aioria encarou os olhos de Shaka, e sem dizer nenhuma palavra o beijou. Colocou naquele beijo todo o desejo de anos acumulado, queria que o loiro compreendesse que o seu coração sempre fora dele.

Shaka num primeiro momento assustou-se com a atitude do amigo, mas não demorou nem alguns segundos para que ele correspondesse ao beijo abrindo sua boca e intensificando-o cada vez mais, Shaka também desejava aquele leonino burro há tempos, e finalmente ele estava nos braços do corajoso Aioria.

Quando o beijo findou eles colaram as testas, estavam com a respiração ofegante, Aioria foi o primeiro a falar.

— Eu te amo há tanto tempo, Shaka... sempre pensei em me declarar para você, mas sempre tinha alguém, ou alguma coisa que não me deixava fazer o que eu queria.

Shaka acariciou o rosto do leonino.

— Eu gosto de você desde sempre, primeiro achava que você não me queria por eu ser um chato, com esta minha mania de meditação e coisas naturebas... – Brincou. – Mas, depois... não sei, você parou de ir aos nossos encontros, há quanto tempo não nós víamos? Achei que você tinha encontrado alguém, que estava namorando, ou algo do tipo. 

— Namorando? Eu? Não... estava esperando por você. - Respondeu o leonino.

Shaka acariciou o rosto do outro e perguntou. - Quer namorar comigo?

Aioria sorriu, aquela situação apesar de muito feliz era bem utópica, Shaka o estava pedindo em namoro?

— Eu sempre quis, sempre vou querer ser seu namorado. - Respondeu Aioria o beijando.

Os fogos que anunciavam um Novo Ano começaram a iluminar o céu.

Mu e Aldebaran foram até os amigos e os encontraram aos beijos.

— Finalmente! Agora tudo está como deveria. - Falou Mu abraçado ao namorado.

— Feliz Ano Novo, meu amor - Desejou o taurino.

— Feliz Ano Novo. - O pequeno desejou, beijando seu gigante num gesto auspicioso para a chegada de um novo ano abençoado.