Raquelle escrita por Vatrushka


Capítulo 10
Ryan


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo Ç.Ç



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Algumas semanas haviam se passado desde que todos haviam voltado do Texas para Malibu.

As gravações voltaram ao normal. Quer dizer, em parte. Ainda que Raquelle ainda participasse do Life in the Dreamhouse, já não aceitava outros convites para participar dos filmes da Barbie.

“Bom, Raquelle, eu respeito a sua decisão.” Disse Barbie, depois de ouvir o que Raquelle tinha a dizer sobre ter recusado todos os convites. “Confesso que vou sentir sua falta, você sempre foi uma atriz muito talentosa.”

Raquelle sorriu, orgulhosa. “Obrigada, Barbie. Mas estou pensando em trabalhar com outro tipo de roteiro.”

Barbie sorriu. “Que tipo, por curiosidade?”

“E se eu te disser que sempre tive uma queda por drama?” A morena sussurrou. As duas riram. “Meu agente inclusive sugeriu que eu fosse conversar com alguns diretores franceses…”

“Você vai fazer um filme francês?! São tão exóticos! Vai ser incrível!” Barbie animou-se.

“Calma, calma, ainda não sei de nada. Mas com sorte… Quem sabe?”

Sempre soube que ter se esforçado tanto ao longo da sua vida para falar francês, algum dia ainda lhe seria útil.

“Mas é bom que abre vaga para novos atores nos seus trabalhos, sabe? Muitos merecem a experiência de trabalhar com ninguém mais ninguém menos que a Barbie.” Confirmou Raquelle.

“Oh, Raquelle, pare.”

“Só estou falando a verdade.”

Ryan estava encostado no balcão de uma lanchonete beira-mar, tomando um refresco.

“Oi, Ryan! Tudo bom?”

Para o seu susto, outra pessoa também encostou no balcão, do seu lado. Ben.

“E aí.” Cumprimentou de volta. “Veio surfar?”

“Ah, pode ser que sim.”

Ryan ergueu uma sobrancelha. “Ouvi falar que você faz tudo. É verdade, então?”

Tudo é uma palavra muito abrangente. Só porque eu luto Kung Fu, faço Yoga, entendo de mecânica avançada, falo com ursos, sou formado em 23 cursos de Ensino Superior e sou especialista em esportes radicais - as pessoas falam isso. Francamente.”

Ryan abriu um sorriso irônico. “Pff. Só.”

Ben pegou o seu refresco. “Mas e aí. Tá acontecendo alguma coisa entre você e a Midge?”

O irmão de Raquelle não pode evitar de revirar os olhos. “Se Raquelle foi quem falou isso pra você, já pode desconfiar. Claro que não.”

O primo de Ken alongou os braços. “Aham. Mas porque essa resistência toda? A Midge é bonita, legal e gosta de você.”

Ryan encarou o chão, sem estar muito à vontade para falar.

“Não é como se você estivesse comprometido, não é?” Insistiu Ben.

O outro abriu a boca para responder, mas as palavras não saíram. Ben respeitou alguns segundos de silêncio, antes que Ryan disparasse - todo pomposo:

“Barbie não ia querer dar chance para um ex de uma amiga dela. Ela é leal demais pra isso.”

O psicólogo disfarçado apoiou a cabeça na mão, paciente. “Então tudo se trata da Barbie. Não de você, não de Midge… Mas da Barbie.”

‘Quantas pessoas nesse mundo são traumatizadas por causa dela?’

“Sim.” Confirmou Ryan, não compreendendo ainda o peso de suas palavras.

“Ela, que nunca se esforçou para estar no meio de vocês. Ela é o problema… De vocês. O que impede que vocês fiquem juntos.”

Pff. Ela sempre esteve no meio. É a Barbie.”

Ben coçou a testa. “Você quer dizer que… A simples presença dela… É um problema?”

Ryan ia concordar - até parar para refletir.

‘Ahá. Cheguei no ponto.’

“Mas… A Barbie não é um problema.”

“Claro que não.” Concordou Ben. “Eu nunca disse isso.”

“Mas…”

“A Barbie não é um problema, então. Midge não a vê como um problema, tampouco. Se visse, não seria amiga dela. Será que o problema… Não está sendo você, enxergando ela como problema …?”

Ryan sacudiu a cabeça. “Você está me confundindo.”

“Pelo contrário. Estou esclarecendo.”

Ryan cruzou os braços, bufando. Ben não se deixou abalar.

“Você não quer dar chance para Midge… Com receio que isso, futuramente, atrapalhe uma talvez futura relação sua com a Barbie. Você está deixando de viver o agora… Porque tem receio do que pode acontecer. Do que você tem expectativa de acontecer.

Você estaria se barrando, então?”

Ryan não se mexia.

“Vou repetir a pergunta, e dessa vez seja honesto: porque essa resistência toda?”

O rapaz respirou fundo. “Eu gosto da Barbie.”

“Gosta dela....? Ou do que ela representa pra você?”

‘Sucesso. Fama. Prodígio. Ser inatingível.’

Ryan coçou a cabeça. “Acho que eu vou ali.”

E escapou, incomodado. Despreocupado, Ben tomou mais alguns goles de seu refresco.

“Sabia que ele ia resistir.” Sussurrou Raquelle, aproximando-se por trás. “Por favor, não desista.”

“Está longe da minha lista de objetivos desistir.” Garantiu. “Mas acho que ele vai precisar de um tempo.”

“Eu sei, mas.... Eu tenho receio que nesse meio tempo, ele só bloqueie cada vez mais o que você falou.”

“Ele pode até tentar. Mas não se pode escapar da verdade pra sempre.” Disse Ben, abraçando-a. “Nada pode nos torturar mais do que nós mesmos.”

Raquelle assentiu, dando de ombros. Ele completou: “Ainda bem, né?”

Ela franziu o cenho. “Ainda bem…?”

“Se não, nunca sairíamos da zona de conforto.”

Raquelle suspirou. “Deus me livre.”

Ryan continuou caminhando em ritmo apressado pela praia. Não queria confessar, mas estava furioso. Ben… Era igualzinho ao Ken. Achando que tinha alguma moral para simplesmente entrar na sua vida, achar que o conhece o suficiente e apontar o dedo na cara.

Patético. Eles se achavam demais. Não é só porque estava saindo com sua irmã que tinha algum direito de opinar sobre alguma coisa.

“Oh, Ryan! Você gosta de caminhar na praia também?”

Era a voz de Midge. Ah, droga.

Continuou andando. Infelizmente, Midge tinha uma boa forma física a conseguiu acompanhá-lo.

“... Você parece zangado. Posso ajudar de alguma forma?”

‘Me deixando em paz.’ Pensou em responder. Mas não queria ser grosso com ela, afinal, só estava tentando ajudar.

Sempre estava tentando ajudar.

Tinha vontade de se abrir com ela, de ser sua amiga, conversar. Realmente tinha. Mas não queria admitir para si mesmo um futuro com alguém que não fosse a Barbie.

Por mais que, lá no fundo escuro de seu subconsciente, soubesse que jamais teria chance. Mas é óbvio que não queria admitir a derrota. Era humilhante demais. Era um Jones, e um Jones nunca desistia.

Mas já começava a se perguntar se a derrota não lhe traria maior paz…

Considerou, apenas por um momento, dar uma trégua a si mesmo. Parou, pondo as mãos na cintura e suspirando.

“Midge…” Começou. “Ah, não se preocupe, não é nada demais.”

Ela assentiu, não muito convencida.

“Obrigado, de qualquer forma.”

Ela sorriu. Ryan não queria continuar andando para lugar nenhum, então continuou da forma mais casual possível:

“Então, o que está fazendo aqui?”

“Ah, alguns amigos meus estão fazendo uma festa naquela barraca ali.” Ela apontou para uma espécie de chalé, com a estrutura de madeira e o teto forrado de folhas de coqueiro desfiadas. As pessoas estavam em clima de Luau. “Mas aí te vi passando, e… Quis te cumprimentar.”

Ryan soltou um sorriso. “Gentileza a sua.”

Midge começou a desenhar na areia com o pé. “Então… Você quer entrar lá? É legal, meus amigos não vão se importar. Você pode tocar pra gente!”

Ele coçou a nuca. “Ah, eu não sei… Quer dizer, eu posso até tocar… Mas são vocês que tem que cantar. Segundo a gravadora, eu não nasci pra isso.” Ele riu.

“Fechado.” Ela riu de volta, pegando sua mão e guiando-o em direção da cabana. “E inclusive… Você conseguiu a inspiração que queria, na fazenda do seu avô? Eu gostei muito dele, aliás.”

“Ele também gostou muito de você, Midge.” Ryan confessou. “Eu… Ah, não. É como se eu só tivesse descansado metade do que eu devia. É como se eu precisasse… De mais.”

O que não queria admitir ainda; era que a presença de Barbie havia o deixado alerta demais para espairecer.

“Ah, você vai conseguir.” Incentivou a amiga. “Temos todo o tempo do mundo.”

Ryan sorriu. “É. Acho que temos.”


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Notas finais do capítulo

Eeee chegamos às conclusões emocionante dessa história: Y.Y
1) Não se projete em outras pessoas. Vai dar merda.
2) Não fique botando muita fé em ficar com alguém se a pessoa não está igualmente interessada em você. É cilada.
3) Aprenda a se perdoar. A situação pode e vai melhorar, se você melhorar junto.
4) Não vai cair o cu da bunda se você se arrepender e pedir desculpas. Sim, você é um ser humano e erra, lide com isso.
5) Fugir de si mesmo não é a solução.
6) Psicanálise é o futuro. Não. Resistam.
Se isso soou piegas? Moralista? Autoajuda, Paulo Coelho demais? É, talvez. Mas não deixam de ser lições importantes, pessoal. Aprendam agora, e ralem menos depois.
Espero do fundo do meu coração que essa história tenha acrescido a vocês o mesmo tanto que acrescentou a mim. Tanto em risadas, quanto em reflexões... Enfim.
Muito obrigada, mais uma vez, por terem lido até aqui. Lembro que escrevi o primeiro capítulo faz tanto tempo... E nunca tinha passado pela minha cabeça, na época, continuá-lo. Mas que bom que o fiz, não é mesmo?
Ok, vamos parar com o chororô. Até a próxima, amigos o/



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