Magia na Floresta escrita por Vlk Moura


Capítulo 6
Capítulo 6




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Depois de longas semanas mancando pela escola minha perna estava finalmente melhor e eu já podia correr e dar belos chutes em Carla durante nossos treinos. 

— Agnes, você pode vir aqui depois das suas aulas? - o professor Neville falou quando eu guardava o material.

— Claro.

Ele sorriu.

— Não sei, não, mas não gosto de como ele te trata - Carla falou, eu não entendi - É como se ele... - ela aproximou do meu ouvido - gostasse de você.

— Não fale bobagens, Ca. - eu apertei o material no meu peito, Peru dançou no alto da minha cabeça, eu o olhei. - E você fique quieto - ele deitou.

— Mari! - Carla acenou para  a menina que veio até nós com seu guaxinim sem a coleira - Nossa, esse é o mesmo Lobo de sempre?

— É sim, eu estou adestrando e parece que está funcionando muito bem. - ela me olhou - Estou com dificuldades nas aulas de poções, vocês podem me ajudar?

— Claro - respondemos em coro e rimos - Mas vamos comprar algo para comer antes  que eu morra de fome - falei indo na frente.

Comprei um sanduíche as duas compraram o mesmo, nos jogamos na grama sem nos importarmos com o uniforme. Mariana contava como estava gostando das aulas e que talvez pudessem ser melhores se tivesse amigos, mas que não importava que apenas eu, Carla e Nyack fossemos suas fontes de amizade. 

Nyack... Fazia tempo que eu não o via, me perguntava se a perna dele estava melhor, se ele estava bem e se Leonardo continuava implicando com ele, apesar que desde a intervenção do professor eu imagino que alguns meninos tenham parado com a chatice de provocá-lo. Eu me perdi em meus pensamentos quando Carla estalou os dedos na minha frente, eu a olhei.

— Deu a hora, vamos. - ela já estava de pé e Mari já estava com Lobo no colo novamente.

A acompanhamos até a sala dela e depois fomos para a nossa de Transfiguração, eu sempre tive muita dificuldade nessa matéria e precisava da ajuda de Carla que amava frequentar as aulas e mudar as formas das coisas. Eu nunca entendia como fazer tudo corretamente e isso me irritava muito.

— Vou encontrar o professor - falei terminando de guardar minhas coisas depois da última aula - Te vejo no almoço?

— Você sabe que sim - ela piscou par amim - E Peru - a  ave se mexeu - fica de olho naqueles dois que eu não confio. - ele pareceu fazer algo para ela que riu e voltou a se deitar no meio do coque.

Bati na porta, a sala estava clara, várias plantas espalhadas pela mesa do professor e pela meso dos alunos, eu conhecia algumas delas, mas outras eu só tinha visto em desenhos nos livros ou nas matérias dele, uma ou duas eu nunca tinha ouvido falar nem reconhecia a espécie. Ele estava ao fundo da sala arrumando alguns vasos. Coloquei minha mochila em um canto e fui até ele, abaixei ao seu lado, ele me olhou meio de lado e sorriu, usava protetores nos ouvidos e eu sabia a razão, tapei minhas orelhas com as mãos e quando ele levantou a planta Peru se enfiou na minha roupa. Voltou a colocar a planta em um vaso, mas dessa vez maior. Ela se calou.

— Madrágora - falei, ele confirmou - Fazia tempo que eu não ouvia uma - ele riu e se levantou.

— Sempre é horrível - confirmei - Te chamei aqui para me ajudar com essas plantas - eu olhei em volta, tinha muita coisa - Preciso mudar umas de vaso e catalogar outras, depois levar tudo para a estufa - ele passou a mão na testa - Já fiz isso com uma parte delas, mas parece que se multiplicam a cada remessa que levo.

— Eu não duvidaria - ele riu - E o que exatamente quer que eu faça?

— O que quiser, replantar, catalogar, transportar, só escolher.

Peguei o pergaminho em que ele estava anotando as plantas, observei quais ele já tinha anotado, fui olhando as outras e anotando, as que eu não conhecia ele foi me dando os nomes pedindo para eu por algumas observações como 'perigosas', 'não mexer', 'se quiser morrer essa é a melhor opção'. Depois de anotar todas e eram muitas, eu comecei a ajudar a mudar de vasos, umas eram bem simples, afofar a terra levantar e por no outro, tirar a terra do vaso anterior colocar no novo e completar. Outros eu precisava tomar cuidado coma  forma de pegar para não me machucar.

— Ai! Droga!

— O que foi? - ele veio preocupado.

— Gerânio Dentado - falei levando o dedo até a boca.

— Deixa eu ver. - ele pegou minha mão e observou a mordida, Peru começou a voar e ficar agitado, eu não entendia o que estava acontecendo com ele.

A porta da sala abriu, eu e o professor olhamos para quem entrava, Carla estava com Obro em seu pescoço, ela parou assim que nos viu, e observou a cena, eu não entendi direito aquele olhar dela, apenas puxei minha mão para mim.

— Eu coloco um curativo depois - falei meio desconfortável, ela apoiou as mãos na cintura.

— É melhor cuidar agora, pode entrar terra e infeccionar, você já me ajudou bastante. Obrigado.

— Quando for transportar pode me chamar novamente, não tem problema.

— Não se preocupe.

Carla me pegou pelo pulso e me arrastou pelos corredores da escola, me largou num canto e ficou me encarando como se eu pudesse ler a mente dela coisa que eu não podia.

— E então... - eu falei e olhei a mordida, eu devia lavar essa coisa - Se importa de ficar me encarando assim enquanto eu cuido dessa mordida?

Fui para o banheiro e ela me seguiu, lavei o dedo e coloquei um curativo. Carla ainda estava me encarando com o mesmo olhar de antes.

— E então... - ela olhou pelo banheiro e se certificou de que estavamos sozinhas, eu não estava entendendo.

— Você é maluca? - ela quase gritou, eu não entendi - Tava o maior climão entre vocês!

— Do que você está falando?

— De você e o professor! - ela gritou, olhou pela porta do banheiro, a bateu e se aproximou de mim - Você e o professor Neville, Ag.

— Você só pode estar maluca, Ca.

— Eu vi com meus próprios olhos e até o Peru sentiu - ela riu - Até ele sentiu a tensão que estava no ar e ficou meio maluco e você vai me dizer que não sabe do que eu estou falando?

— Eu continuo achando que você está louquinha. Ele só estava preocupado porque me machuquei enquanto o ajudava.

— É e ele ia te curar com o beijo do príncipe encantado. Abra seus olhos, Agnes! Ta rolando algo entre vocês e você que não quer ver.

— Para com isso, ele é nosso professor. 

— Mais do que isso, ele é o cara de quem você sempre admirou o trabalho, não é só o professor. Isso faz com que ele ganhe pontos de sedução em cima de você.

— Realmente acho que você deve estar usando algum entorpecente.

— Olha, aqui! - ela segurou meu braço e me fez a encarar - Se ele te der um beijão, depois não diga que não te avisei.

Revirei os olhos e saí do banheiro. Ela veio logo atrás em silêncio. 

— Droga! - ela me encarou - Tenho de pegar minha mochila.

— Eu pego para você - ela falou indo mais rápido do que eu - Sou mais rápida.

Tenho de concordar de que ela realmente é mais rápida.

— Te espero na árvore.

Ela mandou um joia.

Muita gente ainda estava em aula ou no almoço, pensei em ir ver o treino de Quadribol, mas fiquei com preguiça de ir até o campo. A sombra da árvore era bem melhor e o principal, bem mais próxima. Sentei ao chão e encostei as costas no tronco, Peru deitou no meu colo e se aconchegou entre minhas pernas no folgado da calça, voltou a dormir. Me perdi pensando no que Carla falou, o tempo foi passando e eu achando que cada vez mais ela estava maluquinha e não tinha ideia do quão errada estava. 

Me distraí tanto que nem vi quando um avião de papel pousou perto dos meus pés, Peru o pegou e ficou voando com ele na minha frente, o abriu. Nyack.

"Me encontre na biblioteca em cinco minutos, é sério!"

Levantei correndo, Peru veio voando atrás de mim. Entrei na biblioteca e o vi sentado a um canto com alguns livros. Ele me olhou e olhou em volta.

— Alguém veio com você?

— Só o Peru - falei enquanto o pássaro pousava perto do rapaz.

— Você sabe que já está falada, não sabe? - eu não entendi - Você e o professor - revirei os olhos, puxei uma cadeira e sentei de frente para ele - Toma, pega esse livro e finge estar estudando - confirmei - Está correndo mais do que o vento que você e o professor estrangeiro estão de casinho.

— Eu e ele não estamos de casinho - Nyack levantou uma sobrancelha. - Eu juro! - olhei em volta depois de falar muito alto - Veja a idade dele e a minha, nem rola.

Ele riu, eu o fuzilei.

— E qual a sua preocupação com isso? - ele desfez o riso e suspirou.

— As pessoas aqui são bem cruéis - confirmei, eu já sei disso - Achei que seria interessante te alertar disso para você ficar preparada, sem falar que o professor pode sofrer com isso se chegar até a Diretora.

— Você tem razão, encostei na cadeira e o observei enquanto mordia meu polegar - Vou falar com ela.

Me levantei apressada. 

Carla estava indo para a biblioteca quando passei por ela correndo e  já a puxei para me acompanhar. Na sala da Diretora esperamos ela resolver algum assunto que nós alunas não deveriamos no meter e finalmente entramos, era um sala gigante, eu tinha estado ali algumas vezes, mas sempre me parecia maior quando eu retornava. A Diretora usava seu manto que com toda a certeza devia ter alguma magia de refrigeração para que ela suportasse usar aquilo naquele calor, ela nos olhou curiosa par ao que tinhamos para falar, ficamos todos ali em silêncio nos encarando.

— Ahm... Diretora, tenho algo sério para lhe contar - ela continuou em silêncio - Fiquei sabendo de que tem boatos sobre mim e o professor Neville - ela confirmou.

— Sim, sim, isso já chegou aos meus ouvidos, pequena Agnes.

— Eu queria dizer que é mentira - falei rapido antes que ela tentasse nos acusar de algo - Eu e o professor Neville não temos nada um com o outro, somos apenas bons amigos e eu o ajudo a cuidar das plantas e nada além disso, juro.

Ela soltou um riso. 

— Não se preocupe, criança - respirei aliviada - Eu sei disso, não pense que sigo todos os boatos que chegam até mim, sem mencionar que fui quem te indicou para ajudá-lo com as plantas - Carla e eu trocamos olhares - O Professor Filipe tinha me falado o quão boa você é em Herbologia e falou que seria ótima para ajudar o Senhor Longbottom a se adaptar com nossa escola. Então não se preocupe com nada disso. - respirei aliviada - Ele disse ainda que você é uma grande fã do Neville, certo? - confirmei - Então deve estar sendo uma honra poder tê-lo tão perto não é?

— E como tem sido. - falei sorrindo - Obrigada, Diretora e desculpa ocupar seu tempo.

— É sempre bom ter meu tempo ocupado por jovens como vocês, voltem sempre que precisar.

Respirei aliviada quando saí da sala e esbarrei em alguém, era o professor ele entrava carregando flores, não eram flores mágicas e sim flores trouxas, eram rosas. Ele me olhou e sorriu ao ver minha curiosidade sobre a planta.

— Fico aliviada - falei me jogando na minha cama.

Carla estava observando o papel do avião que Nyack tinha me mandado.

— Você não acha estranho que esse Nyack esteja tão preocupado com você? - eu a olhei - Ele te avisar disso e tudo o mais, sem falar que quando você tentou o defender ele te protegeu também. Será que ele...

— Cala a boca! - falei tapando meus ouvidos com o travesseiro - Para de tentar achar um cara para mim, por favor.

— Você quem sabe - ela deu de ombros e me jogou o papel - Mas todas as suas opções são tremendos gatos. - ela riu - Boa noite, Ag.

— Boa noite, Ca.

 

As primeiras provas estavam quase chegando e eu estava entrando no modo loucura, levantava antes da aula comia antes de todos, revisava matéria, ia para aula, saia comia, revisava, voltava para aula, saia estudava, dormia, levantava, estudava. Eu precisava ir bem. Sempre que eu podia ajudava Mari com as matérias que ela estava com dificuldade, então reservamos um horário para nos encontrarmos na biblioteca, assim eu estudava e a ajudava, ao mesmo tempo. 

— Vai ter jogo hoje - Carla falou enquanto mudavamos de sala - Vamos ver?

— Não sei... Estou preocupada com as provas.

— Você sempre está e sempre via muito bem - ela reclamou - Já faz dias que você está estudando que nem uma louca, um dia só que largar não vai te matar, prometo.

— Certo - reclamei - E a Mari?

— Ela já aceitou - eu ri.

Eu não sou uma fã de Quadribol e sinceramente acho muito chato, mas Carla ama e eu sempre a acompanho, apesar que da última vez eu meio que ferrei o jogo. 

Ela me carregou até a arquibancada, Mari já estava sentada guardando nossos lugares, estavamos do lado da nossa casa Ariranha, então uma enorme ariranha inflável balançava com o vento, do outro lado um enorme Araçari-Castanho parecia levantar voo. Olhei em volta esperando encontrar mais alguém conhecido, mas ninguém.

— Vai começar - Carla me balançou.

Começou!

Leonardo era o goleiro, ele era bom. Carla gritava desesperada para ele e gritava comandos para os outros do time como se eles pudessem ouvir. Mari a observava rindo enquanto Lobo se debatia entre seus braços. Observei todos os jogadores e me surpreendi com um deles. Nyack se segurava firme na vassoura, era um rebatedor e tinha muita força. Admito que por muito tempo torci para que ele acertasse em cheio a cara de Leonardo e mostrasse para ele que os sangue ruins podem ser tão bons quanto os puros. 

Tinhamos de nos abaixar conforme bolas vinham descontroladas na nossa direção e os jogadores ainda mais descontrolados vinham atrás delas. Eu ria de alguns que quase caiam, e de outros que demonstravam pouco habilidade com a vassoura. 

Minha cabeça começou a pesar.

— Ag! - Carla me sacudiu - Ag! Ai, minha nossa! - ela olhou para o céu - Ele ta caindo...

Senti minha cabeça tombar para trás.

Acordei na enfermaria, algodão estava socado nas minhas narinas, os arranquei e olhei em volta, Peru estava na cabeceira como de costume, mas que droga está acontecendo comigo. Tentei me sentar, a cabeça pesou, olhei a cama ao lado da minha, Nyack estava deitado, tinha um enorme corte na testa e o nariz também estava cheio de algodão.

— Ele vai ficar bem - olhei a enfermeira - Conseguiram pegá-lo antes de atingir o chão, achamos que algo no alto o atingiu e por isso o corte.

— E quanto a mim?

— Não deve ter sido nada demais - ela sorriu - Toma isso, vai se sentir melhor.

Tomei.

— Tem gosto de chocolate.

— É chocolate - ela sorriu pegando o copo - Fique em repouso mais um pouco, logo venho te ver novamente.

Confirmei.

Por que, mais uma vez, eu e Nyack tinhamos passado mal simultaneamente e mais os mesmos sintomas, eu só não tinha o rombo na minha testa e ainda bem que não tinha. Olhei Peru, ele estava com algo na pata, desenrolei, era um bilhete.

"Proteja a Mari"

Olhei Nyack e Peru, em que momento meu pássaro saiu de perto de mim voou até ele e ele teve tempo de colocar isso em volta da pata dele.

— Peru, leve isso para a Ca.

Ele confirmou e saiu voando. Olhei em volta, mais alguém estava ali com o pé enfaixado. Me forcei a sentar, virei as pernas para sair da cama, me apoiei para levantar e peguei impulso, depois de me equilibrar, fui até o corpo desacordado da minha dupla. Ele parecia dormir muito bem. Peguei na sua mão a apertei, ele respondeu ao meu toque, o olhei, as palpebras balançaram agitadas, ele arregalou os olhos. Ficou fitando o nada e ainda segurando a minha mão. 

— Nyack... - chamei e o balancei um pouco - Nyack, olha para mim - com dificuldade ele virou os olhos e me olhou - Está tudo bem, você está na enfermaria. 

Senti algo passando pela mão dele, parecia algo duro como um pedaço de metal, observei, ele franziu todo o rosto com dor e dormiu novamente. O que era aquilo? Abri a palma da sua mão, ela sangrava. Peguei uns panos que imaginei usarem para limpá-lo, passei pelo sangue e pude ver o corte fundo. Cadê a enfermeira? Gritei por ela e imagino que até o grito atravessar a enfermaria e chegar até ela iria demorar bastante.

Quando finalmente me ouviu, entrou com passos apressados, olhou a mão dele, tentei explicar o que eu senti, ela não entendeu nem mesmo uma vírgula do que eu disse, me fez voltar para minha maca e deixar que ela assumisse dali. Foi o que eu fiz, a observei cuidar dele enquanto eu fiquei ali sem poder fazer nada, mais uma vez, inutil. Tapei meus ouvidos. Tudo voltava, gritos, foi isso, foi isso que aconteceu. Gritos tinham invadido minha mente e me nocauteado, mas de onde eram esses gritos, na verdade, de quem eram esses gritos?

Nyack também ficou agitado, se debatia sem coordenação nenhuma, cerrava os dentes fazendo um barulho horrível, a enfermeira começou a pedir ajuda, me levantei meio tonta e fui até ele, os gritos reduziram, ele respirava ofegante, mas era possível ver que tinha se acalmado, os dentes pararam e os espasmos também, a enfermeira nos observava, pegou suas anotações e adicionou algo mais, algo que eu não fazia ideia do que poderia ser. 

Quando as vozes finalmente se calaram voltei para minha maca, me deitei, e tentei dormir.


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