Não que eu estivesse com vergonha ou algo assim, mas sair do quarto seguida por Neville foi meio constrangedor ainda mais com Carla tagarelando que estavamos finalmente juntos. Leo me olhou desconfiado até Carla dar um abraço nele e apontar para nós dois.

— Você é uma enorme fofoqueira-  falei rindo. - Como está se sentindo?  - Abracei Leo.

— Cansado, mas bem. É verdade que as aulas foram canceladas por essa semana? - ele olhou Neville que confirmou - Disseram que alguns ônibus vieram para levar os que quisessem ir para casa - ele olhou Carla - Você vai?

— Não. - ela pegou minha mão e a segurou - Não vou deixar a Ag sozinha.

— Acho que ela não está mais sozinha - ele olhou o professor - Eu acho que vou ficar, também, não estou muito animado para reencontrar meus pais - ele deu de ombros - Mas estou faminto.

— Somos dois - falei colocando a  mão na barriga.

— Três - Carla falou.

— Quatro - Neville falou e sorriu.

Saímos os quatro para o salão, Carla e Leo conversavam algo que eu não entendia, o professor ia a nossa frente e observava tudo a nossa volta como se algo estivesse errado. Ele parou, olhei por cima do ombro dele com dificuldade de ficar na ponta dos pés e não pude conter o impulso, saí de trás de Neville e corri para abraçar o loiro que estava parado esperando algo ou alguém para entrar no salão, eu o surpreendi o abraçando bem forte.

— Ag! - ele me abraçou de voltou - Fiquei preocupado...

— Você? Eu quase fiquei maluca de tanta preocupação - falei sorrindo - Como está se sentindo?

Aqueles olhos cinzentos pareciam cansados.

— A cabeça está doendo um pouco, mas estou bem, e você, ele te fez algo?

— Ela ficou bem - Neville falou e sorriu para mim - Cuidei dela.

Draco arqueou uma sobrancelha encarando Neville e depois me olhou.

— Você? - ele falou finalmente, pude perceber que conteve um riso, isso me fez querer rir.

— E esse climão aqui? - Carla falou se aproximando e encarou o Draco - Você está esperando alguém?

— Estava esperando a Agnes, queria ter certeza de que ela estava bem - ele sorriu - Estou faminto.

— Mais um para o time - Leo falou rindo e entrando no salão antes de todos.

Assim que entramos, Luna gritou por Neville e ficou acenando para ele, que me deixou na minha mesa e foi até ela. Fiquei observando os dois.

"Se você for mais discreta todos irão perceber esse ciúme" estava no papel que eu desdobrei "Não se preocupe vou tentar ser" olhei em volta buscando por ele, Nyack estava ali em algum lugar. "Você está bem?" perguntei e pedi para Peru buscar por ele. Depois de alguns segundos de voo a bolinha azul pegou meu cabelo com o bico e me guiou até o menino, eu o abracei pelas costas, Nyack pareceu se assustar, me olhou percebi os curativos nas mãos. 

— Fiquei preocupado - ele falou e me abraçou de volta.

— Você ficou preocupado? O cara que tava apagado na enfermaria era você e não eu - ele riu - Você está bem? - peguei as mãos dele.

— Me sentindo culpado, mas bem.

— Você não tem culpa, sabe disso - ele me olhou, os olhos dele estavam mais claros, tentei sorrir - Ele só está brincando com a gente.

— Mas sou só eu quem faço as coisas que quase matam a todos - ele apertou as mãos e fez cara de dor, eu o forcei a abri-las e entrelacei nossos dedos, ele me observou.

— Eu também fiz coisas ruins - de repente eu parecia cansada - Mas tive sorte de sempre ter alguém por perto - forcei um sorriso. - Nessa semana não terá aula - ele confirmou - Vamos combinar uma coisa.

— Estou ouvindo...

— Vamos ficar juntos - ele não entendeu - Sabe, você senta na nossa mesa, come com a gente, estuda com a gente, faz tudo com a gente. Assim se ele tentar algo com você novamente terá alguém para te parar. O que me diz?

— Eu não sei se...

— Ou isso ou ser controlado, acho que não temos muitas opções, Nyack.

— Eu sei... Só que... - ele olhou para Carla e Leo ainda na mesa - Certo... é o melhor que podemos fazer. - eu o abracei.

Voltei para minha mesa, Rony e Hermione conversavam junto de Gina e Harry, disseram que a Diretora e Raoni estavam na sala dela com cuidados especiais.

Depois de comer fui para a biblioteca, peguei alguns livros e fiquei estudando por um tempo, eu não era o que podia se chamar de pessoa animada parar viver nesse dia. Neville estava resolvendo algo com os professores, logo eu não teria sua companhia. Carla e Leo estavam seguindo Gina por toda a escola, ela disse que os times que ficassem receberiam um treinamento especial e intensivo durante aquela semana com a ajuda de Harry e até com a de Rony, pensei que chamariam Draco, mas acho que não estão preparados para misturá-lo ao grupinho. Nyack se sentou a minha frente com alguns livros de feitiço, ele disse que dali alguns dias teria uma prova, caso o professor não mudasse a data, e precisava estudar bastante.

Algo que eu tinha reparado desde que tudo começou fora que os preconceituosos tinham parado de ficar zoando com ele e até com a Mari, que tinha embarcado em um ônibus pouco depois do almoço para ficar com os pais, eu teria feito o mesmo se fosse ela, eu queria poder correr para meus pais e ficar com eles pensando estar segura, só que isso poderia ser pior no meu caso, eu poderia ser controlada e nenhum dos dois iria me forçar a parar, principalmente meu pai não iria querer se meter na frente da minha varinha, ele mesmo me dissera isso.

Senti falta de Jorge, ele e Kat deveriam estar bem, pareciam bem quando eu saí e desde a última vez que olhei as redes sociais os dois pareciam bem felizes.

Peru se ajeitou no meu cabelo e voltou a dormir.

— Você acha que vão demorar muito para descobrir algo? – perguntei para Nyack.

— Sinceramente – confirmei – acho que só nós dois podemos nos ajudar. Entendo que os caras sejam os entendidos de tudo, mas como descobriram quem ele era? Graças a você que deu uma pista crucial para isso, acho que para acabar com o feitiço vão precisar que nós descubramos algo, algo que só nós dois possamos fazer.

Ele falou isso e tentei pensar em algo que apenas nós pudéssemos fazer, mas não conseguia pensar em nada certo. Continuei estudando e com aquilo na cabeça.

Uma cadeira foi puxada de forma barulhenta, quem se sentou nela foi ainda mais barulhento. Olhamos Draco, ele estava de olhos fechados e pareceu sentir nosso olhar.

— Podem voltar a estudar, não quero atrapalhar vocês – ele falou e esticou os pés por debaixo da mesa e apoiou na cadeira ao meu lado.

— Algo errado? – perguntei o olhando.

— Tudo está errado – ele reclamou.

— Algo mais especifico? – Nyack o observava.

O loiro o olhou cansado. Se sentou direito e me olhou.

— Eles estão pensando em me mandar para Azkaban – eu me assustei com aquilo – Hermione disse que estava na hora de eu ir para lá logo, eu não estou sendo útil para eles.

— Eles também não foram muito uteis e não é por isso que estou os mandando para Azkaban – Draco riu.

— Agnes... Eu matei pessoas, fiz coisas horríveis.

— Disse bem, fez, concordo que deveria pagar por isso, mas vamos concordar que você também fez coisas muito boas.

— O mundo não funciona assim – ele falou e olhou Nyack – Explica para ela.

— Ela não vai me ouvir – Nyack riu – Até parece que você não a conhece.

— Vou falar com ela – eu me levantei, Draco ia me parar – E não adianta você vir atrás de mim para me parar, se for me seguir é bom que seja para ficar quieto.

— Quando que ela ficou assim?- ele perguntou para Nyack que deu de ombros.

Eu realmente estava brava, depois de tudo que Draco fez por mim e tudo o que causei a ele não podia permitir que Hermione o mandasse para Azkaban. Eu entendo que ele tenha feito coisas terríveis no passado e eu sei disso, estudei a vida deles, sei o que fizeram e o que deixaram de fazer, e mesmo sabendo de tudo não acho justo, Draco passou por muita coisa também. E essas dificuldades que o meio nos entregou fez com que eu me identificasse com ele.

Bati na porta da sala que costumavam se reunir, abri a porta, Hermione estava sozinha lendo um livro, ela me olhou por cima das páginas e pareceu sorrir, ao ver Draco logo atrás de mim o sorriso se desfez.

— Vocês não podem manda-lo para Azkaban – falei e ela se assustou.

— Claro que podemos, ele é procurado e o mantivemos escondido até agora e ele não é mais útil, Agnes.

— Vocês também não são – ela franziu o cenho sem entender- O que descobriram só foi por minha causa e de Nyack, não foi uma descoberta de vocês. Se for por os fatos no papel, Draco nos é mais útil do que vocês todos juntos.

— O que você quer dizer? – ela parecia se sentir ofendida.

— Quero dizer que ele me tirou da porta daquele quarto incontáveis vezes, que ele me apoiou quando eu estava me sentindo péssima. Vê, ele mais ajudou do que vocês fizeram algo.

— Não estou te entendendo. – ela parecia estar brava.

— Agnes, chega, deixa disso – Draco ia me tirar dali, me soltei da sua mão, ele ficou me olhando sem entender.

— Não, Draco. Eu não acho justo que estejam te condenando sendo que você já pagou por tudo. Você já perdeu tudo, Draco, não tem mais nada além dessa vida.

— Mas ele não pagou da forma correta, não pagou com as punições certas – Hermione falou.

—Claro, porque viver fugindo não é uma boa punição, não é. Ser praticamente esquecido não é uma boa opção. Ora, Hermione, você mais do que qualquer um deles deveria entender a situação de ser esquecido de duvidarem de você – ela olhou Draco – Talvez eu só esteja falando idiotice aqui, mas quero que pense em tudo o que ele fez agora, tudo o que ele mostrou ser capaz.

Saí da sala dela acompanhada por Draco que ficava reclamando em meu ouvido o que eu tinha feito, eu podia ter piorado tudo, realmente eu podia ter piorado tudo, mas de qualquer forma ele já iria para Azkaban mesmo.

— Lembre-se de uma coisa – eu parei e ri para ele que parecia desesperado – duas pessoas já fugiram de lá – pensei – Na verdade três se contarmos o Morfino, então você tem chance.

— É tenho grande chance. Grande chance de morrer lá.

— Não vou deixar isso acontecer.

— Sem querer te ofender, Agnes, mas você não tem poder nenhum sobre isso. É melhor eu já começar a me preparar psicologicamente.

— Como preferir. – falei sorrindo.

Fui para o campo ver o treino dos times, Carla estava pendurada na arquibancada gritando para Leo que ele era horrível e que deveria melhorar muito. Me sentei observando aos dois, ele ia até ela e a zoava.

— Se você não pode em encarar, não fica gritando essas idiotices – ele gritou para ela e isso me fez ter uma ideia.

Continuei vendo o treino, mas dessa vez com minha mente muito distante, tão distante que sequer percebi quando Luna se sentou ao meu lado e começou a falar várias coisas das quais eu não entendia metade.

— Preciso da sua companhia – falei e ela me olhou surpresa e logo sorriu.

— Claro, do que precisa?

— Nenhum deles aceitaria – eu me levantei – me acompanhe até o quarto do Morfino.

— Agnes, isso não é uma boa ideia.

— Por favor, eu preciso confirmar algo.

— Me dê a varinha – entreguei a ela – Agora acho que podemos ir.

Passamos pelos corredores apressadas, na escada que dava para o quarto algumas caiporas dormiam nos degraus, passamos desviando de cada uma delas, Luna ficou encarando a porta e então me olhou, sorri para ela e toquei na porta. ‘O que te fez vir aqui?’ a voz dele ecoou em minha mente ‘Precisava ter a certeza de que ainda está vivo’ ‘Para quê, se gabar do meu sofrimento?’ ‘Não faço essas coisas e você sabe’ um riso de fundo ‘Não brinque comigo assim, Agnes, você não sabe do que eu sou capaz’ me senti meio tonta, fechei os olhos com força, Luna se agitou um pouco ‘E nem você sabe do que sou capaz, Morfino’ outro riso ‘Eu estou na sua mente, Agnes, sei do que é capaz e sei as pessoas com quem brincar para que você faça tudo o que eu mandar’ foi minha vez de rir, ele ficou em silêncio ‘O jogo está virando’ ‘Eu sei que está’ ele falou e eu me afastei da porta, olhei Luna, ela me observava meio assustada.

— Seu nariz... – levei a mão, ele sangrava.

— Tudo bem.

— Agnes? – ouvimos um grito, Neville subiu a escada correndo e parou surpreso ao ver a Luna ali – Luna? – perguntou confuso – O que...

— Eu pedi ajuda dela-  falei limpando meu nariz, Neville pegou meu rosto com as duas mãos e começou a analisar meu nariz, me afastei um pouco dele e sorri – Eu já sei como derrubar o Morfino.

Os dois trocaram olhares preocupados.

Eu estava bem, apesar do sangramento nasal. Eu precisava encontrar Nyack, mas Neville estava muito preocupado e só me deixaria sair da estufa depois de limpar o sangue que não parava de sair e ter certeza de que nada de ruim tinha acontecido. Isso demorou um pouco.