ninguém presta atenção no céu até se apaixonar escrita por Salow


Capítulo 1
Unir-se


Notas iniciais do capítulo

Iamelaaa, eu fiz com muito carinho, desculpa o atraso, desculpa a porquice, mas é do fundo do meu coração. Me segurei no seu sci-fi e fiz uma """continuação""" de uma fic minha. Não precisa ler a antiga e o sci-fi é bem background. Acho que fui bem água com açúcar, mas não sei?? Espero que tu goste (vocês também, outros leitores)
Não betada ainda e tô 100% nem aí (mentira, vou chamar alguém mimimi)



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2.

— Agora a ideia foi minha? — Axon gritou antes de chutar o rosto do humano com quem lutava. O homem caiu para trás.

— Eu te falei que esse não era o melhor planeta para tirar umas férias — Kari respondeu, mais calmo, enquanto se atracava com três brutamontes. Quebrou o braço de um, chutou o joelho de outro e explodiu a cabeça do terceiro com a arma. Sangue amarelo-vômito se espalhou pela grama do chão.

— Mas você adorou as praias! E tem manga! — Nocauteou o guerreiro que estava caído.

 Com certeza as praias tinham sido um ponto forte daquele descanso. Quando decidiram fugir da algazarra do Sistema 1, o único requisito que Kari fizera ao outro foi de um lugar bonito e quente. O litoral de Thomia era perfeito, a água era azul, a areia era branca e tão fina que não conseguiam pegar um punhado sem que escorresse pelos dedos. A área de mata era vasta e também bela, repleta de aldeias nativas — bastante acolhedoras, por sinal. Oh, e as mangas...

 O único problema foi a invasão. Uma horda de piratas — Kari logo reconheceu — surgiu e invadiu algumas comunidades. Pelo que os habitantes do planeta diziam, eles queriam roubar o seu Deus. Axon não compreendeu como poderiam tomar posse de algo imaterial, entretanto logo se comunicou com algumas forças que sua mãe, a presidente, disponibilizava e descobriu que Thomia possuía grandes reservas de um mineral resistente ao calor e que estava sendo amplamente utilizado para produção de armas no Sistema 9.

— Não tenho certeza se a manga fez isso valer a pena. — Kari olhou para o abdome machucado mais uma vez. Alguns cortes e contusões. Gostava daqueles shorts de banho, mas se acostumara por tanto tempo com seu resistente traje que estar tão despido lhe parecia perigoso. Realmente, com o desenrolar dos acontecimentos, fora, mas quem poderia prever?

Axon riu. O outro poderia não perceber, mas ele se divertia pela seriedade pouco a pouco caindo entre os dois. Observar o namorado ganhar naturalidade era animador, ainda mais quando possuía grande parte da responsabilidade.

Acima, pelas aberturas entre as copas das mangueiras, viram naves com o símbolo do Sistema 1.

3.

As tropas da república possuíam vantagem tanto em número quanto em habilidade. Pegos de surpresa, alguns piratas resistiram por alguns momentos e acabaram no chão. Outros, mais espertos, notaram o ataque — ou defesa —, e bateram em retirada. As naves dos fora da lei subiram aos céus e alguns lasers foram disparados, mas escaparam inteiras.

— Eu quero esses patifes capturados. Agora! — o capitão gritava para seus subordinados e eles corriam após assentir. Em poucos segundos, mais naves estavam no ar.

— Sonand! Que bom te ver por aqui! — Axon surgiu próximo ao homem que ordenava a todos. Sorria, contrário a toda a carnificina que acontecera ao redor. — Se tivesse demorado um pouco mais, talvez estivéssemos mortos.

 Axon riu sozinho.

 — Eu duvido muito. — Kari vinha logo atrás, cansado, porém ainda atento.

 — Senhor Stannard! — Mese Sonand era um homem sério, realizava seu trabalho com maestria e o fazia há um bom tempo. Durante toda sua carreira, esteve próximo a família Stannard — à qual Axon pertencia — e, quando Acyrn subiu a presidência, foi promovido a capitão. Ainda assim, continuou agindo como guarda pessoal da família. Era praticamente um membro dela.

Não recusaria um abraço de Axon, entretanto manteve a feição séria que era vista pelo visor levantado. Deu uma batidinha nas costas do moço.

— Acompanhem eles até a nave. — falou para o grupo de soldados ainda ao redor. Virou-se para Axon. — Sua mãe está preocupada, se enviar uma mensagem para ela, vai fazer da vida de todos nós mais simples.

O capitão foi andando, precisava ter certeza que estava tudo sob controle e poderiam finalmente sair daquela sauna. Com a velocidade dos acontecimentos e as ordens da presidente tão urgentes, vestira o seu antigo uniforme. O suor molhando o material fazia seu pescoço coçar.

4.

A comitiva ao redor do casal avançava entre as árvores devagar. Mesmo sem ninguém a vista, os soldados conferiam cada espaço antes de prosseguir. Encontraram a nave que os transportaria numa espécie de clareira. Havia apenas a vegetação rasteira e até essa desaparecia para a areia surgir. Era possível ver as ondas batendo calmas na praia.

A rampa da nave desceu lentamente quando se aproximaram. A primeira coisa que Axon fez foi ligar o primeiro comunicador que encontrou e sentou-se. O contraste branco e limpo o fez realizar o quão sujo estava. Havia areia em todo canto.

Um holograma da presidente surgiu sobre o aparelho. Apenas seu rosto e ombros eram visíveis, mas as feições já passavam toda a preocupação que o homem esperava. As rugas pareciam acentuadas, sobrancelhas eram franzidas e os olhos se cerravam, mesmo pequenos.

— Oi, mãe. — Fez um sorrisinho fraco, esperando que ela não fosse julgar sua aparência.

— Eu não sei qual o seu imã para problemas, garoto! — Ela disse após colocar óculos redondos. — Poderia ter ido para qualquer planeta vizinho para visitar alguma praia, mas precisa ir para um mal habitado e, ainda por cima, durante uma invasão! E olha essa sua cara! Isso é sangue na sua testa?

— Mãe, eu não poderia saber que uma invasão iria acontecer… Fiquei tão surpreso quanto a senhora. — Ignorou sobre o sangue, provavelmente era só algum corte superficial.

— Claro que não poderia saber! Ninguém sabe o que acontece nesse lugar, é quase no fim do mundo! Quantas vezes… O que foi isso?

Um grito se fez ouvir de fora da nave, mas não um grito comum. Era como sílabas iguais se repetindo de modo rápido e a voz era aguda. Axon poderia jurar que já vira em algum filme. Kari surgiu de algum vão da nave e ergueu a sobrancelha.

— Não sei… Mas provavelmente eu deveria…

— Axon Stannard, não se atreva a sair dessa nave ou — o sorriso estampado no rosto do filho fez Acyrn ter certeza de que nada que dissesse adiantaria. — Por favor, mantenha Sonand perto de ti.

Os dedos da mulher apertavam a ponte do nariz e os olhos já estavam fechados, porém Axon entendia que aquele era um “certo, vá”.

Foram.

5.

Não poderiam culpar os soldados da república de derrubarem a nativa e apontarem as armas para sua cabeça. Pelo pouco que sabiam, nocauteariam qualquer um que se aproximasse da nave sem permissão. Sonand fora claro.

— Soltem ela! — Kari foi mais rápido que as ordens do outro e já estava no meio da confusão. Empurrou algumas das armas de forma brusca e ajudou a moça a se levantar. Se machucara feio por ela e mais alguns que ali viviam, não deixaria que fosse humilhada agora.

De pé, a mulher segurou forte a mão de Kari. Olhava para a pele escura do homem e para seus olhos também escuros. Os dela, verdes, reluziram. Riu e abraçou-o. Viu Axon por cima do ombro e começou a falar em seu dialeto. As palavras saíam rápidas e animadas.

— Calma, calma. — Axon se aproximou. — Você fala nossa língua?

Ela respirou, fechou os olhos por alguns momentos e respondeu: — Tribo me enviar para agradecer. — Apontava para o casal. — Sal… salvadores.

Kari não precisou olhar para o namorado para saber que ficariam mais algum tempo naquele planeta. Sorriu.

6.

As aldeias separadas davam a impressão de ter bem menos gente em Thomia, mas ver todos os nativos se reunirem para recebê-los mudou isso. Dançavam, cantavam e riam. Quando Kari e Axon, acompanhados de alguns guardas relutantes em desobedecer o comandante, apareceram, todos romperam em gritos. Comemoravam e o casal não pôde reagir de outro modo: entraram na festa.

Foram puxados para uma roda que seguia contornando a fogueira. Movimentavam-se no ritmo dos tambores e flautas. Bem, Axon o fazia, já Kari apenas se movia. Ritmo seria uma palavra forte para ele. Os dois viram algumas crianças aproximando-se dos soldados, ainda parados e um tanto inconfortáveis. Cutucavam as vestimentas e tentavam puxá-los para a dança. Um deles começou a se mexer, mas um tapa no braço o fez voltar ao estado de alerta.

Aos poucos, o barulho diminuiu. Numa espécie de palanque, surgiu uma senhora já idosa, o rosto sorria e acentuava as rugas. O casal que dançava se entreolhou, Kari deu de ombros.

A velha começou a falar e Axon se surpreendeu que da distância que estavam, entendiam claramente. Os outros a ouviam, não desviavam o olhar e nem comentavam com qualquer pessoa. Kari procurou a moça que apareceu perto da nave, qual era mesmo o nome dela? Mely!

— Braki está falando sobre como o dia foi negro. — A mulher surgiu ao seu lado como se ouvisse seus pensamentos. — E sobre como A’Kalou trouxe salvadores…

De repente, todos viraram na direção dos dois. Os olhares caíam pesados de todas as direções possíveis. Aos poucos, a multidão abria um estreito caminho até o palanque. Kari olhou para o namorado e não encontrou uma expressão de medo ou vergonha, ele parecia feliz. Segurou-lhe a mão e seguiu até Braki.

A velha esperou os dois estarem ao seu lado para gritar algumas palavras e levantar uma mão de cada “salvador”. Todos ali romperam em aplausos e comemorações. Axon riu e apertou a mão da senhora, seus olhos brilhavam, tentando se conter.

7.

O casal conversou pouco após saírem do palanque e Mely acompanhá-los até uma área mais distante. Só algumas frases como “você está bem?” ou “não, eu não ‘tava chorando.” pairaram entre os dois, mas o silêncio não era pesado, não causava aquele constrangimento. Ele quase flutuava entre os dois, os contornava aconchegante, natural.

— Não tive a oportunidade de explicar, mas Braki falava da homenagem que estamos preparando para vocês. — Mely disse, parando perto de uma cabana.

— Ainda tem mais? — Axon soltou, erguendo as sobrancelhas.

— Eu precisaria falar mais sobre A’Kalou, mas para deixar tudo mais simples, é o que todos aqui sempre sonharam. — Os olhos dela brilhavam. — É uma cerimônia de união ao Deus. A passagem não pode ser feita sozinha, por isso vocês precisam juntar-se para ir até ele.

— Como… um casamento? — De olhos cerrados, Kari testou a primeira hipótese que surgiu na sua cabeça.

— Casamento… — Ela pensou por alguns instantes. — Isso, exatamente assim!

Ela não permitiu que eles ficassem chocados ou felizes ou qualquer coisa. Puxou Axon para a cabana e falou muito rápido algo como “elasvãotelimpartevestirelevarvocêatélátevejomaistarde”. Agarrou o braço de Kari e andou, quase carregando ele.

Bem, que mal teria numa cerimônia religiosa?, pensou.

8.

Nenhuma das garotas que ajudaram Axon a se preparar falava a língua dele. O máximo que elas ousavam fazer era soltar risinhos sem motivo aparente. Sem pudor, elas gesticularam para ele tirar as roupas. Banharam-no em água quente. O vapor se espalhava pela barraca e cheirava a mato.

Enquanto isso, Mely empurrou Kari para outra barraca bem parecida, mesmo que a palha estivesse mais escura. Não sabia, mas o seu banho foi bem parecido com o do outro. Exceto pela parte que Karl obrigou todos a virarem antes de se despir e entrar na água.

— Já pensou nas suas palavras? — Mely o puxou para fora da barraca. O homem estava enrolado em trapos que serviam de toalha.

Kari não escondia o desconforto de estar praticamente pelado no meio do mato. A mulher ignorava esse detalhe e seu tom de voz era calmo, despreocupado.

— Eu preciso falar algo? — Coçou a cabeça.

— Oh, A'Kalou aprecia quando seus súditos declamam seu amor por seu parceiro e também a Ele. — Era como uma criança falando, animada.

Kari parou para pensar. Não era bom com palavras, poderia contar uma história inteira sobre isso. Lembrou-se de Axon, como ele o ajudava, como não era simplesmente alguém para beijar ou qualquer coisa. Ele estava com Kari por inteiro. Estaria para sempre, se dos dois dependesse. Até A'Kalou concordava.

— Eu não adoro o seu Deus. — Não falaria sobre seu relacionamento com uma estranha, mesmo que ela organizasse seu "casamento".

Mely riu. Olhou nos olhos do homem.

— Você o ama? — Ela não falava sobre o Deus. Kari balançou a cabeça após relutar por alguns segundos. - Então você também adora A'Kalou. Ele está em todo lugar. Todo sentimento que aflora do seu ser é ele. Você pode não dizer o nome, mas quando você olha para seu namorado, Ele está lá.

10.

A boca do vulcão de Thomia era quase perfeitamente redonda e, pela trilha construída pelos nativos, acessível. Além do casal, estavam lá Braki, Mely e algumas outras pessoas. Dessa vez, não havia tambores ou qualquer instrumento. O silêncio e a voz ressoante da idosa servia como música.

A velha gritava e então sussurrava. Por estarem próximos, os namorados ouviam tudo que era dito, embora não entendessem sequer uma palavra. Parece sério, fez Axon com os lábios. Kari apertou sua mão mais forte. Viram a idosa queimar algumas folhas e espalhar a fumaça ao redor dos dois. Entregou um pingente a cada um e ergueu as mãos. Todos os presentes fizeram o mesmo.

Estavam unidos.

11.

— Como eu poderia saber que uma união com o Deus deles seria pular no vulcão?! — Axon gritava equanto corria.

Sonand viu primeiro Kari e então, o filho de sua chefe. Os dedos de ambos apontavam para as naves.

Foram poucos segundos entre esse e o momento que a ordem “Me tirem daqui antes que esses dois morram de uma vez!” foram proferidas.

9.

Axon não precisava escolher as palavras certas para dizer quando chegasse a hora. Ele apenas tinha certeza que saberia. Estava pronto para a cerimônia quando deitou-se no chão e notou que já era noite. Estava tudo correto e, acima, o céu brilhava.

1.

— Kari, que tal esse planeta para as nossas férias? Olha essas praias!


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Notas finais do capítulo

Sim, eu inverti as cenas, por isso os números. Sim, foi porque eu quis sdjdspojdspojddsBEIJO, MAMÃE AMA VOCÊS ♥