Desajustadas escrita por KitKatie


Capítulo 47
Curada


Notas iniciais do capítulo

~~ a sumida aparecendo como se nada tivesse acontecido ~~

Olá, queridos e queridas! Como estão?
Sim, estou sumida demaaaais mas eu prometi que terminaria essa história e cá estou!
Agradeço o apoio de todos os leitores que me sustentam em especial da minha querida amiga Srta. Gardner!

Aproveitem a leitura ♥



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Annabeth batia o pé de maneira ritmada e nervosa. Suava e sentia seus dedos tremendo. O coração batia tão rápido que ela sentia como se a qualquer momento pudesse saltar para fora de seu peito. Respirava fundo tentando conter a ansiedade enquanto sentia a mesma apenas dissipar-se com mais força em seu corpo.

—Cheguei, cheguei, desculpe o atraso. – Um Percy Jackson, ofegante e com cabelos molhados, prostrou-se ao lado da loira, de maneira rápida vista a corrida que fazia até o local. –O treinador enrolou a gente por mais tempo que o normal, sinto muito.

—Tudo bem. –Annie mordeu os lábios e respondeu num quase sussurro, estava tão nervosa que nem conseguia formular uma resposta.

—Sabidinha? –Percy envolveu as mãos da namorada com as suas, sentindo o tremor que passava nelas. –Você sabe que não precisa fazer isso se estiver se sentindo pronta...

—Eu nunca vou estar pronta para isso, cabeça de algas. –Annabeth sussurrou e suspirou profundamente. –Mas não posso passar a vida fugindo disso. Preciso quebrar isso antes que me machuque ainda mais. O ponto final vai vir agora. –Annie lembrava-se das inúmeras sessões com sua psicóloga e das recomendações da profissional.

—Eu estou aqui por você, sabe disso. –Percy levou as mãos dela aos seus lábios e depositou um beijo sobre elas. –E não sou, suas amigas também estão torcendo por vocês. Você é a pessoa mais forte que eu conheço e não há adversário páreo, não importa quem seja. –Lançou um olhar de soslaio para o prédio atrás de si.

Annie acompanhou o olhar e mirou profundamente o edifício branco, em estilo grego, com grandes ornamentos em gesso e uma placa adornada que exibia os dizeres “Arquiteta Atena”. O coração deu um salto ainda maior ao dar-se conta do que estava prestes a fazer: enfrentar seu maior pesadelo, seu maior trauma, seu maior medo e sua maior magoa – sua mãe.

Tudo vinha como um turbilhão em sua mente ágil. As noites que virou chorando questionando-se o porquê de sua mãe não ama-la. Os dias que viu seu pai definhando de tanto trabalhar. Os fins de semana que sentiu o sofrimento em estar sozinha. Os meses que arrastavam-se enquanto esperava algum milagre. Os anos que a lembravam que não existia amor.

Em algum momento da vida cinza, sua mãe morreu para ela. No coração doía menos fingir que ela não existia e foi isso que Annabeth fez. Nunca achou que chegaria o dia que a enfrentaria. Que colocaria um ponto final na situação. O dia que finalmente permitiria a sua ferida mais profunda cicatrizar.

Quase riu com a ironia. Passou anos odiando sua mãe e esse ódio a fez odiar todo o resto. Não se achava capaz de vencer isso da mesma forma que não achava que seria um dia amada – e que amaria. Mas ali estava ela, de mãos dadas com o homem mais lindo do mundo, que a olhava na mesma intensidade, e a um telefonema de distância das amigas mais incríveis que poderia desejar.

A vida segue rumos imprevistos e Annabeth não poderia estar mais grata por ter errado. Por ter errado em achar que amizades são perda de tempo. Por ter errado em achar que não poderia ser amada. Por ter errado em achar que nunca amaria. Por ter errado em achar que nunca seria forte o bastante.

—Eu estou aqui. –Percy a olhou com intensidade. –E vou estar te esperando, não importa o que aconteça. E, se precisar de mim, é só dar um grito que eu garanto que nem o Tártaro me impediria de ir até você.

—Obrigada. –Annie sorriu com os olhos marejados e beijou suavemente a bochecha do namorado. –Eu preciso fazer isso sozinha mas com certeza é mais fácil sabendo que você está aqui me esperando.

—Sempre, sabidinha, sempre. –Ele sorriu e empurrou ela suavemente em direção a porta. –Não há nada que você não possa fazer. Vá e vença esse monstro de uma vez para que a gente possa sair e tomar sorvete.

Annebeth sorriu mas por dentro tremia. Respirou fundo e beliscou as próprias bochechas, precisava focar. Era o fim, de uma vez por todas. Adentrou o luxuoso prédio, pisando firme. Não era momento de amedrontar-se.

—Boa tarde. –A loira cumprimentou polidamente a recepcionista. –A arquiteta Atena encontra-se?

—Tem hora marcada, senhorita? –Respondeu-lhe no mesmo tom.

—Não tenho. –Annie respirou fundo e completou de forma firme. –Mas ela me atenderá.

—Entrarei em contato com ela, só um momento. –Discou em seu telefone. –Qual seu nome?

—Annabeth Chase. –Ao dizer isso notou o estranhamento tomar a face da funcionária.

—Boa tarde, doutora. Há uma senhorita que gostaria de reunir-se neste momento com a senhora. –Ficou em silêncio por alguns segundo antes de completar. –Ela afirmou-se chamar Annabeth Chase. -O telefone foi desligado logo em seguida e a menina notou na face da secretária uma expressão séria. –Ela irá lhe receber, me acompanhe, por favor.

Ambas adentraram um elevador espelhado e dirigiram-se a cobertura. Por fora, Annie mantinha uma expressão neutra mas por dentro o estomago revirava-se e o coração estava ao ponto de explodir. Mordeu a bochecha enquanto tentava focar a mente. Estava há uma porta de metal de distância de sua mãe, aquilo a aterrorizava, todo o seu discurso já ensaiado e revisado tantas vezes em sua mente havia fugido, um branco total nublava seus pensamentos.

O barulho de abertura das portas quase a fez cair ao chão. Tremendo, atravessou a porta e entrou na grande sala. O local era impecável, digno da produção de uma grande arquiteta tal qual Atena era, a decoração em estilo grego, os pilares, estatuas e mármore, todo aquele luxo fazia Annie sentir-se enjoada. Enquanto sua mãe passava os dias numa sala caríssima como aquela, a menina e seu pai precisavam contar as moedas para pagar as contas. A raiva ameaçava inundar seu coração e Annabeth precisou respirar fundo para conter o turbilhão de sentimentos ruins que a dominavam.

—Annabeth? –Aquela voz tão conhecida e ao mesmo tempo tão estranha soou aos ouvidos da menina. De repente sentiu uma vontade absurda de chorar.

—Olá, Atena. –Contendo todo o seus sentimentos, Annie respondeu de maneira firme, sua mascará de dureza estava ali.

—Devo confessar que sua visita me surpreendeu em níveis indescritíveis. –A mulher levantou-se de sua cadeira. –A que devo a honra?

—Não quero seu sarcasmo. –Annabeth foi firme. –Eu vim aqui por que preciso de respostas e você é a única que pode me dar elas.

—Sente-se. –Atena suspirou e apontou para o sofá vermelho que havia a frente de sua mesa.

—Você sabe as respostas que quero.

—Eu imagino. –Atena cruzou as mãos sobre a mesa. –Eu posso te dizer tudo que quer saber mas não sei se é realmente o que quer. A realidade é muito diferente do que imaginamos em nossa cabeça.

—Eu passei os últimos anos remoendo todas essas perguntas em minha cabeça. –Annie mordeu os próprios lábios. –Nenhuma resposta que você pode me dar é pior do que as que já imaginei.

—Você se tornou uma mulher impassível. –Atena a analisou com frieza.

—Eu tive uma boa professora. –Annabeth sorriu, sem alegria.

—Suas perguntas tem a ver com minha partida, imagino.

—Seu abandono. –Annie corrigiu, firme.

—Chame como quiser. –Atena suspirou. Por um momento a menina pode notar uma fragilidade na pose altiva da arquiteta, naquele segundo Annie notou uma fragilidade debaixo da mascará poderosa. Ela parecia cansada. Ter essa visão tocou em algo lá no fundo de seu ser, Atena era humana. Era isso. Annabeth passou tantos anos vendo a mãe como um monstro frio e na verdade era ela só uma humana. Uma humana que errou mas ainda assim, era de carne e osso, não uma assombração em seu coração.

—Por que? É o só o que eu quero saber, seja sincera. Me diga seus motivos. –Annabeth sentiu os olhos marejarem e não tentou esconder os sentimentos dessa vez.

—Seu pai nunca falou sobre isso? –A mulher cruzou os braços.

—Ele te idolatra. –Annie exclamou. –Sempre te amou. Nunca quis que eu me decepcionasse com você ou pensasse mal. Disfarçou, inventou desculpas, fugiu das perguntas tudo para não dizer a realidade dura que eu sei que existe. Essa é a primeira e última coisa que eu te peço: Seja sincera comigo.

Atena suspirou e levantou-se. Andou pela sua sala, observando a própria sala, apoiou-se na janela e olhou para os arredores. Parecia perdida em pensamentos, matutando em como falar a filha.

—Éramos jovens, inconsequentes. –Atena começou, com cuidado escolhendo as palavras. –Não conhecíamos nada sobre o mundo, sobre a vida. Duas crianças que tinham em mãos outra criança. –Riu, amarga. –Eu tinha sonhos, planos, objetivo. Nenhum deles tinha espaço para uma criança. –Aquilo cortou o coração de Annabeth mas ela manteve-se firme. –Eu amei você, Annabeth. A primeira vez que olhei fundo em seus olhos cinzas meu coração bateu mais forte e eu entendi o que significava o amor. –A voz da mulher embargou e nem mesmo Annie conseguiu acreditar ao ver os olhos de Atena marejando. –Mas eu não podia te amar. Eu não consegui. Eu não era suficiente. Eu fui embora porque meu amor não era bom para você. Eu não era boa para você. Eu precisava me tornar uma mulher digna. Eu precisava ser alguém.

—Você era alguém. –Annabeth deixou que as lagrimas rolassem pelo seu rosto. –Você era tudo para mim. Isso não era o suficiente para você?

—Eu não suficiente para mim mesma, Annabeth. Eu não me amava e por isso não podia te amar. –Atena sussurrou. –Eu fui embora para não te quebrar.

—Você me quebrou quando foi embora.

—Eu sei. E não tem um dia em que não me arrependa. –Atena respondeu firme. Aquilo surpreendeu Annabeth. –Eu tenho tudo hoje, olhe em volta. Mas eu sou vazia. Eu escolhi conquistar o mundo e eu perdi ele. –Atena deixou lagrimas rolando. –Eu perdi você, perdi seu pai e me perdi no caminho. Mas não posso dizer que me arrependo de ter me tornado quem eu me tornei. Isso aqui permitiu que você crescesse.

—O que? –Annabeth surpreendeu-se.

—Eu estivesse esses últimos anos mandando dinheiro para você e seu pai. –Atena respondeu. –Ele decidiu pôr tudo numa conta para que você pudesse usufruir na faculdade.

—O que...? –Annabeth ainda estava atônita.

—Você tem uma poupança boa. Nunca faltou nada porque eu mandei dinheiro e você tem um futuro garantido. Posso não ter sido parte da sua vida mas eu estive ali. –Atena respondeu. –Eu pedi para que seu pai não te contasse porque não queria que você rejeitasse o dinheiro...

—Eu... Não sei o que responder.

—Não precisa responder nada. –Atena sentou-se novamente. –Eu não soube te amar você merecia, não tenho direito de exigir teu perdão. Só te peço que não rejeite o dinheiro que te mandei. Use ele, tenha um futuro. Tenha uma família. Seja mais sábia do que eu fui.

—Eu perdoo você, mãe. –Aquela frase saiu com uma naturalidade maior do que Annie imaginou ser possível. –Eu passei tanto tempo te odiando e esse ódio só me consumiu e me impediu de amar as coisas boas ao me redor. Eu escolho te perdoar mas me curar. Eu aprendi a amar. Agora tenho amigas, um namorado e uma vida que vai além dos meus medos.

—Eu fico feliz por isso. –Atena respondeu, com o coração doendo.

—Vou ser sincera, não consigo te ter em minha vida agora. Preciso de mais tempo e mais trabalho interno para isso. –Annabeth suspirou. –Mas eu quero te perdoar e espero que um dia você possa ser avó dos meus filhos de uma maneira que nunca foi minha mãe.

—Obrigada, Annabeth. –Atena limpou os resquícios de lagrimas em seus olhos.

As duas seguiram conversando por mais algum tempo. Annabeth comentou coisas triviais da sua vida, falou sobre Percy e sobre sua intenção de ser arquiteta também. Foi uma conversa estranha, não havia intimidade mas ambas estavam dispostas a isso. Seria um caminho longo a trilhar mas agora, Annie sentia em seu coração a possibilidade de florir novamente. Sentia-se curada.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Tem alguém ai ainda?

Aproveitam o raro momento de aparição, venho recomendar aos que gostam de desajustadas a fic da minha amiga querida: https://fanfiction.com.br/historia/792081/Love_Bond/
Leiam e surtem comigo!!

Obrigada aos leitores, até a próxima! (que dessa vez será breve, prometo)