Quero Um Milagre escrita por Kevin


Capítulo 1
One-Shot




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Quero Um Milagre


- Mas... Achei que você iria passar a virada do ano comigo. - A voz trêmula escondendo tanto uma irritação, quanto uma surpresa, lhe entristecia a face.

Davis estava em um ponto de ônibus com Kari. Era dia 31 de dezembro e já passava do meio dia. A menina estava com uma mochila nas costas, e roupas para proteger-se do frio. Sapatos e um grande sobretudo. Tailmon ao seu lado parecia não se incomodar com o frio, mas usava um cachecol rosa em volta de seu pescoço.

 

- Davis... - Kari pronunciou o nome dele como se tentasse ganhar tempo para selecionar as palavras. - Passei o natal com vocês e agora vou passar as festividades de ano novo com a minha família, em um distrito do interior. Eu falei sobre isso com você quando fomos comprar presentes de natal na semana passada. - Kari parecia um pouco zangada com o rapaz. Ele estava ali a cinco minutos e a única coisa que havia feito era reclamar.

 

Não havia muitas pessoas naquele lugar, dois outros passageiros que não se atinham a conversa dos dois, devido a fones de ouvido ou uma leitura interessante que faziam. De certo, já teriam intervindo, para tentar entender o que acontecia, na situação que Davis criara desde que chegará ali. Gritou como louco desde o inicio da rua, como se algo estivesse o atacando.

O que acontecia não era tão diferente daquilo. Apesar de ninguém estar tentando matá-lo, por dentro ele sentia uma grande dor. Ele havia feito todo um planejamento para o ano novo. Fora minucioso e até receberá a ajuda de sua irmã, Jun, para concluir o que ele chamava de “Milagre de Fim de Ano”, ou como apelidou MFA.

 

- Eu lembro bem disso... Mas, você fez entender que iria só amanhã. Depois da virada. - Davis tentou se acalmar, mas sua voz ainda saia como uma lamina agressiva e triste. Enquanto as faces mostravam a agressividade, os olhos transmitiam a tristeza. Enquanto as palavras diziam pouco, o tom dizia que ele era todo revolta. E seus lábios trêmulos mostravam a fragilidade em que o menino se encontrava. - Disse que passaria a virada de ano comigo. - Comentou Davis sem saber se deveria lembrar a amiga sobre esse fato.

 

- Achei que haviam prometido um ao outro deixar a idéia amadurecer. - Dizia Tailmon meio que sem saber se interferia ou não naquela situação.

 

Ao ouvir a digimon dizer aquilo eles se olharam. Davis tinha o olhar mais triste e envergonhado que poderia se imaginar o jovem tendo. Era muito incomum para alguém espontâneo e corajoso como Davis estar com aquele olhar. Mas, diante ao olhar envergonhado e perdido de Kari, ele não tinha coragem de continuar com aquela reação revoltada.

 

A vergonha de Davis era devido a situação de quase ter sido descoberto quebrando a promessa feita. Mas, tanto tristeza e revolta, que o jovem apresentava de maneira tão nítida para quem o conhecesse, estava em saber que todo o seu planejamento iam por água abaixo.

 

- Não seja boba Tailmon. Eu sei que o Davis tem um motivo para estar assim. Ele sabe que ainda não é hora de conversarmos sobre isso. Pelo menos não em uma virada de ano. - Kari deu um sorriso aberto para o jovem. Um sorriso cheio de dentes, demonstrando uma tranqüilidade e transmitindo uma paz para Davis. Aquele mesmo sorriso que ela dera a ele a muito tempo quando tudo aquilo começara.

 

Um sorriso gostoso e verdadeiro para Davis e quem olhasse. Um sorriso falso e forçado para Kari. A menina gelou ao escutar os gritos de Davis quando ele apontou na rua. Gemeu baixo percebendo que ele realmente estava estabanado por conta da descoberta de que não passariam a virada do ano juntos. Na verdade uma descoberta e reação meio tardia pelo que ela pensava.

 

Tanto quanto Davis, Kari naquele momento, queria um Milagre de Fim de Ano. Queria um MFA. Um MFA para se livrar de Davis naquele momento, adiando por mais algum tempo a conversa da qual ela nem sabia o que dizer ainda.

 

MFA, era o que Davis mais queria. Um milagre para ele poder ficar com Kari. Ele durante o mês de novembro, junto com sua irmã, tentaram achar o melhor momento para que Kari soubesse dos sentimentos do menino. Na verdade, não saber do sentimento. Isso ela já sabia. O necessário era fazê-la receber aquele sentimento de forma acolhedora.

 

Kari soube do sentimento do jovem durante uma jornada pelo digimundo. V-mon e Tailmon enfrentavam um poderoso digimon que estava querendo ir ao mundo real. No meio do combate, o digimon atacou Kari, sem que os digimons pudessem defendê-la. Foram três acontecimentos que ninguém esperava que culminaram na descoberta do sentimento de Davis por Kari.

 

Primeiro: Kari saltou para o lado colidindo com Davis que caíram ao chão.Segundo: O digimon conseguiu movimentar-se rápido e acertou Davis e Kari de uma única vez.Terceiro: O golpe que eles receberam os lançaram para dentro de um rio que os arrastou para  longe.

 

Ninguém soube dizer como eles sobreviveram. Kari recobrou os sentidos primeiro. Davis desacordado parecia estar muito ferido. Com o tempo Davis delirava dizendo a Kari o que sentia. Sem saber se era real o que escutava, preferiu ignorar aquilo. Kari tentou acordar Davis. A menina sacudia-o de leve, mas foi surpreendida por uma braço e um beijo do rapaz que delirando, sonhava que estava a beijar Kari.

 

Kari sabia que ele estava a delirar, pois sentia a febre que ele se encontrava, mas o menino despertou em meio ao beijo e a inercia de Kari. De alguma forma ele sabia que o que ele sentia em seus lábios era muito mais que um sonho bobo. O jovem abriu os olhos sem acreditar que era real o beijo. Kari se desvencilhou meio assustada, mas não teve tempo de pensar. Davis desmaiou em seguida.

 

Quando tudo aquilo teve fim, Kari esperava que Davis imaginasse que fora tudo parte de seus delírios. E foi assim que aconteceu, até v-mon brincar com Davis sobre os lábios rosados que ele estava. Era o rosa do batom de Kari. - Bem, Kari... Confesso que não vejo a virada como um péssimo momento para falarmos disso. Desde aquele beijo estamos deixando que as coisas fluam naturalmente, para que não apressemos as coisas. Nos aproximamos e fizemos muitas coisas juntos. Mas, também tivemos os momentos de nos afastarmos e não fazermos algumas coisas que eu ou você julgava que machucariam um ao outro. - Davis deu uns passos para mais junto da rua.

 

Poucas horas para a virada do ano, e as ruas já estavam com pouco movimento. Não havia sinal de neve nas ruas, mas o céu estava carregado o que indicava que se não nevasse choveria. Havia um ar gelado, presente no ambiente, que obrigava os habitantes a não sair de casa, ou a se agasalharem bem.

 

Davis fechou os olhos. Na virada do ano ele a tomaria nos braços e pediria ela em namoro. A beijaria assim que visse, e a fizesse ver, alguns casais a se beijar. Era o momento perfeito. Onde todos os desejos de prosperidade, felicidades, paz e amor eram feitos, Davis aproveitaria para pedir que ela lhe desse amor.

 

Mas, Davis era uma pessoa corajosa, o que fazia um pouco desajeitado e estabanado. Davis era um jovem preocupado com os outros, o que lhe fazia evitar ser corajoso para coisas que machucariam os demais. Ele precisava de um milagre para que ninguém o interrompesse, que ele não fizesse algo de errado, que Kari estivesse receptiva, que o cúpido olhasse por ele e acertasse de uma vez o coração de sua amada com uma flecha apaixonada.

 

Milagre. Se ele queria um, deveria ser em um momento mágico. Ele escolhera inicialmente o Natal. Se existia um dia mágico para aumentar as chances de um milagre seria o natal. Mas, o natal teria muitas formas de ficarem sozinhos, uma vez que todos os escolhidos e suas famílias celebrariam juntas.

 

Seria no ano novo. Se a menina não tivesse decidido de última hora ficar com sua família, ao invés de ir a festa da virada que haviam combinado de ir.

 

Davis olhou a menina docemente. Estava cansado daquilo. Faziam desde o dia daquele beijo, cinco meses. Cinco meses naquela situação. Onde seu coração reagia ao menor possibilidade de sucesso ou de fracasso. Davis chegava a brincar que se ele fosse cardíaco, ele teria morrido a muito tempo.

 

- Um milagre. Quero apenas um milagre! - Davis balbuciava virado para rua.

 

- Como? Eu não consegui escutar. - Disse Kari um pouco surpresa. Chegou a achar que era ela quem havia falado alto sobre milagre. Mas, percebeu que fora Davis quem comentará. Além dele, ele mantinha o olhar triste. - Me conte o que está acontecendo. - Pediu Kari não podendo ver aquele olhar ser fazer algo para acalmá-lo.

 

Kari sabia que havia imprudência nessa pergunta, pois no fundo sabia que doía em Davis toda aquela situação. Mas, como não fazer o amigo se abrir? Ela sentia algo por ele, só não sabia o que era.

 

Se há alguém que consiga diferenciar com facilidade o sentimentos que possui, talvez essa pessoa não seja humana. Ver um de seus melhores amigos apresentar um sentimento ainda maior por ti não era fácil. Provar do resultado da correspondência daquele amor por poucos segundos depois era ainda mais assustador. Tenebroso perceber que havia gostado do que provara. Mas, pior era não ter o tempo e a calma para deixar que as ideias e sentimentos clarearem em sua mente, já que sempre tinha de estar com o amigo. Mesmo de costas, sabia que os olhos dele ainda não haviam mudado.

 

Kari não conseguia se encontrar em meio aquela situação. Ela decidira fugir por alguns dias. Dois ou três dias seriam o suficiente para que ela se encontrasse e percebesse o que sentia realmente. Mas, como falar isso a pessoa sem que no próximo encontro já esteja pronto para viver ou morrer nas primeiras palavras? Para Kari aquilo não tinha solução, e conhecendo Davis, sabia que se dissesse a ele que estava a ir para pensar sobre seus sentimentos por ele, ele estaria no ponto de ônibus a esperá-la no dia que voltasse.

 

- Quero um milagre! - Disse o rapaz virando-se e olhando fundo nos olhos da menina.

 

Tailmon olhou para o lado e caminhou alguns passos perdidos para não interferir naquilo. Ela entendia o que viria a seguir. Via nos olhos de Davis que ele havia se resolvido.

 

Kari ao mesmo tempo que Tailmon se afastava suspirou fundo. Ela queria um milagre. Apenas alguns dias a mais. Se de certo tivesse conseguido um tempo para ela nesses cinco meses, ela sabia que teria conseguido. Mas, o que ela teve foram estudos, missões com os digimons, amigos precisando de ajuda, Davis querendo atenção, e , como se fosse mágica, sonhos perturbadores com esse assunto.

 

Kari assim como Davis queria um milagre. Cada qual por um motivo diferente. Ele para finalizar, ela para prolongar. Kari que sempre pensará em não machucar o amigo, policiando-se e procurando uma forma de entender seus sentimentos por ele, agora via-se numa encruzilhada entre o seu milagre ou o milagre dele.

 

- Eu não quero nada mais do que seu carinho. E ele eu já tenho. Não quero nada mais do que sua atenção, e já a tenho. Não quero nada mais do que seus cuidados e beijos. E esses dois são o que me faltam. Kari, eu não sei que horas será essa conversa, mas não posso acreditar que após cinco meses, você continue achando que ainda não é a hora. Se não conseguiu ainda se encontrar, é porque não gosta de mim. Mas, eu tenho pedido por um milagre para que isso se resolva. - De repente Davis escuta o ônibus buzinando. Ele estava a chegar.

 

Kari que escutava o menino apreensiva, viu o ônibus se aproximar. Aliviou-se por ter a sorte de conseguir fugir daquilo. Em seu retorno estaria pronta para corresponder ou não aos sentimentos que Davis. Seu milagre parecia ter sido atendido.

 

Ninguém saberia dizer, e talvez nem o próprio Davis saberia dizer ao certo, se ele percebera ou não Kari sentindo-se aliviada ao ver o ônibus chegando. Mas, a frase seguinte de Davis definiria tudo para ele. - Se subir naquele ônibus sem me dar uma resposta... - Davis fez uma pausa encarando Kari nos olhos, e certificando-se de que ela também o fazia. - ... Eu não quero mais vê-la. - Davis ao dizer aquilo sentiu seus olhos umedecerem. 

 

Kari também teve seus olhos mareados. Ela viu o ônibus parar, alguns passageiros descerem, e os dois que ali estavam subirem, enquanto o motorista colocava algumas malas no bagageiro do ônibus. Os poucos instantes pareciam eternidades, a menina não conseguia responder nada. Ela não conseguia limitar-se a um Sim ou a um Não. Acreditava que Davis merecia muito mais do que isso.

 

Foram cinco meses se perguntando porque havia gostado do beijo se nunca havia sentido nada além da amizade por Davis. Perguntou-se como dizer sim ao amigo, sem que poucos dias depois viesse o arrependimento e acabasse de vez com a amizade. Perguntou-se como fizer não, sem que destroçasse o coração dele e viesse a mais tarde descobrir que o amava. Parecia simples olhando de fora, mas para quem costuma se preocupar em não machucar as pessoas era complicado. Se preocupar em fazer as pessoas felizes e ser feliz ao mesmo tempo é muito complicado. Sendo sensível e receptiva a dor dos outros, como Kari era, um simples sim e não representava matar ou dar vida as pessoas.

 

- São os passageiros das poltronas 7 e 8? - Perguntou o motorista olhando uma prancheta rapidamente. Ao que parecia Kari já havia comprado as passagens há algum tempo e o motorista parecia apenas estar curioso quanto ao viajante da cadeira 8 que foi dado como especial, ou já teria partido. Ele imaginava que poderia ser a digimon gato que observava a conversa dos dois jovens.

 

Na cabeça de Davis vibrava a idéia de aquilo seria a deixa para o seu milagre. Na cabeça de Kari era a deixa para o milagre dela. E no final, cabia apenas a Kari decidir qual milagre seria atendido.

 

- Sim, somos nós! - Tailmon ao dizer aquilo olhou para Kari. Decidir entre o que se quer, e o que as pessoas querem. Só uma podendo sair com o milagre que se deseja.

 

- Feliz Ano Novo Davis! - Kari o abraçou.

 

- Estou falando sério Kari. É uma promessa que não vou voltar atrás. - Dizia Davis referindo-se a não falar com ela nunca mais, caso ela não o respondesse naquele momento.

 

Enquanto mostrava-se firme e decidido, por dentro a alma de Davis repetia insistidamente o clamor por um milagre.

 

Kari olhou para ele sorrindo. Estava calma, no fundo ela sabia que aquilo não era verdade, ou acreditava que poderia faze-lo voltar atrás naquilo.

 

- Tenho de ir agora, mas agente se fala quando eu voltar. É uma promessa! - Dizia  menina se desvencilhado do abraço e se afastando de Davis.

 

- É uma promessa que não irá cumprir. - Disse Davis quando a menina pisou no degrau do ônibus.

Kari parou por alguns instantes, mas adentrou o ônibus sentando em sua cadeira, e colocou a cabeça para fora da janela.

 

- Eu sempre cumpro minhas promessas Davis. - A menina sabia que ele também cumpria. - Acredito em milagres. - Kari rapidamente jogou para ele o seu digivice.

Oras, agora ele teria que vê-la para devolver o digivice após o feriado. Kari no curto espaço entre a porta e o corredor sabia que precisava de algo para dar esperanças ao menino. O que havia de tão precioso que Davis poderia entender que havia esperanças ainda. Só havia o digivice. O objeto do Mundo Digital que os uniu ainda mais.

 

O ônibus partiu. Sumindo ao longe, enquanto Davis continuava parado. Davis deixou o digivice de Kari cair. Ao mesmo tempo ele sentiu um frio maior no seu rosto. Havia começado a nevar. Assim como o frio aumentava na cidade, o coração de Davis esfriava na mesma proporção. - Milagres? Eu não acredito nisso... - Davis caminhou um pouco e virou-se para ver o digivice da menina ser encoberto pela neve que caia. -  Pelo menos, não acredito mais. - Ele voltou a caminhar em meio a neve que caía sumindo por entre as ruas que se branqueavam.


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Notas finais do capítulo

Esse estilo de Drama romantico não é meu forte. Mas, essa foi a primeira fanfic que escrevi esse ano (2010) e achei que seria justo para com esse trabalho ser o primeiro a ser postado em um novo site que participo.

Espero que tenham gostado!