Carpe Diem escrita por Maga Clari


Capítulo 10
Venha comigo para casa novamente


Notas iniciais do capítulo

Música de hoje: Lovesong - The Cure. Sim, eu amo eles e eles podiam ser a trilha sonora inteira dessa fic, mas enfim kkkkkkkkk
Mas, logo no começo, eu estava ouvindo Come with now - the kongos para escrever a primeira parte do capítulo, mas a música não combinava com o resto do capítulo. Sintam-se à vontade para ouvir ambas ♥
Por isso, só dessa vez, são duas músicas para o capítulo
Espero que gostem deste capítulo e apareçam nos reviews...



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A música estava extremamente alta. Preenchia meus ouvidos de uma forma que eu nunca saberia explicar. Com os olhos fechados, quase pude voltar àquela noite em que tudo começou. Nas sombras, tudo que via era a boca quase vermelha de Scorpius Malfoy. O piercing em seu nariz.  Seu sorriso ao me ver dançar.

Ele segurou minha mão e me rodou para perto dele. Pude sentir o seu cheiro. Alguma mistura entre álcool, colônia masculina e cigarro. Se eu cheirasse uma amortentia agora, certamente este seria o aroma. Tenho certeza.

— Você é uma boa dançarina, cabelo-de-fogo.

— Você também é, garoto-grude.

— Sabe o que eu estava pensando?

— O quê?

Scorpius havia parado de dançar. Só me segurava perto dele, deixando a música nos inebriar.

— Estar com você deixa tudo mais fácil.

— Oh, mesmo? — dei uma risadinha, adorando tudo aquilo.

— É sério, Rose.

— E o que significa esse “tudo”?

— Você não quer o desprazer em saber. Não agora.

— Como pode ter tanta certeza?

— Vamos só dançar, cabelo-de-fogo.

E então, nós voltamos a nos balançar pela sala.

E era divertido.

Foi divertido.

Sério.

Só havia nós dois naquela festinha particular. Como se, enfim, não houvesse barreiras para impedir que a verdadeira Rose e o verdadeiro Scorpius pudessem dançar.

Entretanto, uma madrugada daquelas nunca terminaria daquele jeito. Estávamos cansados. Escondendo nossos fantasmas bem fundo na alma.

Havíamos bebido.

Em algum momento isto aconteceria. Eu sabia que sim. Ele sabia que sim. Antes que pudesse ter consciência de tudo, Scorpius já estava puxando meu queixo para ele. E eu correspondia.

Não quero que tenha a imagem errada de nós.

Não quero que pense que somos dois jovens perdidos em busca de diversão.

Quero que saiba que Scorpius e eu precisávamos um do outro.  Havia algo acontecendo conosco. E só deixamos fluir. Assim como a música.

E quando acordei, bem ao lado dele, no tapete, estávamos de volta à biblioteca enorme. E eu não senti vergonha. Nem um pouco. Observei-o piscar os olhos e focá-los em mim.

— Bom dia, cabelo-de-fogo.

— Bom dia, garoto-grude.

— Me parece um apelido que faz sentido agora, não?

Scorpius riu gostosamente, sem tirar os olhos de mim.

— Já descobriu onde estamos?

— Certamente não em Hogwarts. Disso eu já sei.

— Tenho que me acostumar com a pouca esperteza dessa fake-corvinal.

Revirei os olhos e Scorpius sorriu. Depois, espreguiçou-se e se vestiu sem demora. Imitei-o e logo o acompanhei para a porta da sala.

— Pois então, senhorita Weasley, tenho o imenso prazer em apresentá-la à Mansão Malfoy.

Quando ele disse aquilo, meu queixo caiu. Eu havia feito coisas impróprias com o Scorpius na casa dele! E se seus pais me vissem? E se os meus pais soubessem?

— Não acredito que me trouxe aqui!

Scorpius riu, como de costume.

— Estávamos no meu quarto. No porão, Rose. Ninguém me incomoda aqui.

Ele olhou para mim, divertindo-se com a situação. Então me puxou para as escadas e chegamos ao topo.

— Não fique assim — tentou me tranquilizar, o que não funcionou muito bem — Ninguém vai te julgar. Meu pai não é o seu pai, Rose.

Tive a impressão de que havia ressentimento em suas palavras. Mas não quis procurar saber.

De jeito nenhum.

Somente quando abrimos a porta da escada, e a luz veio aos meus olhos, senti a ficha cair. Eu estava na casa do menino que eu era apaixonadinha na escola. A Rose de catorze anos mal poderia acreditar no que via.

Scorpius me conduziu até a cozinha. Um grande salão cor-de-gelo, com os melhores equipamentos de fogão, geladeira, armários... Sentei-me numa espécie de balcão de pedras, esperando Scorpius achar algo comestível para nós.

De repente, o que eu menos queria aconteceu: com as mãos coçando os olhos, Draco Malfoy surgiu pela porta. Ele estagnou por alguns segundos ao me ver ali. Então, com o mesmo sorriso torto de Scorpius, Draco pigarreou:

— Vejo que temos visitas bem cedo esta manhã, não é, filho?

Scorpius deu uma risadinha enquanto colocava suco e bolo de caldeirão em cima da bancada onde eu estava.

— Papai, se lembra da Rose?

— Lembro, claro que lembro — ele disse, aproximando-se de nós — Como esquecer a cria do Weasel, hã?

Draco piscou um olho para mim, mostrando que era apenas brincadeira. Ele também ajudou ao filho a preparar um café da manhã, enquanto eu só os olhava.

Eu não sou do tipo mal-educada. Sei o limite entre ser deslocada e desagradável. Por isso, esperei que os Malfoy me servissem. E acho que Draco apreciou isso. Pude notar pelo jeito que ele me tratou durante aquele curto tempo.

Entre piadinhas sem graça nenhuma e sorrisos, o pai do meu amor de infância pareceu ainda mais interessante do que Ronald Weasley. Mas ainda não sei por quê.

Só não sei.

É sério.

— Então... — a pergunta já estava demorando muito para que um bom café não lhe lembrasse de fazê-la — Vocês dois estão namorando ou o quê?

— Pai, não é como se você nunca tivesse trazidos amigos aqui com minha idade.

— Eu trazia garotas — ele deu uma risadinha. Igual a de Scorpius! Eles se parecem tanto! — Rose é garota.

— Só estou fazendo o que sugeriu. Aproveitando a vida, não é? Recuperando o tempo perdido.

— O que quer dizer com isso? — quis saber.

— Scorpius só tem umas teorias filosóficas — Draco respondeu, sem olhar para um lugar específico — Ele vive falando que somos uma poeira cósmica. E que andou tempo demais sozinho para criar laços em qualquer lugar.

— Pai. Rose não precisa relembrar meu passado humilhante, okay? Não precisa.

Posso jurar ter visto uma expressão divertida em Draco. Ele enrugou os lábios e assentiu.

— Okay. Tudo bem. Entendi.

E então se entupiu de bolo e biscoitos.

E eu ri porque pensei que só na casa dos Weasley havia comilões. Você sabe. Do tipo que não se preocupa com regras de etiqueta.

Pelo visto, havia muito mesmo sobre a família de Scorpius que eu não sabia. Algo além dos rótulos de “seguidores de Voldemort”. Eles podiam ser divertidos e enigmáticos. Arrisco dizer normais.

— Mais patética do que a minha vida, Scorpius, certamente não é.

— Oh, quer mesmo competir? — ele levantou as sobrancelhas para mim, ao por a caneca de volta na bancada — Acho melhor não.

— Scorpius nunca trouxe garota alguma aqui em casa, sabia? Bem... Pelo menos não com a minha presença.

— Pai!

— Não estou falando algo humilhante. Pelo contrário. Isso é bom para a Weasley filhote, não?

Dessa vez, ri de verdade por ter sido realmente engraçado.

— Sim, senhor.

— Scorpius sabia que eu estaria em casa. Não mudo minha rotina há mais de trinta anos. O mesmo trabalho. Mesmo horário.

— Okay, pai, ela já entendeu.

Olhei para Scorpius.

Ele encarava o pai sem muita paciência.

Havia irritação em sua voz e em seu rosto. Scorpius remexia o resto de comida em seu prato, olhando-o de cinco em cinco segundos. Eu não disse nada. Draco não disse nada.

Scorpius que abriu a boca:

— Não a trouxe aqui para ouvir piadinhas do meu pai que se acha engraçado.

Por um minuto, pensei que iria presenciar a terceira guerra bruxa. Pai e filho se encaravam como num filme de faroeste.

— Rose ficará aqui por uns dias, okay? Por favor, não pergunte. Tenho certeza de que ela não incomodará.

— Assim também presumo.

E então, Draco sorriu para mim.

— Estou brincando, filhote do Weasel. É  claro que não fará mais do que alegrar o Scorpius.

— Pai, já chega.

Scorpius bateu a porta da geladeira com estrondo e sumiu da cozinha. Eu o segui e encontrei-o sentado nos jardins, num banco de madeira escura. Ele estava levemente curvado para frente, e tinha as mãos entrelaçadas. Seu olhar era distante.

Parecia uma estátua, olhando-o de longe. Mal notou minha chegada. Sentei bem ao seu lado e encostei a cabeça em seus ombros. O vento beijou nossos rostos, trazendo uma sensação de quase calma.

— Scorpius, o que está acontecendo?

Ele não respondeu.

— Ei...

Nenhuma resposta.

Tentei uma última vez.

— Scorpius, por favor. Você pode contar comigo. Estou aqui.

Então, ele olhou para mim, e me surpreendi com a seriedade em seu rosto.

— Não é algo que se possa falar assim. Aqui.

Pude descobrir um princípio de lágrimas no canto de seus olhos. Mas pode ter sido impressão minha.

— Vem comigo.

Scorpius me conduziu até a extremidade dos jardins, onde havia uma espécie de bosque. Ele me pediu para esperá-lo na beira de um laguinho. Depois, foi até um esconderijo embaixo de uma grande árvore. De lá, tirou dois daqueles cigarros estranhos que ele fumou comigo, no píer. Quando se aproximou de mim, estendeu-me um.

— Você disse que eu nunca lhe ofereceria um, certo? Bem, olha a surpresa. Não precisa aceitar por educação.

— Eu quero.

Esperei Scorpius acender o meu primeiro, para depois repetir isto com o dele. Reparei em seus olhos cansados, em seus dedos trêmulos.

Onde havia parado o adolescente-modelo de boas maneiras? Perdido? Naquele momento, eu não sabia. E a verdade chegaria logo.

— Scorpius, posso fazer mais uma pergunta?

— Está fazendo uma agora.

— Por que você fuma tanto?

A névoa de ambos os cigarros nos circundava. Embora fosse uma visão bonita e calmante, eu sabia que aquilo estava errado.

Tudo estava errado.

Scorpius soprou a fumaça lentamente e me olhou sem piscar por um longo segundo. Finalmente, ele disse:

— Gosta de ironias, cabelo-de-fogo?


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