A Lagarta escrita por Vatrushka


Capítulo 6
Embaralhando




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Os três foram arremessados no gramado fofo e esverdeado. Depois de alguns segundos deitado, Giullian ergueu a cabeça.

"Sério, Lana? Tantos lugares para nos levar e você nos arrasta pra casa do Chapeleiro? Não haveria um lugar mais óbvio para que a guarda nos procurasse?"

"A minha casa." Respondeu Lana, sacudindo seu vestido. "Pode ter certeza que é que vão procurar primeiro. Vamos poder analisar local antes que os Cartas cheguem... Foi aqui que viu os seus irmãos pela última vez, não é Carl?"

Carl assentiu com a cabeça, energeticamente. Ele saiu correndo em direção à mesa do chá. Estava jogada no chão, junto com a toalha e toda a louça. Era eminente que, há pouco tempo, havia tido uma cena de luta ali.

"Meus irmãos e eu estávamos aqui... E a gangue da Alice apareceu, tentamos lutar... Mas eram forte demais."

A Lagarta ficou abismada. Que tipo de monstro poderia ter conseguido derrotar o Chapeleiro...?

"Mas eles só sequestraram meus irmãos. Me deixaram aqui, e poucos segundos depois, os Cartas apareceram para me levar..."

"Então, de alguma forma, essa Alice já esperava que a Rainha chamasse todas as suas atrações. Pior: ela induziu a Rainha a fazê-lo, quando a atacou. E sequestrou os irmãos do Chapeleiro para que ele... Ficasse ainda mais louco e... Desagradasse Victoria e fosse decapitado? Mas por quê Alice iria querer isso?" Concluiu Giullian.

"Os motivos de Alice ter bolado esse plano, ainda vamos descobrir. Mas uma coisa é certa: ela esqueceu de me incluir na equação." Garantiu a Lagarta. "E se a Rainha ainda está viva, foi porque a Alice permitiu que ficasse... Eu analisei as memórias de Viktor, ele não estava lá quando Victoria quase foi morta... O que quer dizer que ela estava sem proteção alguma."

"Claro que não tinha proteção." Retrucou Giullian. "Seria infinitamente proveitoso a  Viktor se a Rainha morresse. Me pergunto, inclusive, se não foi alguém da Corte que teria contratado Alice..."

"Não. Sem chance." Respondeu Lana. "Todos na Corte têm interesse em mantê-la viva. Ainda que psicótica, Victoria mantêm os vermelhos no topo. Sem ela, haveria uma guerra pelo poder."

Giullian revirou os olhos. "E é exatamente por isso que Viktor é o primeiro suspeito da nossa lista! Não vê? Ele deve estar bolando tudo isso! Ninguém entraria em guerra se ele fosse o mais próximo de assumir o poder! E surpresa, ele é!"

Lana olhou em direção a Carl. Ele claramente estava ouvindo toda a conversa, mas parecia focar-se mais em procurar pistas.

O contador de histórias continuou. "Ele deve ter inclusive planejado que estas atrações seriam uma distração para o próprio Rei! Viktor sabe o quanto a Rainha se zanga quando o Rei tenta se divertir... E todos sabem que ele ama atrações, e brincadeiras, e dança! Deve ter induzido a atitude do Rei de pedir sua mão para dançar... Para que a Rainha o eliminasse de vez!"

"Não é Viktor que está por trás disso, Giullian, já disse!" Exclamou a Lagarta. "Eu saberia se fosse!"

Giullian desanimou. Era verdade. "Mas essa versão se encaixa tão bem, que é praticamente impossível ignorá-la..."

Os olhos de Lana brilharam. "Uma versão perfeita... Exatamente! Alguém armou esse circo todo para culpar Viktor! Alguém na Corte... Alguém influente, mas que não receba tanta atenção assim... Alguém que veja interesse em fazer todos pensarem que Viktor bolou tudo isso e desestabilizar a situação da Corte..."

Os ombros da Lagarta murcharam. O único cavaleiro de paus que existia até então. "Pan."

"Pan?" Interrogou Giullian, franzindo a testa. "Quem é Pan?"

A expressão do rapaz continuou a buscar algo em sua memória perturbada até iluminar-se. "Ah, sim. O único Carta de Paus na Corte."

Lana assentiu, com pressa. "Sim, sim, gênio, este mesmo." Estava apreensiva de estarem lá por tempo demais... Correu em direção aos fundos da casa, enquanto Giullian murmurava "Não sei por que me trata com tanta ironia... Você disse Pan, então logicamente, poderia ser todo mundo!"

Os dois foram desamarrar os cavalos das celas. Sairiam dali ao trote, na intenção de que os Cartas os seguissem. Quando chegassem a um destino aleatório, se teletransportariam de novo. Repetiriam o processo até confundirem a guarda completamente.

Carl se aproximou, pensativo.

"E as flores da sua aldeia? Vão ser vítimas da chacina?" Interrogou o Chapeleiro, encarando o chão.

Lana sorriu. Já imaginara que um dia, mais cedo ou mais tarde, a Rainha se voltaria contra ela. Por isso, já havia planejado tudo.

"Eu implantei sirenes ao longo da aldeia. Fiz que elas entrassem em alerta a pouco... É um sinal de que a Rainha está marchando para aniquilar todos."

Giullian ergueu a sobrancelha. "E se eles não conseguirem fugir?"

Lana riu, enquanto montava no cavalo. "Eles vão conseguir."

Os dois rapazes trocaram olhares. Pelo visto, Lana havia cuidado de tudo.

Como sempre.

Os três começaram a galopar estrada afora. Depois de um tempo, Lana perguntou a Carl se havia achado algum pista. Ele ergueu um bule.

"Oh," murmurou Giullian. "típico."

O Chapeleiro riu. E para o alívio de Lana, espontaneamente. Aquilo era um indício de que Carl estava voltando ao normal! Sendo o normal de Carl, claro, a falta de sentido completa.

"O bule nos guiará, companheiros!" Gritou o Chapeleiro, erguendo o bule no ar.

Lana ergueu a sobrancelha. "Um feitiço de localização? No bule?"

O Chapeleiro assentiu, alegre. É claro que sim! Com a infância difícil e delicada que Carl tivera, obviamente que os três irmãos já haviam bolado uma forma de se encontrar, em caso de emergência.

O bico do bule apontava para a mesma direção, como uma bússola. Lana se perguntou se aquele feitiço apontava para a Lebre ou para o Arganaz...  E se perguntou também que, se o Chapeleiro já sabia que o bule os localizaria... Por quê estava tão preocupado com a situação dos irmãos? Sabendo-se aonde estavam, o resto seria fácil.

A própria consciência da Lagarta a respondeu. Primeiro, que os bules localizadores poderiam ter sido quebrados com todo o resto da mesa - o que apontava a direção do outro irmão, com certeza quebrou, por exemplo. E segundo, que não estavam lidando com uma gangue qualquer.

Era a tal gangue da Alice. E se o Chapeleiro com seus irmãos não conseguiram detê-los... Lana tinha dúvidas se conseguiria... Ainda que acompanhada de Giullian e Carl.

"Esse nome 'gangue da Alice' soa muito infantil para o meu gosto." Comentou Giullian, após um breve silêncio. "Quero uma nomenclatura nova."

'Chame-os como quiser,' pensou Lana, desanimada. 'é provável que  a gente perca para eles, de qualquer forma...'

Carl bateu palmas, animado. "Oh, oh! Que tal 'Alices'? Ou 'Garotas Malvadas'? Ou 'As Pestinhas'?"

"Hm, não... Tem que ser algum nome que corresponda à realidade! Pode ser... Pode ser..."

"Esquadrão suicida?" Sugeriu Lana.

"Não! Droga, vocês são terríveis com apelidos! Vamos pensar... Até agora eles parecem ter ido contra os Vermelhos... Certo?"

"Certo." Confirmou Lana.

"Errado." Confirmou Carl.

"Ótimo. E a cor antagônica ao vermelho na tabela de cores é a verde. Certo?"

Giullian não esperou que respondessem.

"Chamaremo-nos de os Verdes. Pronto, perfeito!"

A Lagarta não gostou muito do apelido, afinal, não sabia quais eram de fato os interesses de Alice e seus seguidores. Mas por enquanto, o título teria de servir.

Lana, por exemplo, sentia-se contrária ao Vermelho. Mas era Azul.


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