A Lagarta escrita por Vatrushka


Capítulo 10
Vida Longa ao Rei




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Por mais que Lana tivesse sido extremamente resistente à ideia de deixar Ghunter se juntar ao grupo, logo percebeu que não tinha escolha. Giullian já testava sua paciência e a Lagarta temia que Carl acordasse com outro ataque de pânico.

"." Lana cedeu, furiosa. "Nos leve o mais rápido possível."

E Ghunter o fez. Após cerca de uma hora e meia seguindo o traço de fumaça arroxeada, o trio se deparou com uma cabana camuflada dentre as árvores.

"Não aguento a falta de criatividade desses criminosos de hoje em dia." Comentou Giullian. Parecia criticar tudo o que acontecia como se estivesse lendo a uma história. "Cabana escondida pra trancar os prisioneiros? Tão clichê que beira ao tédio..."

Lana ergueu a sobrancelha. "Está fácil demais para o meu gosto."

Nenhum deles teve muita vontade de entrar a cabana, inicialmente. Mas isso mudou, claro, quando o Chapeleiro acordou.

A Lagarta preparou sua magia, enquanto Carl corria para dentro da Cabana. Se qualquer coisa acontecesse, queria estar preparada.

Para a surpresa de todos, nada muito fora do normal aconteceu. Nenhuma armadilha, nada. Só os berros de felicidade de Carl que foram ouvidos de dentro da cabana.

Lana desceu do cavalo, radiante. 

O Chapeleiro saiu da cabana, abraçado ao seu irmão - Alan. Também conhecido como o Arganaz. Para variar, ele estava com uma expressão sonolenta.

Mas ao menos, estava feliz.

Lana correu para abraçá-lo, e por alguns minutos, todos comemoraram.

"Espera..." Indagou a Lagarta. "E a Luce?"

A expressão de Carl e Alan endureceu.

"Surpresa!" Exclamou Giullian, irônico. "Uau, eu não esperava por essa reviravolta! Eles separaram os irmãos em cativeiros diferentes! Estou chocado!"

Lana revirou os olhos e se voltou para Ghunter.

"Você falou que eles haviam trago os dois...!"

"Mas eles trouxeram! É sério!" Exclamou o Gato, com aparente honestidade. "É provável que que tenham entrado na cabana e, lá dentro, tenham teletransportado a garota..."

Todos mergulharam nos próprios pensamentos. Várias teorias se formaram na mente de Lana. "A Alice sabe."

Alan franziu a testa, pedindo para que explicasse.

"A Alice sabe!" Exclamou Lana, batendo a mão na testa. "Sempre soube! Deve estar nos observando agora! Ela sabe que estávamos indo atrás dos irmãos de Carl, de alguma forma sabia que Ghunter estava assistindo tudo e iria nos ajudar, e deixou Alan em um esconderijo ridículo de óbvio, por que queria que nós o encontrássemos!"

"Lana tem razão." Concordou Giullian. "E está com Luce até agora porque quer nos induzir a ir em outro lugar... Mas onde?"

"Alan..." Interrogou Lana. "Os capangas te entregaram alguma coisa, ou falaram algo, ou de alguma forma te deram algum indício de onde Luce pode estar?"

Carl apenas acompanhava tudo, trêmulo e com seus olhos atentos. Estava estranhamente silencioso desde que o vira na sala do trono. Era como se tivesse medo de liberar sua loucura, e desta vez, não saber controlá-la.

Alan arregalou os olhos, como finalmente se lembrasse de uma coisa importante. Apressado como nunca o vira, tirou a camisa e mostrou suas costas.

Nelas estavam tatuadas as palavras: Vida longa ao rei.

Instaurou-se um silêncio turbulento. O que Alice queria dizer com...?

"Eles esconderam Luce no palácio." Concluiu o Gato, cruzando os braços. "Justamente o último lugar que deveríamos ir. Maravilha."

Lana estava em dúvida... Por quê Ghunter ainda estava ali? Resolvera ser seu amigo, por o acaso? De qualquer forma, não estava com tempo para perder aliados.

"Então... Pan os ajudou a infiltrar no palácio... Para que entrássemos e fôssemos pegos? Mas o quê demônios eles ganham conosco decapitados?"

"Provavelmente, Lagarta, porque apresentamos ameaça a eles." Sugeriu Giullian.

"Por quê? O que a gente fez?!" Indagou Lana, cada vez mais abismada.

"A gente não fez nada, Lana." Respondeu Ghunter. "Eles fizeram." 

E Ghunter olhou na direção dos dois irmãos, como se os culpasse de algo.

Como ousava acusá-los? Eles nunca tinham feito nada que prejudicasse Alice, ou Pan, ou Viktor, ou Victoria ou quem quer que seja de forma grandiosa - que justificasse tamanha perseguição!

Sem entender nada, a feiticeira procurou explicações no olhar de Giullian. A início ele pareceu tão enigmático quanto o Gato. Mas acompanhando sua expressão, observou seu rosto se iluminar de entendimento.

"Vocês devem estar brincando comigo." Sussurrou, abismado. Encarou Carl e Alan como se não conseguisse acreditar.

"Do quê vocês estão falando?" A Lagarta se sentia cada vez mais perdida.

Giullian caiu em uma gargalhada descontrolada. Se contorceu e bateu palmas por minutos seguidos. Todos o encaravam, sérios. Lana esperou que ele terminasse seu ataque de risos para que finalmente lhe explicasse:

"Não creio! Este é o roteiro mais manjado que existe!" Voltou a rir um pouco, olhando para sua amiga. "Eles, Lana! O Carl, o Alan e a Luce! Eles que são os verdadeiros herdeiros do trono! Os príncipes desaparecidos! Esse tempo todo, debaixo do nosso nariz!"

Lana primeiramente o encarou, incrédula.  Mas, como...?

Lembrou-se, vagarosamente, da história da dinastia. Antes de Victoria ter subido ao trono. O Rei, antes dela, fora seu pai: Rei Francisco, o Impiedoso - ou Rei Francisco, o Vermelho.

Martin o chamava de Rei Francisco, o Bundão. Enfim, nomenclaturas eram o que não lhe faltava.

Mas Francisco não vinha de uma linhagem direta. Ele tinha matado o último Rei para então tornar-se um. Este Rei assassinado fora Zeno, o Branco. Ocorrera um golpe de Estado para que a Dinastia dos Vermelhos se instaurasse, portanto, procedeu-se uma grande chacina no dia.

Foram tantos mortos envolvidos que ninguém se assustou ao não encontrar os corpos dos três príncipes no meio da confusão.

Com os reinados sangrentos de Francisco - que durou 14 anos - e de Victoria - que começou há 3 anos - todos tinham mais com o que se preocupar do que com teorias da conspiração de que os príncipes Brancos estavam vivos.

Aos poucos, as engrenagens foram se montando na cabeça de Lana. Não, não podia ser. O Carl? Seu amigo, o herdeiro? Não. Recusava-se a acreditar.

Calculando as datas, a Lagarta concluiu que Carl teria apenas 6 anos quando o golpe de Estado aconteceu. E seus dois irmãos gêmeos eram apenas recém-nascidos.

Lana lembrava de ajudar Carl a cuidar de seus irmãos, que tinham apenas 3 aninhos de idade. Sempre ficara intrigada com a responsabilidade que o Chapeleiro sempre carregara nas costas, desde pequeno... Mas... Mas... Jamais imaginara que... Carl sempre havia contado que eram fugitivos de guerra, e por isso Lana sempre acreditou nessa versão de crianças órfãs, mas...!

Depois de muitos minutos cambaleando e tentando absorver a história, Lana ergueu o olhar em direção de Carl.

Seus olhos. Seus olhos não negavam. Aquilo tudo era verdade. Ele era o príncipe herdeiro. Esse tempo todo. Agora seu plano de sempre se "fingir" de louco para salvar a própria vida e a dos irmãos fazia ainda mais sentido.

E todos aqueles anos... Todos aqueles anos acreditando que...!

Trêmula e sem ar, encarou-o nos olhos e murmurou:

"Você mentiu pra mim."


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