Capítulo 20 - Ataque de memória (parte 2)

Sarah sentiu algo molhado em seu rosto, sua bochecha ardia, ela soltou um gemido e conseguiu abrir os olhos. Ela viu o céu estrelado em meio a muitas nuvens, ela devia ter desmaiado de novo.

                Então ela viu Soluço, sua visa estava embaçada, mas ela reconheceu seus olhos verdes preocupados. Ele sorri para ela aliviado.

                - Graças a Thor, você está bem! – Soluço a abraça.

                - Wh-where... am I?

                Soluço ajuda a se sentar, ele estava cuidando dos ferimentos que a suas irmãs haviam feito. Eles estavam na clareira onde Soluço e Banguela se conheceram, ele lavava os ferimentos dela com a água de um cantil.

                - O que aconteceu? Banguela te encontrou na floresta, você estava pálida e machucada...

                Ele saberia se ela mentisse. O que poderia dizer? O que iria fazer? Seus olhos se enchiam d’égua conforme esses pensamentos vinham à mente...

                Soluço levou a mão até seu rosto e a abraçou.

                - Eu confio em você, você também deveria saber que pode confiar em mim – ele diz decepcionado – Eu estou aqui do seu lado.

                Eles ainda continuavam abraçados.

                - Soluço, tem algo que eu escondo a anos de todos. Se eu contar, se seu lhe por no meio disso, você se machucaria – Ela enterra a cabeça no seu ombro – Foi por isso que tentei me afastar. Não quero te magoar, me odiaria para sempre se isso acontecesse.

                Soluço não sabia dizer, ela achava que ele não agüentaria a verdade... Ele ficou magoado ao ouvir aquilo.

                - Soluço, você não entende – Sarah se afasta levantando-se  – As pessoas que entram na minha vida sempre saem machucadas, eu não posso fazer isso com você. É melhor assim, eu devia me afastar de você.

                Soluço se levanta também.

                - O-o que? Finalmente nós nos acertamos e você... O que em nome Loki está tentando fazer com a minha cabeça? Acha que eu não entendo como é machucar as pessoas? Era praticamente o resumo da minha vida até... – ele faz uma pausa – até eu conhecer você.

                Soluço balançou a cabeça negando e se voltou para Banguela, mas antes que pudesse fazer algo, Sarah segura sua mão.

                - E-eu...

                - Não precisa se forçar a contar nada pra mim, eu...

                Sarah tapa sua boca com uma das mãos colando seus corpos e os olhos deles se encontram.

                - Eu não sou quem você pensa que eu sou... - Ela se afasta, tira suas botas ficando mais baixa que ele e solta os cabelos – Na verdade, meu nome não é Sarah Thornado e eu não sou realmente uma heroína... eu sou apenas Astrid Hofferson, a terceira princesa.

                Ela desviou o olhar entre lágrimas.

                Soluço ficou sem expressão, ela havia cotado para ele... o viking sentiu seus olhos marejarem.

                - Oh, Astrid... – Ele corre para abraçá-la – Me desculpa, por favor.

                A garota chorava em seu ombro.

                - Me desculpa por ter te feito passar por isso – Soluço diz.

                Ela larga as botas e o grampo e o abraça forte.

                - Você nunca fez nada de errado.

                De repente a musica dos jogos começara a tocar. Sarah o largou e calçou de volta as botas e prendera o cabelo escondendo-o por debaixo do capuz. Antes de ir, ela lhe lançou um último olhar, ele apenas a viu partir.

                Uma forte chuva começara, Sarah tinha de chegar até a arena numa distância absurda, estava na hora de usar um de seus apetrechos especiais. Mas o que poderia ajudá-la numa hora dessas? Ela corria entre árvores, era possível ir mais rápido? Eram nessas situações que os talentos de Dave em trajes eram úteis, ele adicionara deslizadores e solas que poderiam ser usadas em solo molhado, as botas certamente não estavam ali apenas para deixá-la mais alta...

                Chegando ao vilarejo, os sons de raios estremecem o céu e assustam algumas crianças que observavam os jogadores correndo de suas janelas.

                - A música está acabando... – Ela fala correndo por cima das casas quase sem fôlego – Preciso ir mais rápido.

                Ela usa seus chicotes para mover-se de casa em casa e quase não entrara na arena a tempo, tanto é que chegara por último e ainda caíra no chão ao atravessar o portão.

                - Meu caros amigos – Gold começa – Estamos quase na metade de nossos jogos, isso quer dizer que as coisas vão complicar ainda mais para nossos heróis.

                Soluço chegara à arena finalmente, ele estava ofegante e preocupado, um dos sintomas de se saber o segredo de Sarah aparentemente. Astrid estava de pé, mas mal conseguia respirar direito, seu coração estava acelerado, não havia se alimentado desde cedo e acabara de sair de uma das suas crises de personalidadeataques de memória.

                - A prova de hoje será cronometrada, os jogadores devem achar, pelo menos, quatro telescópios escondidos em Berk.

                A platéia aplaude da arena coberta.

                - Os lugares em que os telescópios se escondem são poucos, porém bem planejados. Eles podem estar em casas, na arena, no vilarejo ou no estábulo. Vocês o encontraram se estiverem brilhando, eles foram banhados em tinta azul fosforescente. Jogadores, preparem-se! Se não os encontrarem em uma hora, vocês estarão fora!

                O único lado bom até agora, era o fato de que ela finalmente poderia usar a bela espada que tinha de esconder de Soluço. Agora que ele sabia, não havia mais motivo de esconder tão bela obra, pena de que essa prova não envolvia luta... Vamos mudar isso...

                - Mais uma coisa, jogadores! As pessoas assistirão esse evento de suas casas já que estarão percorrendo Berk e não se esqueçam de que os guardas brancos os perseguirão para os tirarem de cena! Boa sorte e que a prova comece!

                O som da corneta começando a batalha não era tão desesperador quanto os trovões colorindo o céu. Sarah conseguia já ver onde estava o primeiro telescópio, no descanso de braço da cadeira de Valka algo brilhava como uma safira ou como os olhos da garota.

                Ela foi em direção às escadas na plateia, os Haddocks ficavam meio no alto, enquanto três guardas a seguiam como prioridade. Sarah não conseguia pegar seu escudo nas costas, as chances eram pequenas.

                A garota abriu a cabine de vidro onde mãe, filho e Gold estavam. Ela levanta o braço de Valka sem machucá-la, o Telescópio estava dentro do descanso de braço, mas antes que ela o pegasse um dos guardas a puxou.

                - Me largue! – Ela ergueu a espada.

                Soluço arregalou os olhos ao vê-la com a espada que ele batizara de “roseira”.

                Sarah afastou o guarda e pegou o telescópio e os outros dois a encurralaram na cabine. Usar a espada ali poderia machucar. Ela não tinha escolha se não pular daquela altura atravessando o vidro, mas ela pousara bem mesmo com tanto vidro a arranhando... Os guardas surpreenderam-se ao ponto de largarem as armas, aquilo fora loucura.

                - Ok – Murmura Sarah – Um de quatro...

                Seus olhos passeiam pela arena, ela acha mais um e, após pegá-lo tentando se livrar dos guardas, vai procurar os outros dois em Berk.

                A chuva continuava a piorar, aquela deveria ser uma época relativamente ensolarada, mas clima nunca fora um assunto previsível de qualquer maneira... Brisa estava furiosa, a maioria dos jogadores conseguira ao menos um dos telescópios aquela altura e ela não tinha nada, Flecha e Marshall Lee haviam formado uma aliança naquela prova. Eles acharam três juntos.

                Sarah achara mais um na própria casa, parece que haviam notado que ela havia “abandonado” o lugar. Faltava apenas mais um, mas ver naquele clima denso não era uma missão fácil (sem falar no resfriado que ela pegaria mais tarde).

O tempo estava acabando, faltava apenas alguns minutos, e Sarah ainda não havia encontrado um quarto telescópio. Sarah correu pela vila olhando para todas as direções atentamente. Ela parou na janela da forja e vasculhou o lugar com o olhar, até seus olhos pousarem num objeto azul brilhante.

— Aqui está! - Disse Sarah sorrindo.

— Finalmente! 

Sarah olhou em direção a voz, que pertencia a Brisa. Ela estava parada na entrada da forja e então percebeu a presença da Thornado. As duas se encararam, Brisa com um olhar de raiva e Sarah com os olhos travessos, e ao mesmo tempo as duas entraram na forja.

Sarah pulou a janela enquanto Brisa entrou pela porta, como o lugar era meio apertado e cheio de coisas, Brisa acabou se esbarrando com algumas dificuldades, que ela rapidamente as jogou fora do caminho, literalmente. Mas quem acabou pegando o telescópio foi Sarah, e no mesmo instante que o pegou, o som de uma corneta foi ouvido declarando que faltava apenas cinco minutos para o fim da prova.

Sarah olhou para sua adversária com um sorriso presunçoso e correu para fora da forja, em direção a arena. 

— Volte aqui Thornado! - Gritou Brisa a seguindo. Ela apenas tinha um telescópio, então resolveu "pegar emprestado" de Sarah.

Sarah correu como pode desviando dos guardas de branco, mas os acontecimentos que antecederam a prova ainda estavam em sua mente, e a destraia um pouco, assim Brisa foi se aproximando dela enquanto corria. 

Sarah já estava na entrada da arena, era só atravessar o portão e teria completado a prova. Mas não foi bem assim... Brisa estava o perto o suficiente para parar a Thornado, não agarrando seu braço, mas sim do jeito mais "Brisa" de ser. Ela socou a cabeça de Sarah, e como se não já o bastasse, a garota bateu a cabeça na parede logo em seguida e perdeu a consciência.

.- Sarah! - Gritou Soluço ao ver a garota cair no chão.  Ela quase a chamou de Astrid, mas por sorte conseguiu disfarçar,

Não pensem que ela perdeu a prova, queridos leitores. Por incrível (ou não) que pareça, ao cair inconsciente, Sarah caiu dentro da arena, ou seja, atravessou o portão e finalizou a prova.  Gold viu tal acontecimento, e marcou que a Thornado já houvesse completado a prova. 

Brisa rosnou de raiva e se virou vendo mais jogadores se aproximando da arena. Não querendo de modo algum perder a prova, ela "pegou" os quatro telescópios de um outro jogador, que havia discordado com Brisa e isso lhe rendeu uma torção no braço.

Logo a prova acabou e o vencedor foi Flecha. Ele e Marshall Lee conseguiram onze telescópios e Marshall concordou que Flecha deveria ficar com a maioria dos objetos, assim ficando com apenas o número suficiente, quatro.

Assim como o fim foi anunciado, foi permitido as pessoas se aproximarem dos jogadores e os próprios jogadores se retirarem. Soluço correu até Astrid que estava no chão nocauteada, com sua mãe logo atrás. O garoto logo a alcançou e se ajoelhou ao seu lado.

— As-Sarah! Ei, acorda. - Soluço a mexeu tentando acorda-la, mas a garota não se moveu. Então notou um pequeno hematoma em sua cabeça.- Acorda, por favor.

Valka se aproximou dos dois e se ajoelhou também.

— Ela está fervendo! - Exclamou Valka quando colocou a mão na testa de Astrid.

— Temos que cuidar dela! - Disse Soluço pegando a garota no colo e se dirigindo apressado para sua casa, dando nenhum tempo para Valka protestar.

Soluço estava preocupado com Astrid, não podia esconder. Ele queria conversar com ela logo depois que a prova acabace, mas a garota estava inconsciente e com febre. Então ele só podia espera-la acorda

*Música dos jogos*: https://www.youtube.com/watch?v=8uTnW91EvEs