Immortal Star - Segunda Saga escrita por Sandaishiro


Capítulo 14
Reforços


Notas iniciais do capítulo

Enfim, durante todo o caos no ataque a Riven, uma luz se acende no horizonte para o Exército e a Immortal Star



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Eu finalmente consegui te dizer um pouco do que REALMENTE estava acontecendo em Riven. Agora você sabe quem estava por trás de tanto caos, tanta desordem e tanta destruição. Um só homem foi capaz de criar a maior revolução humana da história, coisa que parece completamente algo saído de um conto de fadas. Era um homem poderoso sim, mas seu poder estava na influência e nos conhecimentos que adquiriu ao passar dos anos. E acredite, ele descobriu coisas enterradas nos confins do tempo, coisas que não deveriam ter sido trazidas à tona. Coisas que eram tratadas como a “Escuridão de Riven”.

Para Shiro, foi realmente um choque descobrir aquilo... Mas sua reação foi mais de desinteressado do que preocupado. Em sua situação, cansado, machucado e preocupado com a Guilda se tornar alvo de algo errado, ouvir tamanha história e revelação só o deixou mais irritado. Agora ele tinha virado uma espécie de protetor e informante, mas que andava por aí carregando o maior saco de ouro que um ser humano poderia pôr os olhos. Às vezes, informação valia mais do que o preço de uma mansão.

Enquanto aquela conversa toda acontecia no subterrâneo secreto da capital, a situação nas ruas e muros da grande cidade continuavam a deteriorar. As lutas estavam ficando sangrentas, os corpos estavam começando a ficar empilhados e o ar estava impregnado de magia, veneno e morte. E no meio disso tudo, estava a Immortal Star.

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Mulkior finalmente tinha chego na grande casa de seus pais. Estava arfando, suando em bicas. Passou a mão no rosto e chegou a cuspir no chão um pouco antes de passar pelo portão. Estava com um gosto ruim na boca, que talvez fosse da inalação forçada da fumaça que ainda não tinha se extinguido totalmente.

A mansão dos Musubis estava extremamente bem guardada e vigiada. Mulkior foi parado muito rapidamente pelos Guardas Particulares da família, até eles o reconhecerem e liberarem sua entrada. Todos pareciam tensos, mas bem preparados. Quando existia algo que o Lorde Musubi pudesse fazer para proteger sua família, ele não economizava esforços e muito menos dinheiro. Coisa que parece ter passado para seus filhos.

O Vice-Líder da Immortal Star subiu rápido os degraus da mansão, parando somente para abraçar sua mãe que veio ao seu encontro. Eles trocaram rápidas palavras, onde a madame acabou ficando um tanto preocupada com seu filho. Ela sabia muito bem quando havia algo o perturbando. Mas sem querer tirar a pressa de Mulkior, ela só avisou que seu pai estava na sala de reuniões, com outros três convidados. O mago de ferro voltou a caminhar rápido, indo diretamente para a porta fechada do cômodo em questão.

— Pai! — chamou ele, abrindo a porta com vontade, sem bater.

Aquela não era a maior sala da mansão, mas com certeza era a mais chamativa. Lorde Musubi era um colecionador nato, então suas paredes eram forradas de quadros caros, cabeças de animais empalhados e até mesmo algumas armas feitas pelos ferreiros da própria família. No canto contrário à porta, havia duas grandes estantes com troféus, e outras duas forradas de livros de todos os tipos. Alguns ficheiros de metal em outro canto, três mesas de estudo, sem contar a enorme mesa oval que ficava no centro do cômodo. Um candelabro dourado e brilhante em cima faria uma iluminação graciosa se fosse noite. Assim que o mago de ferro irrompeu pela porta, os quatro homens deixaram sua atenção sobre um tal assunto e se viraram para a porta.

— Mulkior! — falou o pai e dono da mansão, com voz forte. — Onde estão suas maneiras?

— Perdão Lorde meu pai. — respondeu Mulkior, fazendo a menção com o braço direito batendo no lado esquerdo do peito. — Mas estou com pressa e com um problema grande demais em mãos para lembrar de bater na porta.

— Isso não muda os fatos de...

— Ora, ora, vamos lá Lorde Musubi! — falou um outro homem interrompendo-o, que estava à direita do Senhor daquela mansão. Era um homem com estatura média, muito bem vestido, com grande barba branca e usando alguns acessórios de prata. — Eu não vejo seu filho com uma expressão tão alterada desde que ele lutou na batalha final do Torneio de Times há alguns meses atrás. Deve ser algo realmente importante.

— Muito obrigado, Lorde Konank. — falou o filho alterado, reconhecendo a pessoa imediatamente. — É bom ver que o senhor continua com boa saúde. Espero que sua família não tenha sido envolvida nessa situação da nossa Capital.

— Ahahah, não se preocupe com isso, meu garoto. — respondeu o homem, rindo. — Todos nós fomos envolvidos de uma maneira ou de outra, é por isso que estamos reunidos aqui.

Lordes Lázarus e Ophelo. — disse Mulkior, fazendo mais uma reverência para ambos. Eram os outros dois homens naquela sala, sentados um do lado do outro, na parte direita da grande mesa. — É coincidência demais dizer que isso é uma reunião de famílias com grandes estabelecimentos na Capital?

— Você entende rápido, Mulkior. — falou Lorde Ophelo, um homem novo demais para ser chamado de Líder de Família. Ele era o homem mais alto da sala, e com as vestimentas mais simples também. — E infelizmente para nós, isso não parece ser uma coincidência.

— Estamos sob um ataque muito bem coordenado. — falou Lorde Musubi, um segundo antes de Mulkior perguntar o que estava acontecendo. — Não é mera coincidência de que todos aqui tiveram suas lojas queimadas por aquele fogo maldito que espalhou pela Capital.

— Espera... — disse Mulkior, e ficou alguns segundos calado, fazendo um cálculo misturado com uma tentativa de lembrança. — Se me lembro bem, os Lordes Lázarus e Konank possuem lojas de armamento no sudeste da cidade, não?

— Sim, temos. — respondeu Konank. — Por mais que em questões de negócios, somos considerados rivais, nossas famílias são velhas conhecidas, você sabe bem. Minha maior loja foi completamente destruída hoje mais cedo, sem eu ter tempo de recuperar qualquer coisa. Depois que eu descobri que a loja do Lorde Ophelo também sofreu tal ataque, eu o convidei para vir até aqui saber mais sobre o que estava acontecendo e procurar instruções de alguém ligado diretamente à Realeza.

— No meu caso... — começou Lorde Lázarus. — Eu perdi duas das minhas lojas de armaduras e equipamentos diversos. Ambos queimados por um fogo que não se apagava. E antes mesmo que eu pudesse ir verificar minhas outras duas lojas, haviam soldados inimigos batalhando perto da minha residência. Por isso juntei minha família e corri para cá, pedindo proteção ao meu grande amigo aqui que não pensou duas vezes para nos oferecer abrigo. — terminou, apontando para Lorde Musubi.

— A loja da Regi também foi atacada... Isso não é possível. — falava Mulkior, em uma mistura de pensamento e fala. — Quer dizer que os inimigos atacaram lojas de armas e armaduras propositalmente?

— Sim, e não foram só as nossas. — respondeu Lázarus. — Enquanto vinha pra cá, vi que as lojas do Senhor Dirges e da Milady Inala também haviam sido vítimas desse ataque. Seja lá quem está por trás desses ataques, quer deixar a cidade com o mínimo de armamentos possíveis.

— Então San tem mesmo razão. Existe algum tipo de “Plano Mestre” bem bolado o suficiente para fazer Riven cair de vez. — falou Mulkior, se aproximando um pouco mais da mesa.

— Agora diga você, Mulkior. — pediu Lorde Musubi. — O que aconteceu para você vir até mim com tanta urgência?

Mulkior explicou a situação aos olhos dos membros da Immortal Star. Ele não encurtou palavras, e não se preocupou em esconder coisas só porque mais gente estava ali na sala. Na verdade, seria uma vantagem a mais ter os três Lordes ali sabendo de toda a situação. Se a ideia era fazer com que o Lorde Musubi falasse em prol da Guilda, então ter outras Famílias Nobres ao seu lado era uma adição de valor.

Os Lordes ouviram a história atentamente, sem interromper. A maioria era informação que eles não poderiam trabalhar, como o aparecimento da Millenium Hunter. Mas saber sobre o início dos incêndios e sobre os assassinos contratados para irem atrás de alvos específicos lhes deram uma abrangência maior do caos que a cidade passava.

— Entendo sua preocupação, meu filho. — falou Lorde Musubi, colocando as duas mãos na mesa e deixando seu peso o forçar uma expressão mais preocupante. — Sua Guilda está em maus lençóis. Existe a grande possibilidade de vocês terem sido alvos por serem novos demais nesse ramo. Assim é muito difícil alguém ficar no lado de vocês caso haja um juizado. É bom saber que pelo menos vocês não tiveram baixas.

— Eu... Não posso mais confirmar isso. — falou Mulkior, com uma pausa rápida. — Todos na Guilda que estavam em condições de combate foram enviados para as linhas de frente, para servir de suporte para o Exército de Riven. Temos que deixar bem claro nossa posição nessa Guerra. Mas...

— Mas é por isso que seus companheiros podem acabar não voltando para casa. — falou Kunank, outra vez interrompendo. — Você continua nobre às pessoas ao seu redor, garoto. É bom ver que você faz jus à tradição de sua família e a honra ao seu pai. — Mulkior fez uma nova reverência ao velho conhecido de sua família, mas antes que pudesse proferir palavras de agradecimento, Lorde Kunank continuou. — Tenha em mente que minha família também ficará ao seu lado caso vocês sejam intimados pelo Rei. Pode não ser muita coisa, mas você tem meu apoio.

— Sem sombra de dúvida, pode contar comigo também! — falou Lorde Ophelo. — Sou um grande amigo do Lorde Tiertras, que é outro Nobre Real. Se precisar, posso pedir a ajuda dele no seu caso. Ele é um homem razoável e bondoso.

— Não sei o que posso fazer a mais para ajudar, mas você também tem meu apoio, Mulkior. — falou Lorde Lázarus, colocando a mão no ombro do garoto em questão. — Essa situação toda envolve cada cidadão de bem da nossa Capital. Não vamos deixar que nossos inimigos levem a melhor em nenhuma hipótese!

— Lordes! Eu lhes agradeço do fundo do coração! — respondeu Mulkior, fazendo uma grande e exagerada reverência a todos. Por ser sentimental demais, o mago quase chegou a derramar uma lágrima perante a situação, mas conseguiu manter o pulso firme e levantar a cabeça de novo, com um olhar decidido. — Juro não decepcioná-los, e garanto que minha Guilda ficará em débito com todos vocês. Agora eu sei que é um pouco apressado, mas os senhores terão que me dar licença.

— Mulkior, espere. — pediu o Lorde seu pai, antes que Mulkior saísse pela mesma porta que tinha entrado. — Eu sei qual é a sua pressa. Sei que deve estar com a mente cheia de preocupação por seus companheiros estarem no campo de batalha e você não. Ou pior, que Kula também está lá lutando para defender nossa cidade, colocando sua vida em risco. — Mulkior sentiu como se as palavras fossem espadadas em seu corpo. Era tudo verdade. — Não vou lhe atrasar, mas ao mesmo tempo, não vou deixar você ir para uma guerra sem poder fazer algo para lhe ajudar. — Lorde Mulkior deu a volta na mesa, olhando para seus amigos presentes. — Os senhores me desculpem por um momento. Eu já irei retornar.

Os lordes assentiram, falando que não havia nenhum problema. Lorde Musubi pediu para que Mulkior o seguisse, o levando para a escadaria e voltando para o andar térreo. O mago andava apressadamente, sem fazer perguntas ao pai. Sua mente estava um pouco energética demais, então era mais fácil seguir e terminar seja lá o que for rapidamente.

Mas Mulkior não deixou de estranhar quando eles chegaram em frente a grande porta dupla na lateral direita da grande mansão. Era a porta que levava para a ala de coleções especiais da Família Musubi. Ao abrir a porta e adentrar, Mulkior teve a velha sensação de ter cinco ou seis anos de volta, quando ele vinha para cá brincar, escondido do pai. Ali, havia a maior coleção de equipamentos feitos por um ferreiro que poderia ter em toda a Capital. A Família Musubi se orgulhava de seus trabalhos no ferro, coisa que era apreciada por todo o mundo e utilizada pelo maior exército de um reino. Armaduras entalhadas, com inúmeros detalhes em ouro, prata e até cristais, espadas ritualísticas, lanças com bandeiras, uma coleção de facas de combate, maças brilhantes que pareciam terem acabado de serem criadas, escudos bem desenhados. E isso era só uma parte do vislumbre que você poderia ter daquela sala.

— Quero que você leve isso com você. — falou o pai do mago, indo até o pedestal mais chamativo de toda a sala.

Mulkior ficou sem palavras. Era uma armadura. Uma armadura completa, com capacete, ombreiras, luvas, e perneiras, incluindo as botas. Uma armadura de ferro tingido e banhado em prata. A armadura própria do Lorde da Família Musubi. Um trabalho de mestre, que chegou a ganhar concursos de resistência e beleza. Não havia “firulas” nela. Não tinha espinhos, não tinha saliências inúteis. Era feita para ir à batalha, e não deixar o usuário se ferir. Os únicos entalhes que ela tinha era o brasão da bandeira de Riven no lado esquerdo do peito, e, entalhado à ouro na parte das costas, uma espada e uma marreta, símbolos antigos da Família Musubi.

— Pai, essa é...

— A Armadura do Imperador de Ferro. Nosso bem mais valioso e símbolo da nossa Família. — respondeu Lorde Musubi, sem deixar seu filho terminar sua contemplação. — Em tempos de guerra, o Líder de nossa família a usou em prol de nosso Rei, defendendo os valores da honra e tradição. É uma armadura feita para servir de muralha para proteger nosso amado reino. E não há melhor hora de ser utilizada do que agora.

— Mas pai, somente o Líder de nossa família deveria usar essa armadura!

— Pela teoria sim, mas existem exceções e casos especiais. Por exemplo, no caso de que o Líder da Família esteja com baixa saúde, ele pode deixar alguém de confiança assumir o cargo. No nosso caso, eu estou passando para que você seja meu representante na linha de frente enquanto eu resolvo os problemas políticos que envolvem nosso Reino perante o Rei.

Era um motivo razoável, mas Mulkior não conseguia engolir aquela sensação, aquela responsabilidade. Ele já tinha as mãos cheias sendo Vice-Líder da Immortal Star, Comandante do Primeiro Batalhão de sua Guilda e, em um futuro muito próximo, marido exemplar. O mago tentou esvaziar a mente quando novas preocupações lhe vieram à tona, e a pressa tornou a ser algo perturbador.

— Aceito ser o Representante Oficial da Família Musubi. — respondeu ele, esticando o corpo e fazendo a reverência militar de Riven. — Irei para as linhas de frente e defenderei nosso povo e nossa cidade com cada pingo de suor do meu corpo. Não deixarei nossos inimigos destruírem décadas de esforço de nossa gente! Expulsá-los-ei e voltarei vitorioso, trazendo glória para nossa Família e orgulho para você, meu pai!

— Mulkior. — disse Lorde Musubi, ficando de frente para o filho e colocando as duas mãos nos ombros dele. Pela primeira vez em muito tempo, ele perdeu o rosto sério e expressão rígida para exibir uma face cansada e preocupada. — Só me prometa que irá voltar vivo. E que não deixará Kula e nenhum outro companheiro para trás. Isso pra mim é mais importante do que honrar décadas de tradição e fazer boa vista para os outros.

O mago de ferro sorriu, deixando suas preocupações de lado por um breve momento. Aquele era seu pai de verdade. Um homem poderoso, forte em palavras, rígido em ações. Mas não há alguém mais preocupado com sua família do que ele. Não há ninguém que deteste mais a mentira, a faceta, a falta de coragem para tomar a decisão certa. Acima de tudo, Mulkior nasceu e cresceu aprendendo com ele, criando um orgulho que não poderia ser medido.

Mulkior não perdeu mais tempo. Tirou seu próprio equipamento e começou a colocar a armadura, o que não demorou. Ele já tinha feito isso algumas vezes. A diferença era que agora ele estava colocando uma armadura que o fez sentir ser coroado em frente a uma multidão. A armadura era pesada e grossa, mas nada que alguns minutos andando e movimentando com ela não bastariam para se acostumar. O mago prendeu bem suas pequenas sacolas com suas esferas de ferro, protegidas e prontas para serem usadas.

Assim que terminou de se vestir, Lorde Musubi pediu mais uma vez que o garoto o seguisse. Eles foram andando rapidamente para fora da mansão, indo até os estábulos privados da família. Lá, haviam alguns homens que pareciam estar trabalhando em um cavalo específico, o aprontando.

— Você vai cavalga-lo, Mulkior. — disse o pai, se aproximando do animal e passando a mão levemente em sua cabeça. — Espero que ele o ajude a chegar rápido à batalha que o espera.

Noite!

Noite era o nome do cavalo de Lorde Musubi. É importante ressaltar que não se tratava de qualquer cavalo, vendido ou alugado pelos estábulos aos arredores das grandes cidades. Não, aquilo era um cavalo de guerra. Era da raça kershan puro-sangue. Tinha pelo negro e extremamente lustroso. Era maior que um cavalo normal, e parecia ter uma respiração mais pesada. Parecia extremamente saudável e já alimentado. Se você já ouviu a expressão “forte como um cavalo”, saiba que ela foi criada se baseando nessa raça.

Mulkior se aproximou do animal, que o reconheceu pelo cheiro. Os dois já haviam cavalgado juntos algumas vezes, mas nada mais que alguns passeios. Agora a coisa era diferente. E parecia que Noite conseguia sentir a tensão no ar. Ele batia as patas traseiras, parecendo querer correr. Mulkior fechou a expressão e o montou, segurando o firme, passando sua vontade para o cavalo. Os homens que ali trabalhavam abriram a porteira e Mulkior saiu em disparada, sem nem dar tchau para ninguém.

Enquanto isso, a guerra continuava acontecendo sem nenhuma previsão de acabar. No norte, onde estavam Aristarkh e Lila liderando um esquadrão não muito grande, mas importante o suficiente para que os Capitães viessem agradecê-los pessoalmente pela ajuda. Isso se dava ao fato de que haviam inimigos naquela linha de frente que não eram esperados. Três reinos que eram aliados à Riven estavam atacando com tudo que tinham, usando a bandeira da Aliança inimiga. Era um golpe mais dolorido do que ver o número absurdo de soldados aliados caindo em batalha.

Talvez fosse por isso que Aristarkh saiu correndo por entre o combate, tentando chegar até a parte onde os soldados de Riven se defendiam contra os soldados de Hilderais, antiga cidade do mago vermelho. Ele teve que se esquivar algumas vezes de projéteis e espadas que passavam por ele violentamente. Algumas até o acertaram, causando ferimentos leves. Mas ele não parou. Até lutou contra alguns soldados no caminho, os deixando incapacitados. Lila, que ia logo atrás dele, nunca tinha o visto com tanta ferocidade nos golpes.

Quando finalmente chegou onde queria, Aristarkh foi à frente de todos, levantando sua espada e gritando o mais alto que pôde:

— Onde está o Comandante do Regimento de Hilderais?

É claro que isso puxou a atenção de muita gente, inimigos e aliados. Alguns tiveram a certeza de que era alguém louco, querendo morrer cedo. A maioria não deu atenção, já que não podiam perder o foco de suas próprias batalhas. Alguns ainda tentarem entender o que o garoto queria, mas somente uma pessoa teve a coragem ou decência de ir até o mago vermelho.

— Gostaria de lhe receber de forma calorosa e falar que já faz muito tempo desde a última vez que nos vimos, mas imagino que isso não será possível. — disse uma mulher que se aproximou cavalgando. Ela desceu do cavalo e deu mais dois passos na direção de Aristarkh, mas ainda mantendo uma boa distância.

— Você... Kely! Não pode ser!

Mas podia ser. Era mesmo Kely Winder, uma amiga de infância de Aristarkh. Filha de um Nobre da Família Real de Hilderais, Kely era uma garota extremamente ativa e estranhamente forte e sagaz. Por serem vizinhos, ela e Aristarkh brincaram muito juntos com mais duas crianças que moravam por ali. Mesmo naquela época, Kely sempre se mostrava superior quando o assunto era força física, mesmo “lutando” contra dois meninos.

Hoje, parecia que aquilo se intensificou por mil. Ela era uma mulher alta, forte. Sua pele era banhada pelo sol forte, e seu cabelo curto, liso e penteado para trás tinha uma bonita cor castanha, que faziam par com os olhos. Vestia uma roupa nada tradicional para batalhas: uma camisa sem mangas, um cachecol curto e liso, uma calça longa, mas não apertada e botas de couro. Todo o conjunto, nas cores de Hilderais, que eram verde e branco. Outra coisa que Aristarkh não deixou de notar era um símbolo diferente que ela tinha costurado na parte direita da camisa, que se assemelhava com as letras “E” e “X”.

— É estranho vê-lo aqui, entre tantos outros lugares, Ari. — falou ela, com uma tonalidade um tanto meiga. Ou talvez triste. — Soube que você tinha entrado para uma Guilda, mas não sabia que estaria lutando por Riven.

— E eu não imaginava que você conseguisse entrar para a Tropa EX. — respondeu o mago, quase na mesma tonalidade de voz. Mesmo parecendo amigável, sua espada tremia com sua mão. — Pensando bem, você sempre foi energética o suficiente para se tornar uma grande guerreira.

— E hoje estamos frente a frente na guerra. — respondeu a mulher, balançando a mão rapidamente em sua frente. — Não temos muito tempo para esse papo furado. Diga o porquê você chamou nosso Comandante.

— Quero saber o motivo de Hilderais estar lutando contra Riven nessa guerra! — respondeu o mago vermelho, com um tanto de grosseria na voz. Seus olhos estavam estreitados, como se ele estivesse com raiva. — Qual é o motivo do nosso Reino dar as costas há décadas de amizade e comprometimento com Riven? Por que trair a Aliança com o Triângulo do Universo, sendo que quase todas as nossas rotas de transações eram ligadas à ela?

— Ah, parece que você anda bem por fora do que realmente acontece no nosso Reino. — começou a falar Kely, dando um passo em frente. Ela sim parecia estar com uma expressão raivosa. Aristarkh se assustou com a súbita mudança de caráter de sua antiga amiga. — Todo nosso Reino de Póros está em uma situação apertada! Algumas de nossas principais plantações e fazendas foram atacadas por um enxame de insetos, uma verdadeira peste do inferno! Algumas pessoas contraíram uma doença difícil de ser curada e ela ainda é contagiosa. E para piorar tudo, algumas de nossas rotas de transação, aquelas que você mencionou, estão constantemente sendo atacadas por bandidos e mercenários. Enquanto estão dentro do nosso Reino, ainda conseguimos os proteger, pois o Rei ordenou um aumento de soldados. Mas não podemos fazer nada quando elas saem para os reinos vizinhos! — pelo volume da voz de Kely, não só Aristarkh ouvia a conversa, assim como muitos soldados que estavam ao redor. Mas com certeza, o mais afetado pelas palavras duras era o mago vermelho da Immortal Star. Ele estava boquiaberto, sem poder retrucar e só mantinha atenção nas palavras da mulher. — Você acha que nós não pedimos ajuda para Riven? Claro que pedimos! Éramos aliados! E o que você acha que eles nos responderam?

— Bom, eu imagino que...

— NOS RECUSARAM! — gritou Kely, sem deixar Aristarkh terminar de responder. — Falaram que não tinha nada que eles poderiam fazer, além de ajudar com a proteção nas ruas e rotas de comércio em seu próprio Reino! Eles nos deram as costas! Nos deixaram para resolvermos por nós mesmos!

— Não, espere Kely! — tentou chamar atenção, Aristarkh. Ele parecia um tanto apavorado nesse momento. — Não é assim que as coisas funcionam! Com certeza Riven deve ter algum bom motivo para dizer que não poderia ajudar naquele momento!

— Isso não importa mais. — voltou a falar Kely, agora um pouco mais calma. Ela parecia ter tirado um peso proferindo as palavras com exaltação. — Fomos recusados... Mas não totalmente esquecidos. Tivemos uma ajuda não esperada. Um oferecimento, uma possibilidade de troca justa. Foi assim que conhecemos a Aliança dos Reinos Divinos. Uma Aliança de verdade!

Por mais que Aristarkh estivesse prestando atenção em cada nova palavra proferida, sua mente vagava para longe. Ele não poderia acreditar que Riven simplesmente ignorou um pedido de ajuda à um aliado. Não fazia sentido! Póros e Riven tinham uma história de amizade que datava quase uma centena de anos. Só existiam duas possibilidades para que uma ajuda não fosse possível. Ou Riven estaria passando por uma situação de crise, o que não era verdade até antes do começo dessa Guerra. Ou havia alguém por trás das falhas negociações.

Falando dessa maneira, parece que todas as batalhas pararam só para que essa conversa fosse feita. Mas não era verdade. Pessoas ainda se matavam. O chão verde estava se transformando cada vez mais em vermelho. Natureza morria tanto quanto humanos. Ao longe, era possível ouvir batalhas usando canhões e grandes armas de cerco. Mas ninguém chegou a invadir o espaço entre Kely e Aristarkh. Isso se deve muito ao fato de que os soldados que tinham um mínimo de percepção extra-sensorial sabiam que havia uma área de perigo entre os dois.

— Vejo que você parece bastante desconcertado pela realidade de seu antigo reino. — falou Kely, abrindo um pequeno sorriso. — Não vou lhe culpar por não saber de nossas dificuldades. Mas agora que sabe, eu lhe daria uma nova oportunidade! — o membro da Immortal Star tentou desanuviar a mente e tornou a olhar sua antiga amiga nos olhos. — Lute ao meu lado, Aristarkh! Me ajuda a vingar nosso povo que passou por tantas dificuldades! Me ajude, e eu juro que falarei por você ao nosso Rei! Quem sabe você consiga uma boa posição no Exército? Ou até mesmo... — a risada dela aumentou nessa parte. — Conseguir sua cidadania novamente! Imagine você poder levar seus pais novamente para nossa Capital? O que acha?

— Desculpe, Kely. — respondeu Aristarkh, sem nenhuma repulsa ou incerteza em sua voz. Ele continua a olhando nos olhos, mais ferozmente. Kely foi lentamente perdendo o sorriso enquanto ele continuava. — Isso não vai acontecer. Por mais que eu saiba que meu antigo reino passou por essas dificuldades, eu não posso simplesmente virar as costas para os meus companheiros. “Traição é a mesma coisa que morte” era uma das frases que meu pai dizia. Então se vocês vão continuar lutando contra Riven e contra a minha Guilda, eu serei obrigado a cruzar espadas com você.

— Você sempre foi “certinho” demais, Ari. — falou Kely, exibindo uma expressão de puro descontentamento. — É realmente uma pena.

EMPALAMENTO INVERSO!

ESTILO HYUN-SUNG, DEFESA AGRESSIVA!

Acho que você deve ter se assustado com a súbita mudança de atitude nessa parte, mas foi exatamente assim que aconteceu. Mas explicando calmamente: assim que Kely terminou de falar, uma outra pessoa simplesmente apareceu com um grande pulo, indo para cima de Aristarkh com tudo que tinha. A pessoa empunhava um tridente e estava carregada de energia mágica. Assim que ficou exatamente em cima do mago vermelho, ela desceu com a arma virada para baixo, querendo atravessá-lo sem dó nem piedade.

Isso só não aconteceu porque Lila também aparece do meio do nada. Ela pulou contra a pessoa, com ferocidade. Segurou sua cimitarra com as duas mãos e fez um movimento horizontal para aparar o golpe, mas colocando bastante impulso, o transformando também em um golpe. As duas armas se encontraram a poucos centímetros de distância da cabeça de Aristarkh, fazendo-o se jogar para trás, com um zunido agudo no ouvido.

O impacto jogou os dois lutadores para lados diferentes. Ou melhor dizer: as DUAS lutadoras. Quando Lila caiu no chão perto de seu companheiro, ela observou bem sua oponente, pois o encontro das magias foi quase perfeitamente equilibrado. E a pessoa que tinha atacado também era uma mulher. Mais baixa e mais magra que Kely, mas tinha um olhar muito mais penetrante. Seu rosto com algumas espinhas e olhos da cor do oceano mais claro. Tinha um cabelo comprido cor azul marinho, enrolado em uma longa trança. Usava poucas roupas, o que dava uma visão extremamente única para um campo de batalha. Vestia só um top cobrindo os seios e um shorts curto, ambos brancos com faixas verdes. Assim como na vestimenta de Kely, havia um símbolo “EX” no lado direito do top, e a bandeira de Hilderais no outro lado.

— Droga, foi quase! — disse a mulher, dando um tapa de leve no chão.

— Lila! — gritou Aristarkh, se levantando. — Mas o que está acontecendo aqui?

— Ainda não se tocou, Ark? — perguntou Lila, mexendo os braços rapidamente, como se os tivesse alongando. — Assim que você recusou o convite daquela mulher, você virou inimigo deles! Você foi atacado para morrer!

— Sim, você está certa, me desculpe. — respondeu o mago vermelho, tentando livrar sua mente do resto de incertezas que tinha e tentando se concentrar, mesmo com o zunido. Voltou a segurar a espada firmemente. — E obrigado, você me salvou. Fico te devendo essa.

— Ahhhh bom saber! — respondeu ela, afastando as pernas. Sorriu ao continuar. — E eu já sei com o que você pode me pagar!

Kely bufou pela falha no ataque surpresa, mas também não perdeu tempo. Foi até seu cavalo que estava um pouco mais atrás e desengatou sua arma presa a lateral do animal. Era uma arma diferente também. Uma lança dupla. Um cabo longo com lâmina nas duas extremidades. Elas eram pintadas nas cores amarelo escuro em uma ponta, e marrom claro em outra. Emanava uma considerável aura de perigo.

— Lila, tome cuidado. — falou Aristarkh, se afastando dois passos. — As duas são membras da Tropa EX, um esquadrão pequeno e muito especial de Hilderais. Os seus membros são treinados em escolas diferentes ao redor do mundo e se especializam nas armas mais variadas que podem existir. O “EX” é de “exótica”. — explicou o mago, achando que era seu dever dar toda informação possível para sua companheira. Infelizmente, esse pouco não a ajudaria no combate. — Os membros dessa tropa são fortes o suficiente para encararem um membro poderoso de uma Guilda, então... EI!

Lila desistiu de ficar esperando o discurso de Aristarkh e partiu para o ataque. Ela sempre foi uma garota de ação e poucas palavras. Junto com Jimmy, os dois faziam a “dupla que aprende com o corpo” da Guilda. Além disso, ela não podia ficar parada depois de ver um companheiro sendo atacado. Por isso que ela foi para cima da mulher de tridente.

E quando falo sobre “ir para cima”, eu estou dizendo com esforço o suficiente para fazer a soldado da Tropa EX recuar. Lila atacou com uma combinação rápida de seis golpes seguidos, sendo quatro movimentos horizontais e diagonais com a cimitarra e dois chutes. Todos os golpes foram habilmente defendidos, mas a primeira impressão que a mulher tinha já era a de perigo.

— Ahah, você é boa! — disse ela, rodando o tridente ao seu lado e se preparando para atacar. — Tem boa posição e ataca com ímpeto! Gostei!

Maraya! — gritou Kely, de longe. — Não dê chances para essa oponente! Ela também é da Immortal Star e é um oponente que deve ser cortado fora dessa guerra!

Como se fosse algum tipo de afirmação, Maraya jogou o corpo para frente e contra-atacou Lila com duas estocadas rápidas. Lila deu dois pulos para trás, se esquivando. Imediatamente depois, começou a fazer cálculos de combate. Analisando sua arma, Lila conseguia dizer que estava em desvantagem em questão de alcance. Ou seja, de maneira simples, ela precisava atacar mais do que ser atacada.

Falar é mais fácil do que fazer. Maraya voltou a partir para cima, sem dar tempo de Lila poder achar uma boa brecha para atacar. As duas mulheres trocaram golpes enquanto se afastavam cada vez mais do ponto inicial. A lanceira avançava com estocadas rápidas e bem miradas, todos golpes fatais caso fossem acertados em cheio. Além disso, um tridente é uma arma mais complicada para se defender do que uma lança comum. Se ela engatasse a espada entre os dentes da arma da inimiga, a mesma poderia girar sua arma na tentativa de desarmar Lila. Era por isso que Lila se esquivava mais do que se defendia.

FÚRIA DO POLVO!

Ao ver que seus avanços não estavam surtindo efeito, Maraya imediatamente mudou para um ataque mais poderoso. Concentrou energia mágica em sua arma, a deixando com uma coloração mais azulada. Puxou a arma para si, segurando com as duas mãos. Logo em seguida, começou a aplicar uma série de golpes de ponta. A diferença era que os golpes não vinham “reto”. Assim como uma ilusão, a lança parecia se dobrar a cada novo ataque, nunca vindo exatamente do meio, ou exatamente de baixo ou exatamente de cima.

Lila também não sabe quantos ataques levou. Seu instinto a fez se esquivar e aparar o que dava, mas o fato de não sabe exatamente para que lado vinha o próximo golpe a fez levar quatro estocadas pelo corpo. Dois deles eram apenas arranhões que poderiam ser ignorados. Mas uma das estocadas lhe atingiu na perna direita e parecia ser profundo, enquanto a outra lhe atingiu no ombro direito e estava doendo bastante. Lila apertou os dentes com raiva, tentando não perder a concentração por causa das dores.

ESPADA ELEMENTAL, TROVÃO!

Lila se levantou e passou energia mágica para sua cimitarra. Uma aura a envolveu e logo a fez brilhar em amarelo, soltando faíscas. Mas mesmo essa ação não pareceu assustar Maraya. A mulher da Tropa EX voltou a avançar rapidamente, apontando um ataque alto, na cabeça. Dessa vez, Lila não queria mais ficar se esquivando. Bateu com tudo no tridente da oponente, soltando outro zunido agudo.

A ideia da cimitarra eletrificada era que, ao contato com algum outro ferro, a eletricidade passasse para as mãos do usuário e o fizesse largar a arma. Mas isso não aconteceu. Lila até demonstrou uma rápida mudança de expressão, mas imediatamente soube que o choque não havia ocorrido por causa do envolvimento de energia mágica que o tridente da oponente continha. Ao ver que Lila tinha falhado seu ataque, Maraya se afastou e atacou com um balanço da arma por baixo, quase que em uma rasteira. E esse foi o seu erro.

ESPADA DE TROVÃO, RELÂMPAGO!

O fato de Maraya ter dado um rápido passo para trás deu tempo para Lila impulsionar para frente, com energia envolvendo todo o seu corpo. Ela deu um salto para frente, empunhando a espada em linha reta, na velocidade de um raio. Foi impossível para Maraya se defender, a fazendo levar um corte profundo no ombro esquerdo. Lila parou atrás de sua oponente, uns dois metros de distância, e logo se virou, com o corpo ainda eletrificado.

— Só estou devolvendo no mesmo preço, mas agora faltam os juros! — falou Lila, fazendo dois movimentos em sua frente e balançando a espada em forma zombeteira. — Venha! Esse duelo só está começando!

Enquanto isso, Aristarkh não estava tendo um duelo tão equilibrado quanto sua companheira. Kely era extremamente rápida e voraz, atacando várias vezes com movimentos distintos e em todos os ângulos. Por mais que Aristarkh fosse um bom espadachim, ele não chegava nem perto das habilidades de sua oponente. E não ache que ela estava pegando leve só por estar enfrentando um colega de infância.

ABALO TERRESTRE!

Kely girou sua lança dupla até a parte marrom ficar para baixo, concentrando energia mágica. Depois ela atingiu o chão a sua frente, mandando toda sua energia para lá e criando um pequeno terremoto. Muitas pessoas que batalhavam ali por perto foram ao chão. E isso incluía Aristarkh. Ele bateu forte com as costas no chão, perdendo um pouco de ar dos pulmões. Por sorte não soltou a espada, pois assim que ele caiu, Kely pulou em cima dele no intuito de pregá-lo ao chão. O mago levantou sua espada e defendeu o golpe por muito pouco.

Kely não deixou isso barato. Aplicou um chute potente na lateral do corpo do antigo amigo, que o fez rolar quatro vezes para o lado. Ark cuspiu enquanto tentava recobrar o equilíbrio. Olhou para frente, ainda no chão e viu a mulher vindo para cima novamente. Levantou a espada mais uma vez para aparar um golpe de ponta, mas não foi rápido o suficiente. A lâmina da arma tinha lhe arranhado o pescoço e ombro.

IMPULSO DE VENTO!

Mesmo sem se concentrar muito, Aristarkh puxou seu braço esquerdo para trás e colocou um pouco de energia naquela mão, imediatamente fazendo um movimento para frente, como se estivesse empurrando algo. Como Kely estava logo a sua frente, ela não teve tempo de se defender de uma rajada de ar que a empurrou para longe. Mesmo sendo pega desprevenida, ela ainda conseguiu cair em pé e não parecia ferida.

Esse nem era o ponto do mago vermelho. A ideia era afastá-la o máximo possível. Combater corpo-a-corpo com alguém tão habilidoso contra ela iria o matar em dois ou três investidas. Mesmo com uma boa habilidade com a espada, Aristarkh ainda era de uma classe mágica. O problema era que “ela” também sabia bem disso. Segurou firme sua lança e partiu para o ataque.

ESFERA EXPLOSIVA!

Mas ela não conseguiu dar nem dois passos. Aristarkh logo carregou mais energia em sua mão esquerda e disparou uma esfera avermelhada e pulsante. Kely não esperava uma outra magia assim, tão imediatamente, por isso não teve uma reação tão rápida para se esquivar. Ao invés disso, manejou a lança e atingiu a esfera no meio do caminho. Mas isso não a fez impedir de fazer o que foi feita para fazer. A esfera explodiu em chamas, empurrando mais uma vez a lanceira.

E Aristarkh voltou a concentrar mais energia mágica. Essa era a melhor forma de combater alguém que é especializado em combate à curta distância. Tinha que mantê-los longe ou presos em algum lugar. Em algum lugar dentro de si, Ark não queria continuar combatendo. Por mais que ele não via Kely há anos, isso não significava o quanto dela ele já conhecia. Para Aristarkh, amizades não são desfeitas por distâncias ou tempo. Mas ela estava-o atacando para valer. A luta teria que acontecer, não só para se proteger, mas para proteger sua Guilda, sua honra e seus ideais.

SALTO TROVÃO!

De repente, Kely sumiu. Aristarkh não tinha perdido ela de vista nem por um segundo. Sabia que a sua última magia não tinha lhe causado tanto dano, mesmo lhe acertando quase diretamente. Mas a mulher simplesmente concentrou energia mágica ao redor do corpo e “puff”, sumiu. A parte mais importante do processo, é claro, o mago vermelho perdeu. Ele não a viu dobrando as pernas ligeiramente e saltando.

A magia de Kely era bem simples. Ela energizava todo o corpo, o eletrocutando. Isso fazia suas coordenações motoras mais potentes. Com isso, ela poderia dar um super salto, em uma velocidade tão absurda que era necessário ser alguém muito perceptivo para acompanha-la. Tirando isso, tudo o que ela precisava fazer era impulsionar o corpo novamente, para baixo, e cair com um relâmpago em cima do inimigo. Foi o que aconteceu.

Aristarkh não conseguiu desviar, pois não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo. Além disso, tudo ocorreu rápido demais. Kely caiu em cima do mago, o atravessando de fora a fora com a lança. Acertou-o na cabeça e fez a lança descer por dentro de seu corpo até quase sair por baixo. Um golpe assassino, poderoso. Impossível sobreviver, mesmo que ele estivesse usando a melhor armadura do mundo. Para Kely, aquilo era uma pena, mas ela sabia que o dever vinha antes do que uma amizade antiga. Quando aquilo tudo acabar, ela rezaria pela pobre alma de seu amigo.

ESPELHO DE ÁGUA!

Foi uma sensação bizarra para Kely, que só agora tinha se tocado de que o corpo que ela perfurou não tinha sangue. Assim que ouviu o entoar de uma magia, todo o corpo perfurado ficou azul e mole. Ele foi escorrendo como um gelo derretido, virando completamente água. Kely ficou encharcada da cintura para baixo, vendo aquele corpo falso se derretendo aos seus pés.

— Espero que tenha se contentado com a sensação de me ver morto pelas suas mãos, Kely. — disse Aristarkh, que estava não muito afastado dali. Ele estava completamente bem, tirando os ferimentos do início da luta. — Você me surpreendeu quando sumiu dos meus olhos. Mas eu também não poderia ficar esperando um ataque surpresa vindo de sei lá onde. Por isso criei essa ilusão e esperei você vir. Agora já entendi suas habilidades e como elas combinam com essa sua arma estranha. Se prepare, porque eu que irei atacar para valer!

Era possível ver a intensidade de sentimentos aumentando entre os dois. Kely teve a sensação de ser tapeada. Ficou furiosa, perdendo a noção de segurança. Ela apertou as duas mãos e se virou para Aristarkh, muito lentamente. Seus olhos estavam diferentes agora. Fixos em mais do que um alvo. Fixos em um objetivo.

Por outro lado, Aristarkh estava tentando recuperar o fôlego de usar tantas magias consecutivas, ao mesmo tempo que planejava seus próprios passos. Precisava criar situações onde ele lutasse em vantagem em distância, e precisaria utilizar magias potentes para tirá-la de combate antes que ela lhe acertasse algum golpe mortal. O estilo de combate de um membro daquela tropa era uma coisa pouco vista pelo mundo, o que deixava tudo ainda menos previsível.

“BOOM”! Uma explosão aconteceu do nada, há alguns metros daquela luta. Atraiu a atenção dos lutadores. Mas houve mais. Outras explosões. Gritos, tanto de guerra, como de desespero. A movimentação desajeitada tomou os olhos dos dois combatentes, que não entenderam o que havia acontecido. Havia soldados recuando, soltando as armas e com ferimentos diversos. E esses soldados eram da Aliança.

— ESPERE! — gritou Kely, dando alguns passos para o lado e agarrando um pobre soldado ferido que corria mancando. Ele tinha uma face de medo extremo estampado no rosto. — O que está acontecendo aqui? Por que vocês estão fugindo?

— Senhora! — falou o soldado, obviamente aturdido mais pela voz grossa e imponente da mulher do que as dores que sentia. — São reforços de Riven! São soldados poderosos que nós nunca vimos, mas vestem uniformes com o brasão dos nossos inimigos!

A voz dos dois estava tão alta mesmo naquela bagunça, que até mesmo Aristarkh o ouviu. Ele olhou para trás, depois de ter certeza de que era seguro e que não receberia um ataque direto, e procurou para ver se aquilo era verdade. Havia sim novas bandeiras levantadas e vindo em sua direção. Era uma tropa, não muito grande, vinda do oeste.

Mas havia uma clara diferença entre eles e os soldados do exército real de Riven. Eles não vestiam o mesmo uniforme, mesmo que usavam as mesmas cores da bandeira do reino. Mas eles não tinham as mesmas armaduras, sendo que alguns nem tinham. E também não tinham as mesmas armas, o que deixou o mago vermelho um pouco confuso. Mas não mais quando esses novos soldados começaram a lançar magias de vários tipos e elementos, em todas as direções, derrotando soldados inimigos em um piscar de olhos.

Os Soldados do Projeto R haviam chegado.

Enquanto os Rúnicos acabavam de iniciar seus ataques no lado norte da Capital, eles já tinham feito um bom estrago nos inimigos na parte oeste. Aqui, as tropas deles eram um pouco maiores, mas com pouca diferença. Eles também apareceram do nada, como se tivessem sido teletransportados. Chegaram atirando magias um tanto poderosas nas aglomerações dos inimigos, os fazendo se espalhar e quebrar sua formação.

Por mais que isso tenha dado um descanso para o lado de Riven, pois eles já estavam bem recuados, não foi o suficiente para sanar a situação. Isso porque o lado oeste estava sofrendo com terríveis ataques de armas de cerco de longo alcance. Haviam armas chamadas de “Trebuchet”, um tipo de catapulta comprida com o quádruplo de potência e tamanho. Não era uma arma rara, mas por ela ser difícil e demorada de ser montada, além de precisar de muitas pessoas para manuseá-lo ou concertá-lo, ela era pouco usada. Mas sua eficiência era comprovada.

Para você entender melhor a situação sem eu precisar descrever detalhadamente cada esquadrão e cada ordem de soldados, é melhor eu me concentrar somente no que a Immortal Star se envolvia. Nesse momento, o pequeno grupo de membros da Guilda tinha se dividido em dois. Um grupo, o com maior número, estava com Jarhan, ajudando na linha de frente. Eles combatiam diretamente os soldados armados e a cavalaria da Aliança. O outro grupo estava com Geovanna, que tinha um grupo de dez pessoas contando membros da Guilda e alguns soldados do exército, e partiam para uma missão emergencial para destruir as armas de cerco.

No primeiro grupo, o de Jarhan, foi onde eles viram em primeira mão a diferença gritante da chegada dos Rúnicos. O próprio necromante estava ferido nas costas e cansado, mas não a ponto da exaustão. Ele tinha se limitado em usar suas magias de maldição, o que realmente fez uma diferença na hora dos avanços concentrados dos inimigos. Mas ele precisou partir para os ataques físicos logo depois, porque sabia que não poderia ficar sem energia mágica naquele local.

Quando os Rúnicos apareceram e começaram a virar a onda contra a maré, Jarhan teve seu primeiro momento de descanso. Ele não recuou, e também nenhum outro membro da Guilda. Ele também não chorou quando Helveton, um companheiro de Guilda, foi atingido por duas flechas no pescoço e caiu sem vida no chão sujo e frio do campo de batalha. Era a única baixa que a Immortal Star tinha até então, mas já era demais.

Foi mágico ver o exército de Riven voltar a avançar e ficar em melhores pontos estratégicos. Parecia mentira. Como aquela pequena tropa, mesmo armada com magias e encantamentos, conseguiu mudar o ritmo daquela batalha. Jarhan não tentou tirar qualquer conclusão sobre como ou o porquê. Simplesmente voltou a ficar de pé, acenando para os companheiros, e voltou para o combate.

Foi quando ele precisou defender alguns soldados que estavam sendo dizimados por causa de um só cavaleiro inimigo. Ele pulou para frente, usando sua foice para defender um impulso rápido do cavaleiro e salvando a cabeça de um soldado, que caiu para trás tremendo. Jarhan pediu para que ele recuasse e depois voltou toda sua atenção no oponente.

Era um cavaleiro, junto com, obviamente, seu cavalo de guerra. Não era alto, mas mesmo com a armadura, era possível ver que era forte. Não era possível ver seu rosto por causa do capacete fechado, que trazia uma pena vermelha e amarela em cima. Por cima da armadura completa, havia um manto azul com linhas brancas e um símbolo, que dizia exatamente da onde ele era e para quem lutava. Seu cavalo também possuía um manto do mesmo estilo, e também tinha a cabeça e o torso protegidos. Não foram as armas do oponente — ele usava duas espadas retas e um pouco mais compridas do que as mais tradicionais — que impressionou o necromante, mas sim, a medalha de ouro pregada na armadura, que lhe indicava ser um Capitão de Esquadrão.

Até esse exato momento, os dois já tinham começado o combate e estavam no meio dele. Tinha sido um combate silencioso, com nenhum dos lados querendo falar nem um “a” para o outro. O Capitão era o que mais atacava, fazendo trotes rápidos e atacando com velocidade e precisão. Era um cavaleiro de alto nível, reconhecido por todo seu reino e quase considerado um herói. Isso não vinha ao caso para Jarhan, que tinha que se esquivar por muito pouco para não ser decapitado a cada novo avanço.

Jarhan estava em clara desvantagem na luta. Não só pela velocidade do oponente, mas porque atacar um cavaleiro e seu cavalo ao mesmo tempo estava sendo uma tarefa impossível. Os ataques de uma foice de cabo longo eram devastadores. Uma boa manobra dessa arma era capaz de separar corpos humanos, animais e até mesmo de monstros de classe alta. O problema era que ela era relativamente lenta e fácil de se prever. Então mesmo quando Jarhan acreditou acertar dois golpes mortais, um deles acabou pegando na armadura da cabeça do cavalo, defletindo o movimento, e o outro tinha sido realmente certeiro, acertando a dobra da perna do cavaleiro e fazendo sua perna verter sangue, mas mesmo assim, não tinha sido um ataque fatal.

Mas a batalha ainda não estava perdida. O necromante tinha acabado de ter um plano. Talvez não funcionasse, mas era o que ele tinha nas mãos e precisava tentar. Então o que ele fez foi “pular” para atacar o cavaleiro. Ele correu e pulou alto, atacando a cabeça do oponente. O Capitão defendeu o golpe, fazendo Jarhan passar por cima dele e do cavalo. Quando caiu no outro lado, Jarhan exibiu uma óbvia cara de desgosto, enfiando a foice no chão e riscando uma linha na terra. Seu inimigo trotou mais uma vez, atacando com um movimento duplo, que Jarhan não previu. Uma das espadas tirou uma lasca de seu ombro direito, fazendo sangue escorrer até a mão, a molhando.

Jarhan precisava tentar de novo. Afastou as pernas e colocou um pouco de energia em sua foice. Depois correu com tudo que tinha, ignorando a dor ao se movimentar. Deu um novo salto um tanto alto, atacando a cabeça do cavaleiro. Esse, por sua vez, cruzou as espadas e defendeu o golpe que estava mais potente que antes. O impacto quase o fez cair do cavalo, mas ele se manteve firme. Jarhan caiu do outro lado, fazendo a mesma coisa que antes, claramente irritado e descontando no chão. Ele ainda andou rodeando o inimigo, sem nem levantar a foice, simplesmente o olhando nos olhos. Ou o que dava para ver deles.

“Esse é o plano dele? Me derrubar do cavalo?”, pensou o Capitão. Ele gostaria de dar pontos ao garoto pela originalidade, mas não havia tempo para isso. O cavaleiro não cairia do seu cavalo. Treinou anos ao lado do seu parceiro animal, enfrentando diversos tipos diferentes de combate com diferentes tipos de oponentes. Ninguém nunca conseguiu essa façanha. E não seria hoje que isso aconteceria.

ONDA CRUZADA DUPLA!

O Capitão colocou energia mágica em suas duas espadas. Uma boa quantidade, demonstrando que ele não gostaria de perder mais tempo naquela batalha. Bateu as pernas no cavalo, o atiçando e indo para frente. Levantou as duas armas para o alto, as cruzando e as fazendo vibrar com uma energia acinzentada. Um pouco antes de atropelar o necromante, o Capitão fez um golpe para frente, descruzando as espadas e mandando duas ondas de energia da mesma cor de suas armas.

O golpe não pôde ser previsto pelo necromante por causa do avanço com o cavalo. Aquilo tinha virado uma finta, pois pareceu que ele faria um tipo de golpe direto, mas no fim, eram as duas ondas. Um pouco atrapalhado, Jarhan energizou mais uma vez a foice e a colocou em frente ao corpo, tentando defender o golpe. O resultado não foi bonito.

O membro da Immortal Star foi empurrado por poucos centímetros enquanto ele aguentava toda aquela energia em sua frente. Mas não tinha sido forte o suficiente para aguentar tudo. Logo sua defesa cessou e o resto da energia lhe atingiu o corpo, o fazendo ir ainda mais para trás, rolando no chão. Mesmo estando em choque com a nova dor, ele sabia que não podia ficar ali caído. Então forçou seu corpo a se levantar, o que agravou ainda mais sua situação. O Capitão vinha galopando lentamente, se preparando para dar um golpe final.

— Finalmente... — falou Jarhan, cansado. Sua voz saiu baixinho, como se ele falasse pra ele mesmo. — Caiu na minha armadilha. RITUAL NEGRO – CEMITÉRIO DOS FAMINTOS!

Uma verdadeira explosão de energia liberada aconteceu ao redor do cavaleiro. Ele parou de repente, vendo uma iluminação um tanto negra brilhar e o fazer ficar com o corpo enrijecido, achando que estava prestes a ser atacado diretamente. Mas o que realmente aconteceu foi que um grande círculo mágico apareceu ao seu redor, e foi só aí que ele entendeu os ataques raivosos do seu oponente quando esse arranhava o chão sem sentido. Ele estava criando marcações para aquele maldito círculo. Era uma armadilha e tanto.

Quando o círculo se completou, a primeira coisa que foi perceptível, além da luz negra, era um cheiro horrível. O Capitão atiçou o cavalo para fugir daquele lugar, mas percebeu que o animal não o respondia. Olhou para baixo tentando procurar algo que pudesse prendê-lo. E pela primeira vez em muito tempo, houve desespero em sua mente quando ele viu quatro ou cinco braços cinzas e putrificados segurando as patas de seu companheiro animal.

Piorou tudo quando o próprio cavalo começou a gritar de dor e ser puxado para “baixo”. O Capitão se sentiu descendo como se tivesse acabado de pisar em areia movediça. Olhou novamente para baixo e percebeu que haviam ainda mais braços que não tinham carne o suficiente para se vislumbrar, e que seu cavalo estava mesmo afundando para a escuridão eterna. O homem tentou usar as espadas cara cortar os braços, mas parecia que cortando um, apareciam mais dois. Ele foi cortando o mais rápido que conseguia, mas assim que a primeira mão zumbi que agarrou sua bota de ferro, ele sabia que não tinha mais salvação. Cortou o braço que o segurava e, com um pesar grande demais no coração, pegou impulso nas costas de seu companheiro e pulou para fora, longe do círculo. Tudo que lhe restou foi ver seu cavalo afundando para o nada, dando os últimos gritos de desespero e dor.

Sua percepção ainda estava aguda, mesmo com a visão terrível. Sentiu perigo, e sentiu muito próximo. Se virou rápido e levantou as duas espadas, pronto para se defender. E o impacto que sentiu lhe fez tornar a ver sua realidade. Jarhan tinha aparecido por trás, atacando horizontalmente com sua foice, com o intuito de decapitá-lo. Isso não aconteceu, mas agora os dois estava frente a frente, olhando um no olho do outro.

— Agora... — começou a falar o necromante, fazendo força para empurrar o Capitão. — Estamos no mesmo patamar de igualdade!

Ainda a oeste, mas não muito longe de onde essa batalha acontecia, outro evento estava tendo seu desenrolar. Lembra que eu disse que a Immortal Star tinha se dividido em dois times? Foi assim que Geovanna, que inicialmente estava com Jarhan, tinha saído em um time secundário para uma tarefa importante em conjunto com o exército de Riven.

O plano vinha, obviamente do exército, e precisava ser feito imediatamente. Como já dito, um dos maiores problemas naquele lado da guerra eram os Trebuchets. E esse segundo grupo tinha o objetivo de inutilizar o esquadrão dessas armas grandiosas, que estavam bem recuados. Eles estavam já muito próximos da floresta de árvores baixas que criavam um belo visual a oeste de Riven, mas todos os equipamentos estavam na frente delas. Talvez haviam equipamentos escondidos na própria floresta, mas isso não era o objetivo primário.

Inicialmente, o plano do exército era mandar um esquadrão pequeno e rápido dar a volta pela esquerda, saindo do campo de batalha e os atacando pelos flancos. Só que esse plano tinha um problema: a demora para fazer toda a marcha.

Foi aí que a Immortal Star entrou com a solução perfeita. Eles usariam magia para fazer um ataque aéreo. Aliás, melhor dizendo que seria uma “investida aérea”, pois a ideia era fazer um fronte contra os soldados que manuseavam as máquinas. Para isso, eles usariam Leopold, o mago controlador de vento que já havia ajudado o time a espalhar a névoa quando eles entraram na batalha. Leopold iria fazer todos darem um “super-salto” usando vento em suas pernas, fazendo-os quase voar diretamente para cima das armas de cerco.

O plano inicial foi executado com perfeição. Eles marcharam longe da batalha por alguns minutos, até estarem em uma distância que Leopold achou que conseguiria leva-los de uma só vez. Usou sua magia, “Pés de Hermes” em todos os dez integrantes do grupo e tudo que falou era:

— Flexionem as pernas, olhem para frente e pulem como se fossem querer atingir as nuvens.

E foi isso que todos fizeram, mesmo com medo ou ressalva. Eram poucas informações, era perigoso e era insensato. Mas era o que eles tinham em mãos. Os soldados do Exército não conseguiram deixar de pensar na loucura das pessoas que habitavam essas Guildas. E essa visão piorou logo depois.

No pulo, enquanto estavam descendo diretamente para a linha de Trebuchets que ainda disparavam em um tempo fixo, Geovanna disse que começaria a bombardear dali mesmo. Ela e Leopold, os dois únicos com magias de longo alcance, se prepararam em pleno ar, concentrando energia e depois disparando sua primeira salva de ataques.

LANÇAS CELESTES DE ENERGIA!

ESFERA DE TORNADO!

A primeira magia, que era a de Geovanna, foi a mais destrutiva. Ela levantou os dois braços simultaneamente, criando uma grande esfera de energia em cima de sua cabeça. A esfera cresceu e brilhou em um azul claro, para logo em seguida, começar a pulsar. Depois, ela mirou com aquela esfera para uma das armas de cerco e impulsionou sua energia. Daquela grande esfera, dezenas de lanças azuis feitas completamente de energia foram disparadas diretamente para seu alvo. Só quando as pequenas explosões começaram a acontecer, que os soldados inimigos perceberam o pequeno grupo que descia suavemente em sua direção.

Não tão poderosa quanto a magia de Geovanna, mas ainda assim, destrutiva o suficiente para fazer o trabalho bem feito, foi a magia de Leopold. Ele criou uma esfera de aura em sua mão direita e passou um bom tanto de energia para ela. A esfera tinha a cor acinzentada, e dentro havia um tipo de turbilhão de ar, sedento para sair. O mago mirou em outra arma de cerco e jogou com toda força que tinha, um pouco depois da magia de Geovanna. A magia bateu com tudo na base da arma, e assim que se espatifou, um verdadeiro tornado foi criado instantaneamente, fazendo mais soldados gritarem e correrem para qualquer lugar que achassem seguro. Não havia.

O pouso não foi muito bonito de se ver. Todos achavam que, como eles caiam devagar, seria fácil controlar a inércia. Mas dois soldados escorregaram e rolaram violentamente pelo chão já cheio de farpas das duas armas de cerco recém destruídas. Mais tarde eles descobriram que um deles torceu a perna e não conseguiria levantar tão cedo. Um outro soldado teria muita história para contar, pois ele pousou já atacando um outro soldado inimigo, o levando ao chão.

Nesse ponto, todos os soldados que ali estavam, largaram a manutenção dos Trebuchets e sacaram suas espadas, lanças e qualquer outra arma que estava próxima. Essa linha de defesa tinha dez armas de cerco e quase quarenta soldados, então você pode imaginar que um tanto de desespero tomou conta dos soldados aliados. Não dos membros da Immortal Star.

RAJADA DE VENTO!

Leopold concentrou energia nos braços e mais uma vez, lançou uma rajada de ventania contra dois soldados que estavam mais próximos dele, à esquerda. Eles nem tiveram tempo para pegarem suas armas direito. Foram jogados para trás com força, batendo e rolando pelo chão, girando aleatoriamente. Isso também acordou o espirito de sobrevivência dos inimigos, fazendo eles darem um grito de guerra e partirem para cima.

Inicialmente, a desvantagem numérica parecia um problema impossível de ser solucionado. Eles foram cercados e travados em um ponto só, com um soldado a menos que não conseguia se levantar. Mas essa situação não se estendeu por muito tempo. Os membros da Immortal Star abriram caminho com suas magias, e os soldados aproveitaram essa oportunidade para saírem do cerco, dando início a uma batalha sem vantagem para nenhum dos lados.

A batalha se estendeu bem para o lado dos aliados até a quarta arma de cerco cair completamente destruída. Geovanna estava ofegante, depois de ter acabado de usar outra magia para destruir o Trebuchet e mais dois soldados que estavam tentando protege-lo. Ela olhou para trás e viu que um dos soldados aliados havia perecido, mas ainda assim, a luta estava pendendo para a vitória. Foi exatamente nesse momento que ela sentiu um perigo vindo em sua direção. Ela se virou e conseguiu ver um vulto. E foi tudo que ela viu.

ESTOCADA RELÂMPAGO!

Foi a sorte de Geovanna se virar para frente naquela hora. Bom, ela seria mais sortuda se tivesse uma reação mais rápida e desse um pulo para trás ou para os lados. Pois assim que se virou, ela sentiu uma dor aguda no ombro direito. Ela deu passos para trás, cambaleando e gritando. Levou a mão esquerda no local do machucado, vendo-a se encher de sangue quente. Quase caindo de joelhos, ela olhou para frente, vendo uma pessoa próxima demais ali.

A pessoa se tratava de um homem de estatura média, muito bem arrumado. Não vestia trajes de um soldado qualquer. Sua roupa era de um nobre da realeza, extremamente fácil de ser reconhecida. Camisa larga de seda pura azul escuro, com manga branca dobrada com babados, calça larga preta com um cinto de ouro e botas de couro fino que subiam até os joelhos como protetores. Sua face era de um homem bonito, sorridente. Tinha olhos verdes chamativos e cabelo castanho, um pouco comprido e amarrado em um rabo de cavalo curto, com um laço branco. Seu rosto era impecável, sem espinhas e sem linhas curvas. Suas mãos estavam protegidas com luvas de couro não muito grossas, e seguravam uma espada de esgrima um pouco diferente do habitual.

— É uma pena você ter se virado nesse momento, senhorita. — disse ele, passando rapidamente a mão pela testa, tirando um fio de cabelo que estava caído ali. — Isso só vai piorar as coisas e as deixar mais dolorosas para a senhorita.

— Você... — começou Geovanna, dando mais um passo para trás, ainda não conseguindo se livrar da dor agoniante. — Você é membro da Tiger Claw!

— Impossível esconder esse fato, imagino. — respondeu ele, colocando um dedo levemente no brasão da Guilda que ficava no lado esquerdo do peito. Em seguida, fez uma reverência curta, sem tirar os olhos da garota. — Meu nome é Gabriel Yartis deBlanc XII, vice capitão da Tiger Claw.  Estou um pouco atrasado e isso custou a vida de alguns dos meus valorosos aliados. Então a senhorita terá que me desculpar, mas preciso-lhe retirar sua vida em compensação.

E atacou. Assim, sem prolongar mais a conversa. Sem deixar a maga de energia se preparar ou descansar. Eu comentei sobre a espada de esgrima ser um tanto estranha, e isso era porque a ponta da arma era um triângulo, como se fosse a ponta de uma flecha. Mas o ataque de Gabriel era tão absurdamente rápido, que a visão daquela ponta sumia assim que ele dava o primeiro passo para frente.

Tiniu um barulho alto de metal encontrando metal. Geovanna não aguentou o susto e caiu para trás, desajeitada. O barulho fez seu ouvido zunir, deixando alguns poucos segundos em total paralização. Mas quando retomou a consciência, viu que alguém tinha entrado em sua frente e parado o golpe. Tinha sido tão de repente que ela demorou para reconhecer a pessoa.

— Smolder!

— Está tudo bem com você, Geovanna?

Talvez seja tarde demais para se introduzir um novo personagem na minha história, mas como eu te disse quando comecei a contar: não existem protagonistas e nem vilões na minha história, e todos são importantes igualmente. Por isso que preciso apresentar essa pessoa.

Smolder Werzak era um cara grande e robusto. Por andar sempre sem camisa alguma, era fácil ver seu corpo absurdamente musculoso, a um ponto impensável. Pinturas de guerra nas cores vermelha e roxa contornavam seu peito, costas e até um pouco no rosto. Usava shorts largo amarrado com uma corda no lugar da cinta, tudo na cor vermelha. Sua pele era mais escura e queimada pela vivencia direta ao sol. Seu rosto era grande e repuxado, e seu cabelo era de um estilo dread, um tanto comprido e amarrado no topo da cabeça, na cor negra. Com certeza, uma visão que você não tem todos os dias.

Seu porte físico não era derivado só de seu treino, mas sim, da linhagem de sua tribo. A Tribo Werzak é um povo que vive muito a leste, em uma área um pouco desértica e um tanto abandonada. Mas essa tribo vem de uma linhagem extremamente antiga de fortes guerreiros, que são muito territoriais. Tanto é que eles guerrearam contra reinos que tentaram abdicar aquele terreno... E saíram vitoriosos! Alguns reinos queriam ter aquela área para si, pois haviam minas subterrâneas de metais raros e até preciosos por ali.

Normalmente, um membro da Tribo não sai de sua casa, mas com Smolder, as coisas foram um tanto complicadas. Para começar, a tribo estava em uma situação verdadeiramente desesperadora, pois estavam sendo atacados por uma Guilda das Trevas contratada por algum reino, e os ataques constantes estavam matando todos os pobres cidadãos da tribo. Isso fez com que o chefe da tribo, pai de Smolder, pedisse a esse que fosse atrás de alguma ajuda de fora, de longe.

O homem fez uma viagem rápida, mas foi rejeitado por onde fosse. A fama da Tribo Werzak era conhecida por quase todo o mundo, pois eles eram guerreiros sedentos de sangue e loucos. Nenhuma Guilda queria aceitar o trabalho para não manchar o próprio nome, e nenhum outro Reino queria se meter em uma guerra de territórios de outro lugar. Smolder quase desistiu e quase voltou para casa de mãos vazias.

Até que Mulkior soube da história. E estamos falando de Mulkior. Estamos falando de alguém que se fere para não ver os outros feridos. Ele disse para o filho do chefe da tribo parar de se preocupar e parar de procurar ajuda, pois acabou de ser encontrado. Mulkior fez todos os membros que não estavam em missões longas voltarem à Base, preparou seus esquadrões e marcharam para a vila longínqua.

Lá lutaram diretamente contra a Guilda das Trevas, que eles nem sequer conseguiram saber o nome. Foi uma batalha de dois dias, onde a Guilda inimiga resolveu recuar por perder membros demais. A vitória tinha sido da Immortal Star, mas eles ainda acamparam por mais dois dias, para terem certeza de que os ataques haviam cessado. Só quando tiveram essa certeza, que eles começaram a ir embora.

Mas não foram de mãos vazias. A tribo os pagou generosamente, lhes dando um baú com tesouros antigos, o que os fez ganhar uma outra segurança: Mulkior disse que, como aquilo era demais, a Immortal Star estaria sempre a sua disposição para caso isso acontecesse novamente. Além disso, Smolder pediu formalmente para entrar na Guilda. Ele não queria só pagar a gentileza e a ajuda, como também adicionar a sua força na guilda para os membros que tinham perecido ali, e claro, para conhecer mais do mundo de uma forma mais livre.

Isso fazia apenas um mês. Smolder era o membro mais novo da Guilda, mas já tinha se dado bem com todos logo no início. Talvez aquilo que dizem que “uma amizade criada no campo de batalha é mais forte do que uma criada em uma festa”, seja verdade. Smolder era um cara que gostava de conversar com todo mundo, mesmo tendo problemas para puxar assunto de vez em quando. Seu tamanho e sua força absurda às vezes amedrontava as pessoas, mas ele não parecia ligar. Importante era que todos na Guilda o acolheram com fervor.

Ele empurrou com força a espada de esgrima de Gabriel usando um de seus machados. Era bom retratar que ele tinha dois, um em cada mão. E mais importante ainda: estavam pingando sangue sem parar. Gabriel voou uns três metros antes de amarrar a face e estreitar os olhos para o novo oponente. Por mais que existisse uma clara diferença de tamanho e bestialidade, já que o corpo de Smolder estava praticamente pintado de sangue nessa hora, o nobre da Tiger Claw não se amedrontou. Inclusive foi o primeiro a atacar.

Agora a situação no local que era o mais propício a dar tudo errado: o sul. Como eu já havia dito antes, a maioridade do exército da Aliança estava concentrada aqui, e a batalha já tinha chego a um ponto onde soldados lutavam dentro dos muros que cercavam a Capital. Parecia que a investida dos inimigos era poderosa até mesmo para as defesas lendárias de Riven.

Isso até chegarem os Rúnicos. Aqui eles vieram com um esquadrão mais numeroso, pois sabiam que era onde eles eram mais requisitados. Assim como nos outros horizontes, eles entraram na guerra com tudo. Atacaram sem receio os soldados que não tinham os uniformes de Riven sem pensarem duas vezes, abrindo caminho entre tropas e fazendo alguns outros recuarem.

Eles quase atacaram os membros da Immortal Star também, pois pareciam estar em um frenesi descontrolado quando chegaram. Alguns soldados de Riven tiveram que gritar para eles, falando que não eram inimigos, para que não houvesse um banho de sangue sem sentido entre aliados. Mesmo que eles tenham entendido o recado, Mana não tirou os olhos deles nem por um segundo.

Claro que nesse ponto, os membros da Immortal Star não faziam ideia do que era aquele esquadrão. Eles eram poderosos demais para serem meros soldados rasos. Mas não pareciam estar usando medalhas e indicações de patentes. O que deixava tudo mais confuso. Até mesmo as roupas deles eram um tanto estranhas, mesmo que tivessem as cores e padrões do Reino de Riven, junto com o brasão entalhado no peito.

Mana lembrou que San falou algo assim antes de saírem da Base. Ele disse que essa situação era bizarramente planejada para que Riven ficasse sempre um passo atrás em qualquer movimento dos inimigos. O que faria o reino utilizar todos seus recursos e mostrar todo o seu potencial militar para sair vitorioso. Será que esse esquadrão era isso? Um “recurso secreto” de Riven?

Pelo sim e pelo não, os membros restantes da Immortal Star continuaram a lutar com tudo que tinham. Kula tinha ficado bem mais à direita do muro, tentando manter ocupado uma tropa que tentava invadir por cima. Ela criou paredes de fogo para impedi-los, e quando isso não funcionava, explodia os soldados, empurrando eles de volta para fora. Nesse ponto, ela só tinha um ferimento ruim, que era uma flecha acertada em sua perna direita. Nada sério demais para que ela parasse de atacar e defender.

Já Mana estava fazendo o que fazia de melhor: matando. E de uma forma mais realista e bem menos romântica. Mana não estava “batalhando”, estava assassinando. O que ela fazia era correr pelo campo de batalha, evitando lutas diretas. Ela corria até um aliado lutando com um inimigo, dava a volta e o pegava pelas costas, o finalizando. Voltava a correr, atirava algumas facas envenenadas, dava voltas, ficava ligeiramente invisível e matava todos os que perdiam-na de vista. Ela tinha vários ferimentos de cortes e contusões, mas nenhum deles chegava a ser sério.

Nesse ponto, três membros da Guilda haviam caído no campo de batalha, e a cada nova morte, os membros da guilda sentiam um peso no coração. Lutavam com mais fervor, com uma mistura de justiça e vingança. Sabiam que isso não traria o aliado de volta, mas também sabiam que essa era a melhor forma de se lidar com a tristeza que aparecia.

Enfim, a aparição dos Rúnicos mudaram completamente o rumo de como as coisas estavam naquele ponto. Eles conseguiram lutar bem o suficiente para empurrar os esquadrões inimigos de volta, fazendo todos os que estavam dentro dos muros morrerem ou recuarem. Não demorou muito para que a defesa dali pudesse ser considerado um sucesso, o que era um feito um tanto incrível.

Depois, eles foram lutar na frente dos portões, com o intuito de criar uma zona de segurança para seus próprios aliados. Nesse ponto, Mana foi ajudar dois companheiros machucados enquanto Kula e mais outros três membros da Immortal Star, que tinham magias e armas de longo alcance, se juntaram aos arqueiros em cima dos muros para alvejar os inimigos mais próximos. Acredite em mim, essa batalha foi assustadoramente rápida. Talvez porque os soldados já estavam cansados enquanto os Rúnicos pareciam ter quase toda a energia ainda.

A luta criou montanhas de corpos, até que um apito foi soado. Depois outro, mais à esquerda, e outro mais à direita. E outro mais ao fundo e outro e depois mais outro. A Aliança dos Reinos Divinos estava dando a ordem de retirar e organizar. Foi assim que os soldados e tropas remanescentes deixaram o ataque para trás e recuaram, de volta aos campos avançados muito mais ao sul.

Os aliados finalmente conseguiram algum tempo para respirarem. Mas é também nesse ponto, onde a adrenalina some, que as preocupações, tristeza e desesperos aparecem. Kula e os outros membros da guilda desceram rápido dos muros e foram ao encontro de Mana, que já tinha conseguido a ajuda de um médico do exército para ajudar os dois amigos. Eles estavam encostados bem mais ao fundo, onde já começavam as casas e construções.

— Mana! — chamou Kula, se aproximando. — Como você está? E como eles estão?

— Só você mesma... — começou Mana, quando viu a situação da maga de fogo. — Para se preocupar com seus colegas antes de você mesma. Esse ferimento na sua perna é sério e você precisa cuidar disso o mais rápido possível. E eu já chamei um médico para isso.

— Ah, você não precisava...

— Sim, precisava. — cortou Mana, levantando um dedo acusatório. — Pode se sentar aqui e esperar seu tratamento. Temos que fazer isso antes que os ataques voltem a acontecer.

Não demorou nem três minutos para que um novo médico aparecesse com sua maleta e começasse a cuidar da nova ferida. Kula sentiu a dor novamente agora que estava parada, então foi um alívio que Mana tinha pensado nisso tão prontamente. O ferimento era um tanto sério e até o médico a reprendeu por continuar lutando daquele jeito. Nesse meio tempo, um outro médico ajudou a fazer uns curativos na própria Mana e nos outros aliados que ali estavam e que não tinham grandes ferimentos.

Também foi a hora de maior tristeza naquela área. Muitos soldados perderam colegas, e agora os carregavam para um outro canto, para serem tampados e depois sepultados. Choros e lamúrias encheu o ar, trazendo uma aura de tensão ruim para todos aqueles que ali descansavam. A correria de soldados levando corpos, armas e armamentos jogados por todos os cantos tornou todo o cenário ainda mais triste. E eles nem poderiam pensar naquilo como “fim”, pois sabia que a batalha pode ter acabado, mas não a guerra.

— Quantos de nós... — começou Kula, mas parou e respirou fundo. — Quantos de nós se foram?

— Três. — respondeu Mana, sem pensar duas vezes. Isso a afetava sim, mas em tempos de guerra, sua frieza era absoluta. Sua mente precisava estar afiada até o momento em que a guerra é declarada terminada. — E um outro saiu com sério risco de vida. Ele foi levado junto com outros soldados para os hospitais temporários do exército, mais para o centro da Capital. Infelizmente não tem como saber como ele estará, mas precisamos torcer para o bem dele.

Não foi só Kula que baixou a cabeça em silêncio, se forçando a não chorar. Todos os integrantes da Guilda que restavam também fecharam seus olhos. Uns rezaram, outros só se martirizaram. Nunca é fácil perder um colega que lutou ao seu lado, protegendo suas costas. Não haverá mais as risadas na hora da janta, não haverá mais as aventuras para terminar uma missão. Tudo que restará será a saudade. E talvez a raiva e o sentimento de vingança.

— Perdão interrompê-los nesse momento, mas preciso de sua atenção.

Foi uma voz vinda mais ao lado, e não era de um dos membros da Immortal Star. Todos se viraram ao mesmo tempo, encarando um soldado com uniforme padrão do exército de Riven. Ele fez uma continência rápida assim que teve a atenção de todos, e logo continuou falando.

— Eu sou o mensageiro geral da guarnição do sul. Nossos Comandantes estão prestes a fazer uma audiência sobre a situação total de nossa batalha, e um membro superior de sua Guilda é essencialmente requisitado. Gostaria de pedir para que me acompanhasse, por favor.

— Eu sou Vice Capitã do Primeiro Esquadrão de Ataque da Immortal Star. — falou Kula, ainda sentada. Ela tentou se levantar, mas mais uma vez, Mana a interrompeu.

— Ela é a oficial da Guilda com a maior patente aqui no momento, mas ela está ferida e precisa de descanso, principalmente se tivermos outro ataque. — falou a assassina, ficando cara a cara com o mensageiro. Os olhos dela estavam tão animalescos e ativos que o pobre soldado não pode fazer nada além de dar um passo para trás, com medo. — Existe algum problema se eu for no lugar dela?

— Problema nenhum, senhorita. — respondeu ele, quase tremendo. — Por favor, me siga.

Mana não deu tempo para a maga de fogo protestar. A assassina só ordenou que ela ficasse ali quietinha e pediu para os outros membros ficarem de olho nela, todos juntos. Todos que estavam na Guilda por mais de um mês sabia que não era uma boa ideia contrariar qualquer ordem de Mana quando ela estava no “Modo Vou Matar Sem Piedade”. Foi San que inventou isso, e ele apanhou o suficiente quando Mana descobriu.

Mana foi levada até uma grande barraca que ficava há uns vinte metros do portão principal do Sul da Capital. O portão em si já não existia mais, pois havia sido derrubado com aríetes na hora da investida. A bagunça de madeira, ferro, corpos e armas era maior ali perto. Também deu para ver que o exército já se movimentava para criar novas defesas em frente aos muros, criando armadilhas, estacas e colocando barreiras para atrapalhar qualquer nova investida dos inimigos.

Enfim entrou na barraca, onde o clima parecia quase tão pesado quanto os choros lá fora. Havia uma mesa redonda de centro, que tinha um mapa tático de Riven. Estava com marcadores de tropas e esquadrões, e um homem, que estava no lado oposto à entrada, mexia e arrumava tudo enquanto lia um papel, que provavelmente continha os dados atualizações da situação da Guerra. Mana já estava familiarizada com tudo aquilo, principalmente com o olhar duvidoso que todos lhe deram quando entrou. Ela não baixou a cabeça, e ainda retribuiu o olhar duro para todos os cinco homens e uma mulher que ali estavam. Quase pareceu um campeonato de “quem encara mais feio”, mas durou poucos segundos. Todos ali usavam uniformes militares de alta patente, alguns até com medalhas e brasões de Famílias Reais.

— Então você é a representante da Immortal Star? — perguntou um homem alto que ficava do lado daquele que mexia no mapa. Ele era o mais velho dali, visualmente falando.

— Sim, meu nome é Mana. Acredito que o alto escalão está considerando a minha Guilda como aliada nessa clara declaração de guerra de Semangard e seus aliados?

— Mana, a Lâmina Sanguinária... — falou a única mulher do recinto que não era a própria assassina. Ela tinha falado com ela mesma, em um tom de espanto.

— Não existe a possibilidade disso ser uma negativa, Senhorita Mana. — respondeu a pessoa que estava na ponta, aquela que organizava o mapa. Ele deixou sua atenção do papel e dos marcadores, olhando para a nova chegada. Sua fala foi complicada de entender porque ele falava com um forte sotaque, declarando abertamente que aquela não era sua língua natal. — Muitos soldados e até mesmo algumas pessoas que aqui estão acreditam firmemente que a ajuda da Immortal Star foi essencial para que nós sobrevivêssemos a essa invasão. Inclusive também acabei de ficar sabendo... — continuou ele, dando dois tapinhas em um amontoado de folhas que tinha na mesa em sua frente. — Que vocês mandaram alguns membros nos ajudarem no Portão Norte.

— Sim, e não só para o Norte, como para o Oeste também. — respondeu Mana, cruzando os braços. — E nós teríamos mais pessoas para ajudar, mas alguns membros ficaram espalhados pela Capital ajudando as pessoas que foram atacadas pelos monstros ou presas no fogo mágico.

— Espere. — falou uma outra pessoa, que estava mais à esquerda. Era parrudo e tinha uma grande barba negra, que juntamente com suas cicatrizes no rosto, criava uma visão de alguém ou com muita experiência, ou com pouco tempo para se importar com o visual. — O que você quer dizer com “fogo mágico”?

— Vocês ainda não sabem? — perguntou Mana, um tanto confusa. Imediatamente ela percebeu que o atraso da chegada de informações era algo que também não fazia muito sentido. — O fogo que consumiu a cidade não era algo criado naturalmente. Era de uma arma mágica que foi instalada em diversos pontos da cidade para que o caos se espalhasse mais rapidamente.

Um curto silencio se prosseguiu depois disso. Alguns se olharam, parecendo perguntar um para o outro, se eles sabiam do que Mana estava falando. Claramente ninguém sabia. Eles estavam lidando com um plano de ataque ardiloso, que obviamente estava surtindo efeito. O que os estrategistas de Riven estavam fazendo? Por que os informantes do Exército estavam tão atrasados? Melhor ainda, por que eles estão demorando tanto para trazer as informações para cá, enquanto eles conseguiram agir extremamente rápido naquele ataque à Base da Guilda?

Havia alguma peça que não estava se encaixando. O que estava faltando? E o que San diria de tudo isso? San! Por que pensar nele agora? Esquece aquele idiota! Mana balançou muito rapidamente a cabeça, tentando se livrar daquela memória aleatória. Outra apareceu. Ela acabou de se tocar que não sabia o que San faria depois que terminasse de passar suas dicas para cada membro. Para qual lado ele tinha ido? Será que foi para o Oeste? Norte? A assassina mordeu o lábio inferior para forçar a se esquecer dele.

— Não podemos perder mais tempo. — falou novamente aquele que estava na ponta da mesa. Ele parecia ser o comandante geral dessa guarnição, mas ao mesmo tempo, tinha um ar um tanto característico de outro lugar. Talvez era o sotaque. — Deixe-me apresentar formalmente. Sou Masahur Desman, Coronel da Tropa Estacionária do Sul de Riven, sob ordens diretas do General Berul e da Vossa Excelência, o Rei. Agora que estão todos os envolvidos aqui, posso começar dizendo que algumas informações que irei passar são de total sigilo, até mesmo para vocês, oficiais diretos do nosso estimado Exército. — a atenção de todos era perfeita, e era possível ver suor escorrendo de alguns deles. Mana não conhecia aquela pessoa, mas sabia que a posição de Coronel era a segunda maior patente do Exército de Riven, abaixo apenas do General. — A tropa que aqui chegou como cavalaria contém soldados especiais, treinados secretamente para servir com afinco nossa nação, e devem ser tratados como Oficiais Reais, como um esquadrão singular. Eles são chamados de Rúnicos e podem utilizar poderes, armas e magias como os magos de guildas.

— Treinados secretamente, você diz? — perguntou outro homem, aquele que era mais velho. — Por que nosso Exército treinaria um esquadrão inteiro sem que nenhum de nós saiba?

— Existem algumas informações que ainda estão sendo mantidas como confidenciais, e a resposta para essa pergunta é uma delas. — continuou o Coronel, balançando a cabeça negativamente. — Tudo que foi me passado é que esses soldados deveriam ser realmente secretos e só deveriam ser usados em um caso extremo, como o de agora.

— Pelo o que eu ouvi desses próprios soldados, eles não pareciam ser os únicos, ou não estarem todos aqui. — perguntou a mulher do Exército. — Existem mais desses soldados?

— Exatamente Capitã Reraina. — respondeu Masahur, mexendo na folha de papel que tinha em mãos e depois apontando para o mapa, mandando a atenção de todos para lá. — Os Rúnicos foram divididos em quatro tropas e mandados para os quatro portões da nossa Capital. Pelas informações que eu tenho aqui, eles já conseguiram mudar drasticamente o rumo da batalha no norte. — falou, e remexeu os marcadores no mapa na parte mais alta, que representava o norte. — No leste, a tropa chegou um tanto atrasada. Ao chegarem lá, o General Raziel já tinha tomado conta total da situação.

Houve um murmúrio rápido dos oficiais. Algo como uma satisfação, ou um alívio grande ao ouvir aquelas palavras. Não só por saberem que um dos lados da Capital estava segura, mas também por saber o quão confiável e poderoso era o General do Leste. Alguns de seus feitos eram tão grandes que as vezes pareciam mentiras, ou boas histórias para contos de heroísmo. Mana permaneceu calada, e tudo que conseguiu pensar foi: “San estava certo em não mandar ninguém para lá”.

— Eu não tenho nenhuma atualização da situação do oeste, mas sei que a tropa já chegou lá. Acreditem meus companheiros, com a ajuda deles, a chance mínima que nossos inimigos tinham contra nós, acabou de se extinguir completamente!

— Adoraria ter esse pensamento positivo, Coronel Masahur, senhor. — falou um outro homem, que estava bem do lado direito de Mana. Ele parecia ser o mais novo de todos, parecendo ter um pouco menos de vinte dois anos. Talvez até menos ainda. — Admito que a aparição dos Rúnicos realmente mudou tudo, mas eu vi a grandiosidade do exército inimigo. Seu número não pode ser subestimado.

— Não será subestimado, meu caro companheiro. Mas ainda há uma coisa que não disse. — continuou falando Masahur, e mais uma vez balançou o papel que tinha em mãos. — Soubemos que os soldados da Fronteira do Leste, que foram deixados para trás por causa de uma passagem secreta dos inimigos, está marchando para cá em alta velocidade e que chegam em muito pouco tempo. Assim que chegarem, os Rúnicos que foram dar suporte para aquele lado virão para cá. Com dois esquadrões deles, nós iremos virar o jogo para nosso lado. Faremos um ataque coordenado indo desse ponto até esse e esse. — falou ele, e apontou dois pontos no mapa enquanto falava.

Daqui em diante se seguiu uma conversa sobre estratégia de ataque, invasão, investida e desmembramento de formação inimiga. Não irei detalhar cada ponto na conversa. Em vez disso, posso dizer que a ideia era que em vez de esperarem ser atacados, Riven partiria para o ataque e avançaria diretamente contra o Posto Avançado da Aliança inimiga, vencendo essa parte da Guerra e deixando o ataque deles sem salvação. Mana observou tudo, mas não fez nenhum comentário sobre a estratégia. Tudo o que ela falou, depois de toda a conversa e ordens para pelotões, foi:

— E onde a Immortal Star se encaixa nisso?

— Sua Guilda fez um trabalho excepcional nos dando suporte, e somos todos realmente agradecidos. — respondeu o Coronel, a olhando diretamente. — Mas essa parte é trabalho exclusivo do Exército Real de Riven e sua guilda não precisa se envolver. Tudo que gostaríamos de pedir é para que vocês se mantenham aqui nos muros servindo como defesa para caso haja algum novo ataque dos inimigos antes de nossas tropas avancem.

— Você tem razão. — respondeu Mana, deixando um claro desdém em suas palavras. — Não temos ordens reais para nos juntarmos a essa batalha. Nossa luta aqui foi completamente territorial e emergencial. Lutamos para proteger nossas casas e nossas famílias, e seremos gratos se pudermos continuar fazendo isso de mãos dadas ao Exército Real. — era incrível como as palavras de uma assassina que estava pronta para derramar sangue podiam penetrar a carne e ossos daquelas pessoas. Dois dos oficiais chegaram a engolir saliva, ao perceberem a força na voz e expressão da representante de Guilda. — Ficaremos aqui na Guarnição Sul em alerta e agiremos caso nossos inimigos tentem uma nova investida. Agradeço a compreensão de todos e espero boas notícias de seu plano de ataque. Confio no bom trabalho do Exército Real e sei que vocês nos trarão uma grandiosa vitória. Agora me retiro e os deixo com suas devidas funções. Bom dia.

Mana deu as costas sem esperar por nenhuma outra resposta e saiu da barraca, sendo encarada assustadoramente pelo mesmo soldado que a trouxe até ali. Ela andou pesadamente e rapidamente de volta para onde seus amigos estavam a esperando. Estava tensa demais, nervosa demais. Havia algo muito errado naquilo tudo. O próprio exército não sabia da existência daquela tropa de magos, os Rúnicos? Como assim? O que estava acontecendo naquela guerra? San disse que estava achando tudo engraçado pela situação ser completamente maluca, e só agora Mana estava conseguindo entender o porquê. “E sai da minha cabeça, San!” foi o próximo pensamento dela antes de chegar até onde seus amigos recebiam tratamento.

— Venham aqui. — pediu Mana para todos os membros da Guilda que estavam ali, só esperando por ela. A assassina parecia séria e ninguém pensou duas vezes antes de se aproximar dela e dos três membros feridos recostados em uma parede, descansando. Um deles estava dormindo. — Vou ser direta. O Exército está nos considerando aliados durante essa crise, mas não quer nossa ajuda para atacar, apenas para defender esse posto. Enquanto essa é uma ótima notícia, eu percebi que existe mesmo alguma coisa muito errada acontecendo dentro do exército.

— Está falando da “situação sem sentido” que San comentou? — perguntou Kula, em primeira mão.

— Não só isso. — respondeu Mana, olhando para trás e para os lados antes de continuar. Ela parecia estar procurando suspeitos. Tinha uma sensação horrível de estar sendo observada. — Existem atrasos de informações de um lado, mas dados recém-chegados de outro. Alguns detalhes não se encaixam. Até mesmo os oficiais que encontrei pareciam um tanto perdidos nisso tudo. Eu estou com um péssimo pressentimento sobre essa Guerra, e acredito que não estamos tão seguros, mesmo aqui dentro.

— Eu não sei como foi sua conversa, mas confio em seu julgamento, Mana. — disse Kula, fazendo um esforço para se levantar. Sua perna fisgou de dor, mas era bem menor do que ela esperava. Magias de cura faziam milagres. — Acho que precisamos cuidar melhor dos nossos companheiros, antes de mais nada. Podemos retirar os feridos e os que caíram em batalha, e voltar para a Base. Talvez conseguir outros membros para ficar aqui. O que acha?

— É uma ótima ideia. — disse Mana, se virando para os outros membros que ali estavam. — Quansir e Artemira, posso contar com vocês para levarem nossos dois companheiros feridos para a Base? — “Mas é claro” e “É pra já” foram o que eles responderam prontamente. — Quando chegarem lá, troquem de lugar com dois membros que estão na defesa de nossa Base e mande-os para cá. Vocês merecem descanso. — imediatamente depois disso os dois membros foram até os outros dois feridos e os ajudaram a se levantar. Um deles estava com uma muleta, tinha a perna esquerda quebrada. Logo partiram em direção a Base da Guilda. — Também preciso de alguém que vá até o cemitério de contagem do Exército. Nossos três companheiros que caíram em batalha estão lá, provavelmente para estarem na contagem de mortos do Exército. Precisamos identificá-los e pedir os papéis para a liberação deles.

— Eu posso fazer isso, Mana. — falou Ignis, um outro membro.

A assassina só acenou com a cabeça e agradeceu, e o rapaz partiu imediatamente para a direita, na direção de onde estaria a maior parte dos choros e tristezas. Kula percebeu a tensão no rosto de sua antiga companheira, e lhe ofereceu para sentar e beber água, que haviam trazido para todos. Mana assim o fez, tentando livrar um pouco daquelas preocupações horríveis que tinha na cabeça.

Claro que não ficou tudo tão tranquilo por muito tempo. Nunca fica. A aura de azar que algumas pessoas tinham parecia ser mística, atraindo problemas que nem deveria existir. Os membros restantes tentaram conversar entre si, falando coisas que não eram das batalhas, das mortes, de preocupações. Falaram coisas cotidianas. Sobre o que queriam comer. Sobre onde queriam ir. Perguntaram sobre a situação de Kula com Mulkior, que a fez ficar um tanto vermelha. Os ares pareciam mudar nos dez minutos que eles tiveram de paz.

— Vocês são os membros da Immortal Star, correto?

Cinco soldados completamente armados tinham chegado, marchando até eles. O que estava mais à frente tinha um quepe com uma estrela, indicando que era um Capitão. Foi ele que fez a pergunta. Mana se levantou e deu um passo em frente, ainda com seu copo com água gelada dentro. O que eles queriam, depois de tudo aquilo? Recompensar pelos seus membros caídos? Duvidoso.

— Sou o Capitão Morris da Décima Quinta Tropa Estacionária da Capital. — se apresentou, tirando um rolo de papel do bolso em seguida. — Estou aqui para lhes passar um informativo de maior importância. Gostaria de total atenção, por favor. — assim todos fizeram, ficando lado a lado, para ouvir o que o Capitão tinha a dizer. — “Por ordem desta, vinda diretamente de Sua Excelência, Rei Julius Ferdinand Di Solter XII, é ordenada a total redenção de todos os membros da Guilda Immortal Star. Todos serão tratados como prisioneiros de guerra e irão ser tratados com o respeito dos mesmos. Não há risco nenhum de suas vidas, caso aceitem pacificamente a ordem. Seus líderes irão comparecer em uma audiência real em presença a Vossa Excelência, onde participarão de uma triagem justa e aberta. Peço total compreensão de todos os membros e me desculpo pelo transtorno nesse momento inoportuno. Assinado, Julius Ferdinand Di Solter XII, Rei do Reino de Riven.”. Espero que tenham compreendido tudo perfeitamente, e caso necessitem, eu posso repetir a carta.

Era inacreditável como uma situação ruim poderia contornar e se tornar AINDA pior. Então a informação finalmente chegou aqui. Mas espere, não tinha sido tudo muito em cima da hora demais? Logo depois deles serem convidados e tratados como aliados? A participarem da reunião estratégica do exército?

Mana paralisou. Era isso! Finalmente algo tinha feito sentido! Ela olhou para seus colegas, todos com expressões de desespero. Até mesmo Kula não sabia que cara deveria fazer para seus companheiros. Ela era a Vice Capitã, deveria sempre estar portando uma expressão confiante. Mas não deu. Não conseguiu. Mana olhou de novo para o tal Capitão, que abaixava o papel e esperava uma resposta favorável. Depois olhou para os soldados que ali estavam. Armados. Armaduras grossas, completas. Armas embainhadas, mas provavelmente afiadas o bastante. Onde estavam as algemas? Não! Não, não, não! Aquilo era uma armadilha! Como ela não previu isso antes? San teria previsto! O Exército de Riven não é “um só”! Ele está dividido! Existem traidores dentro do Exército! E eles querem usar a Guilda como desculpa para... ALGO! Confusão invadiu sua mente. Suor, preocupação. Medo talvez. Raiva. Mas era isso. Sim, era isso, com certeza! Eles estavam sendo usados!

— Ma... na...? — perguntou Kula, pausadamente, quando se virou e encontrou os olhos de Mana mudando de cor, junto com sua expressão ficando mais rígida.

A aura da assassina começou a aparecer facilmente visível até para os não magos. A aura negra, pulsante. Os soldados que ali estavam deram um passo para trás, tentando saber o que era aquilo. Seja lá o que fosse, era perigoso. Os braços de Mana tremeram e as duas lâminas negras de sua katar apareceram em um só puxão. Mana se virou para os companheiros e falou, com uma voz furiosa e incontestável:

— Corram!


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Notas finais do capítulo

E no próximo capítulo, veremos como um certo ninja se vira para escapar de um lugar que nem ele sabe onde fica



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