—Neji, espera -gritava Hinata pela rua, enquanto o primo andava depressa.

—O que é? Já não estragou meu dia o suficiente?

—Mas o que foi que eu fiz? Foi porque interrompi sua conversa com a aluna nova? Você gostou dela?

—O quê? Você ficou maluca? Conheci ela hoje, não tem como ter gostado logo de cara!

—Claro que sim, muitas paixões são à primeira vista -disse sorridente.

—Tipo quais? Você com o Naruto? -indagou fazendo a garota corar.

—Eu... e... Na... Naruto? Não... não, isso não...

Vejam como ela sabe disfarçar bem. A Hinata não sabe mentir nem por ao menos dez segundos da vida dela. Se precisarem contar um segredo, aviso, não contem à ela. Não que ela vá sair espalhando seu segredo por aí, mas se alguém perguntar sobre, ela vai ficar que nem pimenta, então é bem fácil perceber quando está mentindo ou escondendo algo, diferente de mim. Eu minto com uma naturalidade tão grande que às vezes até assusta. Meu tio diz que é falta de vergonha na cara. Ultimamente está meio difícil mentir pra ele, já que me conhece há muito tempo e já sabe das minhas artimanhas.

Chegando em casa, Neji e Hinata encontraram Hiashi na cozinha.

—Ei, como foi o primeiro dia? -perguntou Hiashi.

—Foi muito leg... -começou Hinata sorridente.

—Um saco -interrompeu Neji ríspido.

—Por que vocês dois não me esperaram? -perguntou Hannabi entrando na cozinha.

—Porque ninguém aqui é seu guarda-costa -disse Neji fazendo colocando um pedaço de queijo dentro do pão.

—Não custava nada ter esperado a irmã de vocês -advertiu Hiashi.

—Desculpe pai, eu esqueci completamente -disse Hinata envergonhada.

—Ela não é minha irmã -Neji falou ainda mastigando.

—Foi só uma maneira de falar -explicou Hiashi.- Que bom que os três estão juntos, assim falo uma vez só.

—Aconteceu alguma coisa, pai? -Hinata perguntou preocupada.

—Você recebeu um diagnóstico dizendo que tem uma doença terminal? -perguntou Neji.

—Neji -advertiu Hinata.

—Não... para a sua tristeza, ainda vai ter que me aturar por mais tempo. É sobre o avô de vocês, ele virá passar um tempo aqui conosco.

—O quê? -disse Neji.- Aquele velho ainda não morreu?

—Ei, rapaz, fale com respeito do seu avô -disse Hiashi.

A maioria das pessoas tinha avôs normais, velhinhos que viam os netos poucas vezes no ano e quando viam faziam tudo que os pequeninos queriam. Mas esse é o meu caso? Claro que não! O meu avô é um grande babaca, que se sente superior às pessoas, que sempre quer ter a razão e que passa por cima de qualquer um que atravessar o seu caminho. Se vocês, leitores, consideram que ser pai é apenas fazer um filho e mandar outra pessoa cuidar, então talvez esse homem possa ser chamado de pai. Ele não criou meu pai, simplesmente contratou uma babá e o jogou para ela o criar, diferente do que fez com o outro filho. Aquele velho sempre gostou mais do Hiashi do que do meu pai e não fazia o menor esforço em esconder isso. Papai não gostava dele, apenas o engolia porque era o que tinha. E o pior de tudo, o velho quer entrar para o livro de recordes de tempo de vida. Os anos passam, as pessoas morrem e ele quer viver eternamente.

—Qual é, ele já tem o quê? Cem anos? Quer viver pela eternidade? -Neji falou para a graça das primas.

—Olha Neji, eu sei que você não se dá bem com ele, mas tente fazer um esforço, por favor -pediu Hiashi.

—Eu que não me dou com ele? Ele que é um grande idiota!

—Olha como fala, garoto. Você irá vê-lo por poucas vezes, basta chegar da escola e falar um "oi". Vou precisar sair por alguns minutos, lanchem alguma coisa -disse caminhando em direção à porta.

—Eu gosto do vovô, ele sempre é legal comigo -disse Hannabi.

—Mas é claro que é, você é filha do filhinho preferido dele -retrucou Neji.

—O que está comendo? -perguntou Hannabi com os olhos na comida de Neji.- É um sanduíche? Cadê o meu?

—Tá espalhado por aí -disse Neji-, é só pegar os ingredientes, juntar tudo e tá feito!

—Faz um pra mim!

—Eu não, não sou seu escravo!

—Pode deixar Hannabi, eu faço um pra você -disse Hinata sorrindo.

Olha a idiota. Fica dando margem à pestinha fazer ela de seviçal, problema é dela, ninguém mandou ser besta.

—Hoje nós tiramos fotos para o anuário -começou Hannabi mostrando um papel a Neji e Hinata-, olhem como eu saí bem na imagem.

—Mas é claro, o mal não sai na foto -disse Neji dando uma última mordida no sanduíche.

—Eu vou dizer pro meu pai -ameaçou Hannabi.

—Você pode dizer até para o Papa que eu não tô nem aí. Fui, vou dormir e se alguma de vocês me acordar, garanto que será a última ação das suas vidas -disse Neji subindo as escadas.

No dia seguinte, os três garotos acordaram e desceram as escadas para tomar café e sair para escola.

—Bom dia -falou Hiashi-, hoje o avô de vocês chegará e quero os três aqui às uma em ponto, entenderam?

—Sim -falaram Hinata e Hannabi.

—Neji? -perguntou o homem para o garoto que revirava os olhos.- Preciso da sua palavra.

—Tá...

—Estou falando sério, às uma em ponto.

—Eu entendi, não sou surdo.

—Acho bom mesmo, agora tomem café e vão para aula.

Depois de alguns minutos, Neji e as primas caminharam em direção à escola. Hannabi seguiu para sua sala, enquanto Hinata e Neji foram para a sua. Chegando lá, habitualmente Hinata sentou-se na primeira cadeira e Neji procurou um lugar mais para o fundo. O garoto chegou logo procurando por Tenten, que já estava sentada ao lado de Sakura.

—Bom dia, pessoal -disse Neji à Tenten, Sakura, Naruto e Ino.

—Bom dia -respondeu Tenten sorridente.

—Pronto para mais um dia de aula? -Naruto perguntou.

—Fazer o quê? -Neji falou sentando-se na cadeira.

As aulas daquela terça-feira passaram vagarosamente. O intervalo quase que não chegou. Na hora de comer, Neji procurou acompanhar Tenten à cantina, mas a garota estava cercada pelas meninas da sala que não paravam de conversar com ela e não davam espaço para o garoto se aproximar.

—Olha só, no seu segundo dia e já arranjou várias amigas -disse Naruto se recostando contra a mesma parede que Neji estava observando Tenten.- Parte do mérito, claro, é meu, já que a apresentei para a alto escalão do colégio.

Alto escalão? É assim que o cabeçudo se refere aos considerados mais populares do colégio. E ele está se gabando à toa, essas pessoas não querem ver ele perto nem pintado de ouro, já que o consideram trapalhão demais para fazer parte do grupinho deles. Pra que isso? Eu não quero fazer parte de um grupo de pessoas que se acham melhores que os outros. Prefiro ser tachado de excluído, pelo menos tenho amigos legais, podem até alguns serem um tanto maluquinhos, como este loiro aqui, mas pelo menos são meus amigos para o que der e vier.

O sinal soou indicando que a próxima aula já estava por vir e aos poucos o pátio do colégio foi se esvaziando. Já na sala, os alunos sentaram para assistir as duas últimas aulas, que seriam de matemática.

—Ugh... -gemeu Naruto deitando a cabeça na mesa.- Duas aulas seguidas de matemática? Eles querem o quê? Matar a gente?

—Não reclama, ô Naruto, o Asuma é quem irá nos dar essa matéria, garanto que a aula dele será bem melhor do que a da Anko no ano passado.

—Bom dia, pessoal -disse Asuma entrando na sala.- Hoje como é o primeiro dia vou aliviar um pouco a matéria, mas vão se acostumando logo à estudar pesado esse ano, entenderam? 

—Sim- respondeu a classe.

—Bom, para quem não me conhece, sou o professor Asuma e esse ano, irei ensiná-los matemática. Vou escrever algumas equações no quadro e quero que vocês as anotem, tudo bem? -disse sorrindo e começando à escrever.

—Uhm... que saco -disse Naruto levantando sua cabeça da mesa, deixando um pouco de baba nela.

—Neji -chamou Tenten discretamente.

—Ah, oi -respondeu o garoto virando-se e abrindo um pequeno sorriso para a menina atrás de sua carteira.

—Oi. Eu mal consegui falar com você hoje...

—É que as meninas estão animadas com gente nova na sala. Geralmente são poucos os novatos, então cercaram você a manhã inteira -disse com um sorriso cansado.

—Está tudo bem?

—Mais ou menos. Já tive dias melhores.

—Aconteceu alguma coisa?

—Nada demais, só que às vezes lembro que ao terminar a aula, volto pra casa sem nenhuma perspectiva de vida.

—Poxa vida...

—É, mas eu já estou acostumado, mas é que hoje ainda vou ter que aturar o meu avô que vem passar alguns dias lá em casa e eu não me dou muito bem com ele.

—Sem conversar pessoal, anotem -pediu Asuma, fazendo Neji e Tenten abrirem seus cadernos e começarem à escrever.

A aula até que terminou rápido e assim que o sinal tocou, todos se despediram uns dos outros e saíram em direção às suas casas.

—Vamos, Neji -disse Hinata já na saída do colégio.- Vovô já deve estar lá em casa e papai não quer que nos atrasemos.

—Não sei se reparou, mas eu estou andando.

—Tá mais para se arrastando -disse Hannabi ao se juntar aos outros dois.

—Estou caminhando para o tédio, você quer o quê? Uma cara de felicidade?

—Neji!

—O que é? -disse o garoto de modo grosseiro.

Era Tenten. A garota corria para alcançá-los e se assustou com o grito do garoto.

—Ah... oi Tenten, desculpe, não quis gritar, não vi que era você.

—Deixa pra lá, não tem importância -disse a garota abrindo um sorriso.- Eu queria saber se você quer vir comigo à um lugar.

—Que lugar? -Neji perguntou intrigado.

—É um lugar legal, vai gostar de lá, aceita? -pediu sorridente.

—Me parece uma boa opção -respondeu Neji, também sorrindo.

—Mas Neji, papai disse que nos queria em casa às uma em ponto.

—Ainda são doze, chegarei à tempo de disfarçar meu nojo ao ver aquele velho. 

—Vamos, então? -perguntou Tenten.

—Às suas ordens -disse Neji sorrindo, acompanhando a garota na direção contrária na que deveria estar indo, deixando as primas para trás.