Impasses II: Entre o fogo e o dever. escrita por Relsanli


Capítulo 2
A resposta está em você, Ouça-a.


Notas iniciais do capítulo

Depois de praticamente um ano, estou de volta. Quero agradecer por cada comentário, mensagens, broncas e etc. Dedico esse capitulo a todas vocês.



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PDV EMMETT

            Trinta e nove dias. E eu já estava ao ponto de enlouquecer a qualquer instante. Obviamente sabia que o desespero nesse momento de nada iria ajudar, mas era impossível, era impossível não cogitar a possibilidade de não conseguir encontrar a princesa. Minha mente era um turbilhão de sentimentos; meu dever enquanto guarda real estava em frangalhos, minha honra enquanto homem no chão, meu orgulho enquanto filho de quem eu sou me matava aos poucos. O que meu pai iria pensar de mim? Meu pai que deu sua vida para protegê-la, que durante anos a resguardou como sua própria filha, e eu, eu havia a perdido bem a baixo dos meus olhos sem poder fazer nada. E existia o outro lado, o outro lado que me consumia mais do que qualquer outra coisa, era obvio que enquanto cidadão inglês perder uma princesa seria de um abalo talvez irreparável, mas perdê-la... Não a princesa, mas ela. Pensar na possibilidade de não a ver mais, de não escutar a sua risada, o seu tom de voz autoritário, era doloroso demais para mim. Eu não podia permitir que isso acontecesse, eu dei minha palavra que a protegeria e era meu dever cumprir.

            Andava pelos corredores e de longe pude ouvir as vozes do Czar, do rei e do príncipe Royce na sala a conversarem provavelmente sobre a princesa. Minha vontade era de desembainhar a minha espada e colocá-la na garganta do King até que ele me dissesse a localização exata da princesa, mas caso isso eu fizesse quem perderia a cabeça seria eu. O mais sensato foi seguir para fora do palácio a fim de tomar um pouco de ar e talvez pensar em novas estratégias e possibilidades. Eu continuei a seguir o tal empregado francês como havíamos acordado na última reunião, mas já fazia cerca de cinco dias que o empregado havia retornado para a França. E para a nossa sorte quando indagamos o motivo de tal partida, a justificativa foi que ele havia regressado por conta de sua filha doente. Com essa nova notícia todo o nosso avanço havia regredido à estaca zero e mais uma vez não havia nada em mãos. Frustração era o que todos nós sentíamos no momento.

            Continuava a pensar sobre, quando avistei ao longe a rainha entrar sozinha nos estábulos. Minha razão dizia que devia deixá-la só, mas meu instinto a seguiu com a desculpa de estar indo apenas exercer o meu papel real. Quando cheguei ao estábulo pude ver a rainha fazendo carinho na égua da princesa. Ela parecia conversar com o animal, sua voz estava abatida e quase inaudível, e sem desviar o olhar começou a contar uma história; no início achei que ela estava apenas falando alto, mas logo percebi que ela falava diretamente a mim mesmo sem direcionar o seu olhar.

            - Rosalie ganhou essa égua enquanto ainda era criança, lembro-me claramente do seu rostinho quando viu o animal pela primeira vez. Os rapazes viviam implicando com ela por ser menina; Rosalie nunca aceitou muito bem essa ideia de mulheres não poderem fazer e participar das mesmas coisas que os homens, ela dizia que era injusto e que era tão boa e até melhor que qualquer um deles, e bom, temos que admitir que ela tinha e ainda tem certa razão. Mas um dia o Edward e o Jasper implicaram com o fato de mulheres não saberem montar em cavalos, e quando montavam só sabiam ficar lá com aquelas pernas de lado acenando. Rosalie obviamente não aceitou isso e garantiu que sabia montar tão bem quanto eles, mas ela não tinha um cavalo para poder provar isso e eu jamais deixaria minha filha pequena sair por aí montando em um animal. Mas você conhece a Rosalie, ela não iria desistir tão cedo. Lembro-me que ela nunca se deu bem com o príncipe King, mas sempre soube aproveitar as vantagens de se ter um noivado mesmo jovem. Ela fez com que ele desse a égua para ela e ele não pode dizer não, ela mesma escolheu o animal, a treinou, cuidou e desde aquele dia Rosalie mostrou aos meninos o quão boa uma mulher poderia ser na montaria. Ela começou a ganhar as corridas, as competições e os rapazes tiveram que admitir que ela não era apenas mais uma menininha da corte que montava de pernas de lado. Ela sempre foi tão teimosa, sempre soube passar por cima das dificuldades, pois mesmo sendo mulher e tendo todas as limitações que nossa cultura nos impõe, ela faz questão de quebrar os costumes e mostrar a todos o quão boa é. As pessoas a subestimam, McCarthy, por ter um rosto bonito e vir de uma família real; subestimam a sua força e coragem, mas ela sempre mostra a todos que eles estão errados, e dessa vez não será diferente, conheço a minha filha, ela não irá desistir, não importa aonde esteja ela não abaixará a cabeça e vai, mais uma vez, mostrar a todos que antes de ser uma princesa ela é uma mulher guerreira digna do futuro trono desse país. – Ouvir a rainha dizer tais coisas fez com que acendesse a esperança dentro de mim; ela tinha razão, Rosalie não era uma donzela indefesa, e ali olhando para a rainha podia ver claramente da onde ela extraia tanta força e coragem. Seria normal encontrar a rainha chorando e se lamentando, na verdade era o que todos estavam esperando, mas durante todo esse tempo ela se manteve de pé e de cabeça erguida e ali estava o motivo, ela sabia quem a filha era.

            - Eu lhe dou a minha palavra majestade que faço e farei todo o possível para encontrar a sua filha e trazê-la em segurança.

            - Não precisa dar-me a sua palavra meu jovem, eu sei o quanto está sofrendo com tudo isso, todos nós estamos. Eu e meu marido estamos preocupados com a nossa filha, os meninos e suas esposas com a amiga que tanto adoram, a Inglaterra com a sua herdeira, os franceses e os russos por suas futilidades por disputa de poder e você... Você por amá-la. Não me esqueci daquela nossa última conversa que tivemos nesse mesmo lugar no dia em que tudo isso começou. Sei que irá encontrar a minha filha, McCarthy, e não é apenas porque és um homem competente no que faz, mas sim porque é um homem apaixonado mesmo que ainda não tenha percebido isso com toda a sua força, e o amor meu jovem... O amor é capaz de loucuras para manter a quem nós amamos por perto.

            - A senhora, majestade, tem um dom de me fazer enxergar coisas que nem eu mesmo enxergo em mim; de me dar à esperança que acho ser impossível possuir.

            - É por isso que sou a rainha desse país. – E assim ela se retirou, me deixando ali concordando silenciosamente com suas palavras. E foi naquele momento que tudo clareou, eu iria encontrar a Rosalie, mas não seria com todas aquelas estratégias e reuniões, eu a encontraria com aquilo que eu tenho dentro de mim, o amor daria um jeito.

PDV ROSALIE

            Eu não sabia mais qual era o meu estado, afinal tantos dias longe de um espelho causava essa dúvida e, embora minha estima quisesse me convencer de que eu continuava linda, o estado crítico do meu vestido e meu cabelo diziam totalmente o contrário, não conseguia nem mesmo penteá-lo com os dedos de tão sujo que o meu cabelo estava. E era nesses momentos que eu agradecia por estar sozinha nessa cela. Era bem provável que o inverno já tivesse chegado uma vez que os dias estavam ficando cada vez mais frios, o que obviamente me deixava agoniada por não ter algo quente para me proteger dele. Aonde é que iríamos imaginar que um dia a princesa da Inglaterra estaria presa em um lugar imundo, suja, com frio e descalça, sim, descalça porque eu não aguentava mais aqueles sapatos.

            Outro detalhe que eu deveria ressaltar é que já fazia alguns dias que o tratamento que eu costumava receber havia mudado, era de costume que alguém enviasse a comida três vezes ao dia e agora recebo duas, ou as vezes uma, e na pior das hipóteses nem recebo nada, nem mesmo um copo com água, o que me leva a pensar que já deveria estar mais magra do que o normal. Não que eu recebesse um tratamento real, mas não chegava a ser tratada como uma bandida da corte; no entanto, agora é exatamente isso que eu pareço, uma bandida, uma mulher presa sem nenhum tratamento necessário para se manter viva. O que queriam comigo afinal? Haviam mudado de ideia e agora acham melhor me matarem de uma vez? Será que o objetivo do meu sequestro não foi alcançado e agora irão simplesmente me descartar? Porque se for... Irei mostrar que ninguém me dispensa assim tão fácil. 

            A comida não veio naquele dia em nenhum momento e no outro recebi apenas um pedaço de pão duro e um pouco de água e tão-somente isso. Estava fraca, com frio, cansada e com medo, não conseguia ver nenhuma saída e ninguém parecia estar perto de me encontrar. Os dias estavam passando hora muito lentos, hora rápidos demais e eu estava prestes a permitir que o desespero tomasse conta do meu corpo. Mas o que eu iria fazer? Chorar? Gritar? Não... Era exatamente isso que esperavam de mim e eu já havia tentado dialogar, já havia gritado, e admito que cheguei a chorar algumas noites com medo. Mas apesar do meu estado eu queria que o Emmett estivesse aqui, me perguntava aonde é que ele estaria, o que estaria fazendo, se estava preocupado comigo, se estava sofrendo. Eu sabia que minha família e amigos deveriam estar extremamente preocupados, mas ele... Fui tirada dele assim que descobri que eu sentia algo a mais, depois daquele beijo que não consigo tirar da minha cabeça... Eu sentia falta dele, da proteção que ele me dava e desejava poder tê-la ao menos mais uma vez. Lembrar dele me fez perceber um fato. Eu havia tentado de tudo: gritado, implorado, chorado, e só havia uma única coisa que eu ainda não havia tentado e que eles não estavam esperando, e seria justamente isso que eu iria fazer... Fugir, chegou a hora de fugir daqui.

            Esperei alguns dias, comi muito pouco e estava fraca. Passei as noites e dias acordada analisando cada detalhe, cada pedra, só havia uma única saída e era por ela que eu passaria. Por incrível que pareça, não deixavam guardas na minha porta e ninguém ficava para me observar, mais uma prova de que jamais cogitariam a possibilidade de uma fuga. Nas poucas vezes que vinham me alimentar o ritual era o mesmo: a porta era aberta e o tal cara que escondia seu rosto com um tipo de máscara entrava sempre sozinho, não falava nada nunca nem ouvi a sua voz; parecia não ter armas, pois nunca as vi, mas isso não significava que não as tinha. Ele entrava deixava o prato e se retirava logo em seguida, sem nenhuma preocupação, como se não esperasse por nada e isso só mostrava o quanto me subestimava, e eu adorava quando me subestimavam.

            Logo hoje foi mais um dia normal na minha mais solitária cela, porém hoje eu botaria o meu plano em prática. Assim que percebi que ninguém nem mesmo se aproximava tirei o espartilho e arranquei todas as cordas que nele tinha. Elas eram extremamente resistentes e as coloquei por baixo da manga do vestido, era oque eu usaria para tentar ao menos enforcar o tal cara, era pouco eu sabia, arriscado demais, mas era o que eu possuía. Então tudo o que me restava era esperar e não tardou muito para que eu escutasse ao longe os passos daquele único homem que vinha ao meu encontro esporadicamente. O que significava que era hora do espetáculo. Me joguei naquele chão frio, molhado, sujo, imundo, nojento e fingi que estava não exatamente morta, mas bem próxima a isso.

            Então a porta se abriu, ouvi o barulho do prato ser colocado ali e percebi que o homem se aproximava, nesse momento eu já tirava a corda de dentro da manga do vestido a deixando em mãos. Ele me virou e podia sentir ele me analisando.

— Mas que droga! Como pode ter ficado doente de ontem para hoje? Senhorita! Senhorita acorde, isso é uma ordem. - Uma ordem? Ordem? Mas quem ele... Mas antes que falasse qualquer outra coisa aproveitei que ele estava perto de mais e dei um murro bem em sua cara com a mão direita. Graças a todos os treinamentos e brigas que tive com Edward e Jasper eu sabia muito bem como dar um murro em um homem. Meu murro fez com que ele se afastasse o suficiente para que eu levantasse e passasse a corda em seu pescoço, eu havia aprendido a como mobilizar um homem.

            O homem tentava se debater, mas segurei aquela corda com toda a força que eu tinha, estava difícil de segurar, mas eu precisava. Queria esperar por um desmaio, mas por conta de estar fraca não conseguia o sufocar com força o suficiente para isso. Soltei a corda e lhe dei outro murro correndo o mais rápido que podia em direção a porta, a chave estava nela, “burro” nem mesmo tirava a chave da porta, mas era muita prepotência mesmo. Fechei aquela cela com aquele homem ali, olhei para ele e o ódio que ele carregava nos olhos era indecifrável, eu deveria ter tirado aquela máscara, mas me esqueci de pensar nessa ideia. O importante é que naquele momento eu estava fora daquela cela.

            Olhei para todos os lados e só enxerguei uma luz de muito longe e seria para lá que eu iria eu não fazia a mínima ideia para onde aquela luz iria me levar, mas naquele momento tudo que importava era correr. E foi o que eu fiz, corri, corri como se tudo que eu possuía dependesse daquilo, todo a minha vida estava resumida naquele único momento, corri. Cheguei aonde a luz vinha, era uma escada que dava a um tipo de porta, era como estar num subsolo, subi aquelas escadas e empurrei aquela porta que por sinal estavam abertas. Provavelmente aquele homem não havia se dado o luxo de trancá-las, mas eu dei, as tranquei com o cadeado que ficava do lado de fora e corri novamente.

            Era noite e estava muito escuro e frio, o inverno definitivamente havia chegado e junto com ele a neve o que tornava difícil de correr, de respirar, de enxergar. Minha mente dizia para continuar correndo, era uma floresta e o que mais me assustava era que ela me parecia semelhantes, era como se fosse a floresta do palácio, só que não a parte que eu costumava cavalgar. Meu consciente gritava “corre”, “continua”, “não pare agora”, mas meu corpo não aguentava mais e aos poucos minhas pernas foram cedendo, o frio me castigava, meu nariz já sangrava e eu não conseguia mais respirar até que chegou o momento em que tudo que vi foi o chão branco e depois mais nada e antes que fosse entregue à escuridão total eu me lembrei dele e pedi silenciosamente que os ventos o trouxessem até a mim.

PDV EMMETT

            Aquela estava sendo uma noite diferente, havia ido para cama mais cedo mesmo sabendo que dormir não seria o caso a ocorrer. Pensava nela e apenas nela, estava frio lá fora, nevando, e eu me perguntava se estava coberta o suficiente para não estar sofrendo com o clima, me perguntava se estava comendo, se estava bem. Era meio mãe esses pensamentos, mas eu me preocupava com cada detalhe. As horas foram se passando e a neve caia cada vez mais naquela imensa floresta, Rosalie estava ali em algum lugar, eu podia sentir isso.

            Não sei exatamente quando peguei no sono e nem porque peguei, mas estava sonhando e no sonho eu a via, estava magra, seu nariz sangrava, vestido sujo e rasgado nem mesmo parecia a mulher que um dia eu havia visto mais bela do que qualquer outra dama da província. Mas ela estava ali, correndo de algo ou de alguém, tropeçava, caia, mas se levantava tentando se manter firme o máximo que conseguia. Eu podia enxergar a floresta em volta dela, a neve e então de repente ela caiu no chão em cima da neve e antes mesmo que seus olhos se fechassem ela olhou para mim e naqueles olhos azuis turquesa que eu tanto amava pude ouvi seu pedido por ajuda.

            Acordei gritando o seu nome, eu suava e meu coração parecia querer sair pela boca, o que me fez levantar da cama em um salto. Eu precisava fazer alguma coisa, olhava para a janela e era impossível não lembrar do sonho, não lembrar dela, não pensar na possibilidade de que ela estava lá precisando de mim e, em um impulso, vesti a minha roupa e peguei a minha espada; eu não poderia ficar ali, não naquela noite. Sai daquela casa onde todos já estavam dormindo ou se encontravam em seus aposentos então fui direto ao estábulo selar um dos cavalos, eu iria atrás dela e a traria de volta. Montei e corri em direção daquela floresta como se minha vida dependesse daquilo, e talvez realmente dependesse, nada me importava, o frio não me incomodava assim como a neve também não. Passei por entre as árvores e não entendia para onde estava indo, não era uma área da qual eu já havia ido, embora era nítido de que se tratava da mesma floresta, da mesma propriedade, mas era pouco explorada, a floresta era mais aberta por aqui o que fazia com que a neve no chão fosse mais densa uma vez que não tinha muitas árvores para amenizar o seu acúmulo. Estava escuro e eu não havia trazido nada que pudesse me ajudar, mas isso não iria impedir que eu continuasse. Algo dentro de mim me dizia que devia continuar, que devia seguir, o meu peito ardia tamanha a necessidade que eu tinha de achá-la.

            Horas haviam se passado, mas eu não retornaria, não sem ela. Aos poucos pude ver os primeiros raios de sol saírem deixando a vista mais clara. Continuei a cavalgar pela  floresta e eu podia sentir de que estava perto de encontrar alguma coisa. Passei por uma árvore de galhos baixos e de algum modo avistei um pouco de sangue nele, o sangue tinha marcas de dedos como se alguém estivesse sangrando e houvesse se apoiado ali, e eu soube, soube que era dela. Saí do cavalo e resolvi continuar a pé, não tardou muito para que mesmo de longe eu visse, era como um pequeno monte de neve acumulada, mas eu conseguia avistar um pouco de tecido nele e o formato de uma pessoa, não qualquer pessoa, mas ela.

            Meu corpo todo tremeu, meu sangue fervia e meu coração acelerava, corri em sua direção e o medo de que tivesse chegado tarde demais me consumia. Me aproximei desesperado e retirei toda aquela neve que a cobria, seu cabelo parecia congelado, estava descalça e seus pés estavam roxos de tanto frio, sua boca, pele e dedos todos estavam roxos, seu nariz tinha sangue congelado neles, fria... Ela estava extremamente fria. Aproximei meu rosto perto do seu e pude sentir sua respiração fraca, um alivio, ela estava viva. Retirei o meu casaco e a cobri, a peguei em meu colo e ela permaneceu ali inconsciente sem nem reparar na minha presença, eu só queria a levar de volta para casa e deixá-la em segurança. Fiz todo o trajeto de volta sem ela nem mesmo se mexer, parecia uma boneca de porcelana em meus braços.

            O Caminho de volta pareceu ser bem mais curto do que a vinda, talvez pelo meu desespero ou outra coisa. E ao chegar em frente do castelo um dos empregados correu em minha direção, parecia afoito e aliviado em me ver.

— Senhor McCarthy todos estão a sua... Ai meu Deus! É a princesa! O senhor encontrou a princesa! – Sua voz ia de um misto de surpresa, alegria e preocupação tudo nas mesmas palavras.

— Sim Garret eu a encontrei, mande que alguém vá depressa chamar o médico da cidade e diga que venha imediatamente, a princesa precisa de cuidados urgentes.

— Sim senhor! Enviarei agora mesmo! – E assim disparou em direção aos demais guardas que correram depressa em seus cavalos para encontrarem o doutor.

            Peguei a Rosalie em meus braços novamente e desci do cavalo. Meu coração ainda não havia desacelerado. O meu medo dela estar partindo ainda me assombrava; ela não acordava, não se mexia e sua respiração era extremamente fraca. Subi aquelas escadas como se estivesse carregando em meus braços o meu bem mais precioso e talvez realmente eu estivesse. A porta foi aberta e na sala só se encontrava uma única pessoa, a rainha. Não sei descrever o seu rosto quando me viu com suas filhas em meus braços, seu rosto era preocupação e alegria plena ao mesmo tempo. A vi colocar de lado o que estava segurando e se colocar de pé, e foi como se ela tivesse acordado de um transe em que quando, de repente, correu em minha direção.

— Meu Deus, minha filha, é a minha filha! Rosalie meu amor! CARLISLE! CARLISLE! – A rainha gritava e tocava desesperadamente na filha ao mesmo tempo tentando ver quais eram os seus ferimentos.

             Não demorou muito para que o rei viesse o mais rápido possível com sua espada desembainhada e o Sir. Withtloock e Sir. Cullen logo atrás junto com o Czar e os Simons. Todos parados no topo da escada olhando para nós três ali sem conseguirem ter alguma reação imediata.

— Carlisle a nossa filha! Veja! É ela Carlisle! – A rainha chorava sem parar.

            O rei desceu aquela escada, já com lágrimas nos olhos, pegou a sua filha dos meus braços e a abraçou. E embora fosse reconfortante ver tal cena o fato da Rosalie permanecer inconsciente ainda me preocupava.

— Precisamos chamar um médico Esme, ela está extremamente fria e não acorda.

— Já mandei que fizessem isso, majestade.

— NANCY! Nancy prepare imediatamente o quarto da Rosalie, ligue a lareira, coloque a panela de pressão no edredom e deixe o lugar quente o bastante para ela.

             Em questão de segundo o quarto da Rosalie já estava pronto e ela já se encontrava deitada em sua cama, a rainha juntamente com a Nancy haviam trocado a vestimenta da princesa e a limpado da melhor forma que podiam. E agora estávamos todos ali naquele quarto olhando para ela num misto de alívio, alegria e preocupação. Eu deveria estar ali analisando a expressão facial de cada um tentando talvez imaginar quem havia sido o responsável, mas eu só conseguia manter meus olhos fixos nela e me fazer perguntas silenciosas. “O que aconteceu com você Rosalie?”, “Aonde você estava?”, “Por favor me diga que ninguém a machucou?”, “Como conseguiu sair?”. Eram tantas perguntas que precisavam de resposta, mas no momento eu iria desfrutar unicamente do fato de a ter de volta.

            Não tardou para que o médico chegasse aos aposentos e a rainha ordenou que todos nós nos retirássemos para dar privacidade ao tratamento. Me retirei contra a minha vontade tinha medo de virar as costas e ela simplesmente sumir, ou de acordar e descobrir que não se passa de um sonho. Mas não tive escolhas se não obedecer e ficar na sala juntamente com os demais esperando por notícias.

— Como a encontrou McCarthy? Aonde a encontrou? – O Sir. Cullen me perguntou.

— Eu não sei retratar exatamente como ou o porquê majestade, mas acordei no meio da noite e algo me dizia que deveria ir para aqueles lados da floresta. E foi o que fiz, cavalguei a noite inteira por entre as árvores sem parar um único segundo. A encontrei coberta pela neve no meio da floresta desta mesma propriedade, embora fosse uma parte da floresta da qual eu ainda não havia tido o conhecimento.

— Como era a floresta meu jovem? – O rei me indagou.

— Não era a floresta do sul, majestade, aquela a qual estamos acostumados a ir, é a do norte, ela é aberta, tem árvores cortadas para que pudessem se formar clareiras e por serem áreas abertas a neve é muito mais densa daquele lado.

— Acho que sei exatamente qual parte da floresta estamos falando. – Sir. Whitloock comentou.

— Qual Jasper?

— Majestade, quando esse palácio foi construído e eu assumi o cargo como comandante real,  eu juntamente com meus homens me encarreguei de criar uma área para que dificultasse a fuga dos prisioneiros caso existisse. Como o McCarthy mesmo citou sobre as árvores cortadas, nós fizemos isso para que caso algum prisioneiro fugisse não houvesse árvores para que eles se escondessem no meio delas dificultando assim as fugas. Essa parte da floresta se tornou praticamente abandonada, desde que o Senhor decretou que o cárcere do palácio fosse exclusivo para crimes de traição. Dessa forma não temos mantido cativo nenhum prisioneiro, uma vez que esse crime nunca chegou a ocorrer em nosso reino.

— E como fazemos para chegar nesses cárceres? Quais são as passagens? – Indagou o rei.

— Existe somente uma passagem majestade, a mesma entrada é a mesma saída que também se encontra na floresta.

— Iremos esperar que minha filha acorde, ela com toda a certeza saberá nos dar mais informações. Por hora, vamos apenas aguardar o médico com as notícias e viver um drama de cada vez. No momento só quero me aliviar por saber que minha filha está novamente nesta casa e segura. E graças a você meu jovem, serei eternamente grato por ter salvado a vida da minha filha, assim como o seu pai você a protegeu da morte.

— Obrigado majestade, é uma honra ter a encontrado. Não fiz nada mais do que a minha obrigação.

— Continue cumprindo suas obrigações com essa mesma honra e será recompensado por isso.

            Algumas horas se passaram e logo o médico desceu para estar ao nosso encontro acompanhado das demais mulheres. Diante da presença do médio todos nós nos calamos para ouvir o que ele havia a dizer.

— Majestades. – Uma breve reverencia - É um milagre vossa filha estar viva, alteza, e sem muitos danos, pois mais algumas horas exposta ao frio inglês e ela não teria resistido. Mas a vossa filha ficará bem, a mantenham aquecida e a alimentem bem, pois esta fraca e com febre; deem muita água, ela está desidratada. Não posso dizer quando irá acordar, uma vez que seu corpo está cansado e provavelmente a sua mente também, mas ela recobrará a consciência em breve. Virei duas vezes ao dia para passar os curativos e dar-lhe os remédios necessários, no mais, não há com que se preocupar, a princesa está fora de perigo. – O suspiro de alívio por tal notícia foi unânime naquela sala.

— Obrigada doutor, não sabe o quanto alegra o coração de uma mãe e de um pai ouvir tais palavras. Um de nossos homens o levará para casa e o buscará amanhã no horário que o senhor indicar.

— Vossa majestade não tem o que me agradecer, além de ser o meu trabalho foi de uma alegria imensa acordar com a notícia de que a nossa princesa estava mais uma vez em sua casa, e de volta para o seu povo sã e salva.

            Minha vontade era de subir aquelas escadas e entrar naquele aposento e ficar ali até que a princesa acordasse, mas isso não me seria permitido. Ainda era cedo e alguns dos casais resolveram voltar para a cama para aproveitar o resto da manhã que sobrava. A rainha e o rei se dirigiram para o quarto da filha e eu me dirigi para o meu, talvez dormisse, talvez apenas desfrutasse do momento de paz e alegria.

PDV ESME

            Ter a minha filha de volta era a maior alegria que eu poderia ter nesse momento. Ver a Rosalie ali naquela cama, mesmo que fraca, mas viva e novamente segura, não tinha valor maior para uma mãe. Olhava para o meu esposo e seu olhar de felicidade refletia o meu, estávamos plenos e em paz novamente, ao menos naquele momento.

— Eu sabia que a teríamos de volta Carlisle, sabia que a encontraríamos.

— Você sempre sabe não é Esme? Enquanto muitas mulheres estariam desesperadas você manteve sua compostura a todo tempo tendo a convicção de que esse dia chegaria. Tantos dias em que eu estive prestes a perder a cabeça e você não me permitiu.

— Amor, eu me desesperei sim, chorei como toda mãe choraria por sua filha. Mas jamais me esqueci de quem a nossa filha era, da mulher forte que temos.

— Eu me esqueci muitas das vezes e ver o McCarthy com ela em seus braços foi algo do qual eu não consigo transpor em palavras. Ainda não consigo compreender em como ele a encontrou, nem mesmo ele soube explicar, apenas disse que sentiu a necessidade de ir procurá-la “para aqueles lados da floresta”. Mas algo o levou a exatamente do lugar ao seu encontro.

— Não foi somente a competência que levou o McCarthy até a nossa filha, às vezes os maiores segredos da vida não são adquiridos através de coisas explicáveis.

— Você me dizia quase todas as noites que ele iria encontrá-la. Como poderia saber Esme? Como conseguia ter tanta certeza em algo?

— Abra os seus olhos, meu marido, e você verá o mesmo que eu. És um rei muito atencioso para com o seu povo, mas tem deixado de enxergar o que esta diante dos seus próprios olhos. E quando você conseguir enxergar com clareza e plenitude prometa para mim que não será o elo que irá colocar tudo em risco e sim o pai que a nossa filha irá precisar.

— Você me assusta a dizer tais coisas, mas eu confio em você, sempre confiarei. E tem a minha palavra, meu amor, que não irei impedir o que quer esteja se referindo, o que você considera como o melhor para a nossa filha, então o melhor será.


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Notas finais do capítulo

Então nossa Rose está de volta. Salva, segura, protegida...Será? Uma hora ela irá acordar e exigirá explicações precisas não é mesmo?! Quem será que está por trás de tudo isso?! Veremos nos próximos capítulos.

Espero que tenham gostado! Beijos gelados.



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