Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 27
O sinal




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Depois de tantos sucedidos inesperados, Diana nunca mais tivera tempo para descontrair, para aproveitar a sua adolescência, para mergulhar nas águas azuis que tanto amava. Naquele Domingo, o sol brilhava intensamente, queimando a vasta cortina de fumo e poluição que derretia dolorosamente a atmosfera e os pulmões de Nova Iorque, a morena encontrava-se deitada numa toalha lilás, à beira da incrível e fresca piscina da mansão dos Vingadores, trajava um bonito biquíni rosa com alguns adornos em branco que lhe assentava muito bem. Olhava docemente a água que tornava a superfície de azulejo azul muito lisa e suave, tateava com as pontas dos dedos a relva a seu lado, sentindo com satisfação aquele verde maravilhoso que lhe preenchia a mente de bons pensamentos. Sacudiu uma mancha de cabelo achocolatado e muito molhado que deslizara para o seu distraído rosto, avistando alguns heróis que conversavam ao longe animadamente. Tinha que aproveitar aquele momento, pois logo, logo o Capitão América viria para um novo e difícil treino.

— Olá minha querida! – Saudou a voz alegre e deliciada de Tony Stark, avançando calmamente sobre o manto relvado, olhando discretamente as pernas da morena, não resistia a uma esbelta figura feminina.

— Olá Tony! – Exclamou a vingadora ensonada, fitando o herói que se debruçava a seu lado. – Precisas de alguma coisa? – Perguntou, encarando aqueles inteligentes olhos azuis onde se refletia os raios solares.

— Não, apenas queria ver uma cara bonita para variar. – Respondeu o milionário, acariciando o cabelo da Sereia. – Está um lindo dia, não é verdade? – Questionou, desviando o olhar para a parte superior da perna esquerda da jovem, que o olhou desconfiada, uma estranha e indistinta expressão apareceu no seu rosto.

— Existe algum problema com as minhas pernas? – Interrogou Diana visivelmente irritada, sentando-se na toalha.

— Claro que não, tenho que ir. – Disse Stark abismado, erguendo-se e partindo a grande velocidade.

— O que é que lhe deu, aquele cérebro está todo lixado! – Exclamou a adolescente incrédula com aquela inesperada atitude sem fundamento aparente. – Falo com ele mais tarde. – Decidiu, voltando a se estender na toalha.

— Não me parece. – Afirmou a voz de Steve Rogers em tom amável.

— Cap! Já são horas do treino? Bolas o tempo passa a correr quando nos divertimos, caramba! – Exclamou Diana aborrecida, erguendo-se e colocando o seu fato que estava guardado numa bolsa a seu lado. – Vamos a isso, Cap. 

— Gosto dessa atitude, vamos lá soldado! – Incentivou o primeiro Vingador aplaudindo energicamente.

                Entre murros, pontapés, corridas de vários quilómetros, inúmeras flexões, acrobáticas projecções e algumas palavras de encorajamento, o treino corria às mil maravilhas.

— Vamos, soldado não quero desistências, vamos continua! – Exclamava Steve em voz audível, enquanto Diana lutava desesperadamente contra o saco de Boxe, desferindo-lhe diversos murros, aquilo já durava a mais ou menos quarenta minutos, e os seus dedos já sangravam abundantemente, manchando o seu traje de escarlate. – O que são algumas gotas de sangue comparadas com uma grande vitória, dá-lhe com força!

                Depois de concluída aquela fase do treino, a morena teve permissão para descansar durante alguns merecidos minutos e beber um pouco de água. Steve olhava-a com uma expressão distante, provavelmente estaria a planear a próxima etapa do treino.

— Bem, agora que já aquecemos, vamos trabalhar um pouco o combate corpo a corpo, o que achas? – Sugeriu Rogers, passando um pouco de desinfetante nas feridas de sua aluna.

— Qual é a opção seguinte? – Perguntou a Vingadora num sussurro sufocante devido ao intenso ardor que sentia nos dedos.

— Então, a outra opção é levares uma tareia dos vilões com quem te cruzares, qual delas achas mais atrativa? – Questionou o bravo Capitão sorrindo.

— Ok, ok, pensando bem, não é todos os dias que podemos dar uma surra no grande Capitão América! – Brincou a Sereia, escondendo o nervosismo que sentia de cada vez que lutava contra o marco mais icónico dos Estados Unidos, era uma verdadeira honra.

— Sem dúvida a condição física dela sofreu grandes e positivas alterações, a resistência aumentou gradualmente, a velocidade cresceu a olhos vistos, os ataques estão cada vez mais certeiros e eficazes, e a sua coragem e determinação de vingar perante barreiras é uma enorme ajuda, é com certeza a maior impulsionadora da sua magnífica progressão, estás no bom caminho miúda. – Pensava Rogers honestamente, nunca nenhum aluno o tivera surpreendido tanto, bem talvez apenas um, contudo esse não se podia considerar um discípulo mas sim um insubstituível e valioso companheiro de armas, com quem partilhara a vida, os valores morais, o sofrimento e a pátria americana. – Vamos lá ver como ela reage a isto. – Cismou, lançando o seu lendário escudo contra a determinada Sereia, nunca antes o tinha feito, porém andava ansioso por testar aquele golpe de mestre contra as infindáveis e desconhecidas habilidades da morena, o que mais se esconderia nas sombras de toda aquela coragem, determinação e força de vontade?

                Diana observou apreensiva o voo brilhante do poderoso escudo, sabia que não possuía força suficiente para o deter, e mesmo que o conseguisse neutralizar partiria a mão no segundo seguinte, o que não lhe agradava nada, a distância diminuía drasticamente, já sentia o sabor do metal nos seus lábios, então uma ideia iluminou-lhe a mente assustada, talvez resultasse, só o saberia se tivesse a ousadia de tentar. Num atlético e inesperado salto, mergulhou sem pensar nas profundezas azuis da piscina, fugindo ao potente impacto do escudo protetor, alcançou com tranquilidade o chão liso, e sentou-se respirando fundo, não acreditava que conseguira, contudo conseguira mesmo, não havia equívoco possível. Steve olhava incrédulo para o seu leal escudo que jazia imóvel na relva, nunca antes tinha falhado, observou a silhueta difusa da morena, vagueando pelas profundezas longínquas e claras das águas azuis e deslizantes, como é que ela conseguia? Pensava impressionado, sentando-se na borda molhada e quase coberta pela noite, como o tempo corre quando nos divertimos!

— Finalmente! – Exclamou Steve entusiasmado, depois de meia hora de espera analítica, vendo Diana emergir elegantemente à tona suave da água.

— Esperaste por mim, desculpa, quando estou na água esqueço-me do resto do mundo, devias experimentar. – Explicou a Vingadora, sacudindo a cabeleira castanha, não reparando no ar impressionado que brilhava nos olhos azuis do Capitão. – O que se passa? – Perguntou confusa.

— Tens noção de quanto tempo estiveste submersa? – Questionou Steve.

— Perto de meia hora. Qual é o problema? Faço isto desde pequena. – Ripostou Diana em voz alta, não compreendendo toda aquela admiração repentina.

— Desde pequena, dizes tu? Nunca achaste que era demasiado tempo para uma miúda sem qualquer capacidade ou talento especial? – Questionou Rogers.

— Não existe nada de estranho comigo, deve haver milhares de pessoas que conseguem aguentar tempos recorde submersas, tenho a certeza disso. – Defendeu-se a morena irritada, perdendo a paciência, não estava para suportar mais acusações, então o Capitão América não era assim tão diferente do Nick Fury, pensava tristemente.

— Estás a interpretar de forma errada as minhas palavras. Não entendes o que se passou aqui? Acabámos de presenciar mais um maravilhoso dote teu, e diga-se de passagem é mesmo fascinante. – Elogiou o super-soldado sinceramente.

— Peço desculpa pela minha falta de educação e pela minha grande insolência. – Pediu Diana timidamente, cobrindo o doce rosto devido á vergonha que sentia, como é que pudera pensar que o Capitão América a estava a julgar, sabia perfeitamente que ele jamais cometeria tal injustiça.

— Qualquer pessoa na tua situação reagiria da mesma forma evasiva, não tens que pedir desculpa. Já agora bela maneira de te esquivares ao meu escudo. – Aplaudiu o louro sorrindo delicadamente, gostava mesmo daquela miúda. – Queres tomar uma bebida? Já chega de treino por hoje. Um outro dia exploraremos esse novo talento com a ajuda do Tony se o pretenderes. – Sugeriu, a morena reparou que o seu rosto corara ligeiramente no seguimento do convite.

— Sim, claro que aceito, mas vamos até lá fora, se não vires nenhum inconveniente nisso, claro. – Respondeu a Vingadora feliz, talvez tivesse a ir longe de mais com aquela proposta, todavia Steve desfez as suas dúvidas assentindo positivamente com a cabeça.

                Juntos entraram na vasta sala apinhada, era sempre o mesmo caos antes do jantar, todos os olhares se cruzaram com a Sereia e com Rogers, olhares interrogativos que ambos ignoraram. Diana subiu até ao seu quarto a fim de colocar uma roupa seca, colocou um vestido rosa de renda muito rodado que a Madame Lisa lhe oferecera algum tempo antes de partir para o local onde os anjos flutuam, calçou umas sabrinas pretas e penteou o cabelo emaranhado, pegou na sua bolsa de linha preta e saiu do quarto quase a correr.

— Onde vão? – Perguntou a voz arrogante de Clint, à medida que a porta do elevador se abria com um ruido estridente.

— Não tens nada a ver com isso, mete-te na tua vidinha. – Respondeu a Sereia retribuindo a arrogância em grande escala, Rogers entrara no elevador, evitando escutar a conversa.

— Tens alguma coisa com ele? – Inquiriu Barton categoricamente, sempre fora um homem frontal.

— Mas tu estás bêbedo, ou algo do género? Só uma pessoa retardada e estúpida como tu é que seria capaz de pensar algo tão sórdido como isso, és ridículo! – Afirmou a morena irritada, correndo até Steve que a aguardava pensativo, deixando o Arqueiro nas suas costas praguejando algo que ela não queria perceber.

— Achas que é boa ideia? – Questionou Steve indeciso, quando alcançaram o subterrâneo parque de estacionamento.

— Claro que tenho, que mal tem dois amigos saírem para tomar um café? Eu cá não vejo mal nenhum nisso. – Respondeu a Vingadora sorrindo, olhando para o seu carro e simultaneamente para a potente mota do Capitão.

— Vamos no teu carro, ou na minha mota? – Perguntou Rogers pouco seguro daquela “Aventura”.

— Acho que não é boa ideia irmos de mota. – Disse a morena, apontando para o seu vestido esvoaçante.

— Então vamos lá! – Exclamou o super-soldado feliz, caminhando até à fascinante viatura negra, sorrindo internamente.

— Bolas! Tenho que ter cuidado com a velocidade! – Comentou Diana, parando com uma ruidosa derrapagem a fim de evitar passar a um sinal vermelho.

— Pois, tens mesmo. Eu não te salvo da polícia! – Preveniu Steve divertido olhando o conta-quilómetros. – Onde vamos nós afinal?

— Vamos a uma pastelaria muito especial para mim, ia lá muitas vezes com a Madame Lisa quando era mais nova, tem umas fatias de bolo de chocolate deliciosas, tenho a certeza que vais adorar. – Respondeu a morena tristemente, aquelas recordações ainda lhe faziam sangrar o coração, era muito duro acreditar que a doce Elisabeth já não estava entre eles. – Há muito tempo que não vou a Brooklyn, vai ser bom voltar ao bairro que me viu crescer. – Constatou distraidamente.

— A nossa casa é sempre a nossa casa, por pior e repulsiva que seja, nunca deixa de ser o nosso cantinho especial, a nossa zona de conforto absoluto, o nosso refúgio mais valioso. – Afirmou o Capitão América sabiamente, as saudades do seu passado, do seu tempo, da sua antiga casa, dos seus valiosos amigos ainda assombrava os seus pesadelos, os seus pensamentos como uma letal trovoada de bombas incandescentes, como se a Guerra outrora derrotada ainda fervilhasse no seu interior. – Não achas que devíamos jantar primeiro? Eu não tenho muita fome, contudo tu precisas de manter uma alimentação equilibrada. – Perguntou, observando a figura franzina da morena.

— Eu também não tenho muita fome, prefiro petiscar apenas alguma coia. – Respondeu a Vingadora sorrindo, a sensação de ter alguém que se preocupava com ela era simplesmente maravilhosa, única e bem-vinda.

                Finalmente a paisagem pobre, miserável, suja, viciante e envenenada de Brooklyn deslizara arrogantemente, injustamente, hipocritamente perante os seus olhos, alguns jovens correram amedrontados em diversas direções com a chegada daquela suspeita viatura de luxo, derramando sobre o alcatrão diversos saquinhos, certamente de droga.

— O que achas que as pessoas pensam quando nos vêm juntos? Talvez condenem a minha ética. – Questionou o Primeiro Vingador curioso, enquanto Diana lhe indicava de forma efusiva a entrada iluminada da pastelaria.

— Quero lá saber disso, não me interessa o que as pessoas pensam. Se alguém perguntar digo que tu és meu namorado e pronto, já estou a imaginar a cara de escândalo que irão certamente fazer. – Retorquiu a Vingadora sorrindo, entrando a passada determinada no estabelecimento de consumo.

— Acho que é melhor não dizeres isso. – Discordou Rogers preocupado, sentando-se num solitário canto, olhando em volta, a pastelaria estava praticamente deserta, à excepção de dois jovens que conversavam distraidamente não reparando nos movimentos circundantes.

— Olha, está ali o Peter! – Exclamou Diana, correndo até á mesa onde o seu amigo estava instalado, muito bem acompanhado. – Olá Peter, olá Mary, nunca esperei vê-los aqui, mas fico feliz! – Saudou, sorrindo de forma traquina.

— Falamos amanhã na escola, acho que o teu amigo não merece ficar sozinha neste local tão condecorado. – Despediu-se o Aranha, percebendo o verdadeiro significado escondido por trás do sorriso da sua melhor amiga, conhecia bem de mais, ela não iria deixar escapar esta oportunidade. – Já agora quem é o teu amigo? – Perguntou, olhando com mais atenção para a imponente figura sentada ao canto da sala. – Meu Deus!

— Até amanhã Peter, e já agora esse sorriso de parvo combina com o teu cabelo. – Brincou a Sereia sorridente, voltando a fazer companhia ao bravo soldado Americano. – Desculpa, ele é o meu melhor amigo, e amanhã vamos ter uma longa conversa! – Explicou, avistando a amável senhora Teresa, proprietária da pastelaria. – Olá Teresa, como está? – Saudou, levantando-se pela segunda vez da cadeira, beijando a senhora no rosto.

— Diana! Como tu estás crescida, como tu estás bonita e sempre muito educada, há tanto tempo que não te via, estou tão feliz por não te teres esquecido de nós! – Exclamou Teresa visivelmente comovida, recordando todas aquelas vezes em que Diana, pela mão de Elisabeth, entravam alegremente na sua pastelaria para comerem uma grande fatia de bolo acabadinho de sair do forno.

— Este é o Steve, um grande amigo meu! – Apresentou a morena despreocupada, vendo que os pequenos olhinhos cor de mel da doce vendedora recaíam sobre o Capitão.

— Um amigo da Diana é meu amigo também! – Exclamou a senhora, dando um valente beijo na face de Steve que o deixou ligeiramente incomodado, contudo retribuiu educadamente o cumprimento. – Então são duas fatias de bolo de chocolate e dois batidos de morango? – Perguntou.

— Para mim é perfeito, e para ti, Steve? – Respondeu a Sereia alegremente, olhando Rogers, este acenou afirmativamente com a cabeça, era maravilhoso retornar às origens.

                Os dois heróis comeram deliciados aquele manjar digno dos Deuses, Teresa tinha um talento nato para a confeção de iguarias doceiras, desfrutaram cada segundo daquele precioso momento de descontração, sorrindo a cada sinal, cada gesto, cada garfada, de cada vez que Diana ficava com a boca completamente coberta de chocolate, sujando o rosto de Steve pois dera-lhe um demorado beijo, este sorriu ainda mais.

— Tu és tramada! – Elogiou Rogers, puxando os guardanapos que Diana divertida pousara longe do seu alcance.

— Até me ofendes com essa calúnia Rogers! – Brincou a Vingadora, fingindo várias lágrimas. – Estás a gostar? – Perguntou apreensiva.

— Claro que estou, tu és ótima companhia! – Respondeu Steve sinceramente, pousando o seu copo vazio no tampo da mesa.

— Tu também és ótimo. – Proferiu a morena sorrindo, abraçando inesperadamente Steve com força, este não evitou os frágeis braços da adolescente, aquele abraço era puro, humilde, sincero, desprovido de segundas intenções, num mundo tão manipulado pela maldade e pela ganância aquele gesto era uma dadiva dos Deuses, uma arma mortal contra o ódio, uma melodia de apelo à felicidade, uma verdadeira onda de amor e lealdade que combate o desespero e a traição, não podia ser de forma alguma desperdiçado.

Nos minutos que se seguiram, Peter e Mary Jane abandonaram a solitária pastelaria, talvez para se refugiarem num local mais privado. Teresa já fazia as limpezas do pavimento, das mesas, dos vidros e da louça, estava pronta para encerrar o estabelecimento, quando para surpresa de todos a porta voltara-se a abrir. Na sua umbreira encontrava-se um homem baixo, corpulento, com cabelos pretos, no seu rosto estava patente uma expressão selvagem quase animalesca.

— Boa noite senhor, estou para fechar, desculpe. – Informou a proprietária, olhando aquele porte com algum receio.

— Só quero uma fresquinha, mais nada. – Pediu o recém-chegado num grunhido, avançando na direcção de Teresa que recuou apreensiva.

— Certo. – Concordou a senhora, talvez fosse melhor assim.

— Boa noite Logan! – Saudou Steve pouco à vontade, reparando que o olhar do estranho recaía sobre ele.

— Boa noite Cap! Espera lá, eu conheço a tua amiga! – Disse Wolverine em tom baixo, fitando Diana com interesse. – Essa é a miúda que eu ajudei naquele dia. – Constatou.

— Sim, é ela, mas por favor não faças alarido aqui. – Confirmou Rogers preocupado. – Diana este é o Wolverine um dos membros mais poderosos dos X-Men, eu salvou-te naquele dia em que, em que, bem tu sabes. – Explicou pouco á vontade, não queria ter tocado naquele delicado assunto, agora que a adolescente tentava corajosamente seguir com a sua vida em frente. Diana ergueu-se e caminhou até Logan.

— Muito obrigado senhor Logan, se não fosse o senhor, eu hoje não estaria cá, devo-lhe a minha vida, nunca lhe tinha agradecido porque tentava ao máximo lutar contra as recordações daquele maldito dia, peço perdão por tardar. – Agradeceu a Vingadora, apertando a mão que Wolverine lhe estendia.

— O senhor está no céu, não te salvei porque quis, salvei-te porque tinha coisas a ajustar com aquele desgraçado imbecil, só lamento que os Vingadores sejam tão ignorantes que te aceitaram de novo nas suas hostes, mas tu é que sabes o que fazes da tua vida, porém escuta uma coisa, vida há só uma, devemos segurá-la com força porque ela é mais frágil do que uma pequena folha. Adeus. – Despediu-se o X-Man em tom reprovador, deixando Steve e Diana imersos num silêncio constrangedor. – Ela é corajosa, lutadora e determinada, mas não passa de uma miúda, merece viver a vida em toda a sua plenitude. – Pensava, enquanto percorria rapidamente as ruas escuras e terrivelmente silenciosas, onde não existe oportunidade de ser brando ou tranquilo.

— Ele é muito duro nas palavras, ações e ideias, contudo é muito justo, leal e extremamente dotado de capacidades que superam a própria condição de herói, acredita em mim. – Explicou Steve amavelmente, vendo a confusão amarar nos lindos olhos marinhos da Sereia.

                Depois de ingerirem algumas calorias deliciosas, Steve pagou a despesa e saíram do estabelecimento muito animados, caminharam até ao carro prontos para seguir viagem.

— Queres vir até minha casa, ontem o Tony emprestou-me um filme muito bom, baseado numa incrível história verídica, acho que podes gostar. – Convidou Steve divertido, a noite estava a ser maravilhosa não poderia terminar ali.

— Eu gostaria muito, no entanto amanhã tenho aulas, desculpa, se quiseres fica para o próximo fim-de-semana. – Sugeriu Diana aborrecida, não com a proposta de Steve mas com o facto de no dia seguinte ser Segunda-feira.

— As aulas estão em primeiro lugar, e nós temos muito tempo para ver o filme, não fiques triste. – Disse Rogers. – Eu moro aqui perto, vou dar uma corridinha até minha casa, não posso engordar sabes! – Explicou, imitando um profissional de moda numa sessão fotográfica. – Dorme bem, até amanhã! – Despediu-se, dando um profundo beijo na cara de Diana.

— Até amanhã Steve, dorme bem. – Respondeu a Vingadora, entrando no Audi, partindo a tremenda velocidade.

                A morena tinha consciência que já era bastante tarde, devia ir para casa dormir, se não aquela maldita doença designada por síndrome da preguiça no dia seguinte iria afetá-la de uma forma que requer internamento imediato no seu quarto, contudo sentia uma forte necessidade de ir até á praia, queria estar perto da sua querida mãe, e não conhecia maneira melhor do que aquela. Conduziu até ao areal castanho e frio, o mar estava calmo, sereno, no céu aveludado foram pintadas milhares de estrelas luminosas, a lua de prata sorria como nunca e as ondas cristalinas beijavam a praia com delicadeza, num misto de paixão e fantasia, no ar flutuavam milhares de brumas temporais, brancas como a espuma das vagas que transportavam a nostalgia e a infância nas suas polidas asas.

— Eu sabia que te encontraria aqui! – Exclamou uma voz bem-disposta, misturando-se com a doce melodia da maresia noturna.

                Perto da uma da manhã, Tony Stark estacionara o seu potente carro nas imediações pobres de uma qualquer rua poluída, pensara diversas horas sobre aquele estranho e intemporal assunto, debatendo-se com as hipóteses que possuía, por fim decidiu-se por vir, tinha de o fazer, não havia outra possível escolha. Subiu diversos patamares de escadas em silêncio, estagnou em frente de uma porta, ergueu a mão direita no intuito habitual de quem pretende bater à porta, contudo a sua mão manteve-se resiliente com aquele banal movimento, as dúvidas voltaram a assalta-lo cruelmente, batendo no seu coração de uma forma tão injusta como a passagem indubitável dos anos.

— Deixa de ser estúpido, não és cobarde nenhum. Faz o que tens a fazer. – Recriminou-se em pensamento, tocando ao de leve na porta.

— Quem é? – Questionou uma voz ensonada, vinda do interior da habitação.

— É o Tony, abre, precisamos de falar. – Respondeu Stark mal-humorado.

— O que se passa? Não tens relógios? – Perguntou o estranho, abrindo a porta.

— Claro que tenho. – Retorquiu Tony enfadado, mostrando o valioso relógio de ouro que decorava o seu pulso.

— O que queres afinal? – Insistiu o morador intrigado, fazendo sinal para que Tony se instalasse no seu velho sofá.

— É mesmo ela, hoje desfiz todas as minhas incertezas. – Atirou o milionário sem rodeios, a sua voz assumira um tom frio, dramático e sofredor.

— Acho que não é a melhor altura para dialogarmos sobre esse assunto. – Retorquiu o homem pouco à vontade com as insinuações tecidas pelo Homem de Ferro.

— Por favor, não cometas os mesmos erros que assombram o teu passado, aceita esta nova oportunidade, esquece a máscara de prestígio, valentia e heroísmo, já chega destes joguinhos infantis, ela merece saber quem és, se não quiseres fazer por ti faz por ela. – Recriminou Stark tentando manter o tom casual.

— Não é a melhor altura já disse. – Voltou a frisar o estranho, remexendo nervosamente na almofada pousada a seu lado.

— Sabes que mais? Não passas de um cobarde, incapaz de aceitar a realidade como ela é, pára de tentar resolver os problemas dos outros, pára de fazer da tua profissão uma escapatória para perdoares o que fizeste, ela também tem problemas sabes? Vá lá, sê racional, a vida não perdoa duas vezes, aproveita esta oportunidade. – Desabafou o milionário ofegante, perdendo ligeiramente a paciência.

— Não és ninguém para me julgares. – Defendeu-se o homem aborrecido. – Como descobriste?

— Ela também tem aquele sinal em forma de meia-lua que a, que a, bem, que ela também tinha na perna. – Respondeu Tony tristemente. – A minha missão está cumprida, agora tu decides o que pretendes fazer, só tens dois caminhos possíveis, ou escondes-te atrás da grossa cortina da cobardia, ou vives feliz com ela como devia ter sido desde o início. – Penitenciou arrogantemente, levantando-se e saindo pela porta encostada, deixando aquelas cruéis palavras a ressoar na mente do seu amigo.

                Será que a visita ao mar correrá como Diana deseja? Quem veio ao encontro da morena? Quem é este misterioso sujeito? O que esconde? Terá Tony Stark motivos para o acusar de cobardia?


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