Reborn escrita por BabyS


Capítulo 2
Mckayla Newton


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap! Espero que a migração de perfil da história não tenha sido confusa para quem começou a ler no meu outro perfil...



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– Parece que a caçada rendeu mais do que apenas alguns cervos. – ela disse dando uma olhada na minha falta de roupas. Todos automaticamente se viraram para olhar também e o clima parecia leve, até no momento seguinte Edythe entrar correndo pela sala, apenas um vulto, e disparar escada acima batendo a porta de seu quarto.

– Problemas no paraíso. Tsc, tsc, tsc... – Royal disse revirando os olhos.

Olhei atônito para todas aquelas pessoas com olhares curiosos exceto Archie, que parecia compreender o que havia acontecido, e eu sem a mínima vontade de dar explicações. Pela primeira vez senti saudades do meu quarto, meu refúgio do mundo exterior, saudades de poder dormir e cair na inconsciência para me livrar dos fantasmas da realidade.

– Ainda não sei como lidar com o ócio noturno. – murmurei aproximando-me e sentando ao lado de Archie. – murmurei aproximando-me e sentando ao lado de Archie.

Normalmente durante as noites eu me ocupava coma presença de Edythe, abraçados no sofá em seu quarto ouvindo alguns dos seus milhares de CDs; sentado ao seu lado enquanto seus dedos voavam pelas teclas do piano criando melodias lindas e complexas demais aos meus super, porém leigos, ouvidos; ouvindo suas histórias, aprendendo sobre minhas novas habilidades... Agora aquela porta trancada no alto da escada levava minhas possibilidades a um nível desconhecido.

– Eu poderia dar algumas sugestões, mas Edy não parece muito receptiva. – Eleanor se manifestou, o habitual humor brincalhão rapidamente superando a confusão inicial com a cena que causamos na sala.

Não pude deixar de rir, soei meio histérico e amargurado.

Suspirei deixando a cabeça despencar sobre os ombros, não sem antes notar os olhares cautelosos de Earnest, Carine e Jessamine voltados para mim. Será que Jessamine poderia dar um jeito no martirismo que parecia ser inato de Edythe?

Archie tocou as costas da minha mão com o indicador e seguiu com passos leves, quase flutuando, para a escada, entendi que ele queria que eu o acompanhasse, e o fiz.

Batendo a porta no quarto atrás de si após eu entrar, Achie me encarou com os grandes olhos escuros.

– Não quer me contar o que aconteceu? – Perguntou. Poderia parecer impróprio que alguém que eu conhecera há tão pouco tempo questionasse com tanta propriedade e segurança sobre minha vida particular, mas não achei estranho nem me ofendi, desde que Archie mencionara que vira nossa amizade acontecer ela passou a existir, quase que instantaneamente e depois de Edythe ele era a pessoa mais próxima de mim naquela casa. Era reconfortante tê-lo ali naquele momento.

– Me poupe, Archie. – reclamei fazendo uma careta ao observar seu rosto, passando a ter certeza de que ele sabia de tudo – Você está muito bem informado. E poderia ter me alertado antes. – acrescentei com tristeza.

– Nem sempre podemos alterar o futuro. Algumas coisas devem acontecer.

– Isso parece uma fala decorada de filme de ficção científica, onde o mocinho inventa a máquina do tempo e seu amigo sábio o alerta de que mexer com o tempo pode ser perigoso. – Mas eu não acho que evitar meu mau comportamento poderia gerar alguma conseqüência desastrosa.

Archie riu.

– É por aí. Mas Beau. Eu não via outros futuros alternativos. Talvez se você não fosse caçar evitasse isso hoje, mas iria acontecer amanhã ou depois, inevitavelmente.

Me joguei de costas na cama redonda centralizada em seu quarto e rolei para observar através das paredes de vidro a floresta dormindo.

– Parece que a luxúria iria acabar me traindo de uma forma ou de outra. – murmurei com pesar, sentindo-me um fraco, nem humano eu era e ali estava eu sendo castigado pelas conseqüências do mais humano dos pecados, a luxúria.

– Acreditamos que perdemos nossa humanidade assim que somos transformados. – Archie começou, refletindo meus pensamentos, e me perguntei se eles estavam realmente seguros ou outras pessoas além de Edythe possuíam dons psíquicos. – Mas eu penso que apenas ficamos mais intensos, temos todos os desejos, vontades, pensamentos e habilidades que os humanos, porém multiplicados milhares de vezes. É difícil lidar com toda essa carga, toda essa intensidade, você está indo bem Beau. Acredite.

Logo em seguida ouvi a porta bater e eu estava sozinho num quarto que nem era meu. Agradeci mentalmente ao Archie pela privacidade que me dera, longe dos olhares curiosos e perguntas silenciosas que eu não teria coragem de responder.

Apurei a audição orientando-a para a esquerda, atravessando as paredes e cômodos, em direção ao quarto de Edythe. Consegui ouvir uma respiração leve, controlada e ritimada ao fundo de uma música extremamente poluída com guitarra e baixo sobressaindo à voz do vocalista. Eu conhecia aquela música, e uma lembrança borrada e tremula martelava em meu cérebro, aos poucos captando todas as imagens embaçadas que me vinham a mente percebi que era do CD que Phill me dera. Meu coração inerte se apertou com essa lembrança. O passado parecia me atingir com mais força quando eu não estava perto de Edythe, quando ela não era o centro da minha visão.

P.V.O Edythe

Era horrível ter que enfrentar o colégio depois de termos forjado a morte do Beau, sendo eu a pessoa que era mais ligada a ele ali, recebendo todos os questionamentos, suposições, ataques de pena e acusação direcionados a mim, assim de bandeja, preenchendo a minha mente. E como se já não fosse ruim o suficiente havia tudo o que acontecera na noite passada.

Hoje era para ser meu primeiro dia de retorno às aulas após o luto, Carine percebendo minha indisposição sugeriu que eu não fosse, mas preferi não adiar. Meus irmãos já estavam freqüentando a Forks High School há alguns dias após a tragédia e eu tinha um parecer da situação; aparentemente voltamos a ser o foco das atenções, mas também o medo que eles pareciam ter de nós aumentara.

– Lamento Royal, mas este não é o momento propício para chamar atenção com seu carro. – falei enquanto dava a ré para sair da garagem observando Royal fitar com tristeza sua BMW.

“E você entende bastante de descrição, não é Edy? Posso tomar como exemplo a ceninha na noite anterior.” – ele pensou, com sua habitual perversidade. Fingi não ter ouvido e guiei o carro pela estrada cercada de árvores. Flashes da noite passada irromperam em minha mente e, totalmente contra a minha vontade, fizeram morada ali. Não foi preciso o Beau dizer que me dera sua vida para eu saber que estava em uma falta imensa com ele, uma falta irreparável, eu nunca poderia recompensá-lo, nada estaria à altura, eu não possuía mais uma vida para entregá-la a ele. Eu o conhecia o bastante para saber que suas palavras foram influenciadas pelas mudanças temperamentais causada pela transformação. Era normal, tendíamos a nos tornar criaturas egocêntricas, geniosas, impulsivas e inconseqüentes, principalmente quanto aos desejos, que em nossas mentes incansáveis pedem para ser saciados. Tanta intensidade é característica e totalmente compreensível quando vinda de um recém nascido, depois a sabedoria adquirida com o tempo começava a mediar esse ego primitivo, eu estava preparada para isso ou pelo menos achava que estava. Até que fosse dito, posto para fora, pela boca do Beau, não era uma verdade tão presente como agora. Eu simplesmente não sabia como lidar com essa dívida e com o Beau acreditando que ela não existia.

Mal percebi quando chegamos ao estacionamento, estava bem cedo e apenas algumas pessoas haviam chegado, todas se viraram para olhar quando saí do carro. Os pensamentos me atingindo como facadas.

“Coitado do Beau, que Deus guarde sua alma.”

“Uma pena o Beau não ter tido tempo de aproveitar de seu relacionamento com a Edythe.”

“Eu sabia desde o início que essa Edythe não era boa coisa.”

“Como ela ousa dar as caras aqui depois de tudo?” – Este último pensamento possuía uma voz bem conhecida, pertencia a uma mente que passei bom tempo vigiando para observar o Beau. McKayla Newton me encarava sem a menor intenção de desviar o olhar de poucos amigos. Abaixei a cabeça no mesmo instante e caminhei debaixo da chuva para o prédio de aulas.

O resto do dia não fora muito diferente e quando bateu o sinal anunciando o almoço resolvi que não apareceria nessa exposição pública.

– Você tem certeza que não vem, Edy? – ele perguntou segurando minha mão quando avisei que não iria acompanhá-lo.

– Tenho – Assenti deixando o cabelo cair sobre meus olhos. Eu fora mais abalada por essa situação do que eu imaginava possível.

Archie afastou a franja do meu rosto.

“Sei que está sendo difícil, mas seria bom ter você lá para sondar os pensamentos e saber se alguém desconfia de algo, se estamos em risco e se precisamos ir embora.” – ele pensou, tendo o cuidado de não dizer em voz alta para não despertar a curiosidade dos jovens que passavam por nós.

Ele estava certo. Era um questão de segurança da nossa família.

“Vá lá e faça o drama de viúva sofredora” – Archie pensou enquanto ria nos encaminhando para o refeitório que já estava abarrotado de pessoas.

– Que piada de mau gosto, irmão. – murmurei.

Soltei a mão de Archie quando chegamos e me encaminhei para a direção oposta á mesa que nossa família normalmente ocupada. Me sentei na mesa em que costumava sentar com o Beau e não me preocupei em deixar transparecer toda a aflição e tristeza que me dominavam. Fui a primeira a sair do refeitório e ir para a sala esperar a professora de biologia, mas percebi que logo depois que me levantei da cadeira Mckayla começou a me seguir. Continuei andando como se não houvesse percebido nada e me sentei na cadeira que ficava ao lado da que Beau se sentava, fingi me distrair procurando algo na bolsa e Mckayla se sentou na mesa sem fazer questão de ser discreta.

Levantei os olhos para ela que não poupava ofensas mentais como se soubesse que eu podia ouvi-las. O olhar afiado como uma faca pronta para me ferir, analisando-me.

– Porque se dar ao trabalho de todo esse fingimento? – Ela perguntou, na voz pesava toda a fúria direcionada a mim, ela falou baixa e calmamente, mas naquele tom poderia assustar qualquer pessoa, humana.

– Não sei do que você está falando Mckayla. – eu respondi erguendo as sobrancelhas. Era impressionante a coragem que ela tivera de vir aqui me enfrentar sem vacilar nem em pensamento. – Não estou fingindo nada.

– Essa sua tristeza melancólica pode enganar a todo mundo, mas não a mim. – continuou, inclinando-se para mais perto de mim. Era impressionante até onde a raiva e o amor juntos podiam levar os humanos. Mckayla acreditava em cada sílaba que ela proferia a mim, e poderia ser até normal ela ter como válvula de escape alguém para culpar a morte de seu affair, porém era mais que isso, eu podia sentir na essência de seus pensamentos.

Não respondi, a encarei de volta, olhando no fundo de seus olhos azuis translúcidos, curiosa para descobrir mais do que se passava em sua mente.

Ela tomou como oportunidade o meu silêncio e não se interrompeu.

– Eu via o jeito que olhava para ele, como se ele fosse um pedaço de carne, não era um desejo normal. A pior coisa que o Beau fez foi insistir naquela obsessão por você, e acabou tendo que pagar com a vida... – ela fez uma pausa para tomar fôlego, a esse momento sua mente já era um caos de emoções que nem ela parecia conseguir organizar. Queria me matar; queria se matar; queria que o Beau não tivesse morrido e mais uma vez queria me matar. O que ela sentira por ele foi mais do que uma mera paixonite. Agora eu podia perceber, sem todas as tendências de uma mente envolta pelo véu dos ciúmes. Sua voz tremeu quando voltou a falar e as mãos voaram para os olhos tentando conter lágrimas que ameaçavam cair. - Se ele tivesse ficado comigo ainda estaria aqui e sua família não estaria sofrendo. Você sabe disso. Se você realmente amasse o Beau teria deixado que ele ficasse comigo, mas parece que sua vontade de tê-lo falou mais alto do que sua vontade de salvá-lo.

E assim Mckayla se levantou dando-me as costas e saindo da sala de ombros curvados. Não consegui me mover. Era verdade, tudo o que ela falou era a mais pura verdade.

– Edythe! – Archie apareceu na porta da sala com Jessamine ao seu lado enquanto um fluxo de alunos passava pela porta.

“O Beau desapareceu!” – pude sentir o pânico em seus pensamentos.

Desapareceu... E não consegui pensar em mais nada.


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Notas finais do capítulo

Eaí, gostaram? Comentem! Seus comentários me motivam a escrever mais *-*