Taiti Love escrita por Ellen Freitas


Capítulo 2
Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, como estão?

Estou de boas, apesar de já ter voltado a trabalhar essa semana. A vida que segue, né, não podemos ter só férias!!!

Passando para agradecer muitíssimo pela aceitação da fic, todas as favoritações e reviews. Quem tem os melhores leitores do mundo!! Eu!! E me desculpem por não ter respondido, vida corrida é assim mesmo...

Boa leitura, acho que esse é meu capítulo favorito!!!
Bjs*



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Acordei procurando o copo de água que sempre deixava em minha cabeceira se quisesse beber durante a noite, mas ao tatear no escuro, encontrei apenas o abajur e um telefone, o que me fez lembrar que não estava em casa. Uma dor de cabeça chata ainda me lembrava que mesmo poucas doses geravam consequências, mas por mais estranho que pareça, hoje eu estava mais disposta.

Hotel Pétala Dourada, boa tarde, em que posso ajudá-la?

― Você pode mandar aspirinas e água para o quarto 216?

Em instantes, mademoiselle. ― A voz polida do outro lado da linha respondeu antes de desligar.

Levantei, coloquei meu roupão e escovei os dentes, já buscando em minha mala o biquíni que usaria hoje. Duas batidas me fizeram correr para atender a porta.

― Obrigada. ― Peguei a bandeja com a água e o frasco com os comprimidos e lhe entreguei uma nota de cinco dólares como gorjeta.

― Isso estava lá embaixo em seu nome.

Assenti colocando a bandeja em uma mesa próxima, pegando a flor e o cartão das mãos dele e fechando novamente a porta. Uma flor idêntica à que estava ontem em meus cabelos agora estava em minhas mãos, parecendo mais viva, mais vermelha. Não precisei abrir o pequeno papel dobrado para saber de quem se tratava.

“Aula de surf às 14h, na Praia da Areia Negra. Te espero, Noni. P.”

Sem citar beijo, sem citar dança sensual de corpos suados. Melhor assim, talvez eu deva mesmo dar mais chance ao mar, e por que não para Peeta?

Peeta.

O cara saltava de jipes, dançava como se não houvesse amanhã, amava mais o mar do que a si mesmo, cantava e tocava violão, lançava sorrisinhos fáceis e conquistadores para todos. Meu oposto. Como eu acabei presa na teia dele e sem conseguir esquecer o beijo que ele me deu?

Mas em uma coisa ele disse ontem ainda martelava minha cabeça: eu não tinha mais um plano de vida. A conclusão que cheguei depois pensar muito durante a noite é que aproveitaria esses dias no Taiti ao máximo e quando chegasse em casa, traçaria minhas novas metas, eu precisava disso. Meu pai sempre dizia que “quem não sabe aonde vai, não chega a lugar nenhum”. Eu precisava ter algum lugar para ir.

Tomei um banho, coloquei meu biquíni preto com detalhes azuis no busto, um macacãozinho semitransparente nos mesmos tons de azul da peça de banho, bolsa, chinelos, óculos escuros e já saí em busca de algo para comer. Acabei deixando meu celular descarregado por lá, e quando olhei no relógio do saguão, já eram 14:10h.

Mais uma vez eu almoçaria besteiras, pois não ia parecer uma irresponsável que não sabe cumprir horários, logo eu, a vadia-não-tolero-atrasos. Apelido dado por Johanna, claro. Além do mais ele tinha chegado em ponto na noite anterior, não custava nada um pouco de esforço para não deixá-lo esperando tanto.

Corri até a praia devorando alguns cookies com gotas de chocolate, quando o vi parado na areia, passando aquela coisa na prancha. Anilina? Albumina? Parafina! Apenas uma bermuda pendia em seus quadris e o brilho do cabelo dele em contato com o sol me fez sentir inveja. Quantas hidratações eram precisas para ficar daquele jeito mesmo com o sal marinho? As pontas do meu já exigiam corte e eu nem tinha entrado na água ainda.

― Ei. Desculpa o atraso, dormi demais ― falei cuspindo uma mecha de cabelo que o vento trouxe para minha boca. ― Droga, vento idiota! ― Peeta olhou para cima e sorriu. Que porra de sorriso é esse, Deus?

― Sem problemas, achei que você nem viesse. ― Deu de ombros. ― Só estou terminando aqui.

Estendi minha toalha ali no chão e o observei trabalhar. Seus músculos definidos dos braços esticavam-se e ao passar o produto na prancha e pude ver melhor as tatuagens que ele tinha. Um coração verde e amarelo nas costelas. Uma palavra que não consegui identificar no pulso, uma pedra preciosa verde na parte superior do braço, duas cartas de baralho na perna. E o imponente leão negro, que tinha suas garras prontas para o ataque, a juba tomando quase todo o ombro, as patas dianteiras descendo pelos braços e a cauda e patas traseiras espalhando-se pelas costas. Todas eram bonitas, mas o leão era uma obra de arte.

― Me secando, Noni?

― Eu? ― Engoli seco quando fui pega em flagrante. ― Claro que não, só me perguntando aqui quanto tempo ainda vai demorar pra você terminar essa coisa.

― Terminei faz um minuto, mas você não pareceu notar enquanto me secava.

― Eu não estava te secando, que droga! ― Resmunguei corando.

― Não precisa se estressar, vem, vamos começar.

Quando fiquei em pé batendo a areia de minhas roupas, ele me olhou confuso então riu, claramente se divertindo da minha cara por algum motivo.

― O que foi?

― Você sabe que está na praia, não é?

― Sério, se você não me avisa... Eu até trouxe meus esquis ― rebati irônica.

― Tira essa roupa, Kat.

― Isso é aula de surf ou de sexo? ― Peeta riu de lado com aquela cara arrogante de “sou bom em ambas as coisas”.

― É sério, ela pode pesar quando você tentar se equilibrar na prancha. E sem falar que você parece que ainda não passou protetor solar. ― Rolei olhos odiando admitir que ele estava certo.

Passei as alças do macacão pelos ombros e o deixei cair livre a meus pés, não conseguindo evitar corar com o fato de Peeta sequer ter feito menção de respeitar meu momento e olhar para o outro lado.

― Você tá ótima pra uma empresária ― ele observou. ― Claro que já imaginava isso, já que minhas mãos passearam por tudo isso ontem por cima daquele maldito vestido.

― Quem tá me secando agora? ― provoquei, sentando de costas para ele, lhe entregando o protetor solar e jogando o cabelo por cima do ombro para a frente. ― Seja útil e passe isso nas minhas costas.

― Vai ser um prazer. ― Peeta chegou mais perto e soprou as palavras ao meu ouvido. Ignorei os arrepios que peguei o protetor das mãos dele, passando em meus braços, pernas e barriga. ― Ok, a coisa é bem simples ― ele começou quando terminamos. ― Tudo é uma questão de equilíbrio, um pouco de força nas pernas, dobrar os joelhos, ver a onda e saber a hora certa de ficar em pé.

Com a prancha na areia, ele fez o movimento que eu já tinha visto um milhão de vezes as pessoas fazendo nesses dias que estive aqui. Eles nadavam deitados de barriga na prancha e quando viam que era o momento ficaram em pé com um salto, sendo levados pela onda e exibindo grandes sorrisos de satisfação.

― Tenta você agora.

Ok, eu conseguia. Se qualquer babaca de dois neurônios fazia isso com facilidade, eu faria também. Fiz o movimento ridículo de nadar no seco e então pulei para ficar em pé em cima da prancha.

― Ok, você não fez isso certo. Pulou muito rápido, não deu tempo à onda.

― Estamos na areia, Peeta, não tem onda ― falei o óbvio.

― Finja que tem. Você tem que ser paciente, e no pulo, firmar mais os joelhos e abrir os braços, assim. ― Ele repetiu o movimento com precisão. ― Ah, e seu tronco tem que estar mais arqueado para a frente.

Com um passo em minha direção, ele espalmou uma mão em minha coluna e outra em meu abdome, posicionando meu corpo na posição que ele indicou.

― Você precisa ficar se esfregando em mim a cada movimento? ― perguntei olhando para ele sobre meu ombro.

― Precisar, não preciso, mas eu sei que você quer e eu também. ― Peeta roubou um selinho de meus lábios, me fazendo rir e balançar a cabeça em negativa. Cada doido que a gente encontra na vida...

Ainda repetimos o movimento muitas vezes na praia, até Peeta achar que já estava bom o suficiente para irmos para a água. Quando ele correu entusiasmando para o mar, estaquei na areia.

― Vem, Noni!

― Tem certeza que não é bom finalizarmos por aqui hoje?

― Qual é, Kat, vem. ― Ele insistiu.

― É que água salgada é a morte do meu cabelo. ― Franzi o nariz e Peeta rolou olhos.

― Estou vendo que com você tudo é na base do tratamento de choque. ― Percebi um segundo antes o que ele ia fazer.

O loiro dos infernos me jogou sobre seu ombro e não deu a mínima o quanto me debati, apenas voltou sua corrida em direção ao mar, com a prancha debaixo do outro braço, parecendo nem sentir as pancadas esmurradas que eu dava em suas costas. Senti meu corpo submergir na água, o sal fazendo arder meus olhos e nariz, até que suas mãos me puxaram para cima pelos braços.

― Pronto, seu cabelo já era, podemos ir adiante?

― Filho da mãe ― xinguei esfregando meu nariz com vigor, uma falha tentativa de fazer o sal sair. É um conceito básico, quando você está cercado de água salgada, não tem como fugir do sal.

Para minha total surpresa eu era ainda pior na água. O sol já descia na linha do horizonte e eu não tinha conseguido ficar em pé na prancha uma vez sequer. Em um determinado momento, apenas sentei na areia e o assistir surfar com perfeição, aquele sentimento de inveja misturado com outra coisa em meu peito. Eu diria que era felicidade, mas olhando para meu estado através do pequeno espelhinho em minha bolsa, afastei a ideia. Ninguém fica feliz parecendo uma doida litorânea.

Quando ele ameaçou me levar de volta à água de um modo nada legal, acabei voltando por livre e espontânea pressão, apenas para me frustrar ainda mais.

― Merda! ― Dei duas pancadas espalmadas na água, fazendo as gotas voarem por todos os lados. ― Eu desisto, sabe? Obviamente existe justiça universal e eu sendo uma CEO tão boa, não seria uma boa surfista também. ― Peeta gargalhou.

― Eu sei que você pode, só falta se conectar com o mar.

― Eu não me conecto com o mar, loiro, eu me conecto com empresários em teleconferências internacionais. Você e sua prancha não entenderiam.

― Só mais uma vez, ok?

― Tentamos dezenas de vezes, não vai rolar. Se conforme, eu já me conformei. ― Cruzei os braços na frente do peito mostrando minha irritação.

― Fazer birra não vai adiantar, sobe aqui, vou te ensinar umas coisas.

Peeta baixou a prancha na água e me ajudou a sentar nela, meus pés balançando na água de cada lado. Ele fez o mesmo e se posicionou atrás de mim.

― Fecha os olhos.

― Eu não vou...

― Fecha a droga dos olhos, Kat! Deus, que garota teimosa! ― Até o santo e calmo professor já estava perdendo a paciência. Quando obedeci, ele continuou a soprar palavras em minha nuca. ― Sinta o vento, ouça as ondulações da água. Não precisa técnica, não precisa ter seu QI alto, apenas conecte-se com a natureza. Você saberá o momento. ― Peeta saltou da prancha para a água, mas ainda mantive meus olhos fechados. ― Respire fundo e deite-se sobre ela. A prancha está ligada com você agora. Reme com os braços. ― A voz dele estava mais distante agora e eu obedecia aos comandos. ― Você saberá o momento.

Senti que eu estava sendo levemente puxada para trás, Peeta disse que isso acontecia quando a onda estava por vir. Comecei a remar e ao ouvir o barulho da ondulação prestes a quebrar atrás de mim, saltei, firmando meus pés e abrindo os olhos. Eu estava em pé!

― Consegui! ― Ergui os dois braços para o ar em comemoração, Peeta acenava sorridente a alguns metros dali. A onda que se seguiu aproveitou-se da minha distração e me derrubou de cara na água, mas eu não me importava. Estava feliz.

― Você tá bem? Levou maior caldo no final!

― Você viu lá, consegui! ― falei animada caminhando até ele e tirando os fios de cabelo que grudavam em minha testa.

― Vi sim. Você ainda não aprendeu uma coisa sobre mim, ma chère, eu nunca estou errado. Se eu disse que você conseguiria, é porque sabia que conseguiria.

― Arrogante ― acusei.

― Confiante ― me corrigiu. Peeta colocou o braço por baixo do meu e puxou a prancha que boiava atrás de mim, ainda presa em meu tornozelo. Minhas costas tocaram o objeto quando ele chegou mais perto, seu sorriso lindo iluminado pela luz laranja do sol que se punha. Tão lindo, tão imprudente, tão errado. Que droga!

Capturei seus lábios com os meus, minhas mãos em seu rosto, enquanto as dele estavam em cada lado de minha cintura segurando a prancha. Me apoiei em seus ombros para ficar na ponta dos pés e poder beijá-lo com mais fervor, o gosto salgado em nossas bocas, então senti seus dedos escorregarem e apertarem minha cintura, perigosamente perto dos nós do biquíni.

Mordi meu lábio inferior quando Peeta desceu os beijos para meu pescoço, fazendo cócegas e gerando arrepios, que atribuí ao vento frio do fim da tarde, dominando minha pele. Minhas unhas afundaram-se em sua carne, o fazendo soltar um gemido que em nenhum momento pareceu de dor, e voltar a colocar sua língua novamente em contato com a minha. Não era saudável, muito menos prudente estar dando uns amassos seminua com um homem daqueles no meio de uma praia pública.

― Peeta, para. ― Me afastei com uma cara culpada, reação que ele não entendeu.

― Você começou, Noni. ― Ele tentou me beijar novamente, mas mergulhei e saí da água do outro lado da prancha.

― Eu sei e estou parando. Já está tarde, tenho que voltar. Obrigada pela aula. ― Soltei o troço da minha perna e fui embora, passando apenas na praia para pegar meus pertences e sem a mínima coragem de olhar para trás.

~

― Já vai! ― gritei para a porta, minha boca salivando pelo hambúrguer.

Na volta da praia no fim dessa tarde, achei um turista americano que finalmente soube me informar onde consegui um serviço delivery de fast food. Nada saudável, faria minha nutricionista arrancar meus cabelos, mas dane-se. Queria comer aquilo e ponto.

Caminhei até a porta com a toalha ainda enxugando meus cabelos molhados recém-saídos de duas lavagens com xampu, condicionador, hidratação e uma potente dose de queratina líquida.

― Peeta? ― questionei admirada ao encontrá-lo na porta segurando meu pedido.

― Não pareça tão surpresa, você não atiça as pessoas daquele jeito sem esperar que elas venham atrás de você. ― Ele riu de lado entrando sem convite. ― Nossa, aqui cheira a salão de beleza.

― Tive que dar meu jeito pra tirar aquele sal do meu cabelo.

― Posso ajudar com a questão do sal da sua pele.

― Sério? Algum produto para indicar?

― Minha saliva. ― Peeta mordeu a unha do polegar, passando a língua pelos dentes e por mais idiota que a cantada tenha sido, acabei rindo.

― Você é hilário, já pensou em abrir um show de humor aqui na ilha?

― Se você ri de mim, Noni, todo mundo também riria. ― Neguei com a cabeça, resistindo ao impulso de rir novamente e lhe dando uma olhada mortal.

― Tá me chamando de mal humorada? ― Cruzei os braços.

― Não mais, chère. Agora vem cá. ― O loiro me puxou e beijou meus lábios, de um jeito rápido, singelo, surpreendente pela delicadeza. ― Quer jantar comigo hoje? ― sussurrou com a boca quase encostada na minha.

― Você, na verdade, está segurando meu jantar. ― Abri meus olhos para encontrar seus hipnotizantes orbes azuis.

― Comida de verdade. Depois a gente sai para beber.

― Eu sei o que significa “sair para beber” para caras como você. ― Soltei suas mãos de mim, me afastando dele.

― Sua mente é pervertida demais, Noni. Toda coisa que eu falo você acha que estou me referindo a sexo!

― E não é?

― Claro que não! Toda coisa não. Vamos, vai ser divertido. Eu até coloquei duas camisas! ― Peeta gabou-se balançando a camisa verde clarinho de botões e com mangas longas dobradas até os cotovelos que estava sobreposta a uma camiseta simples branca e uma bermuda cinza de um tecido grosso.

― Você é alérgico a calças também? ― Ele riu conferindo as próprias canelas definidas.

― Isso é um sim?

― Tudo bem, eu só vou me arrumar.

― Não precisa, tá perfeita.

Eu estava usando apenas um short jeans cintura alta e uma blusinha solta de tecido fino e esvoaçante cor de rosa, descalça e a maquiagem resumida a rímel, lápis e gloss. Não iria sair, por isso estava bem à vontade.

― Não, Peeta...

― Vamos. ― O próprio pegou minhas chaves, guardou no bolso e saiu me tirando quarto pela mão, mal dando tempo para eu calçasse meus chinelos.

O jantar correu agradável, não sei como ele conseguiu alguém que cozinhasse um filé de frango para mim, que foi servido com uma sala de um molho excepcional. Peeta comeu peixe, me fazendo franzir o nariz muitas vezes enquanto ele parecia adorar o prato. O surfista tinha uma conversa solta e divertida que fez parecer que o tempo passava correndo. Depois que finalizamos uma sobremesa de frutas e sorvete, ele pediu licença antes de se retirar e voltar minutos depois com uma garrafa na mão.

― Tanta ilusão da minha parte achar que íamos beber em um local com uma ambientação incrível e companhia espetacular ― dramatizei.

― Ambientação. ― Ele mostrou o mar à nossa frente. ― Companhia. ― Apontou para si mesmo. Rolei olhos.

― Acho que seu ego só caberia mesmo em algum lugar aberto.

Caminhamos um pouco e nos sentamos na areia, a pouca iluminação proveniente apenas da lua e das luzes do meu hotel que ficava a alguns metros dali.

― Por que saiu hoje daquele jeito da água, Kat? ― Peeta destampou a garrafa e tomou um generoso gole do líquido transparente, fazendo uma careta em seguida.

― Estávamos quase infringindo algumas leis do pudor, Peeta. ― O loiro fez uma careta em concordância e ficou mais alguns minutos calados, o que estranhei. Ele parecia ponderar a próxima fala, e aproveitei para beber um gole também.

― Você pode me dizer o nome do babaca que quebrou seu coração? ― Nessa última pergunta, Peeta não me olhou, apenas para o mar, tomando outro gole.

― Isso virou algum tipo Quiz Show? ― Ri disfarçando, mas ele me olhou sério dessa vez, ainda em busca da resposta. Se vamos falar disso, vou precisar de mais que um gole. Peguei a garrafa para mim.

― Nada demais, a mais clichê das histórias. Meu primeiro e único namorado dormiu com minha colega de quarto da faculdade. Lindo demais, traidor demais. Fim. ― Dei outro gole.

― Não sou como ele ― Peeta afirmou baixinho.

― Não precisa tentar me conquistar, sabe? Daqui a uns dias a gente vai se separar nunca mais se ver na vida. ― Sorri para ele, mas não recebi o sorriso de volta. ― E o bom da história com o Mark, foi que consegui me focar em ser grande, fazer meu nome crescer.

― É um jeito bom de ver as coisas.

― Dois anos atrás, quando ganhei o prêmio de empreendedora do ano, ele veio me ver na empresa, jurando arrependimento e amor eterno.

― E aí?

― Tive o prazer de jogar meus Louboutins na cara dele. ― Gargalhei com a lembrança e dessa vez Peeta me acompanhou na risada. ― Mas e você, nunca se apaixonou?

― Todos os dias ― ele respondeu dando de ombros. Franzi o cenho. ― Vivendo intensamente, aproveitando cada segundo, fazendo o que quero na hora.

― Parece inconsequente.

― É libertador. Quando comecei a seguir minha regra do “ame tudo, não se apegue a nada”, as coisas melhoraram 100%. Não quer dizer que eu não tenha planos, mas quando trabalho neles, é intenso, como tudo que tento fazer. E não me martirizo quando não dá certo, apesar da minha frequência de fracassos ser quase nula, você sabe. ― Riu prepotente e estreitei meus olhos para ele com crítica.

― Não consigo ser assim.

― Você tentou esses dias e se saiu muito bem, só para constar.

A garrafa alternou das minhas mãos para as dele na hora seguinte, perguntas indo e vindo, nossa sanidade sendo levada pelo vento até começarmos a brincadeira dos desafios.

― Te desafio a colocar uma camisa. ― Sugeri apenas para irritá-lo. Eu estava congelando com minhas roupas e a camisa verde dele, enquanto o outro parecia muito de boa só com a bermuda.

― Chata! ― Peeta vestiu novamente a camiseta branca que estava embolada e presa no cós da bermuda. ― Te desafio a soltar o arroto mais alto que conseguir!

― Não sei arrotar ― reclamei.

― Todo mundo sabe, Noni, tenta.

― Ok. ― Massageei meu estômago com as mãos na tentativa de fazer um arroto surgir, o que não demorou mais de dois segundos até o barulho nojento e estrondoso sair da minha boca, seguidos pelas palmas e gritos exagerados de Peeta. ― Você... ― Passei meu indicador no nariz dele. ― É uma péssima influência pra mim. ― Ele gargalhou, não sei porque. ― Agora minha vez, te desafio a me contar a história da tatuagem de leão.

― Não quero falar sobre meu pai, Kat. Vamo só se beijar aqui e pronto.

― Você fala como um analfabeto quando está bêbado. ― O empurrei quando ele chegou perto, fazendo ele cair de costas na areia. Só acho que ele devia me agradecer por tê-lo feito repor a camisa e agora não estar mais sujo. Observei com desgosto quando ele virou todo o pouco conteúdo restante da garrafa. ― Conta, vai!

― Tá bom, garota insistente. Puta que pariu!

― Não enrola, loiro lindo... Desembucha!

― Eu fiz quando o merda do meu pai disse que eu não seria capaz de nada, que eu era um desperdício no mundo. Saí de casa e fiz ela. Significa que eu era o rei da minha própria vida agora, e iria lutar contra quem precisasse para chegar onde eu queria.

― Chegou?

― É um trabalho em progresso. ― Peeta enfiou a garrafa vazia na areia atrás de nós. ― Agora eu. Te desafio a... Fazer uma loucura, como beijar um estranho, por exemplo. ― Sorri debochada e fiquei sobre meus joelhos quando lhe dei um selinho.

― Fácil, fácil.

― Eu não sou um estranho. ― Fiz minha careta de aborrecimento por não querer sair por aí agarrando os outros. O sorriso presunçoso de Peeta me mostrou que ele tinha certeza que eu não era capaz. ― Acho que ganhei essa.

― O inferno que ganhou!

Levantei sem falar mais nada e abordei um mulato bonito de olhos verdes que conversava com dois amigos a poucos metros dali.

― Com licença, você é comprometido com alguma vadia por aí? Não quero confusão. ― Minha voz embolada pela bebida fez todos rirem.

― Você é gata, moça, mas sou gay.

― Shii. ― Coloquei meus dedos nos lábios dele. ― Não importa, não importa. ― Abanei minhas mãos exageradamente na frente de seu rosto. ― Só me beija para aquele idiota ali ver que não pode ganhar de mim.

Não esperei a resposta e já avancei na boca dele, enfiando minha língua em sua garganta. O discreto gosto de bebida talvez foi o que o fez agarrar minha cintura com força me tirando um pouco do chão, enquanto os outros dois torciam entusiasmados.

― Já chega, já chega. ― A voz grogue de Peeta estava atrás de mim e senti meu braço ser puxado. ― Desculpem minha irmã, ela tá sem o remedinho hoje. ― O loiro girou o dedo perto de ouvido sugerindo que eu era maluca.

― Ele não é meu irmão! ― Saí gritando e arrastada por Peeta para nosso lugar original.

― Tá doida, Ninoi... Nonie... Noini. Tá doida, Noni?! Saiu beijando assim os outros, você nem sabe onde a língua dele esteve!

― Você também não vai querer saber. ― Gargalhei e ele fez uma cara irritada. ― Além do mais o desafio foi seu, e agora parece que o senhor-não-me-apego tá com ciuminhos da Katizinha aqui.

― Cala a boca, que eu falei “por exemplo”.

― Cala você! ― rebati.

― Não vou calar.

― Não, querido, esse é o desafio. Você vai ter que ficar cinco minutos sem falar nada, nem fazer qualquer barulho ou movimento. Meus ouvidos já estou doendo das suas piadinhas ruins.

― Moleza. ― Conferimos o relógio de pulso dele. ― Valendo! ― Peeta encenou um zíper fechando sua boca.

Sorri de lado antes de sentar em seu colo e tirar a blusa dele que eu usava. Peeta arregalou os olhos quando minhas mãos alcançaram a barra da minha blusa, que joguei embolada o chão junto com a dele, exibindo meu sutiã branco de rendas. Me inclinei em sua direção e ele segurou meus ombros, negando com a cabeça.

― Eu disse que você não poderia falar nem fazer nada. Eu estou livre para fazer o que quiser com você. E agora caladinho, é perfeito.

Um gemido escapou de seus lábios cerrados quando passei a língua em seu pescoço, sentido o gosto salgado trazido pelo vento. Seja pelo meu consumo excessivo de sal ou pela criatura na minha frente, mas eu pressentia que minha pressão ia subir logo logo.

Levantei sua camisa arranhando seu abdome e ri ao vê-lo agarrar um punhado de terra em cada mão, seus músculos tensos abaixo de mim. Puxei o lóbulo de sua orelha com os dentes e comecei a sussurrar em seu ouvido.

― Você é forte ― afirmei passando meu nariz por seu pescoço. ― Será que resiste a isso?

O beijei com vontade, e não demorou mais que cinco segundos para que ele saísse do seu modo estático e agarrasse meu tronco, me trazendo mais para cima, mais pra perto dele, retribuindo com desejo e uma voracidade que eu nunca tinha experimentado na vida. Quando nossos pulmões exigiram oxigênio e nos separamos, sorri contra seus lábios.

― Per-deu. ― Peguei minha blusa do chão, a vestindo no caminho, e corri em zig zag como uma demente em direção ao hotel, que era bem perto, e tendo a certeza que ele me seguiria. Seu corpo chocou-se com o meu no momento que encontrei a minha porta.

― Você é má. ― Peeta mordiscou me pescoço, sua mão já trabalhando na fechadura. ― Sou pior.

Entramos aos beijos e às cegas no quarto, a porta fechando com um baque. Tropeçamos no tapete de entrada e caímos no chão às gargalhadas, eu em cima dele.

Gente burra fazendo burrice, apenas.

Minha consciência me alertou, mas mandei ela ir para o inferno e voltei a agarrar Peeta, arrancando a camisa dele e minha blusa novamente em só movimento. Sua mão subia da minha coxa para minha bunda me fazendo gemer, quando o telefone começou a tocar loucamente.

― Ei, Noni, não quer adiar isso aqui não? ― Me surpreendi quando foi Peeta que nos afastou.

― Qual é, Peeta, vai arregar agora? Já tô com a mão no fecho do sutiã!

― A gente tá muito bêbado, geralmente dá em merda. ― E o telefone continuava a tocar.

― Mas você estava bem animadinho ali na praia que eu senti. ― Engatinhei até ele, que estava encostado na cama. ― Vamos lá, amanhã a gente faz de novo, se você quiser tanto assim lembrar.

― Porra, mas você é impossível, chère. ― Peeta envolveu o braço em minha cintura, me puxando para o colo dele. Nos beijamos lenta e demoradamente, mas o barulho estava irritante demais.

― Essa droga de telefone não vai parar? ― Desliguei, mas logo em seguida ele começou de novo. ― Que merda! ― Coloquei o aparelho no ouvido. ― Alô!

Aleluia, irmãos, ela atendeu. O que aconteceu com seu celular nos últimos dois dias? Enfiou no rabo? ― Era Johanna.

― Estou meio ocupada agora, amigaaa. Liga daqui a uns três meses.

― Noni, volta aqui! ― Peeta gritou.

Você tá bêbada e com um cara no seu quarto? Agora sim, botei fé!

― Pois é, e você tá atrapalhando, vou desligar.

Rapidinho, dois segundos. Madge agendou sua passagem para depois de amanhã, mas pelo jeito você vai querer mais alguns dias por aí, não é, sua cadela?

― Vai tomar no cu, Johanna!

Tome você! Ah, e use camisinha. Já falei que herdeiros seus estragariam meu plano de ficar com a empresa para mim, depois de te matar e fazer parecer um acidente. Aproveite, Katniss! ― Desliguei sem falar mais nada.

― Finalmente você também calou a boca. ― Praticamente me arrastei até Peeta que, pela falha luz da lua que entrava pela janela, pude ver ainda estava jogado no chão. ― Você e Jo parecem gêmeos em muitos aspectos. Peeta? Peeta? ― Cutuquei seu braço, mas ele agora respirava calmamente.

O bastardo tinha dormido!

― Quer saber, ótima ideia.

Me aconcheguei em seu peito e segundos depois já tinha caído na inconsciência.


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Notas finais do capítulo

E os bebês dormiram!!! #TrollarEhVida Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Por hoje é só, pessoal... ~voz de desenho animado~
Terça feira que vem, o último capítulo!!!
Vejo vocês nos reviews, se gostarem não deixem de comentar, prometo correr para responder todos dessa vez!!! E não fiquem tímidos, favoritem, recomendem!!! Bjs*



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