Cálice de Dragão escrita por Neko D Lully


Capítulo 4
Conhecidos Desconhecidos


Notas iniciais do capítulo

Yooo mina-san~~~!

O capitulo era pra ter saído ontem, mas me interromperam. De qualquer jeito ta aparecendo agora xD

Agradeço a Tsuki Lieurance Eriun (gêmea do coração) e Olivia Estravados por estarem comentando em todos os capitulos dessa minha fanfic. Estou dando meu melhor!

Aproveitem~~~!

ATENÇÃO PARA AS NOTAS FINAIS!!



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Conhecidos Desconhecidos

Definir o banquete daquela noite com apenas uma palavra, com toda certeza, seria farto

Grande quantidade de diversos tipos de alimentos preparados de diversas formas diferente apareceram diante dos alunos famintos, prontos para atacar o que vissem pela frente. Nada mais típico das instalações da grande escola de magia e bruxaria que era Hogwarts. Mesmo que alguns nascidos trouxas tivessem se surpreendido com a aparição repentina e sem qualquer explicação lógica dos alimentos, eles logo contentaram-se com o ocorrido. Estavam em uma escola de magia afinal, nada mais natural do que tê-la em todos os cantos para o qual olhassem.

Todavia, era unanime a ideia de que, o que mais havia impressionado naquela noite, definitivamente, era o apetite voraz de dois novos alunos em polos extremos do grande salão. Ninguém diria que em corpos tão pequenos, principalmente o da garota magra e minúscula que se espremia na mesa da Sonserina, seriam capazes de comportar tais quantidades de alimento e em uma velocidade simplesmente assustadora. Mesmo que o rapaz do lado da grifinória não fosse tão pequeno ele aparentava ser magro, para não dizer a quantidade de comida que colocava em sua boca de uma só vez.

Como poderia caber?

Alguns no salão riram em divertimento, outros olhavam intrigados tentando procurar o lugar para onde tamanha quantidade de comida ia parar, talvez um pouco de inveja pudesse ser vista pelas garotas ao redor. Outros franziam a testa, enojados e incomodados por tão poucos modos à mesa como aqueles dois apresentavam, jogando tudo o que viam dentro de suas bocas e engolindo quase imediatamente, sem dar tempo de mastigar boas cinco vezes antes de mandar tudo direto para seus esfomeados estômagos. Por fim, havia aqueles que empurraram seus pratos para longe, perdendo por completo cada gota de apetite que poderia ter ao observar tal cena, os rostos de alguns a tornar-se verdes pelo enjoo.

– Isso sim eu chamo de apetite voraz! - riu um dos professores, uma bela mulher de cabelos loiros, completamente jogados para o lado esquerdo, estendendo-se até um pouco abaixo dos seios, enquanto o lado direito mantinha-se raspado com belos desenhos tribais detalhados entre os poucos fios que haviam sobrado, demasiado curtos para fazer alguma diferença. Apesar de seu estilo bastante peculiar, era uma mulher bela, de brilhantes olhos azuis por trás de pálpebras cansadas, como se estivesse prestes a cair no sono a qualquer minuto, a pele ligeiramente rosada, com um enorme sorriso em seus lábios finos enquanto observava os dois alunos aspirar a comida como se não houvesse amanhã. Busto avantajado, fracamente encoberto por suas vestes longas e frouxas, com um belo decote estilizado que atraia a atenção de muitos alunos do sexo masculino, alguns do feminino, não necessariamente por inveja. O que parecia o pedaço de uma tatuagem destacava-se em seu pescoço fino e claro, forçando aos que observavam imaginar o que era e até onde poderia ir.

O professor a seu lado, nada mais nada menos que o Vice-diretor e professor de Transfiguração, bufou em completo desgosto, desviando os olhos para sua própria comida enquanto continuava sua refeição como se nada tivesse acontecido, o cenho ainda franzindo profundamente. Mcgonagall, por sua vez, tentava disfarçar o leve sorriso que insistia em tomar conta de seus lábios enquanto observava com divertimento os dois garotos. Alguns outros professores riam abertamente, jorrando comentários tão sugestivos e divertidos quanto os da bela professora loira.

No final da refeição, depois de longos minutos entre conversas entre as pessoas de suas próprias casas, a comida que havia sobrado desapareceu de cima da mesa, forçando os dois esfomeados a amuar em descontentamento, com um bem nítido beicinho nos lábios, como pobres crianças as quais lhe haviam retirado o brinquedo.

Mcgonagall ergueu-se assim que os pratos foram retirados, pigarreando de tal maneira que todos calaram-se, esperando que pronunciasse o que tinha a falar para que pudessem deixar o lugar, mesmo que alguns já faltassem por terem partido na direção de seus dormitórios de forma antecipada, muitos enjoados e precisando de uma boa noite de sono.

– Mais uma vez dou as boas vindas para os novos alunos, esperando que tenham um bom ano em nossa escola. Os monitores mostrarão os dormitórios e, assim como os professores, eles estão prontos para responder e orientá-los durante seu período de adaptação. Qualquer problema não hesitem em falar. - sua voz era solene, ecoava por todo o Grande Salão de forma a permitir que todos a escutassem de forma clara e sucinta. Alguns mais velhos, que haviam ficado para aproveitar mais a refeição e o reencontro com os amigos, sabendo que não teriam mais nada o que fazer ali, ergueram-se e encaminharam-se para os dormitórios. - Senhorita Kuroo, peço que me espere do lado de fora para tratarmos de seu assunto particular, já informei ao seu monitor que eu mesma me encarregarei de leva-la a Sala Comum de sua casa.

Com um enorme sorriso a pequena garota, que antes devorava sem escrúpulos a comida que havia sobre a mesa, assentiu com empolgação. Ela ignorava olimpicamente todos os olhares voltados em sua direção, junto aos cochichos que começaram a escapar aqui e ali tanto dos primeiros anos quanto dos mais velhos que conseguiram ficar tempo o suficiente para escutar o que foi dito.

– Por que a diretora quer falar com ela?

– Um assunto particular?

– Não gosto dessa garota, seu sorriso me passa arrepios.

– Concordo. Além do mais, é uma sonserina.

– Pode já estar encrencada.

– Ou talvez seja um caso especial.

Os cochichos continuavam, sem cessar. Mesmo com a divisão das casas, cada um indo para seu próprio dormitório, os múrmuros e zumbidos dos alunos não paravam, especulando o que poderia estar acontecendo enquanto observavam, bem ao longe e com olhares fugazes, a garota postar-se de frente a diretora, fora do Grande Salão, caminhando calmamente para o que parecia ser os aposentos da mais velha.

Um dos primeiros anos da Grifinória franziu o cenho, todavia não pela curiosidade sobre a garota, mas indignado pelas especulações que escapavam aqui e ali por entre seus colegas. Não entendia porque todo esse interesse por um assunto tão banal. E qual o problema da garota ir falar com a diretora? Isso não era assunto de mais ninguém a não ser dela! Se eles queriam descobrir alguma coisa, vão até ela e perguntassem! Não mataria ninguém, mataria?

Desistindo de tentar entender o pensamento alheio ele concentrou na conversa mais próxima a qual, para sua sorte, não tinha como foco a pequena sonserina. Apesar de que as duas ruivas também não conversassem sobre nada que realmente chegasse a lhe interessar completamente, era bem melhor do que estava acontecendo em outras aglomerações.

Pensava que observar talvez observar os quadros animados seria mais interessante.

Eles enchiam as paredes de todos os corredores nos quais passavam, escadas se moviam mais acima e algumas figuras pareciam pular de quadro em quadro, como se fosse um mundo 2D apenas deles. Existiam de todos os tipos de imagens, cada uma mais estranha do que a anterior, todavia nada que chegava verdadeiramente a surpreendê-lo ou impressioná-lo. Ele sentia que já tivesse visto coisas muito mais loucas de onde vinha.

Mesmo não recordando-se exatamente da onde veio.

– O que está olhando, moleque?! - esbravejou um dos quadros enquanto passava por ele, subindo mais uma escada, como se já não tivesse subido várias. Todavia não se surpreendeu, assustou ou demonstrou qualquer reação, ao contrário, um sorriso ladino formou-se em seu rosto enquanto movia a cabeça em um pedido silencioso e não muito sincero de desculpas, o qual o quadro apenas ignorou soltando um sonoro "hump".

Uma pintura mal humorada! Era tudo o que precisava ver!

Obteve-se de rir assim que todos pararam, forçando-o a deter seu caminhar também, aglomerando junto a todos os alunos de seu ano. Era sufocante e os malditos pirralhos faziam questão de amontoar-se ainda mais perto para ver o que o monitor fazia a frente. Sua sorte era por ser pelo menos uma cabeça mais alto do que a maioria dos alunos a seu redor, permitindo-lhe ver perfeitamente, e, convenhamos, com total desinteresse, o mais velho de frente para um enorme quadro de uma mulher gorda de vestido rosado, toda pomposa trocando uns quantos comprimentos com o dito monitor.

Em seguida, com a palavra que seria a senha para entrar no dormitório, o quadro se afastou, abrindo uma passagem para uma enorme sala cheia de poltronas e mesas, as quais ainda comportavam alguns mais velhos, ainda vestidos com seus pijamas, conversando despreocupadamente. Também tinha uma lareira, acesa para aquecer o lugar, escadas que levavam aos quartos onde dormiriam, provavelmente divididos por sexo, não sabia se por ano também.

E assim todos se dispersaram.

As duas ruivas logo direcionaram-se para um mesa próxima, onde um pequeno grupo as esperava. Ele as acompanhou, um pouco mais atrás, mãos no bolso e olhar despreocupado, sem deixar que ninguém reparasse a tensão em seu braço a tocar firme uma faca de caça que possuía bem escondidas em suas vestes. O contato com o cabo firme de couro era reconfortante e o mantinha um pouco mais tranquilo com toda aquela situação a qual ainda estava se adaptando.

Sabia o que tinha que fazer, não significava que sabia tudo sobre o lugar onde estava.

Do pequeno grupo conseguiu reconhecer pelo menos três os quais tinha certeza se tratar dos irmãos de ambas as ruivas. O ruivo espichado e sardento era irmão da ruiva de volumosos cabelos curtos e olhos castanhos, se bem se recordava, enquanto os outros dois morenos, um com sardas e outro desprovido delas eram irmãos da pequena ruiva de longos cabelos que permaneciam a servir de ninho provisório para o belo pássaro de fogo o qual não deixava seu ombro.

Sendo sincero não tinha nada contra eles e até mesmo compreendia a desconfiança que depositavam nele, apenas não gostava da maneira como o ruivo pensava sobre a maior parte das coisas. Ele havia puxado o ar ligeiramente preconceituoso de seu pai, a boca enorme para falar algumas coisas indevidas e às vezes impensadas. Todavia, não era o pior a se encontrar ali. Havia reparado que algumas pessoas de casas diferentes poderiam ser muito piores do que ele, mas não significava que sua paciência cooperaria para manter-se sob controle perante a algum argumento que não gostasse.

– Ouvimos os rumores sobre a novata da sonserina. - comentou um dos irmãos Potter. Se não se enganava era o mais velho do grupo, já em seu ultimo ano na escola, todavia não conseguiu segurar o suspiro exasperado que escapou de seus lábios quando assunto finalmente chegou a esse ponto. Acomodado em um canto da mesa, pés sobre a mesma enquanto os braços se mantinham confortavelmente atrás de sua cabeça, balançando ligeiramente sobre apenas dois pés de sua cadeira. - Tem alguma ideia de porquê Mcgonagall quis falar com ela em particular?

– Não. Conversamos com ela no trem e devo admitir que deixou uma impressão boa, apesar de bem misteriosa. - comentou sua protegida, dando de ombros, a fênix de fogo piando em resignação por tal ação. - Não acredito que seja grande coisa.

– Ela parecia legal, é uma pena que caiu na Sonserina. - continuou a outra ruiva um verdadeiro olhar de decepção em seu rosto, o que, por algum motivo, trouxe-lhe um pequeno sorriso nos lábios.

– Não gosto dela, me passa calafrios com aquele sorriso largo e olhos enormes. - comentou o ruivo, o cenho franzido em desgosto. Seus olhos focaram-se nas duas mais novas e, com um ar de falsa sabedoria, continuou: - Eu não acho bom que vocês tenham alguma relação com ela. Se foi mandada para a Sonserina deve ter um bom motivo. Vocês sabem como são as pessoas dessa casa.

– Não deveria julgar uma pessoa sem ao menos conhecê-la apenas pelos lugares os quais frequenta. - comentou o rapaz de forma casual, um pequeno sorriso desenhado em seu rosto enquanto os olhos prateados encaravam o ruivo que anteriormente havia se pronunciado.

– Ninguém pediu sua opinião. Você mais do que ninguém eu quero longe da minha irmã e da minha prima. - vociferou o ruivo, lançando-lhe um olhar ácido o qual não pareceu abalar ao moreno. - Eu não confio em você e nem em sua desculpa idiota de proteger Lily.

– E eu não me importo com o que você pensa, Gakki * - sibilou o moreno, os pés caindo ao chão enquanto se levantava, impondo todo seu tamanho para o mais velho. - Meu objetivo está claro para mim, eu sei o que tenho que fazer. Sem falar que não era você no Beco Diagonal a proteger as duas, era?

– E quem não nos garante que você tem alguma relação com aquelas coisas? Não sabemos nada de você, além do seu nome! Nada nos garante que você pode ser ao menos capaz de protegê-las de vai se saber o que! Não sabemos também se você não está apenas inventando, afinal, o lorde das trevas, maior mau que esse mundo já viu, foi derrotado há anos pelos nossos pais!

Foi em um movimento ágil, ninguém viu como aconteceu nem muito menos quando. Lily simplesmente pôde engasgar ao ver o rapaz diante de seu primo, quase da mesma altura, apesar de que o moreno era alguns poucos centímetros mais baixo, uma mão discretamente próximo ao estomago do ruivo segurando uma afiada lamina que tocava sua perigosa ponta no tecido de suas roupas. Todos congelaram, sem saber o que fazer, enquanto o rapaz se mantinha sério.

– Não duvide de minhas capacidades, teme * - sussurrou, o tom gélido e ameaçador passou calafrios pelo ruivo que sentiu o suor escorrer pela nuca. Ele sabia, apenas observando o olhar predatório do rapaz, que se abrisse o bico para dizer qualquer coisa, não sairia ileso. - Ninguém subestima Portgas D Ace* sem levar as consequências. E mais, o mundo não é cor de rosa para dizer que, eliminando uma erva daninha, outras não crescerão no lugar. As sombras não somem com o ligar de uma lâmpada, elas apenas se escondem onde não possam ser vistas, então abra sua mente, seus olhos e ouvidos. Se eu estou aqui é por algum motivo. - e então se afastou, deixando o pobre rapaz bambo sobre suas pernas. - Agora, se me dão licença, eu vou dormir.

Deixando todos os olhares perplexos para trás o rapaz se retirou, bocejando como se nada tivesse acontecido.

Na Sala comum da casa Sonserina, quase ao mesmo instante, Blue chegava ansiosa. Ela sabia que Stefan já havia sido deslocado para o lugar e deveria estar impaciente em saber que ela estava bem. De acordo com Minerva Mcgonagall ele tinha dado um pouco de trabalho em ser levado até lá, mas no final não tinha gerado nenhum problema grave. Depois de discutirem alguns termos em seu acordo de permanência em Hogwarts e que acabariam por ter um aperfeiçoamento em seus estudos pelo simples fato de não poder dizer se quer um encanto teve permissão para retornar aos aposentos de sua casa, a própria diretora a guiou até lá.

Assim que entrou, apesar de tarde, no entanto, encontrou-se com uma cena bastante peculiar.

Não era surpreendente, ela sabia que em um lugar onde existia aglomerações humanas existia conflitos, seja de interesse ou simplesmente por implicação mesmo. Alguns humanos poderiam ser terríveis em seus vocabulários. Ela mais do que ninguém sabia disso. Mesmo assim, pelo horário e se tratar de pessoas de aparentemente o mesmo ano, a comoção se tornou estranha a seus olhos.

Um grupo de três rapazes, vestidos ainda com seus uniformes, cercavam um rapaz sentado em uma das mesas do lugar, lendo um livro qualquer enquanto, pelo que se mostrava, tentava ignorar os outros três a sua volta. Os três mantinham um sorriso maroto em seus rostos, maliciosos e Blue reconhecia aquele tipo de sorriso. O mesmo que vinha aos lábios de seu Sensho* quando ele estava prestes a desmoralizar alguém apenas usando sua lábia.

Mesmo que ambos os casos fossem diferentes. Os garotos pareciam apenas querer implicar enquanto seu Sensho apenas o utilizava quando as pessoas o provocavam e ele não tinha vontade de sujar as mãos.

De qualquer modo estava disposta a ignorar, afinal, não era problema seu. Não era uma heroína para enfiar-se em assuntos alheios com a intenção de ajudar. Não, ela poderia ser tudo, mas não uma pessoa boa.

Isso se o comentário não tivesse sido soltado bem no momento que passava próximo para ir até Stefan:

– E o que pensa em fazer? Chamar seu pai? - um dos garotos zombou, jogado o livro do rapaz o qual provocava no chão e pressionava sua cabeça contra a mesa. - Sua família perdeu o prestigio mesmo sendo puros-sangues depois da guerra. Vocês são os traidores, a escória do nosso mundo agora. E tudo por culpa do seu pai e do seu avozinho.

E o que se seguiu foi o rapaz que havia falado ao chão, a marca de um sapato em seu rosto enquanto, no lugar onde antes se encontrava, estava a pequena garota, o peito estufado e cenho franzino em descontentamento, irritada. Em suas mãos estava seu pequeno caderno, já com uma frase rabiscada nas páginas brancas, letras furiosas e profundas quase rasgando o papel.

"Se for acusar ou criticar alguém faça pelos pecados que ela cometeu e não pelos pecados que antecederam seu nascimento! Uma pessoa não tem culpa pelos erros de seus pais!"

– E quem você pensa que é para nos dar sermões, pirralha?! - exclamou outro, sua voz erguida, esticando como podia seu corpo para tentar acovardar a garota, que se manteve firme, olhos felinos postos nos três que, ao encarar, estremeceram. Aqueles olhos não eram normais, aquela garota era perigosa. - Tsc! Nos vemos depois, Malfoy!

E os três deixaram o lugar, subindo para seu dormitório.

– Eu não precisava de ajuda. - assobiou o loiro que antes sofria com o maltrato de seus colegas. O olhar frio, todavia marcado pelo desgosto e tristeza encararam a pequena garota que tinha próximo a sua cadeira. A mesma deu de ombros, sua pose firme se esvaindo em questão de segundos para colocar-se como alguém que não ligava, desaparecendo para encontrar-se com um enorme cachorro albino, que latiu feliz ao vê-la chegar.

Ele permaneceu alguns segundos ainda a observar a garota, jogando-se no pelo comprido do animal e lhe dando um fervoroso abraço o qual foi respondido com uma babada língua canina em seu rosto. Em seguida pegou seu livro jogado ao chão, algumas páginas amassadas por terem caído de mal jeito. Não era um estado tão ruim, no entanto. Todas as folhas ainda se encontravam ali, nenhum rabisco com insultos nem nada parecido, o livro estava limpo e poderia muito bem continuar sua leitura sem preocupações.

Um aviãozinho de papel tocou sua mesa, assim que havia acabado de tentar, com um ultimo esforço, desamassar as folhas o melhor que podia. Primeiro olhou com curiosidade, tomou entre suas mãos, analisando o papel para ver se não era nenhuma brincadeira, em seguida abriu o pequeno avião deparando-se com letras rabiscadas em caneta preta formando a seguinte frase:

"Não sou de me importar, mas seu problema me lembra o de um amigo. Se quiser conversar eu sempre estarei disposta a escutar. Não é pena e não tenho quaisquer intenção de prejudicá-lo com isso. Mesmo que quisesse contar eu não poderia: não sei e não posso falar."

Seus olhos claros deram a volta na sala, procurando a origem de tal mensagem, finalmente deparando-se com orbes azuladas salpicadas com verde, tão atentas quanto os de um gato ardiloso durante a noite, tão profundos quanto.

Scorpius Malfoy não costumava confiar nas pessoas, mas por algum motivo sabia que aquela garota era melhor tê-la a seu lado do que contra ele.

O dia seguinte veio com uma péssima noticia para os primeiros anos.

Não, não era porque teria uma aula chata. Voo com vassouras atraiu a atenção de não apenas um dos alunos que pulavam em suas cadeiras no Grande Salão durante o café da manhã em antecipação e expectativa. A má notícia veio na forma da união de duas casas que desde tempos remotos não se davam bem.

Sonserina e Grifinoria tinham seus casos de desventuras entre eles, casos e desgostos que perpetuavam mesmo para os tempos atuais. Apesar de uma ou outra exceção sempre existia aquele atrito chato de inimigos, não seria de um dia para o outro que iria mudar.

Ace não se surpreendia. Dividindo a escola em quatro e colocando-as para competir uma contra a outra era suficiente motivo para causar a discórdia, ele não gostava nada disso. Por isso, quando postou-se de frente para a professora a qual lhes ensinaria o voo com vassouras, Rolanda Hooch, mesmo que ele não soubesse como era possível voar com aqueles pedaços de madeiras com palhas espigadas nas pontas, tão velhas quanto a própria escola e se sentisse meio inseguro, ele fez questão de não se importar em ficar no extremo de seu grupo, próximo aos sonserinos.

Uma pequena garota estava a seu lado, sonserina, cabelos curtos e rebeldes, grandes olhos azuis e preocupados a encarar a vassoura em seus pés. Ela também não parecia se importar muito com essa intriga entre casas, ela parecia mais assustada com o pedaço de madeira a seus pés do que realmente em estar perto dele.

Era até mesmo divertido vê-la cutucando a vassoura com a ponta do pé, incerta, mantendo-se o mais longe possível do objeto.

Ele previa um bom show.

– Muito bem, todos tem uma vassoura?! - exclamou a professora para todos os alunos, alguns consentindo impacientes. - Então vamos começar. Ergam a mão sobre a vassoura e pronunciem claramente as palavras "Suba". Senhorita Kuroo, no seu caso eu aconselho a se concentrar na imagem em sua mente e tentar fazer com que a magia lhe responda. Não se preocupe se não conseguir, Minerva já deve ter lhe falado que apenas no sexto ano alunos normais aprendem feitiços não pronunciados, será compreensível que precise de mais tempo.

A garota a seu lado maneou a cabeça em consentimento, todavia seus olhos indicavam que estava determinada. Ela lhe dedicou um sorriso felino e logo se concentrou no que fazia.

Em instantes todo o lugar estava recheado com a voz dos alunos a pronunciar o feitiço, alguns com mais sucesso do que outros.

Deveria admitir que foi divertido observar algumas tentativas. A ruiva, Lily, conseguiu de primeira, recebendo elogios por parte da professora. Sua prima, Rose, teve um pouco mais de dificuldade, mas logo a vassoura estava em suas mãos. Alguns outros falavam cada vez mais alto e tudo que recebiam era uma madeira contorcendo-se no chão.

Definitivamente era engraçado.

Ele espiou a garota a seu lado que encarava com o cenho franzido a vassoura perto de seus pés. Sua mão erguida a frente e ar atento indicavam que, mesmo que não soltando um ruído, ela tentava seu máximo executar o feitiço. Foi um estranho sentimento que lhe invadiu quando a observava, mais atentamente do que com outras pessoas ao redor, e mesmo estranho era um sentimento familiar. Não soube quando nem o porquê começou a torcer por seu sucesso, esperando pacientemente que a vassoura tomasse seu caminho até a pequena mão da garota.

Lily, depois de conseguir executar perfeitamente seu feitiço encarou seu companheiro ao lado, estranhamente silencioso apesar da tarefa que tinha que exercer. Ele parecia concentrado, encarando determinadamente a garota que tinha ao lado a qual reconheceu ser a mesma com quem haviam conversado no trem a caminho da escola.

Ela parecia séria, era estranho não ver o sorriso felino em seu rosto, uma gota de suor descendo por sua testa enquanto permanecia concentrada. Parecia fazer muito esforço, seu cenho franzido indicava que permanecia submergida em sua própria concentração, infeliz com seus resultados. Não entendia o que se ocorria até o momento que recordou-se, com muita lentidão, que a pequena não poderia falar. Para realizar um feitiço ela precisava fazê-lo sem o encanto e isso era mais complicado.

Uma mão agarrou seu braço, apertando fortemente a junta de seu cotovelo quase ao ponto de prender sua circulação. Seus olhos pousaram-se em Rose, mas ela não lhe encarava, estava concentrada em algo mais a sua frente, os olhos castanhos faiscando com uma emoção que poderia chegar quase a tocar.

– Vamos... Vamos... - murmurava enquanto sua outra mão fechava-se em um punho apertado, dobrando o braço, parecia torcer avidamente pelo que via.

Não foi difícil reparar que ela também esperava o sucesso da pequena Sonserina, como se estivesse esquecido por completo o alerta de seu irmão na noite anterior. Bem, Lily não poderia culpá-la. Enquanto permanecia a observar a pequena garota o mesmo sentimento de torcida enchia seu peito, ansiosa para ver o sucesso da garota. Não sabia porquê, muito menos quando isso comoçou, era como se, apenas dando seu melhor, a pequena morena de olhos felinos cativasse em a observasse, atraindo-os como um imã.

Surpresa, encarou o rapaz a seu lado, ainda concentrado na sonserina.

Não eram muito diferentes. Apesar de seu caráter forte e difícil o rapaz já tinha começado uma conversa relativamente amigável com alguns mais velhos de sua casa. Seu sorriso, apesar de feroz, era travesso, tão prontamente havia cativado sua avó e alguns de seus tios, que sem preocupações não viram problema em confiar nele.

Era uma atração estranho, um carisma perigoso.

Fuup!

A vassoura que antes estava no chão subiu rápido até as pequenas e rechonchudas mãos, assustando a pequena que se mantinha concentrada apenas em executar o feitiço. Mesmo Lily, presa por alguns minutos em seus próprios pensamentos e reflexões, saltou com a conquista. Rose soltou uma exclamação feliz a seu lado enquanto rapaz moreno de olhos prateados a seu lado sorriu orgulhoso.

Lily observou, tão atenta como em qualquer outro momento, como a pequena erguia o olhar, ainda impressionada com seu próprio feito e encarava Portgas diretamente em seus olhos. Tão prontamente ao ver o orgulho que ele demonstrava um enorme sorriso se acendeu em seu rosto, Blue estava feliz, resplandecente, melhor dizendo, apenas porque o moreno a seu lado a observava com orgulho. Lily não saberia como descrever a cena, era como ver dois irmãos ou até mesmo um casal, que durante muito tempo já se conhecessem e apenas torciam um pelo outro.

Lily sabia, a partir daquele momento, que Blue conhecia Portgas. De alguma forma ela o conhecia e isso explicava porque ela não precisou que Rose o apresentasse.

– Muito bem, senhorita Kuroo! Estou impressionada! Dez pontos para Sonserina por essa conquista surpreendente e inesperada! - exclamou a professora Hooch não muito longe. - Portgas! Por que ainda não parece ter feito se quer uma tentativa?!

O rapaz resmungou em desgosto, voltando a concentrar-se em seu exercício enquanto a garota a seu lado suspirava cansada e se deixava cair no chão, respirando de forma um pouco pesada.

Parecia ter usado muito de si para executar o encanto.

Minutos depois todos tinham suas vassouras em mãos, esperando as próximas instruções. Lily não prestava mais atenção, porém. Estava mais focada no que acabou de descobrir e nas novas perguntas que haviam surgido em sua mente.

– Agora, coloquem a vassoura entre suas pernas e esperem meu sinal! - ordenou a professora novamente, fato que todos imediatamente obedeceram. - Assim que eu der o aviso vocês vão dar um pequeno salto, levantando apenas um pouco do chão. Nessa atividade não quero nenhuma gracinha. Prontos? Agora.

Bastou um pequeno impulso, nada mais, e as vassouras mantiveram a levitar seus ocupantes alguns centímetros do chão. Alguns poucos não tiveram tanta sorte, outros quase perderam o equilíbrio. Ace se sentia confortável. Não que gostasse de ter uma vassoura entre suas pernas ou estivesse acostumado, mas seu senso de equilíbrio era perfeito. Ele sentia como se já tivesse enfrentado um balanço bem pior do que o objeto no qual estava sentado.

Blue não estava muito diferente, apesar de que não se sentia muito bem em ter que ficar com os pés longe de algo estável, as mãos bem apertadas no cabo da vassoura.

O balanço do navio em que morava em tempos de tempestade era muito pior do que aquela vassoura.

– Muito bem! Agora, bem devagar, quero que se ergam mais alto. Por favor, procurem não ir muito longe do solo, pelo menos três ou quatro metros já é o suficiente. Tentem se manter bem equilibrados.

Pouco a pouco as vassouras subiam, algumas mais instáveis do que outras. Todavia, como não poderíamos contar que a aula passasse sem qualquer incidente, Ace, que se mantinha tão firme, bambeou em sua vassoura, o corpo inclinando-se para fora, prestes a cair.

Agindo como um relógio Blue cruzou as penas e deixou seu corpo cair para o lado, mantendo-se de cabeça para baixo em sua vassoura enquanto, ao mesmo tempo, segurava com firmeza os braços do companheiro ao lado, salvando-o de uma pequena queda que muito provavelmente o teria dado dores de cabeça. Mais de um havia prendido a respiração em surpresa com tal cena, era até mesmo como se a garota soubesse que tal incidente iria acontecer.

Bem devagar ela fez a vassoura descer, ainda mantendo-se de cabeça para baixo, os braços, apesar de magros eram bem fortes, mantinham bem apertado a pegada nos braços do rapaz, colocando-o com delicadeza sobre o chão gramado. Hooch aproximando-se apressada, preocupação em seu olhar.

– O que aconteceu?!

"Ele é narcoleptico. Foi apenas uma crise, ele caiu no sono durante o voo." escreveu a pequena garota em seu caderno, assim que havia saltado agilmente para a grama. Hooch respirou um pouco mais aliviada.

– Muito bem, cinco pontos para Sonserina por ter evitado um acidente. Senhorita Kuroo poderia me ajudar a levar esse rapaz adormecido para a enfermaria?

"Apesar de não achar necessário, sim, vou ajudá-la." respondeu a pequena, dando de ombros.

– Enquanto ao resto eu quero todos ao chão. Estão dispensados!

Lily observou atentamente as três pessoas se afastando. A situação apenas confirmando ainda mais o que tinha pensando. Blue não poderia saber que Portgas era narcoleptico se não o conhecesse, sem falar que a situação foi muito sincronizada, era quase como se ela esperasse que isso iria acontecer.

Ela estava acostumada com situações assim.

– Lily. Lily! - saltou quando deu-se conta de que Rose a estava chamando. Seus olhos se encontraram, sua prima um pouco irritada por ter que ficar lhe chamando diversas vezes. - Vamos, Lily! Tente ficar um pouco mais atenta!

– Sinto muito.

– Uff... Tudo bem, vamos até a enfermaria depois de arrumar nossas coisas. Tenho certeza que Portgas não ficaria nem um pouco feliz se fossemos para aula sem ele. É muito paranoico, aquele garoto!

Lily assentiu. Ela realmente queria ver o que estaria acontecendo na enfermaria, ela duvidava que Blue fosse simplesmente desperdiçar a oportunidade de falar com Ace em particular. Por alguma razão tinha o pressentimento de que os dois tinham muito o que conversar.

Arrumaram suas coisas e partiram na direção da enfermaria. Lily tinha apressado o passo, mesmo com as reclamações de sua prima, argumentando que Ace ainda demoraria a despertar. Mas a garota não poderia evitar, queria saber qual a relação que os dois tinham e o que poderiam conversar. Ela estava curiosa sobre Ace, ela queria saber mais dele, mas sabia que do próprio rapaz não conseguiria nada.

Se Blue realmente o conhecesse, talvez pudesse retirar suas duvidas com ela.

Assim que se encontraram na porta da enfermaria puxou sua prima para próximo a parede, ignorando seus protestos e perguntas enquanto erguia a cabeça para espiar pela porta. Conseguiu ver boa parte da enfermaria, as camas vazias com novos lençóis brancos e cortinas encolhidas, permitindo ver todas as macas do lugar. Hooch e Pomfrey não se encontravam, todavia conseguia ver perfeitamente Ace e Blue em uma cama próximo a porta, o primeiro já completamente desperto, reclamando de sua doença.

Fez sinal para Rose se manter calada e apertou-se mais contra a beirada da porta, tentando escutar o que falavam. Observou com determinação como Blue puxavam com leveza a manga das vestes do moreno, encarando-o com determinação, como se tentasse passar alguma mensagem com seu olhar.

Ace sorriu com tristeza.

– Você me conhece, não é? - a pergunta escapou, sua voz ligeiramente mais roupa por ter abaixado o tom. Blue pareceu confusa, mas assentiu. - Wari, Ojou-chan*, mas eu não me recordo de nada antes de me encontrar com Potter-chan. Gostaria de conversar com você mais tarde para esclarecer um pouco mais essa situação, mas agora eu tenho que me encontrar com as duas ruivas perto da porta para podermos ir para a aula.

Lily quase engasgou ao perceber que tinha sido descoberta. Não entendia como, tinha certeza que havia se ocultado perfeitamente da visão do rapaz, todavia não perguntou quando ele apareceu a sua frente, os olhos acinzentados a encarando sem realmente vê-la.

Ele parecia triste...

Nenhum dos três ficou para ver a pequena morena, sentada no pequeno banco perto da cama vazia, retirando sua boina e apertando-a entre os dedos pequenos e calosos. Uma pequena e furtiva lágrima escorrendo por seu rosto e caindo sobre o objeto que tinha em mãos.

Meu chapéu não combina com você. Por isso comprei esse presente, assim nós dois temos o que colocar na cabeça, certo? Shishishi.

A memória era dolorosa, mas tão rápido quanto veio a pequena a afastou. Ergueu-se de um salto de sua cadeira e limpou as lágrimas acumuladas, um olhar determinado tomando conta de seus olhos azuis. Mesmo com tal notícia ela não iria desistir, não iria chorar. Era forte, não era uma situação assim que iria abalar sua missão.

Colocou novamente a boina sobre sua cabeça e partiu para fora da enfermaria, o sorriso voltando a seu rosto.

Ela não tinha reparado uma outra presença no cômodo.


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Notas finais do capítulo

Gakki = pirralho, moleque
teme = maldito, desgraçado;
Portgas D Ace = no japão os sobrenomes vem primeiro que os nomes. Como One Piece é japonês estou colocando os personagens de tal categoria com os nomes escritos assim (blue se apresentou no começo com o sobrenome depois do nome. Ela fez isso de proposito para evitar que Lily e Rose se confudam)
Sensho = Capitão (não expliquei no capitulo no prólogo II, então coloquei aqui para tirar as duvidas)
Wari = desculpas ditas de forma mais informal; Foi mal
Ojou-chan = Senhorita, um jeito educado de se referir a uma garota, mulher jovem. (foi apresentado no Prologo I, apesar de não terem me perguntado, estou colocando aqui para evitar duvidas)

Uma curiosidade sobre o cachorro Stefan = ele não aparece na série de One Piece, entretanto o autor do mangá respondeu em um questionário feito pelos fãs e comentou sobre esse adorável animal que a tripulação a qual participa Blue tem como mascote. Por isso ele é bastante usado em fanfics de One Piece.

Blue é uma personagem original minha, não faz parte do enredo de One Piece. Já o Ace realmente é parte da série.

Aliás gente, não pulem os capitulos relacionados a One Piece, por mais que não conheçam o universo é importante lê-los. Eu tentarei deixar o mais claro possível para os fãs de Harry Potter a temática do mundo de One Piece, então, por favor, leiam todos os capitulos sem saltar.

Acho que é só isso. Obrigada por lerem!

Ja na mina-san ~~~!