O Curioso Caso de Daniel Boone escrita por Lola Cricket, Heitor Lobo


Capítulo 20
fOoL fOr YoU


Notas iniciais do capítulo

Sim, o nome do capítulo é escrito desse jeitinho porque é baseado numa daquelas músicas do Zayn, "Fool For You", onde todos os títulos são escritos desse jeito embaralhado mesmo. Acho que o Malik lá teve uma crise de Margo Roth de Cidades de Papel e quis privilegiar as letras maiúsculas *risos*
Já cheguei sem atrasos com esse episódio lindo, tombástico (oi?) e maravilindo (?) que escrevi para OCDB. Nele, a bipolaridade de Shawn Hans ataca novamente - e no final, você vai notar que até o Daniel está adquirindo esse comportamento polarizado - e ficaremos com mais bugs do que antes porque realmente não dá pra entender o que se passa nesse louco shipp que é Shawniel.

Espero que curtam, tenham uma boa leitura e comentem no final ;)



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“Este amor está contaminado. Eu preciso de você e odeio isso. Quando você está lindo desse jeito, eu apenas não consigo resistir… sei que às vezes eu escondo, mas não vou conseguir dessa vez, pois isso vai me derrotar. Eu sei que, se tivesse mais uma chance, faria isso de novo, pois não consigo evitar, pois não consigo evitar. Eu apenas amo ser um tolo por você. Porque eu sou um tolo por você e pelas coisas que você faz.”

— “fOoL fOr YoU”, ZAYN

Washington, D.C.

7 de Outubro de 2015

193 dias antes da facada que pode ou não ter me matado

Se você ama a sua própria vida, eu recomendo que você jamais ouça música com seus fones de ouvido enquanto retorna à sua sala de aula depois que o faxineiro passar o pano pelo corredor. Você pode escorregar e cair de bunda no chão.

Assim como aconteceu comigo agora.

Estou aqui, em pé e retornando à sala de aula para ter uma empolgante aula de química com o professor Luke — detalhes sobre esse professor serão ditos mais tarde quando vocês verem a cara desse desgraçado — depois de pagar o maior micão da minha vida em frente a pelo menos 35% da escola. Estava eu, andando de volta para a sala dos infernos — desculpa, direção queridíssima da escola, mas estudar é tipo isso mesmo, tá bom? Nada contra, só não quero — e ouvindo “Bitch, Don’t Kill My Vibe” do Kendrick Lamar (porque um hino good vibes é um hino good vibes, especialmente se você está ouvindo o remix com Jay-Z) quando eu infelizmente não percebi a placa de “Cuidado: Piso Molhado” deixado pelo faxineiro da escola no meio do corredor. O resultado vocês já podem imaginar.

Caí de traseiro e dignidade no chão.

O legal é que todos os outros alunos que vinham atrás tinham duas reações: ou nem me davam bola e seguiam seus caminhos ou começavam a rir da minha desgraça. A segunda opção com certeza me deixou mais constrangido do que eu já me sentia, mas nada que uma corrente de reações próprias não me fizesse esquecer essa vergonha. Vou até narrar no tempo presente essa parte porque é merecidíssimo.

Primeiro, eu tenho vontade de chorar as pitangas porque eu já sou crescidinho e não mereço cair dessa maneira na vida.

Segundo, eu limpo as lágrimas que nem tiveram tempo de sair porque optei não chorar.

Terceiro, eu me ponho de pé, colocando as mãos no pescoço e tombando minha cabeça para o lado esquerdo, depois para o lado direito, como se estivesse me alongando.

Quarto, eu começo a rir da minha própria queda porque, já que eu não tenho dignidade, não tem pra que eu ficar com vergonha, certo? Certo.

Quinto, volto a andar normalmente como se nada tivesse acontecido rumo à sala de aula e esperando que ninguém da minha turma tivesse visto aquele mico-leão-dourado que paguei.

Sexto e último, passo as mãos no meu traseiro, orando mentalmente para que não esteja tão molhado. Felizmente, dá para disfarçar amarrando um casaco na cintura. E daí que não é algo muito heterossexual e eu não estou em condições de dar pinta? Eu disse alguma vez que queria pegar garotas? Bingo.

A vadia da gravidade não matou minhas vibes, no final das contas.

— Daniel, é verdade que tu acabou de cair no Hans? — Peter praticamente fica a um centímetro do meu rosto assim que ponho os pés para dentro da classe.

— Quem te contou? — Respondo sua pergunta… com outra pergunta.

— Um passarinho verde… chamado Kian e que tava bem na sua frente.

— Vou bater naquela criatura. Mas depois — reviro os olhos — eu só quero esquecer que paguei micão.

— Sinto muito… mas eu estou com uma vontade enorme de hackear o sistema de segurança da escola só para pegar a filmagem da sua grande queda.

— Vai se danar, Peter Gazela.

— Ui, tocou na ferida do nosso amigo — Raven chega por trás e quase me mata de asfixia com aqueles braços no meu pescoço — Daniel, é muita crueldade falar da “gazelice” do Peterzinho.

— Que bom, alguém com bom senso e que me defende — ele ergue as mãos aos céus em agradecimento.

— Espera que eu não terminei a frase — a garota se solta do meu lindo e maravilhoso aconchego (quem não quer abraçar 42 quilogramas de pura solidão?) e fica entre nós — Daniel, é muita crueldade falar da “gazelice” do Peterzinho sem mim!

— Por que vocês dois não procuram algo melhor pra fazer? Tipo, Raven, por que você não pega o seu papel de idiota e esfrega no traseiro do Dan pra ver se dá uma limpada?

— Acordou de mau humor hoje, Bambi? — Eu adoro ser cruel nessas horas. Desculpa.

— Eu quero que você vá arder no fogo do inferno, Daniel Arthur Boone.

— Pesado — a Fields se intromete, de novo — Peter, você sabe que se depender da família Marin-Boone, o nosso amigo já tem lugar VIP ao lado do diabo.

— Ai, desculpa, é mesmo — seus olhos se arregalam e ele põe as mãos em meus ombros — você sabe que eu não tinha essa intenção.

— Tudo bem, não é como se o mundo todo lembrasse de mim 24 horas por dia, sete dias por semana e 365 dias por ano — sorrio fraco — mas agora, acho bom sentarmos. Se o Luke entrar e nos ver em pé e conversando, é capaz de eu encontrar a biblioteca mais uma vez no mesmo trimestre.

E como se fosse mais uma peça pregada pelo destino, o professor de química adentra o ambiente no exato momento em que já estou sentado e guardando o celular na bolsa. É nessas horas que devemos valorizar o tempo e muito, caros amigos. Uma fração de segundo pode te livrar de um professor irritado. Porque, bem, é assim que Luke Flanagan entra para dar aulas duas vezes por semana aqui na 1ª série B: destinado a assassinar cada ser humano do Planeta Terra com as próprias mãos, depois esquartejar cada corpo minuciosamente e por último transformar todos os mortos em lixo espacial, para que ele não precise respirar a decomposição dos ossos em terra firme. Sem brincadeira. Luke Flanagan é bem assim e o coitado acabou de chegar na fase dos 30 anos — com um comportamento totalmente inverso àquele que a Sandy cantou em Aquela dos 30. Aqueles olhos esbugalhados também me amedrontam um pouco, mas nunca admitirei isso em voz alta só para não irritá-lo.

Se Luke Flanagan é bonito? Olha, eu sou suspeito pra falar. Pergunte para a ex-namorada dele que o largou por um modelo com porcentagem de gordura proporcional a de neurônios.

— Bom dia, queridos alunos que insisto em cumprimentar para não ser demitido — a gente também não curte o protocolo do colégio, moço — hoje teremos uma aula diferente. Todos para o laboratório!

— O bom humor dele ao dizer isso me assusta — Raven sussurra em meu ouvido enquanto retira o casaco de sua cintura para irmos juntos.

— Nem me fale — concordo com o que ela diz — ele começou a frase do jeito típico e terminou bem humorado demais…

— Ei, vocês viram o jeito como ele terminou a frase? — Peter aparece bem à minha frente assim que me levanto da carteira.

— Vocês dois tem algum tipo de telepatia? Nunca vi algo assim na minha vida, sério mesmo!

— É como dizem por aí, Raven — o Zaslavski cruza os braços no tórax — amizades de sete meses podem ser mais fortes que amizades de dez anos de duração.

.::.

— Cara, o que deu na cabeça do professor pra ele nos apresentar uma experiência tão foda hoje? — Peter do nada faz essa pergunta, quando estamos saindo da sala de aula e indo ao ginásio da escola.

Basicamente? Vão nos obrigar a assistir a uma palestra que com certeza não fará a mínima diferença nas nossas vidas, mas vale nota no trimestre e é somente por isso que ninguém dará um jeito de escapar dessa falatória toda. Ou você acha que vai dar um surto de interesse em mais de trezentos alunos a ponto deles prestarem atenção na importância que os livros da escola tem para o SAT?

— É parte do protocolo, Peter — respiro fundo e volto a falar — os professores têm a obrigação de variar o conteúdo das aulas, nem que seja uma vez ao ano.

— Mas admita — ele ergue o dedo indicador bem no meu nariz — foi épico aquele momento em que ele ateou fogo no papel e ele não queimou!

— E tudo culpa do álcool de concentração 46% no qual Luke mergulhou o papel antes de meter fogo — completo sua afirmação — milagres da química, meu caro. Milagres da química.

— Falando em química… acabei de encontrar seu senpai no meio dessa multidão — ele diz, quando já estamos na entrada do ginásio — quer que eu te conte o lugar exato?

— Eu deveria me importar menos com o cara que praticou bullying comigo por um bocado de tempo, você não acha? — Encaro Peter com minha melhor expressão de incredulidade — Então não, eu não preciso saber.

— Duvido que você esteja tentando a todo custo evitar Shawn Hans — sua convicção ao dizer tais palavras até me dá um ânimo para acreditar nele — assim como também duvido que você não queira saber como ele está se portando neste exato momento.

— Então saiba que você duvidou errado — respondo com o mesmo tom convicto enquanto me acomodo numa das arquibancadas do ginásio.

— Então, ele está alguns metros à sua esquerda — CALE A BOCA, PETER ZASLAVSKI, EU NÃO PRECISO SABER — sentado com aquela gangue que o segue pra cima e pra baixo nesse mundo. Provavelmente ele é a Regina George daquele grupinho assim como você é a Regina da nossa rodinha da vergonha. Enfim… ah, acabou de chegar uma garota bem irrelevante por lá. Ela está cumprimentando todos os amigos dele. Agora está cumprimentando o próprio Shawn. Ih, essa saudação está demorando mais do que as outras… MEU DEUS, ELES SE ABRAÇARAM — alguém aí me dá uma fita isolante pra eu isolar a voz dessa criança lá na garganta? — ela não quer largá-lo, e me parece que ele também não quer. Ah, agora os dois estão olhando um nos olhos do outro. Quem vê pensa até que é shipp e que é real, se não fosse o fato de que as amiguinhas tão irrelevantes quanto a própria garota atirada estão fazendo o mesmo com os outros meninos. Gente, aquilo lá até parece uma orgia, só que sem as safadezas… coitados, se querem fazer isso, precisarão de uma boa dose de Sense8.

— Peter, duas coisas — respiro fundo porque ele falou tanta coisa absurda que até minha mente precisa se reorganizar — a primeira delas: eu realmente não queria saber de tudo isso. Você falou porque quis. E a segunda: essa última referência foi pesada demais, não acha?

— Foi a forma que encontrei pra te fazer prestar atenção no que eu estava falando, ué!

— Péssima forma, se é isso que você quer saber — massageio minhas têmporas, procurando me concentrar na palestra que está prestes a começar.

— Tem certeza de que você não quer olhar para onde ele está agora?

Minha mente grita que sim, eu não tenho a obrigação de me importar com Shawn o tempo todo e que fará bem para mim não fazer isso nem que seja pela duração de uma palestra. Mas meu coração — o grande traidor dessa porra toda — diz que eu preciso primeiro constatar a indiferença dele em relação a mim, e que para isso, tenho de ver o que está havendo com meus próprios olhos. Claro que sei muito bem que isso é uma armadilha do meu coração para assim eu voltar a admirar o belo rosto e o belo sorriso do Hans… mas quando me pego, em dois segundos eu já estou contorcendo meu pescoço para enxergar a cena antes descrita por Peter.

E não é que é exatamente como meu amigo descrevera antes?

— Não acredito que ele está com aquela irrelevante — Raven exclama em meu ouvido, já que a alta conversa das pessoas ao redor não nos permite falar civilizadamente — dois idiotas se prestando ao papel de idiotas.

— Como vocês conhecem aquela garota e eu não conheço?

— Não senti a necessidade de te dizer “hey, eu conheço uma garota irrelevante e o nome dela é Charlotte insira-um-sobrenome-genérico-nessa-merda”, sabe — ela rebate. Menina ácida nas palavras, hein? Ela é amiga de quem mesmo?

Ah, de mim.

Porra. A culpa é minha. Sigamos em frente.

— Evans — Peter se pronuncia — Charlotte Evans, o nome da ordinária.

— Como você sabe? — Raven e eu gritamos com ele na mesma hora.

— Tenho meus contatos — ele pisca o olho esquerdo para nós. Estranho… definitivamente.

Ficamos em silêncio porque a diretora do colégio — amiguinha de todas as horas e bullyings — pediu o famigerado para todos que estavam nas arquibancadas. Claro que só 40% dos alunos respeitaram o pedido, mas pelo menos o Trio Parada Dura — prazer, eu, Peter e Raven, futuros colegas de quarto porque fizemos essa promessa com nossos dedos mindinhos — obedeceu prontamente. Ouvimos a tudo o que falaram por lá, ou pelo menos o que deu pra ouvir, e até fizemos alguns comentários sarcásticos no meio da história toda. Foi engraçado em certos momentos, chato em outros, mas eu consigo sobreviver a esse tipo de coisa desde que me dei conta de que não preciso fazer atuação pra prestar atenção quando eu só preciso encarar um ponto fixo e viajar mentalmente enquanto ainda olho para aquele mesmo ponto fixo de antes. É uma técnica que funciona, meus caros.

— Danico — Peter me cutuca, faltando uns poucos minutos para o fim da palestra — olha o que a irrelevante da Charlotte Evans está fazendo com o Shawn…

Sem pensar duas vezes, viro a cabeça na direção dos dois e flagro uma irrelevante (já falei que adoro chamá-la de irrelevante porque é exatamente isso quem ela é?) Charlotte — ou Boa Sorte, Charlie, chamem-na como preferir — acariciando os lóbulos das orelhas do Shawn. Daquele que diz me amar e no minuto seguinte dá mole para qualquer vadiazinha que passa na sua frente. Como você quer que eu reaja a isso? Como todos esperam que eu reaja a essa situação? Como o mundo quer me ver reagindo a essa cena?

Então eu te digo o que faço no momento em que encaro aquele momento super íntimo do aparente novo casal — ou, no mínimo, nova paquera — da área: fecho os olhos, conto até três e abro os olhos. E noto que Shawn Hans agora lança um olhar para mim. Ele estava rindo de alguma coisa dita pela irrelevante da Boa Sorte, Charlie quando seus olhos pousaram nos meus, eu sei disso. Chego a pensar que seu sorriso cairá por terra ao ver que eu estou de longe observando a estranha interação daqueles dois jovens cheios de hormônios à flor da pele… Mas muito pelo contrário. Ele apenas abre ainda mais o espaço entre os lábios, deixando seu sorriso ainda mais aberto do que antes.

É como se Shawn, em vez de parar o que está fazendo, opta por continuar o joguinho. Ele sabe o efeito que causa em mim; consequentemente, ele sabe também que pode fazer o que quiser com minha cabeça, porque no fim do dia, eu ainda estarei apaixonado por aquele mesmo sorriso que ele está exibindo agora. Ele sabe de tudo isso e ainda assim prefere brincar com meus sentimentos, mesmo depois da treta do mês passado. O Hans pode até ter maneirado no nível das nossas conversas — isso eu não posso negar. Ele está mais suportável agora — mas, pelo jeito, encontrou uma nova forma de foder com meus pensamentos sem que eu precise mover uma palha para mudar a situação. Ele mexeu os pauzinhos a seu próprio favor, me deixando com nada além dos meus sentimentos idiotas por aquele sorriso que continua firme e forte em seu rosto enquanto penso em tudo o que acabei de pensar. Shawn Hans ignorou os meus avisos e invadiu minha vida com o intuito de controlá-la. Shawn Hans fez de mim um idiota por causa dele e não há nada que eu possa fazer para mudar isso.

Eu sou um tolo por ele e pelas coisas que ele faz.

.::.

— Raven, cacete, onde é que tu se meteu na hora da palestra? A gente num desespero pra encontrar a sua cara no meio da multidão e você nem deu sinal de vida — Peter Zaslavski agindo como uma mulherzinha do tipo ciumenta (porque existem vários tipos de mulheres e existe minha mãe, daí eu tenho que separar as classificações) pra cima da Raven Fields depois de um discurso entediante da diretora? GENTE, EU NASCI PRA PRESENCIAR ISSO!

— Desde quando eu devo satisfação da minha vida para você? — Ela rebate com um argumento que nem eu me atreveria a responder.

Infelizmente meu amigo de sobrenome exótico não pensa da mesma maneira.

— Desde que você me chamou de gazelinha pela primeira vez. Ali você ganhou esse direito.

— Se vocês não pararem, eu vou embora desse ginásio e vou esperar a van chegar lá fora — dou o ultimato.

— NÃO VAMOS PARAR — ambos gritam ao mesmo tempo.

— Então vão vocês dois catar coquinho na beira da estrada porque eu não mereço ficar de vela pra esse ódio todo — jogo as palavras e dou um passo para trás, pronto para fazer minha saída dramática da situação.

Porém, esbarro em algum poste duro atrás de mim. Pergunto-me desde quando há uma coisa tão dura no meio desse lugar, até que eu percebo duas mãos afagando meus ombros e um sopro chegar ao meu ouvido.

— Boa tarde, Danico — aquela famigerada voz sussurra para mim e me deixa doidinho do juízo.

— E eu achando que era um poste — retruco, tentando me fazer de indiferente e me virando para olhá-lo de frente — boa tarde, Shawnie.

— Hum, deu pra me chamar de Shawnie agora? Quem te autorizou?

Meus músculos travam e por um segundo eu sinto meu coração e pulmões pararem simultaneamente. Só que eu lembro no outro segundo que não posso deixá-lo me dominar dessa maneira, então respondo com a primeira coisa que vem à mente.

— Você — cruzo os braços em meu tórax — desde que me chamou de Danico pela primeira vez.

— É um argumento justo — sua expressão continua esbanjando serenidade — e eu gosto de “Shawnie”. Principalmente quando você fala… Eu fico louco.

QUE PORTA É ESSA, CHÃO HANS? QUE PORTA É ESSA? (Sim, eu censurei o palavrão colocando um T no lugar do R porque eu quero muito manter minha sanidade mental e minha santidade comportamental até completar 18 anos. Depois a gente conversa.)

— Hum, louco, é? — Decido entrar no seu jogo, mesmo sabendo que irei me lascar depois — Não sabia que eu tinha esse efeito todo em você.

— Tenha misericórdia do meu coração, amor — ele ergue a sobrancelha — ele pode estar totalmente na sua.

— Eu sei muito bem que não está — hora de inverter o jogo, queridos — eu vi aquela garota, Shawn.

— Ela não é nada perto de você — e, então, ele começa a acariciar meu nariz com seu dedo polegar.

É tão engraçado quando você ouve a pessoa que você gosta falar todas essas coisas quando você sabe que nenhuma dessas coisas é verdade, não é mesmo? Por isso que estou aqui, falando com Shawn Hans como se eu estivesse jogando fora a “incrível” oportunidade de avançar um passo nessa “relação”. Porque eu sei que é tudo mentira.

E, infelizmente, eu amo essas mentiras.

Por isso estou aqui, me divertindo com essa brincadeira verbal ao mesmo tempo em que sorrio abobalhadamente com esse carinho do Shawn.

— Diga-me, você ainda gosta de mim, Dan?

— Pra quê você quer saber? — Eu e minha ignorância adquirida da minha mãe…

— Se eu perguntei, é porque eu quero saber e é da minha conta — Junte minha ignorância com as patadas dele e você tem o casal perfeito.

— Vai me matar se eu… se eu… — começo a travar.

Claro, eu já admiti para o Hans antes que gosto dele. Mas foi por mensagem de texto, e agora é pessoalmente. Como você quer que eu reaja? Quer que eu abra um sorrisão de orgulho e grite “claro que sim, eu tenho orgulho de gostar de você”? Porque, vocês sabem, não é bem assim que a história acontece na real. Eu não deveria gostar dele, e mesmo já tendo admitido, preciso manter as aparências.

— Se eu disser que sim? — Termino de falar, olhando para um ponto fixo na parede só para não encará-lo nos olhos.

— Fique de boa — ele continua mexendo na ponta do meu nariz. Eu vou ficar mal acostumado — ninguém precisa saber. Mas, supondo que ambos temos essa atração inegável…

Ih, lá vem. Lá vem bosta.

— Acho que já está na hora de eu te conhecer melhor — mais do que já me conhece? Filho de uma égua — quando conhecerei meu sogrão?

— Observe meu dedo indicador — levanto o respectivo dedo bem no seu campo de visão — observe meu dedo indicador se mover de um lado para o outro… pois é, eu acho que ele não autorizou essa ideia. Sinto muito, aguarde a próxima chamada e guarde o número do protocolo.

— Que cara de pau, hein — Shawn dá dois passos e de repente já entrelaça seu braço no meu pescoço, de modo que eu preciso fazer o mesmo com ele para não cair com meu corpo fraco e maravilhoso no chão — herdou isso do paizão?

— Não, adquiri com meus amigos mesmo — respondo na lata — inclusive preciso encontrá-los por aí antes do transporte escolar chegar.

— Relaxe, você está comigo… isso não é o bastante?

— É bem legal estar com você às vezes, mas-— estou prestes a dar mais uma patada épica quando a irrelevante da Charlotte — a quem continuarei chamando de Boa Sorte, Charlie porque sou muito rei dos memes nessa história SIM — aparece por trás do meu crush como se quisesse marcar território e já vem dizendo:

— Quem é esse aí, hein, papai?

QUEM TE MANDOU USAR O MEME DA IVETE SANGALO, SUA LOUCA DESVAIRADA?

— É o meu amorzão, Charlotte — seu braço se aperta ainda mais contra meu corpo, e eu sei que ele só quer demarcar território assim como ela… só que sobre mim — algum problema com isso?

— Acho melhor eu ir, Shawn — consigo a façanha de me desvencilhar de seu aperto — a gente termina essa conversa daqui a pouco na van, pode ser?

— Sem problema, Danico. Nos vemos lá!

E, como se não bastasse todo o tiroteio dos últimos minutos, ele ainda se despede de mim passando seu dedo polegar — o mesmo que havia acariciado meu nariz antes — pelos meus lábios e lançando uma piscadela para mim com seu olho esquerdo. Com isso, recebo a deixa para deixar os “pombinhos” a sós, flertando um com o outro e falando sobre lóbulos de orelhas.

.::.

— Eu não sei o que deu em mim hoje, Raven — junto os dedos de minhas mãos em um aperto suave, concentrando o peso dos meus braços na mochila que está em meu colo — em um momento eu fiquei me roendo por causa da interação do Shawn com a Boa Sorte, Charlie. Quando ele veio falar comigo, eu até tentei me esquivar, mas depois entrei no joguinho da conversa. Aí a irrelevante chegou e eu fiquei mais neutro que substância química depois de balanceada, até fui embora daquela interação — inspiro fundo, depois solto aquele ar psicologicamente pesado — O que está havendo comigo hoje, amiga?

— Ah, e você acha que eu posso responder essa pergunta? Faça-me o favor, Daniel — ela revira os olhos.

— Era pra você supostamente me ajudar e não ser tão sincera, sabia? — Encaro-a com uma expressão de incredulidade.

— Desculpa, mas é a verdade — ela ergue as mãos como se quisesse se fazer de inocente — você está é ficando louco, isso sim. Fica se doendo pelo senpai por aí, mas é o primeiro a dar patadas quando finalmente arranja uma interação que preste com o bofe. Eu oficialmente desisto de te entender... ou de pelo menos tentar.

— Daqui a pouco eu também acho que farei a mesma coisa, porque tá difícil, viu…

— Inclusive, não repara agora, mas o Shawn está entrando na área junto ao meu stalker preferido, só que não — seu sussurro é quase inaudível, mas graças à nossa proximidade, consigo ouvi-la a tempo de ficar quieto para ouvir o que tanto ele conversa com Kian Gray.

— Como assim, teu pai não queria que você viesse? Que história é essa?

— Você não entende — ele faz uma breve pausa dramática — ele queria vir me buscar mais cedo pra me levar a um exame de rotina por causa do meu braço, sabe como é esse drama da minha vida… mas eu quis ficar para a palestra e não ia embora até ela acabar.

— Mas foi uma palestra chata pra cacete. Por que merdas você ficou?

— Você não precisa saber e não é da sua conta.

Os dois se sentam bem atrás de nós, fato que tecnicamente não permitiria que eu e Raven conversássemos sobre o que acabamos de ouvir.

Tecnicamente. Porque a doida amiga ao meu lado pega seu celular, abre o app de notas, digita algo e me entrega.

“Conversaremos assim. Enfim, VOCÊ OUVIU O QUE EU OUVI?” — R

“MENINA, OUVI SIM e acho que sei o porquê dessa briga toda” — D

“Conta pra tia” — R

“Quando ele perguntou se eu ainda gostava dele e eu rebati com um “Pra quê tu quer saber?”, ele me respondeu quase que da mesma maneira com a qual ele respondeu o Kian no final” — D

“Você acha que foi por SUA causa?” — R

“Eu sei que pareço meio convencido com essa suposição, MAS FAZ UM SENTIDO DO CARALHO” — D

“Lembra quando eu falei que tinha desistido de te entender? Então, continuo com essa afirmação e ainda estendo aos limites de Shawn Hans. Pelo amor de Tom Holland, vocês dois se merecem só por causa dessa bipolaridade toda” — R

“Fazer o quê, né… ele faz o que quer e quando quer. Eu apenas ajo de acordo com as ações dele” — D

“E por isso você é um idiota” — R

E sei que Raven está certa. Eu sou um idiota.

Um tolo.

Sou um tolo por Shawn Hans.


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Notas finais do capítulo

'CAUSE I'M A FOOOOOOL FOR YOU AND THE THIIIINGS YOU DOOOOOO!
Incorporei os gritos do Zayn aqui porque quis. XOXO.

E então, o que acharam do episódio? Têm alguma parte favorita em mente? Querem sugerir alguma coisa? Deixem suas reviews, booners. Vocês sabem o quanto eu e a Luce - ops, Lola - ficamos felizes em ver vocês opinando sobre essa história doida baseada em outra história mais doida ainda...
Enfim, o próximo capítulo deve sair ainda esse mês - fiquem tranquilos! - e vai ser baseado em uma música da QUEEN BEY, bitches! *O*



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