Cem Anos Depois escrita por Adson Kamps


Capítulo 15
XV - O Inferno Gelado


Notas iniciais do capítulo

SEYNIN NEWS INFORMA:
Após o capítulo XVI será postado a meia-noite do dia 30/10 para 31/10 um especial de Halloween que ira explicar algo sobre o passado anterior a esta história. Não será focado no terror, pois especiais de Halloween na minha cabeça deveriam ser mais focados em magia e fantasia (não que toda a história não seja), mas será adicionado algo como um terror psicológico.
Fiquem atentos e boa leitura ;3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/669381/chapter/15

—=-=--=-=-

  As princesas seguiram viagem por mais três dias floresta à dentro sem falar do que acontecerá no Bosque das Fadas. Por algum motivo – talvez o pó que lhe fora aplicado – Cinderela tinha a sensação que o lugar não havia se destruído mesmo após a morte de todas as fadas. Sua energia parecia pulsar através das árvores e também era emanada da espada de Aurora.

  Aquela lâmina negra causa arrepios na loira mais velha. Parecia que à qualquer momento ia saltar da bainha e voar no pescoço da gata borralheira para finalizar o serviço.

  Durante as horas que se passaram, lutaram contra gnomos, duendes e dríades enfurecidas por sem querer terem ateado fogo em uma árvore quando acenderam uma fogueira, e quando Aurora puxava a espada, a lâmina refletia as cores azul, rosa e verde conforme era brandida na fraca luz solar. Era como se estivesse embebida em mágica – o que pode-se dizer, era verdade.

  A magia da varinha por outro lado, parecia tornar-se cada vez mais fraca conforme aproximavam-se do destino. Agora nem mesmo um fio de luz ela podia invocar sem sentir-se exausta. Talvez fosse esta maldição do castelo que Ariel se referiu, uma proteção contra magia. Mas porque a lâmina de Aurora parecia fortalecida?

  Sempre em frente, prosseguiram o seu caminho por entre a densa floresta que aos poucos ia substituindo os carvalhos por pinheiros – Acho que estamos no caminho certo – comentou a mais nova para quebrar o gelo.

  De repente, uma lufada de ar gelado bateu contra seus corpos fazendo com que os pelos se arrepiassem, e instintivamente deram um passo atrás. Se entreolharam curiosas com a rapidez que o vento parou e resolveram continuar. Novamente aquele frio às atingiu.

— Estranho... – murmurou Aurora encarando a floresta à sua frente e sacando a espada. Aproximou-se outra vez e uma explosão de frio atirou-a de costas, cobrindo-a com uma camada de neve.

— Aurora! – gritou Cinderela indo ajudar a amiga à se levantar. A espada nas mãos da garota chiava ao entrar em contato com o frio – O que foi isso?

— Não fasso ideia – resmungou enquanto levantava – Mas parece que isso, não gosta daquilo— apontou a lâmina em direção ao local.

  Meio cambaleando, a princesa brandiu a arma contra as árvores a sua frente escutando um o barulho de algo rasgando. Repetiu o movimento mais umas duas vezes até que atirou a lâmina em direção aos pinheiros, vendo-a sumir enquanto penetrava no tecido da realidade com um flop.

  Se entreolharam novamente e seguiram a espada.

—=-=--=-=-

  Era o dia do casamento dos mais novos rei e rainha. Gracie, a princesa dos Montes Claros e Edmundo, o príncipe do Reino Praiano se uniriam em matrimônio para consolidar a unificação de seus países, que viria a ser chamado de Arendelle.

  Os pais dos noivos gastaram um quarto de suas fortunas somadas para à construção do Castelo e organizar o casamento nos mais minuciosos detalhes. Eles contavam com a presença dos mais bondosos Mors e de diversos reis que viriam prestar suas homenagens.

  Um altar redondo fora montado no centro do salão com dois tronos adornados em ouro ao fundo. As mesas foram distribuídas após as pilastras que ficavam dez metros depois do altar, deixando assim um espaço para as pessoas apreciarem a cerimônia e depois dançar.

  De pé no altar, estavam os príncipes que se olhavam apaixonadamente enquanto o padre recitava os mandamentos do casamento, Gracie toda de branco e Edmundo de prata.

  Todos os presentes no salão estavam completamente ignorantes ao que ocorria do lado de fora, onde uma pessoa que não fora convidada aguardava o momento perfeito para entrar e acabar com a festa. Era o momento de se provar capaz para suas mentoras, e não deixaria escapar de jeito nenhum.

— E, se alguém tiver alguma objeção, que fale agora ou cale-se para sempre – entoou o padre fazendo sua voz ecoar por todo o salão.

  Um momento se fez e de repente as portas foram abertas. Uma corrente de vento adentrou o local apagando todas as velas e lareiras, deixando como fonte de iluminação os vitrais azuis que ambientavam de uma forma fantasmagórica o lugar.

  Parada sob o batente, uma garota que aparentava dezesseis anos observava todos. Chifres brotavam de sua cabeça e longas asas caiam sobre as costas como um manto. Os olhos amarelos brilhavam de excitação – Eu tenho! – falou andando em direção ao altar.

  Da plateia, uma garota dois anos mais nova olhava apreensiva o que viria acontecer.

— Malévola – murmurou a quase rainha atrás de seu amado.

— Oh, vejo que minha reputação chega aos locais antes de mim – sorriu diabolicamente a menina – É meu dever dizer que fiquei decepcionada por não terem me convidado. Não que isso importe, sei que não devo ser de fácil convivência.

— Não és bem-vinda aqui – grunhiu o príncipe.

— É mesmo? Que situação – disse irônica – Mesmo assim, vim conceder meus votos à vocês – ergueu o cajado que reluzia em esmeralda – Vocês, rei e rainha de Arendelle, serão agraciados por duas crianças; duas meninas muito especiais. Uma delas, porém, nascerá com o mais precioso dos dons: magia.

— Isso não são votos, são maldições! – bradou o pai de Edmundo – Saía daqui seu demônio, antes que lhe mandemos direto ao inferno!

— Ora, esta bem. Eu não queria ter que fazer isso, mas seu pai me ofendeu, príncipe. – a garota se virou de costas para o altar erguendo o cajado – Sua filha mais velha, a qual será agraciada pela magia, será recebida de braços abertos pelo mais rigoroso frio! – uma faixa de luz verde foi em direção à barriga da rainha ultrapassando-a – Seus poderes serão tão congelantes quanto o sopro de um fantasma! Sua pele tão clara quanto a neve, e seus cabelos...

— Pare! – gritou uma garota loira se pondo no meio do corredor – Pare com isso Malévola!

— Ora, ora. Vejam se não é minha irmã corredora de maratonas – provocou a demônio – Achas que pode me vencer? Nem ao menos tem poderes, Leah!

— Tens razão, não tenho poderes. Mas isso não muda o fato de que este reino nada tem a ver com o que aconteceu contigo! – deu um passo à frente – Se queres amaldiçoar alguém, irmã, que seja à mim!

— Leah! – gritaram os pais das garotas indo para trás da filha – Lia, por favor... – suplicou a mãe delas.

— Ora, ora, uma agradável surpresa! Vou destruir dois reinos com uma cajadada só! – ergueu o cetro no ar – Ouçam bem, todos! A família real do Sol Nascente será enviada para um lugar longe daqui, entre o espaço e o tempo! – um furacão quebrou a cúpula do salão descendo sobre Leah e seus pais sumindo logo depois junto à eles – Enquanto a vocês – apontou para os reis de Arendelle – Procurem segurar a língua quando forem falar com alguém tão poderoso quanto eu!

  Uma risada maligna explodiu junto a um fogo verde que consumiu Malévola, fazendo que ela fosse embora junto ao espírito da festa.

—=-=--=-=-

  As princesas passaram pelo “portal” e se depararam com uma floresta de pinheiros coberta de neve. Das árvores, estalactites de gelo pendiam nos galhos junto à gotas congeladas parecendo uma decoração de Natal feita as pressas.

— Uau! – exclamou Cinderela tocando os cristais – Que lindo!

— Realmente – Aurora foi obrigada a concordar enquanto observava as árvores cobertas de gelo. A garota sempre odiara o inverno e adorava o verão, mas aquele lugar era simplesmente surreal de tão maravilhoso – Parece mágica...

— E deve ser – a mais velha foi até a amiga – Esta vendo esse pó sobre o gelo? É o mesmo encanto que sai da varinha, mas sua energia é diferente. Maligna, talvez – brandiu o condão – A grande quantidade deve ser o que esta causando interferência na minha magia.

— Então sua varinha é inútil por aqui – comentou a outra, retirando a espada fincada na neve – Talvez devêssemos tentar achar alguma arma para você por aqui – deu mais um puxão mas a arma não saiu – Pode me ajudar aqui?

— Pensei que eu fosse inútil – Aurora revirou os olhos evitando ao máximo começar uma discussão – No três. Um... Dois... Três!

  Puxaram a lâmina juntas e caíram para trás por conta da força aplicada. A espada havia ficado presa entre um peitoral de ferro preenchido por gelo puro.

— Parece uma estátua – disse Aurora embainhando a arma.

— E realmente é – constatou a outra – Mas quem revestiria uma estatua com uma armadura de verdade?

  Uma rajada de vento sacudiu os pinheiros fazendo com que muita neve caísse sobre elas – Aurora cuidado! – Cinderela pulou em cima da jovem jogando-as para longe quando uma das arvores desabou sobre elas – Você esta bem?

— Um pouco empanada em neve mas não é nada demais – disse enquanto se levantavam – Nossa, alguém esta louco para nos matar.

— Pode ser, mas pelo menos sabemos que estamos no caminho certo agora – disse apontando para o vão que ficara de onde a arvore caiu.

  Ao longe, sobre uma imensa lagoa congelada, podia-se se ver um porto com vários navios “emperrados” no gelo. Um castelo de paredes bege e teto verde se destacava em meio a neblina que percorria os arredores e deixava as montanhas escondidas.

— Que lugar mórbido – comentou Aurora silenciosamente ouvindo um pequeno eco de sua voz percorrer o píer – Estou começando a repensar naquele acordo que fiz com Ariel.

— Ah claro, e o que vai dar a ela em troca de nossas caudas? – perguntou Cinderela ajudando a outra à subir – Vai moldar um floco de neve nesse gelo e pendura-lo numa corrente para entregar a ela?

— Não é má ideia – brincou.

  Observaram o cais com todos os navios presos no gelo. A criatura daquele local devia ser realmente muito poderosa para fazer um estrago daquela magnitude. E mais poderosa ainda para conseguir afastar a nuvem de tempestade de Malévola.

  Existiam apenas dois lugares que o poder de Malévola não alcançava, que eram: o reino de Tritão – atualmente de Ariel – e a morada do mago – que nunca mais fora visto. Mas pelo visto haviam esquecido de mapear junto à esses locais o reino de Elsa, já que nuvens pesadas de nevasca e uma barreira invisível não deixavam passar a maldade – não que esta já não existisse ali.

  Subiram o porto até chegar em um arco que dava para uma vila, onde lia-se Arendelle em letras cursivas. Passaram por varias barracas de frutas e quaisquer produto, completamente abandonadas com seus produtos sendo conservados pelo frio do local.

  O mais estranho eram as estátuas de gelo espalhadas pelas arruelas com expressões de medo e horror no rosto. Eram tão detalhadas que se passariam por humanos se não fosse a transparência e, bem... a frieza.

— Parece que essas coisas estão me observando – Aurora franziu as sobrancelhas enquanto examinava de perto uma das “obras”.

  Cinderela tentou mais uma vez ativar sua varinha, mas nada aconteceu. Suspirando, chamou a mais nova para seguirem em frente. Andaram até um pátio aberto no palácio e repararam que ali havia uma maior concentração de estátuas que em qualquer outro local daquele estranho reino.

  Duas fontes de água estavam congeladas em posições estranhas, como se prestes a cair sobre aqueles manequins de gelo e o ar parecia ainda mais frio ali que em qualquer outro lugar.

— Cinderela, devemos voltar – sugeriu Aurora – Não estou tendo uma boa impressão sobre isto – um vulto de algo correndo entre as estátuas lhe chamou atenção – Você viu isso?

— Isso o que? – novamente o vulto, agora podendo ser identificado como azul passou correndo entre as pessoas de gelo como se uma delas estivesse brincando de esconde-esconde.

— De costas, agora! – colaram-se uma à outra de costas observando o local, tudo estava silencioso. Um silencio mortal.

— O que quer que seja, já foi – comentou a mais velha.

— Não tenho tanta certeza – ficaram uma de frente para outra, uma olhando para cada lado – Pude jurar que vi alguma coisa – Aurora encarou a amiga.

  Cinderela suspirou e olhou a outra. Um grito se formou na sua garganta para avisar Aurora mas a mulher fora mais rápida. Uma pedra de gelo atingiu a loira mais nova que caiu no chão, tonta. Sua visão embaçou e os berros da amiga se tornaram distantes enquanto ela tentava inutilmente invocar os poderes da varinha.

  Tudo escureceu.

—=-=--=-=-

  E como a maldição de Malévola foi prometida, foi cumprida. A primeira filha do casal, Elsa, nasceu com grandes e belos poderes de gelo, enquanto sua outra irmã, Anna, nasceu comum.

  Foi um sacrifício para os reis criarem a primogênita com aqueles poderes. Nenhum deles tinha experiência sobre aquilo e não sabiam como lidar, tendo que partir para uma viagem a procura de Malévola na esperança de que esta cancelasse a praga. Mas eles nunca mais retornariam dessa missão.

  As irmãs poderiam ter convivido com a dor da perda e se consolado, mas a notícia da morte de seus pais nunca chegou ao reino que aguardou durante muitos anos o seu retorno. Todos estavam ansiosos para a volta dos Reis, menos Elsa.

  O fato da garota ser primogênita e estar como primeira na linha de sucessão ao trono já lhe causava náuseas, mas tinha também as responsabilidades que seus poderes traziam. Foi demais para ela.

  Elsa entrou em colapso, o que acabou abrindo espaço para as trevas de Nox possuírem seu corpo. Vozes começaram a sussurrar em seus ouvidos todas as noites dizendo coisas horríveis, “Seus pais fugiram de você”, “Eles nunca te amaram”, “Todos tem medo de você”.

  A jovem se deixou levar pelas vozes, acreditando em tudo é criando mágoas e rancor por seus pais. Até que um dia ela resolveu se exilar. Fugiu para as montanhas, onde criou um castelo feito inteiramente de gelo para manter-se só junto às vozes. Um gigante de gelo foi criado para proteger sua nova morada e manter todos afastados.

  Um dia – fatídico ao certo – sua irmã, Anna, resolveu subir a montanha e converse com Elsa. Após driblar o gigante homem das neves, correu escadas acima em encontro a irmã mais velha. Após muito discutir, Anna resolveu chegar ao ponto.

— Nós precisamos de você, Elsa. O reino precisa, eu preciso! Nossos parceiros de comércio nos deixaram e estamos quase falidos! Nossa única chance é o comércio de gelo com as terras quentes do sul...

— Então é isso – retrucou apoiada sobre a sacada da Torre mais alta – Dinheiro. Eu não passo agora de uma forma fácil para Arendelle conseguir dinheiro.

— O que? Não..!

— Você não veio aqui porque me ama e quer que eu assuma o trono, mas sim porquê é interesseira! – acusou – Quer abusar dos meus poderes para tirar o seu reino da falência!

— Elsa, o trono é seu, não meu! Venha comigo e tudo...

— Basta! Pensa que eu não vi que subiu vestindo a capa real da rainha? – Anna corou ao perceber que havia sido pega – Saía daqui... Saía agora!

  A mais nova saiu correndo escadaria abaixo indo rumo ao seu reino quente e confortável, diferente das montanhas em que Elsa morava.

  Esta por sua vez, passou dias chorando encolhida por ver que até sua irmã, a única em quem ainda mantinha esperanças à queria usar. Mas aquilo também serviu de aprendizado a rainha do gelo.

  Todos sempre a veriam como um meio de negócio ou um monstro, nada mais. Então ela aceitou suas trevas, tendo assim seus poderes amplificados. Desceu a montanha em seu exuberante vestido de azul feito de gelo e chegou a Arendelle.

  A população do reino estava reunida em sua grande maioria no pátio central aguardando ansiosamente à chegada dos recém-casados Anna e Kristopher.

— Vejam se não são meus nunca—leais súditos – riu dos rostos alarmados que surgiram quando ela chegou – Fiquei sabendo que queriam gelo para seu comércio, e a sua única salvação seria eu já que as lagoas daqui ainda não congelaram por ser verão. Estou certa? – silêncio – Estou certa?! – falou mais alto dessa vez.

— Sim senhora – alguém respondeu.

— Ótimo – sorriu maléfica – Vocês querem gelo? Então terão gelo!

  Ergueu sua mão esquerda até uma das fontes e fez sua água congelar de forma ameaçadora, como uma garra. Repetiu o processo com a outra. Colocou as mãos junto ao corpo reunindo o máximo de poder e o atirou para cima.

  A magia azul acinzentada voou até as nuvens de tempestade que cobriam os céus aquela noite onde uma reação começou. O poder foi cristalizando as nuvens que explodiram em uma chuva de neve e afiadíssimos cacos de gelo que caíram sobre a população.

  Desesperadas, as pessoas corriam tentando se proteger das lâminas de granizo que caiam do céu enquanto as portas e janelas do palácio batiam com o vento gelado. Cada vez que alguém era atingido o gelo se espalhava por todo o corpo até chegar no coração, congelando-o e transformando a pessoa em uma estátua de gelo.

  Elsa explodia em gargalhadas enquanto via todo o terror que estava causando, correndo de volta para seu castelo. A nuvem de congelamento se espalhou rapidamente por todo o reino, congelando tudo que fosse vivo e estivesse sem proteção.

  Um “tecido” de gelo foi erguido sobre a realidade por um milagre divino, deixando fora de vista o reino das estátuas de gelo e o apagando de suas memórias. Tudo parecia perdido.

  Mas ainda havia esperança.

—=-=--=-=-

— Ai, minha cabeça – resmungou Aurora se remexendo na cama onde estava repousada.

— Chiii, chiii – uma voz velha sussurrou – Se acalme menina, tudo há de ficar bem.

— Quem... quem é você? – perguntou se levantando.

— Quem eu sou? – sorriu a senhora de cabelos grisalhos amarrados em duas tranças – Você vêm a meu reino e não sabe meu nome?

— Sinto muito – murmurou massageando as têmporas.

— Me chamo Anna – disse a velhinha com um sorriso gentil – Agora a pergunta é: o que você é sua amiga fizeram para deixar minha irmã tão brava daquele jeito?

— Amiga... – arregalou os olhos – Cinderela! Pelos deuses! Onde ela está?

— Calma. Primeiro me conte o que aconteceu para vocês virem até aqui e eu lhes ajudarei.

  Então Aurora contou tudo, desde o momento em que acordara na torre do castelo até o ocorrido no Bosque das Fadas. Não sabia o porquê, mas sentia que aquela idosa era confiável, talvez fossem seus calorosos olhos azuis ou as trancinhas grisalhas.

— E é isso. Eu e Cinderela viemos aqui à mando da rainha Ariel para pegar o colar de Elsa.

— Mas não é o colar dela que detém seus poderes – revelou Anna.

— Como não?! Foi o que nos repassaram e que sem ele, Elsa poderia ser derrotada e o povo de Arendelle estaria salvo!

— Vejo então que vos enganaram. Vou lhe contar a história daquele pingente...

  Era o dia de meu casamento com Kristopher, e resolvemos realizar a cerimônia dentro do castelo. Era um evento fechado ao público, mas iríamos nos apresentar ao povo como novos reis. Havíamos acabado de consolidar nossos votos quando as janelas começaram a bater com uma forte corrente de vento.

  Curiosa como sou, observei pelos vitrais do interior da capela e vi quando Elsa congelou os cidadãos desse reino. Cada vez que uma pessoa era transformada em estátua, uma aura azulada saía de seu corpo parando sob o queixo de Elsa, penetrando em um floco de neve que se formava ali.

  Quando o “trabalho” dela foi finalizado, Elsa saiu correndo para as montanhas em direção ao seu castelo de gelo com algumas auras flutuando atrás de si.

— Calma lá, – Aurora pediu tempo – Então aquele colar armazena almas? Será por isso que Elsa capturou Cinderela?

— Não fasso ideia – admitiu a rainha – Sua amiga é como uma iniciante à fada, certo? Se minha irmã tiver algum plano em mente a aura de uma fada deveria ser bem útil.

— Então ou fomos mandadas para uma armadilha...

— Ou Ariel pretende usar esse colar para o mesmo feito que Elsa – completou Anna.

— Faz sentido... – Aurora observou o lugar em volta percebendo que era a única companhia de Anna. Pousou os olhos sobre um quadro onde claramente eram Anna e seu marido retratados – Você disse que tinha se casado com um tal de Kristopher, mas não o vejo em parte alguma. Ele também foi congelado?

  A velhinha sorriu – Quando o povo começou a ser transformado, Kristopher correu para fora na tentativa de proteger todos do reino. Sabe como são os homens, e a cor do cabelo dele também não ajudava na inteligência – começou a rir, mas parou quando Aurora estreitou os olhos em sua direção – Se uma das agulhas de gelo o atingiu é difícil saber, já que nunca saímos daqui.

— Espera, saímos? No plural?

  Varias pedras depositadas no cômodo rolaram até elas, se revelando trolls em seguida. Um deles, claramente o chefe, pegou na mão de Aurora.

— Você e sua amiga foram destinadas à quebrar essa maldição da rainha Elsa – disse ele a encarando com enormes olhos brilhando em roxo – Sua lâmina esta encantada com o poder das fadas sombrias e de suas três guardiãs.

— Minhas tias..? – a voz da garota falhou.

— Apesar do grande potencial de Cinderela, essa lâmina é a única capaz de derrotar qualquer ser mágico pois esta forjada com os dois lados: luz e trevas. Lembre-se disso. – voltou rolando junto com os outros trolls, se empilhando em um canto da sala.

  Um silêncio pousou sobre o quarto. Ambas olhavam para a espada apoiada na cama que parecia vibrar. Anna deu um sorriso mínimo.

— Quando Elsa e eu éramos pequenas, costumávamos brincar de que poderíamos salvar Arendelle e até mesmo o mundo todo – olhou para Aurora – Agora você e sua amiga Cinderela podem fazer isso. – pegou nas mãos da princesa a encarando nos olhos – Faça isso por mim e também pela minha irmã, ou por quem um dia ela foi.

  Aurora assentiu com a cabeça e se levantou, pegando a espada e sua bolsa com livros. Foi até a porta de saída e a abriu. Observou por um tempo o mundo coberto de neve e voltou-se para a velha rainha – Obrigada – murmurou recebendo um sorriso como resposta. Saiu do castelo.

  Já do lado de fora, ajeitou seu capuz na cabeça e seu casaco de lã junto as tiras que prendiam a espada.

— Estou indo Cinderela – e partiu rumo às montanhas.

—=-=--=-=-

— Muito bem, Malévola – elogiou a fada sombria vinte anos depois, ao ver a jovem Elsa correndo para as montanhas e criando coisas de gelo – Sua primeira maldição foi um sucesso, mas ainda precisa de muito mais para se tornar uma Fada Má legítima. – a mulher aguardava ansiosamente seu prêmio – Mas por hora, será condecorada com seu primeiro guardião. Tragam-no!

  Quatro fadas entraram voando enquanto carregavam uma gaiola coberta por um pano preto. Apoiaram a prisão no chão e retiram o tecido, revelando um corvo em seu interior.

  Malévola vibrou de alegria com seu animal. Os corvos eram um dos mais poderosos guardiões no mundo da magia negra, ficando somente atrás das corujas. Retirou o bicho de dentro da gaiola e o batizou – Seu nome será Diaval.

— Agora, Malévola – flutuou até a moça já com seus trinta e poucos anos – Temos uma nova missão para você: irá até um reino distante, na casa de um senhor e sua filha. Se casarás com ele e tornaras a vida de sua filha um inferno após sua morte.

— Pode pelo menos me dizer o nome dessa garota que terá a sorte de estar em minha presença e sair viva? – questionou risonha.

  A fada mestre sorriu diabolicamente:

— Cinderela!

—=-=--=-=-


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

SEYNIN NEWS INFORMA (again):
Temos obscuros se aproximam da fanfic Cem Anos Depois (pra quem não entendeu: ela pode estar perto de um novo hiatus). Porém uma nova "fanfic" irá preencher seu lugar durante um tempo. Esta história será baseada em um antigo seriado da Disney, então pelo gênero que eu escrevo deve estar bem óbvio qual é xD
—---
E aí? Gostou do capítulo? Deixa seu review vai :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cem Anos Depois" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.