Decepção escrita por Crazy


Capítulo 1
Capítulo único - Decepção




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/668317/chapter/1

- Reina? – Kumiko Omae inquiriu, adentrando a sala de música. A garota pela qual procurava estava lá, sentada em frente à janela, parecendo divagar a respeito de algo importante. Kumiko se aproximou com um sorriso nos lábios e continuou: - Os naipes todos já foram para casa.

Reina, contraditório ao esperado, mal pareceu escutá-la; com os olhos ainda perdidos no céu ensolarado, apenas baixou a cabeça em assentimento e, em um suspiro quase que inaudível, proferiu um breve “ah” desinteressado. Kumiko parou a alguns passos de distância e, sentindo o coração pesar, fitou a amiga por um tempo.

- Hã... Reina, há algo errado? – perguntou, ao que, por fim, tomou coragem e sentou-se na cadeira ao lado da Kousaka. – A gente conseguiu se classificar no concurso! Pensei que ficaria feliz por isso...

A garota permaneceu em silêncio, dobrando as pernas sobre a cadeira para esconder o rosto entre elas. Em seguida, então, suspirou pesarosamente, virando a cabeça para o lado oposto, evitando contato visual. Kumiko mordeu o lábio inferior, receosa.

- E eu estou feliz – a garota de madeixas negras, enfim, fez-se ouvir, mesmo que em um tom quase afônico. – Depois de tanto treino, a gente conseguiu...

O trompete repousava sobre o parapeito da janela em frente. A Omae não precisou olhar por muito tempo para se dar conta de que, mesmo depois de meses sob o rígido treinamento do professor Taki, Reina continuava a treinar até seus dedos e seu fôlego clamarem por piedade. De fato, tendo um pai trompetista, era algo até bem compreensível.

- Ei, Kumiko – a Kousaka continuou com a voz ainda baixa e desanimada, despertando-a dos devaneios. Ela receou um pouco antes de dar continuidade: - V- você... Você acha que o senhor Taki tem namorada?

Kumiko piscou. Como?! O que havia dado em sua melhor amiga para que ela perguntasse aquilo assim, do nada? Estava certo que, durante os ensaios da banda, ela tinha lhe contado que nutria certa “afeição” por ele, porém nada que não pudesse julgar como passageiro.

- Hã? Por quê?

Reina suspirou, já sentindo os olhos marejados.

- Eu o vi ontem, enquanto passeava pelo centro da cidade – disse, pesarosa. Kumiko trancou a respiração, sentindo uma enorme dor no peito por vê-la entristecida daquela forma. – Mas, quando fui cumprimentá-lo, apareceu uma moça de cabelos platinados. Ela o abraçou e os dois saíram de mãos dadas. O senhor Taki também parecia bem feliz por tê-la ao lado...

Uma atmosfera pesada recaiu sobre ambas. Kumiko retraiu os músculos, irresoluta, e baixou a cabeça. A questão, agora, englobava problemas: havia descoberto, na vez em que esquecera o celular no colégio, que Taki era filho único, além de não possuir tios, descartando a possibilidade de a mulher ser uma irmã ou uma prima. Reina, por conhecê-lo há alguns anos, já estava ciente disso também.

- Desculpe, Reina – respondeu com sinceridade. A morena franziu o cenho e voltou a afundar o rosto entre as pernas, permitindo que algumas lágrimas discretas lhe escorressem pelas bochechas.

A Omae sentiu uma fisgada no coração, como se ele estivesse se partindo em dois, ao que se deu conta de algo:

Reina Kousaka era importante para ela.

- D- desculpe-me também, Kumiko – Reina pediu com a voz ainda chorosa, ao passo que enxugava o rosto molhado. – E- eu sou uma boba, mesmo...

Kumiko ergueu-se da cadeira em um pulo, assustando a amiga. Ambas, então, se entreolharam, imersas em um silêncio constrangedor, e sentiram as respirações se acelerarem. Reina arregalou os olhos azuis, cuja intensidade se tornou ainda mais evidente sob a luz do pôr-do-sol, ao observá-la se reclinar em sua direção, aproximando-se.

- Você não é boba, Reina – sussurrou a acastanhada para, com a ponta dos dedos, lhe enxugar um último resquício de lágrimas. Sorriu em seguida na tentativa de animá-la: - Eu a ajudarei a superar, não se preocupe!

A Kousaka retribuiu o sorriso e semicerrou as pálpebras por uma ínfima fração de tempo, ainda sentindo os dedos de Kumiko sobre sua pele. Quando essa fez questão de se afastar, então, segurou-a, levando as próprias mãos àquele rostinho sorridente.

- Você promete?

Kumiko sorriu perante a situação, ao que foi invadida por um breve flashback: o mesmo havia acontecido quando tinha prometido apoiá-la para a audição contra a veterana Kaori. Riu e respondeu:

- Claro – não deixou de soltar um suspiro aliviado, vidrada no olhar da Kousaka. Então, lenta e carinhosamente, fez o que havia feito da outra vez também: pousou os dedos sobre os dela, intensificando o toque em seu rosto. – É uma declaração de amor, afinal.

Reina trancou a respiração ao constatar que Kumiko havia se lembrado daquela expressão. Parou, fitando-a por alguns segundos e, quando os olhares se cruzaram, aproximou-se, dando-lhe um selinho por impulso. Kumiko se afastou quase que instantaneamente, as bochechas ardendo na mais autêntica vermelhidão.

- R- Reina...

- Fechado – a morena cortou-a, sorridente. Então, procurando por seu trompete, arrumou suas coisas e, sem proferir mais nada, foi em direção à saída, sumindo por entre as portas.

Abandonada à própria sorte, a Omae sorriu enquanto passava as mãos sobre a boca. Seus argumentos podiam não ser os mais convincentes e prestativos, mas de uma coisa ela tinha certeza: ajudaria Reina a lidar com a decepção amorosa. Da melhor forma possível.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Decepção" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.