Minha História no Mundo Olimpiano escrita por Vencedora de Lesmas


Capítulo 18
Quem não devia aparecer, aparece!




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  Enquanto eu estava deitada, saindo de um transe emocional e de uma memória aconchegante, algo se aproximara, e estava curvado sob mim. Possibilidades:

a)      um monstro

b)      um estuprador

c)      um monstro

d)     um amiguinho meio-sangue

e)      um monstro

f)       ou Hermes. O que eu tinha a absoluta certeza que não era, embora desejasse isso.

  Tentei forçar a vista, mas ainda estava muito embaçada. Mais sangue jorrou pelos meus lábios. Sentia o nível da água na metade do meu corpo, que encontrava-se jogado no riacho, cercado por pedras. A correnteza levava o liquido vermelho a baixo, manchando o branco cristalino, e inundando minhas roupas. Como eu estava muito tonta, com dor, e confusa por causa do sonho, arrisquei:

  - Hermes? – minha voz saiu horrível. E fez minha língua se contorcer em angústia pelo esforço que fazia para pronunciar cada sílaba.

  - O que? – perguntou o rapaz. Pela voz deu pra perceber que era alguém do sexo masculino, e que era bem jovem.

  - Ã? – balbuciei.

  - Andressa? – só então reconheci a voz de Nico. Meio que felizmente, a opção era a d).

  - Nico – engasguei com o sangue enquanto dizia seu nome.

  - O.... O que aconteceu com você? – perguntou ele. Eu sentia um tremor em suas palavras, e aos poucos consegui distinguir sua sombra. Nico estava vestido com uma camiseta de mangas curtas preta, com o desenho de uma caveira detalhada em prata. O jeans preto e velho normal, o anel de crânio no dedo e a espada de ferro Estigio pendurada na cintura. O Nico de sempre que eu já vira.

  - Ela está bem? – veio outra voz, também masculina. Acho que pelo fato d’eu estar na água, descobri rapidamente que ela pertencia a Percy.

  - Não parece – respondeu Nico que agora se levantava me dando a mão como apoio. Tentei erguer o braço, mas não consegui.

  - Está tudo bem e.... O QUE DIABOS ESTÃO FAZENDO AQUI?! EU NÃO MANDEI VOCÊS VOLTAREM AO ACAMPAMENTO?! – sangue cuspia da minha boca.

  - Ah, como você é chata – falou Percy, se aproximando também.

  De repente, a água me envolveu e começou a me levantar. O liquido vermelho resultado de meus ferimentos era varrido, e meus ferimentos, superficialmente curados. Fiquei em pé com dificuldade, com a água na batata da perna. Minhas roupas estavam secas, e muito rasgadas. E minha visão deixara de ser turva, permitindo-me observar onde estava. Não era o mesmo riacho, não era a mesma floresta. Sem dúvida, era um rio, mas era bem mais extenso que o que eu caí. As arvores eram baixas, e o chão era revestido em capim.

  Percy e Nico estavam ladeados, de frente para mim. O filho de Poseidon usava uma bermuda jeans clara, e uma camiseta azul. Os dois semideuses carregavam mochilas nas costas. Mas, antes que algum de nós dissesse mais alguma coisa, um alvoroço de terra e vente pousou diante de nós. Meu queixo caiu quando a imagem ficou clara.

  - Odisseu?! – perguntei perplexa. O grifo dourado estava na minha frente, mas não foi isso que mais me chamou a atenção. Annabeth, vestindo um jeans e uma blusa de coruja, também com uma mala sob os ombros, montava o meu grifo.

  E-eu tente, interpôs a voz dele, Mas.... A filha de Atena é durona.

  Suspirei e balancei negativamente. A vertigem se apossou de mim rapidamente. Estiquei os braços à procura de algo para me agarrar para recuperar o equilíbrio. Minhas mãos avançaram para vácuo e eu caia lentamente para trás. Antes que eu pudesse tocar o chão, ou dobrar mais meus joelhos para o lado oposto, mãos gigantescas seguraram minhas costas e me empurraram para frente. Me abalei com tamanha força.

  - Oh-oh! – disse uma voz grossa e infantil – Quase não caiu!

  Virei-me, com dificuldade, e dei um grande abraço em Tyson. Certo, não éramos muito amigos, nem nos conhecíamos direito, mas como eu era filha do deus das forjas e ele um ciclope, tínhamos tendência a nos darmos muito bem.

  - Valeu, pequenino!

  Me afastei e lhe dirigi um sorriso. Seu rosto transparecia confusão. Ri baixinho e tentei explicar:

  - É só um apelido. Às vezes eu chamo o oposto do que a pessoa, no seu caso ciclope, é. Tipo, o Percy eu chamaria de “Esperto”, e o Nico eu nomearia com algo do tipo “Sr.Animação”. E eu falo muito “tipo”.

  Nico riu pela menção do tal apelido dele. Percy franziu a testa e fez bico. Tyson sorriu, e sua sobrancelha aliviou a pressão sob o único olho. Annie pulou das costas de Odisseu, o qual ergueu e sacudiu as asas. A filha de Atena foi até seu namorado, e o beijou. Acredito que isso melhorou muito o humor do filho do mar. O grifo veio até mim, com olhar suplicante.

  Sério! Ela me forçou!

  Sacudi negativamente a cabeça.

  Qual o seu problema?! É tão difícil acreditar em mim?! Sua voz era extremamente hostil.

  Cruzei os braços e fiquei de costas para fugir de seus olhos dourados que me encaravam. Ouvi uma conhecida risada maliciosa.

  Terei de contar sobre Hermes, é?

  GOLPE BAIXO!!! GOLPE MUITO BAIXO, MESMO!!! Ahn... Não que eu tenha vergonha disso, mas outras pessoas não poderiam saber o que tá rolando entre mim e o deus dos mensageiros. Ia dar um problemão, sem falar que é proibido o romance entre meio-sangues e deuses!

  - Como assim sobre Hermes? – perguntou Annie, arqueando as sobrancelhas. Meu rosto ficou vermelho, enquanto eu tentava pensar em uma maneira de dizer isso sem transparecer o que aconteceu. A única, além de Odisseu, que sabia sobre minha paixão louca e incontrolável por Hermes era Annabeth. Mas eu não poderia contar para ela.

  - É – disse Nico, que agora franzia a testa – Você me chamou de “Hermes” quando tava desacordada, por falar nisso.

  FUDEU!

  - Er... – tentei me explicar, mas nada racional saia de minha boca. Meu rosto estava queimando.

  Á procura de uma resposta convincente, senti uma tremenda náusea e ânsia de vomito. Antes de qualquer coisa, me inclinei para frente e vomitei. Uma mistura de algo-que-prefiro-não-comentar com sangue se uniu ao rio corrente – que, por fato, eu ainda estava dentro.  Os quatro me olharam com uma cara peculiar de nojo, menos Odisseu. Pelo contrário. Ele parecia tossir.

  - Você também, meu garoto? – perguntei, levantando os olhos, com a boca entreaberta por onde escorria um pouco de restos.

  Sim... aquela hidra não me fez bem.

  - Tenho certeza de que não foi a hidra, amigão.

  - Andressa.... – disse Annabeth, seus olhos cinzentos pareciam preocupados – Você não está... grávida.... está?

  E eu estourei.

  - NÃO, PORRA!!!!! POR QUE DIABOS NESSE MUNDO DE MERDA EU ESTARIA GRÁVIDA?! HEIN?! AINDA SOU VIRGEM!!!! E COM ORGULHO!!!! E VOCÊ, ANNABETH?! – transferi um olhar significativo para Percy – AINDA POSSUI A CASTIDADE?!

  Entenda: eu estava passando mal, com um galo enorme na cabeça, emoções à mil, sentindo-me embriagada, com vontade inexplicável de encontrar logo essa maldita espada, e, ainda por cima, queria poder passar um tempo com Hermes. Ele me fez ficar querendo mais.

  - ESCUTA AQUI!!! – rebateu a filha de Atena – NÃO ME IMPORTA QUEM VOCÊ PENSA QUE É, VIEMOS AQUI PARA TE AJUDAR, MAS COMO VOCÊ ACHA QUE ESTÁ TÃO BEM, PODE SE VIRAR SOZINHA!!!

  - ÓTIMO!!! – berrei de volta.

  - BASTA!!!! –ordenou uma voz, a quem me causou um bruto arrepio – CHEGA!!!!  A VOZ DESTAS CRIANÇAS ILOQUENTES!!!!

  Um homem meio curvado, coberto com uma capa negra se aproximava caminhando sob o rio. E quando eu digo “sob”, quero dizer que ele tava dando uma de Jesus e andando em cima d’água.

  - “ILOQUENTES”?! – perguntei, com a voz já ficando rouca – QUE MERDA É ESSA?!

  Foi muito rápido. O tiozinho se moveu mil vezes mais rápido do que eu perceber que ele se aproximara, intrometendo-se entre mim e Tyson. Uma pancada atingiu-me fortemente na nuca, o que fez sangue espirar de meus lábios.

  - OLHA BOCA, SUA SEM CARÁTER!!!!

  - EU TENHO CARÁTER!!!!

  - SÓ SE FOR UM PÉSSIMO CARÁTER!!!

  - Bem – abaixei a voz, tentando me acalmar e sorrindo maliciosamente – Eu só disse que tinha caráter, mas não que ele era bom.

  Nico comprimiu um riso. O velho me censurou com os olhos. É, não vou mentir: o cara era o meu avô. Não Zeus, o louco que vive em uma caverna e que acha que a história se repete. Recebi outro “pedala” atrás da cabeça.

  - Porra, para com isso!!! – reclamei, acariciando a nuca e limpando o sangue da boca com as costas da mão.

  - OLHA A BOCA, SUA DELINQUENTE!!! – ele estava ficando vermelho e começava a cuspir, sem falar que seus braços tremiam. Você nem imagina a força que eu estava fazendo para segurar o riso.

  - Ah, fica relax.... – Terceiro tapa.

  - Não bate nela! – me defendeu Tyson. Ele é muito fofo pra um gigante que no passado devorava humanos!

  - NÃO SE INTROMETEIS, BESTA ABOMINAVEL!!! – berrou o velho para Tyson, o qual parecia que iria chorar.

  - NÃO FALA ASSIM COM ELE!!!  NÃO SEI QUAL O SEU PROBLEMA, VELHO DO SUBMUNDO, MAS PARE COM ISSO!!!

  Quarto tapa, e mais sangue.

  - BASTA DISSO!!! – e aconteceu. Ele ergueu a mão e estalou os dedos.

  Antes eu tivesse apagado, morrido, whatever. Mas, nããããããão!!!! Tínhamos que ter sido transportados para o maldito lar do meu avô!!!

  O mundo girou, e o chão sob meus pés deixou de existir. Roguei todas as pragas que eu conhecia em grego antigo, enquanto reaparecia no tapete clássico de 176 a.C. Engoli e inspirei muito poeira. Poderia ter sido apenas isso, mas Nico caiu em cima de mim. Depois Annabeth caiu em cima de Nico. Percy caiu em Annabeth, e Tyson caiu em Percy, o que me fez gritar. Confesso que uma lágrima teria se acumulado no canto de meu olho. Minhas costas agora estavam completamente fudidas.

  Os quatro rolaram pro lado, desculpando-se. Falei que não era culpa deles, e me virei para encarar meu avô. Ele estava sentado na típica poltrona de coro reptiliano, ladeado por duas serpentes de cobre, em posição de ataque. A lareira crepitava ao canto, carregando retratos de uma garota ruiva de 12 anos em cima, e muitas vezes pinturas romanas de Diana. O engraçado é que depois eu quem sou censurada por ter me apaixonado por um deus. Enfim, o lugar era um museu, e um museu amplo. Continha as maiores e mais valiosas relíquias que foram recolhidas através dos séculos. A casa/caverna do velhote levaria um historiador à loucura! Meu vô fumava um tabaco com aroma de maçã, o que fez meu olfato se irritar mais ainda. Me ergui, apoiando-me no braço de Tyson e de Nico, e encarei o velho. Foi a vez de ele sorrir maliciosamente.

  - Por que nos trouxe para cá? – indaguei.

  - Ora, não é óbvio? – sua voz mudara. Parecia mais uma daquelas dos políticos quando fazem promessas, sabe? Cheias de confiança e com desejo de induzir a pessoa com qual está falando.

  - Foi você que me apagou? – hora de iniciar o interrogatório.

  - Não.

  - Mas você quem me tirou do lugar que eu tava e me mandou pra outra floresta.

  - Sim.

  - E foi você quem fez Annabeth achar Odisseu? – às vezes, tudo se relaciona à esse velho descarado.

  - Sim, e, antes que você pergunte, também abri o caminho para Odisseu chegar até você, assim como fiz com esses semideuses e ciclope.

  - E, foi você quem mandou os lestrigões?

  - Não, por que tentaria te matar? – por que será, né?!

  - Huh! Sei... – mordi o lábio inferior – Você quem fez eles voltarem?

  - Sim.

  - Por quê?

  - Tenho meus motivos – ele tirou o cigarro dos lábios e o posou no cinzeiro. Seus olhos cintilaram.

  - E quais seriam? – ele queria jogar.

  - Dê tempo, ao tempo.

  - Argh! – como percebi que não arrancaria mais nada dele, resolvi ouvir as explicações dos garotos – E Daniela?

  - Entregue, aos cuidados de Quíron – garantiu-me Percy.

  - Augustin? – dizer seu nome me causava nojo.

  - Hospitalizado – riu Percy. O acompanhei, até sermos censurados por Annabeth.

  - Grover?

  - Voltou para o “trabalho” – disse a cria de Atena.

  - Que orgulho! – sorri – Quem diria.... Ei, e meu carro?!

  - Argos está cuidando. Ele não irá tirar os olhos dele – zombou Percy, e não consegui resistir de sua piada sem graça. Enquanto ria, reparei em um dos semideuses que estava quieto.

  - Nico?

  Ele não respondeu, apenas se remexeu inquieto. Me virei para ele, e indaguei se estava tudo bem.

  - O que estamos fazendo aqui? – perguntou Nico, ignorando minha questão – Onde é aqui? Quem é esse?

  - O avô da Andressa – suspirou Annabeth.

  - Que lugar é esse? – perguntou Tyson, se agarrando ao meu braço. Ele também estava muito quieto. Não o culpo, o lugar dava um baita medo, ainda mais que a pouca iluminação que tinha era macabra.

  - Avô da Andressa? – veio Percy com um ar mais sério, olhando do velho que ocupava a cadeira para mim, e de mim para o velho.

  - Andressa... – sussurrou Annabeth – Você sabe por que estamos aqui?

  - É claro que a tola sabe! – sorriu o velhote, se erguendo animado da cadeira. Ele usava calças marrons, com suspensórios vermelhos, camisa social branca arregaçada até os cotovelos e com a capa preta que o cobria a pouco tempo pendendo no pescoço. Seu rosto não aparentava a idade, não fossem as rugas de expressão e o cabelo extremamente grisalho – É óbvio, não, querida Andressa?

  E, infelizmente, era óbvio, e demais.


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Notas finais do capítulo

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