Novacaine escrita por persondagaga


Capítulo 1
Kiss the demons out of my dreams


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem dessa ideia que surgiu no meio da madrugada!



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Era tarde da noite, a janela que ficava para a rua continuava fechada, devido à recomendação, por inúmeras vezes dada, por seus pais. Dentro do quarto, mais especificamente em cima da cama totalmente bagunçada, Lana estava deitada de olhos fechados contemplando o mundo criado por ela. O notebook branco que estava em cima da mesa cinza encostada a parede tocava o álbum de uma banda recém-descoberta pela garota, já havia criado o hábito de procurar por bandas desconhecidas em seus momentos de tédio. Wild Nothing era o nome da nova banda queridinha por ela, seus gostos mudavam como água, e talvez fosse isso que Brendon mais gostasse nela, seus gostos mutáveis, assim como seu senso de humor único e ácido.

Eram o casal do século, com suas peculiaridades únicas que mais pareciam ter saído de um daqueles filmes indies pouco conhecidos. Lana estava no auge de seus dezoito anos, os cabelos longos e ruivos com ondulações perfeitas nas pontas balançavam enquanto ela conversava e gesticulava de forma animada, e o cigarro sempre entre os dedos... Talvez sua marca registrada. Brendon fazia o estilo bad boy de filmes antigos, o topete sempre extremamente bem feito, a jaqueta de couro e o cigarro entre os lábios que se curvavam em um sorriso amistoso, como se pudesse visualizar a alma das pessoas, bem como seus pensamentos mais íntimos. Ambos se lembravam da noite em que se conheceram, aquela boate estava cheia e o som alto demais, as luzes coloridas brincavam por toda a pista, dando as pessoas novos rostos e novas identidades por uma noite, sorrisos que nada mais faziam além de esconder segundas intenções eram trocados por todos ali, e entre drinks e conversas, Lana se descobriu nos olhos escuros do rapaz de sorriso enigmático.

Desde aquela noite eles ficaram juntos e não havia nada que os pudesse separar, pelo menos assim ambos pensavam. Eram como Sid e Nancy sem a parte trágica, ou com pitadas de partes trágicas, por assim dizer. Lana o esperava naquela noite, assim como em todas as outras, o cigarro já estava pela metade quando uma pequena pedra acertou a janela de seu quarto, fazendo barulho por cima da música do álbum que já se encaminhava para a metade. Já era madrugada, e os pais da menina dormiam o sono dos justos. Ela se levantou com um meio sorriso, enquanto amarrava os cadarços de seus all star, Lana tentava segurar o cigarro entre os lábios. Abriu a janela de forma rápida, seu olhar se voltou para baixo e ela então o viu. Com sua habitual jaqueta de couro preto, cujo cheiro mesclava o perfume dele, o dela, cigarros e uísque barato, Brendon lhe sorriu, gesticulando com a mão livre do cigarro recém-ascendido para que a menina descesse.

O sorriso enorme se formara, ao passo que ela fechou a janela segundos depois, pegou sua bolsa, colocando a alça em seu ombro em seguida. Com bastante cuidado, Lana organizou sua cama de forma que os panos embaixo de seu edredom ficassem no formato de um corpo. Quando se deu por satisfeita, a menina fechou a porta e então desceu as escadas sem fazer barulho algum, abrindo posteriormente a porta que ela havia deixado destrancada de antemão. Fechou a mesma com habitual cuidado e então saiu correndo, indo em direção aos braços de seu amado. Ele a beijou apaixonadamente, como sempre fazia no começo de uma noite vivida pelos dois, era quase que religioso, e então, seus braços que não eram fortes, a envolveram em um abraço apertado.

Entraram no carro velho que Brendon possuía e foram para o centro da cidade. Os olhos de Lana passeavam pelas luzes da cidade que não dormia nem mesmo na madrugada, enquanto sua mão apertava a mão de Brendon, e juntos eles cantavam a música que passava no rádio no ultimo volume. O jovem acabou por parar o carro na vaga de costume, eram clientes assíduos daquela boate no centro. Em meio aos beijos e fumaça de cigarros, ambos adentraram o lugar que começava a ganhar vida naquela noite. A música que se fazia calma era fundo para os jovens desajustados que ali se encontravam, tentando achar um resquício de paz em uma garrafa de cerveja qualquer. Os dois dançavam em sintonia, enquanto Lana rodeava com seus braços o pescoço de seu amado, fazendo-o se aproximar de si para selarem seus lábios em um beijo demorado.

—Eu amo você. -Ele disse assim que saiu do beijo que lhe roubara o ar, para então a fazer girar em seus braços no meio da boate.

—Eu amo você. -Ela lhe oferecera um largo sorriso, enquanto a luz azul lhe atingia o rosto e banhava seu longo cabelo.

As luzes coloridas daquele lugar davam um contraste bonito em todas aquelas pessoas que ali dançavam, enquanto procuravam por nada mais que uma diversão barata. Cada um com seus anjos e demônios interiores, que também dançavam ao som da música. Lana e Brendon estavam longe de ser o casal perfeito, as brigas constantes seguidas de sexo de desculpas eram frequentes. Ele tinha problema com os vícios, os cigarros, a bebedeira, as drogas fortes... Ela possuía problemas psicológicos gravíssimos, havia sido internada várias vezes, e às vezes seu amor por cigarros falava mais alto que tudo.

As noites fora de casa, sexo no carro e juras de amor trocadas na velha picape que Brendon possuía, eram como a fotografia de um desastre coreografado. Todas as imagens bem guardadas em ambas a cabeças, que agora giravam pela bebida ingerida em demasia na noite que se aproximava de seu clímax. Eram o casal imperfeito que mais chegava perto da perfeição, eram o clichê daquela geração que se fazia fatídica por si só. Não havia beleza alguma naquele amor, não à primeira vista, os olhos leigos não poderiam enxergar tal coisa. Não se tratava de uma beleza comum e esperada, era catastrófico, como um quadro colorido pintado no escuro, desastroso sim, mas possuía sua singular beleza. Eram apenas os donos da noite querendo viver intensamente como se aquela fosse a ultima noite de suas vidas, como se o sangue em suas veias dependessem da adrenalina do momento para ser pulsado, precisavam do amor um do outro, pois assim se completavam da forma mais bonita que haviam encontrado. Se bastavam em sua própria catástrofe.

Eram heróis e vilões ao mesmo tempo, jogavam um jogo impossível de se ganhar ou mesmo perder, afinal, não tinham nada a perder ou algo que já não tivessem ganhado. Não há vitórias completas, tão pouco perdas irreparáveis no amor, pelo menos não quando se tem algo chamado tempo a seu favor. E por falar em tempo... Era o que eles mais tinham, seguido de um amor em forma de furacão no peito que destruía qualquer um que ousasse interferir.

Em tempos difíceis para os sonhadores, o amor era tudo o que eles tinham. Perder ou ganhar eram apenas meros conceitos na mente de ambos!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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