—-- França, Paris, 11h ---

Na capital da França, os vestígios da chuva e da neve que caíram de noite eram poucos, apenas o frio permaneceu, pois a neve da noite já terminava de derreter pela cidade. Em um dos bairros médios, uma pequena garota se destacava no cenário frio. Poucas pessoas estavam passando pela rua naquele momento, afinal com o término das aulas de manhã os alunos já estavam em casa, aproveitando o lar quentinho, ou então se encontrando com os amigos em algum lugar mais popular. 

A garota seguia pelo caminho tão conhecido por ela lentamente, observando um parque na quadra seguinte de forma nostálgica. Uma bola espiritual lilás arroxeada a seguia lado a lado, concentrada com o que ouvia mentalmente da companheira. Os longos cabelos negros balançavam com o vento frio, o corte dele na lateral da cabeça lembrava orelhas pequenas de algum animal, a aparência das longas madeixas permaneceu imutável ao longo dos 10 anos passados, como se fosse uma marca registrada, uma tentativa de ser reconhecida logo por pessoas há muito não vistas. Porém, algo havia mudado naquela pequena garota, já com 14 anos, além de quatro mechas verticais lilases – duas em cada lateral da cabeça -, mas apenas o espírito guardião ao seu lado sabia exatamente o que era. 

A garota, conhecida por Lala Clark, havia saído há poucos minutos do colégio onde estudava e caminhava pelo bairro depois de mais um dia entediante de aula. Trajava o uniforme de seu colégio, uma camisa branca com o emblema do colégio no meio da manga no braço esquerdo, uma saia pregueada azul marinho junto com uma meia 7/8 branca e um sapato de boneca num tom de azul pouco mais escuro que o da saia. Chegou ao parque, deserto, e sentou em uma das balanças, enquanto sentia uma presença desconhecida por perto, começou a se embalar, falando com a pequena bola espiritual ao seu lado mentalmente.

Lala: Yuki-chan, por favor, vá buscar a Dragon Scythe.

Com uma concordância, o espírito desapareceu em busca do objeto desejado por sua parceira, Lala sorriu divertida, imaginando a possibilidade de alguém conseguir ver sua Dragon Scythe flutuando no céu, como mágica. Ouviu uma voz masculina se pronunciando, e sentiu a presença já próxima de um grande homem indígena, parecendo ter saído de um filme.

—--: Lala Clark? Gostaria de falar com você.

Lala sorriu de forma radiante, enquanto subia no banco da balança e olhava na direção do grande homem, ainda se balançando.

Lala: É mais elegante se apresentar antes de perguntar o nome de uma dama. Diga-me, quem é você?

Uma voz gentil e brincalhona saiu de seus lábios, continuava com a mesma voz gentil de quando criança, mas o tom angelical e doce apenas cresceu, deixando-a ainda mais formosa, como uma boneca. Seu tom brincalhão não era puxado para animado, mas sim para um provocativo determinado, como de quem já tinha ideia de quem era o homem à sua frente.

—--: Sou Kalim, um patch, um dos juízes da luta shaman e vim te convidar para a aguardada luta de shamans. 

Ao ouvir a resposta, um brilho passou pelos olhos ametistas da garota e ela pulou da balança e foi em direção ao patch. Ela parou na frente de Kalin, que observava a aproximação curioso, para então dar um pulo e conseguir alcançar a bochecha do shaman à sua frente. 

Lala: ... Seu rosto é estranho...

Uma gota de incredulidade escorreu pelo rosto de Kalim e, ao ver que as cutucadas não parariam tão cedo, uma veia saltou em Kalin, demonstrando sua irritação.

Kalim: “Você que é estranha...” ... PARA COM ISSO!

Lala parou e deu dois passos para trás, mostrando um belo sorriso infantil.

Lala: Você é engraçado.

Kalim: E você é irritante... ”eu observei essa garota o dia inteiro, ela não parece forte... Mas como ela consegue sorrir depois do que fizeram com ela no colégio?”

Lala: Mas afinal pra que você veio aqui?

Kalim: “Fui ignorado?” Vim te convidar para a luta dos shamans...

Lala: E se eu não quiser participar? 

Kalim: Você não tem nenhum desejo ou objetivo?

Lala: “Ter minha família de volta e me reencontrar com meus amigos... Mas isso é impossível...” Não... 

Ela voltou a negar, com um sorriso gentil no rosto. Kalim a olhou meio confuso, mas resolveu perguntar outra coisa, tentando imaginar se a pequenina garota à sua frente sabia o que era a luta shaman.

Kalim: Você não que se tornar forte, nem nada parecido?

Lala: ... Não...

Kalim: Bem, caso participe da luta dos shamans pode conseguir se tornar a Rainha Shaman e então você vai poder fazer qualquer coisa... Mas para entrar na Luta dos Shamans você tem que me vencer...

Lala sorriu, sentindo Yuki se aproximar, apesar de aparentar indiferença, estava feliz por Kalim ter aparecido para ela, pois aquele encontro determinava o início de seu tão esperado futuro. Ela sabia sobre a luta shaman, sua mestra havia lhe explicado tudo sobre quando a Clark questionou sobre a estranha energia que sentia se aproximando no céu, assim que o cometa começou a se aproximar da Terra, indicando o começo de uma nova era para os shamans. Yuki estava sobrevoando o parquinho a uma altura que a arma de Lala seria confundida com uma pipa, ou algo semelhante. A dragão pode perceber quando sua parceira sorriu, indicando que estava pronta para receber a Dragon Scythe. 

Lala: Ok, vamos nos divertir um pouco então~ 

Bastou apenas Lala proferir aquelas palavras em um tom divertido e meio cantado para Yuki soltar a foice da altura em que estava, consciente de que Lala conseguiria pegá-la. Kalim apenas observou uma grande foice com a lâmina parecendo a cabeça de um dragão caiu exatamente nas mãos da shaman mais nova e a olhou com uma sobrancelha levantada.

Kalim: Você estava me enrolando?

Lala deu de ombros, e o questionou, ignorando pergunta de resposta óbvia.

Lala: Quanto tempo temos para brincar? Meia hora?

Kalim: Não, você precisa me vencer em 10 minutos se quiser se classificar...

Lala: Ehhh?! Só isso?? Não vamos poder brincar direito assim... 

Lala falou com uma voz meio chorosa, terminando sua frase com um bico emburrado, estava realmente chateada por depois de tanto tempo sem ter contato com outro shaman, sua diversão ter um tempo tão curto. Kalin apenas tentava entender aquela garota, iria lutar dando seu melhor para tentar aprender algo sobre a pequena a sua frente, seu cinto começou a brilhar, seu espírito guardião estava prestes a se manifestar, ansioso pela “brincadeira” que estavam prestes a fazer.

Kalim: Vamos acabar com isso logo...

Após sua fala, seu espírito guardião aparece, revelando-se um grande boi preto de chifres longos, incorporado ao cinto do juiz shaman. 

Lala: Ta bom... Yuki!

Yuki era enorme, com as escamas num tom de preto e com alguns detalhes nela em lilás como os olhos. Yuki lança a Dragon Scythe de Lala no ar, Lala pega sua arma e gira ao redor de seu corpo. A garota para o movimento com a arma apontada para Kalim, ele a olha com um sorriso satisfeito no rosto e ela retribui o sorriso de forma infantil e brincalhona.

Lala: Vamos brincar... tehe ~...

Ela dá um risinho cantado e parte para o ataque tentando cortar Kalim ao meio, ele desvia rapidamente do ataque e tenta revidar com um soco. Yuki o bloqueia, enquanto Lala atacava com mais velocidade. Kalim desvia novamente do ataque da garota e novamente tenta atacá-la, dessa vez com um chute, mas seu ataque novamente é bloqueado, agora pelo cabo da foice, de forma que a pequena Clark foi empurrada com o impacto. Kalim era um shaman experiente, sua velocidade e força eram maiores que a da garota, o que rendeu uma vantagem em golpes desferidos por ele, mas Lala já tinha sofrido bastante com seu treinamento e era orgulhosa de seu percurso. Lala o observava atentamente, o examinando e procurando uma brecha na defesa dele, enquanto ele desferia uma sequência de golpes, que eram desviados e bloqueados por ela. 

Quando Kalim diminuiu um pouco o ritmo, surpreso por ela estar resistindo, acabou percebendo que vários golpes, assim como esperava, haviam-na acertado, ela estava com vários cortes no corpo e nas roupas, mas se mantinha em pé, o que o fez sorrir com a determinação dela em manter a diversão o máximo possível. Ela o viu sorrindo e acabou se distraindo um pouco, nisso ele conseguiu acertar um chute na boca do estômago dela, lançando-a alguns metros para trás. Lala, após uma pequena tosse, percebendo que não seria fácil ganhar a brincadeira sem se unir a Yuki, joga sua foice o mais alto que podia, atraindo o olhar de Kalim para a foice por alguns segundos e...

Lala: YUKI!

Yuki se transforma numa bola espiritual e incorpora na foice de Lala, que sorri de forma quase cruel e ataca Kalim.

Lala: Thunder Betha!!

Lala rasga o ar com sua foice, e desse corte uma energia lilás de alta voltagem vai em direção à Kalim, que consegue se esquivar, mas uma balança que estava atrás dele foi destruída. Kalim olhou para trás rapidamente ao ouvir o estrondo da balança quebrando, a garota sorri satisfeita com a surpresa do índio shaman à sua frente.

Lala: Ainda tem mais! Yuki venha!

Yuki desincorpora da Dragon Scythe e sua shaman a abraça, incorporando-a. A Clark ganhava as asas de Yuki, e dessa forma rasgando as costas da blusa de seu uniforme, enquanto cargas elétricas na cor lilás percorriam seu corpo. Kalim a olhava intrigado enquanto se preparava para correr em direção à baixinha.

Lala: Thunder Alpha!

Lala bateu as asas em direção à Kalim, enquanto cortava o ar com sua arma. Das asas saem raios de eletricidade lilás e de sua arma acontecia o Thunder Betha com mais potência. Kalim tentou segurar o ataque, sem muito sucesso e acabou levando parte do golpe e ajoelhando-se no chão, tremendo com a descarga elétrica que recebera. Lala ainda sorria, se preparando para o gran finale.

Lala: Ainda não acabei!! Yuki!

Yuki desfaz sua união com Lala e volta a sua forma normal, voando um pouco acima do telhado de uma casa, esticando suas asas. Lala apenas a olha e, com um sorriso doce, volta seu olhar para Kalim, que estava se levantando e olhando-a sério.

Lala: Yuki, por favor, o golpe piedoso... Thunder Rain!

Yuki deu um sorriso, mostrando suas presas, e então bateu suas asas em direção a Kalim. De suas asas saem uma enorme quantidade de raios lilás, não tão intensos quanto os que foram liberados no Thunder Alpha, mas maiores e mais rápidos. Ele não tem tempo nem de tentar desviar o ataque, pois Lala já estava na sua frente, há poucos centímetros de distância, preparada para chutá-lo na barriga, ele a socou para longe e recebeu o golpe de Yuki diretamente, desmaiando ferido. Lala, que havia sido jogada poucos metros de distância, levanta-se rapidamente e o olha preocupada, para, em seguida, voltar seu olhar para Yuki de forma pidona. A dragão a olhou curiosa, suspeitando a intenção de sua amiga.

Yuki: Vai querer curá-lo?

Lala: Sim... Ele parece estar mal...

Yuki concorda e incorpora em Kalim, alguns segundos depois ele estava curado e a dragão deixa o corpo do juiz shaman. O patch abriu os olhos lentamente e assim que sua visão se focou, pode ver Lala o fitando preocupada. Ele senta-se rapidamente, ficando tonto com o movimento e sua cabeça lateja de dor. Lala, que estava sentada ao lado dele toca seu ombro suavemente. 

Lala: Você está melhor?

Kalim: Sim... Você me curou?

Lala: Aham... E eu ainda venci em 5 minutos... 

Lala faz um “V” com os dedos e sorri. Kalim ganha uma gota no cenho e procura algo num bolso interno de sua manta.

Kalim: Certo... Você venceu... Aqui está seu oráculo...

Ele diz oferecendo um oráculo, um tipo de pager grande. 

Lala: É o negócio que eu uso pra ter meu pedido realizado?

Kalim: NÃO! Ele serve pra ver com quem você vai lutar na próxima fase e pra te dar avisos...

Lala: Anh... Então eu vou poder brincar mais?

Lala pergunta de forma sonhadora, com os olhos brilhando de forma animada e Kalim, ao escutar a dúvida da pequena, ganha uma gota maior na cabeça, ainda não acreditando na personalidade confusa da garota.

Kalim: É... Toma... Pega logo o teu oráculo...

Kalim oferece novamente o oráculo para Lala que olha para o objeto na mão de Kalim e fala incrédula.

Lala: QUE??? Você não quer que eu use isso, quer?

Lala falava indignada enquanto indicava o “isso”. O oráculo que Kalim tinha mostrado para Lala era totalmente rosa, e ela olhava aquilo indignada, de uma forma como se ele estivesse fazendo algo muito errado e fosse muito óbvio o que ela queria dizer.

Kalim: E o que tem de mais?

Lala: Isso é rosa! Você viu a cor das mechas do meu cabelo? São lilás! Lilás!

Kalim: E...?

Lala: Lilás não tem nada a ver com rosa! E eu NÃO gosto de rosa!

Kalim apenas a encarou com uma gota enorme na sua cabeça, de fato aquela garota era estranha. Ele percebeu que ela não aceitaria aquele oráculo e começou a procurar mais oráculos em seus bolsos e ia mostrando eles para Lala, em busca de um que a agradasse, mas a resposta era sempre a mesma: “Não!”. Ele ia deixando os rejeitados no chão ao seu lado conforme a mostrava, já estava automaticamente deixando os oráculos no chão quando a Clark se pronunciou alegremente.

Lala: SIM!

A pequena Clark segurou um oráculo preto com as faixas de segurança na cor lilás. Os olhos dela brilhavam de forma feliz, Kalim suspirou de alívio ao vê-la. Ela o olhou sorrindo e se levantou.

Lala: Valeu Tio! Tchau!

Lala acena e se vira para ir embora, deixando um Kalim perplexo para trás. Kalim começa a resmungar e ela se vira para ele novamente e, sorrindo, começa a ajudá-lo a juntar os oráculos. Instantes depois Lala já tinha arrumado todos eles e os entregava para Kalim, que não sabia se ficava irritado ou feliz com ela.

Lala: Não achou que eu ia deixar a bagunça pra você né?

Kalim: ... Achei... 

Lala: Agora eu tenho que ir... Tchau tio! 

Lala acenou novamente se despedindo, pegou sua mala e saiu correndo em direção à saída do parque. Assim que chegou ao portal de entrada e saída, encontrou uma garota ruiva a olhando preocupada. A Clark acenou dizendo oi, enquanto ajeitava seu cabelo de forma que cobrisse o rasgo na camiseta e o sangue. Yuki, invisível aos olhos da ruiva estava ao seu lado como bola de fogo. Kalim ainda conseguia ver Lala e ficou a observando com a ruiva, a pequena havia corrido de forma estranha, ele sorriu, satisfeito de ter tido uma boa luta afinal, mas não deixou de se preocupar, pensando em quando a garota conseguiria se curar, já que havia o curado, por que não se curou antes? Ele ficou com essa dúvida até seu oráculo apitar indicando o novo participante que deveria testar: Usui Horokeu, em Hokkaido, Japão.

Garota: Lala! Onde você tava? A Sally tava te procurando!

Lala: Desculpa Kate-chan... Eu tava indo sozinha, passei por aqui e parei um pouco...

Kate a olhou como se dissesse que iriam conversar melhor sobre o cara estranho no parque depois. 

Um garoto alto de cabelo castanho claro se aproximou das duas correndo e acenando feito um louco, enquanto chamava pela mais baixinha com olhos brilhantes.

Garoto: Laaaalaaaaaaaaa!

Ele abraçou Lala tirando-a do chão, Yuki queria poder morder ele, mas não conseguiria, então apenas o olhou irritada, sem ele conseguir ver. Lala fez uma careta de dor e deu um sorriso amarelo para pedir “delicadamente”...

Lala: ME SOLTA JHONNY!!

Kate: ... Maluco... Sabe muito bem que ela não gosta desse tipo de abraço...

Kate deu um cascudo na cabeça de Jhonny, que reclamou de dor e a respondeu, olhando-a.

Jhonny: Mais ela é fofinha demais... E eu amo a Lala... 

Jhonny fala choroso enquanto a soltava no chão, Yuki a olhou preocupada, e numa rápida conversa entre shaman e espírito, combinaram que assim que chegassem à seu destino, Yuki a curaria.

Lala: ... Vamos logo, Sally-sama já deve estar no hospital...

Então os três amigos continuam seu caminho até o hospital enquanto conversavam animadamente, embora os amigos soubessem que Lala sofria sempre que fazia aquele caminho...