A Última Carta - A Seleção escrita por AndreZa P S


Capítulo 13
2.10




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Encruzilhada

Sinto alguém apertar minhas bochechas antes de acordar. Abro os olhos um pouco assutada, dando de cara com um Maxon tentanto conter a risada. Sento-me na cama ainda sonolenta, procurando com os olhos qualquer relógio que pudesse me dizer que horas eram.

–Que horas são? - Pergunto eu enquanto coço um dos olhos com a mão. Maxon senta-se ao meu lado na cama e abre um sorriso.

–21:49 para ser exato.

–Poxa, acabei pegando no sono. - Murmuro ao me espreguiçar toda.

–Acho que a reunião demorou um pouco mais do que o previsto, desculpe. - Se lamenta com um sorriso um tanto abalado. Dou de ombros me ergo rapidamente, ficando de frente para ele.

–Ainda podemos jantar, Maxon! Nunca é tarde para uma bela refeição.

Ele riu um pouco.

–Você tem razão.

–Vou apenas tomar um banho, e então podemos ir, tá?

–Sem pressa. - Responde ele com uma careta, olhando para o seu relógio de pulso. - Quer dizer...se puder ser rápida, será bem interessante.

Solto uma risadinha marota.

–Relaxa. - Caminho em direção ao roupeiro, procurando por alguma peça de roupa adequada. Mas...espera! Para onde íamos mesmo? - Pra onde a gente vai? - Indago, lançando uma olhada por sobre meu ombro para Maxon.

Ele havia se sentado na sofá e olhava alguma coisa no celular.

–Você vai gostar. - Afirma simplesmente.

–Mas que roupa eu vou? Tipo, posso ir de jeans ou seria melhor ir de vestido? - Questiono, agora voltada para Maxon e com as mãos na cintura.

Ele larga o aparelho no estofado e vêm em minha direção, parando de frente para o guarda roupa coçando a lateral de seu rosto.

–Você é linda e ficaria bem com qualquer roupa, mas acho que já disse isso. - Fala, me olhando de soslaio bem na hora em que senti minhas bochechas levemente ruborizadas. - Mas sei que você não ficaria satisfeita com essa resposta, então use esse vestido. Nunca te vi com ele. - Concluiu ao pegar uma peça azul tão escuro que poderia se passar por preto caso não prestasse atenção. Pego o vestido de sua mão e solto um suspiro.

–Odeio não saber das coisas. Tem certeza que isso aqui é adequado? - Indago novamente ao estreitar os olhos e apontar com o polegar para roupa que eu segurava.

Maxon revira os olhos e olha mais uma vez para o seu relógio.

–Jamais te daria uma informação errada. Agora se apresse, se não for pedir muito.

Dou de lingua e pego tudo o que precisaria para tomar um banho sem precisar aparecer só de toalha no quarto.

Maxon e eu estávamos de mãos dadas, e por ser algo que se repetia seguidamente, nem me importei dessa vez. Chegava a ser rotina. A recepcionista do belo restaurante sorriu para nós assim que paramos em sua frente.

–Boa noite, senhores. - Cumprimenta ela com um sotaque que julguei ser francês. Tão bonito!

–Boa noite. - Respondo, enquanto Maxon apenas sorri de um jeito tão encantador que me surpreendi pela a moça que nos atendia não começar a babar. Quero dizer...nada, melhor não dizer nada. Nem foi tãooo encantador assim...ér, esquece.

–Fiz duas reservas para essa noite em nome de Maxon Schreave. - Murmura com a voz formal e educada que ele usava comigo nos primeiros dias na mansão.

A moça de feições delicadas e cabelos tingidos de vermelho assentiu com a cabeça e logo começou uma pesquisa em seu computador, deu alguns cliques no mouse e alguns segundos depois nos contemplou com um sorriso no rosto.

–Uma às 20:30 e outra às 22:15, certo?

–Sim, o primeiro horário liguei cancelando, falei com a senhorita Candice.

O sorriso da garota se abriu ainda mais.

–Sou eu. - Candice digita mais alguma coisa e então chama alguém por um pequeno aparelho: - Pierre, entrada principal, por favor. - Agora ela nos fita com um ar quase encantado. - O responsável está chegando para levá-los até a mesa reservada.

–Obrigada. - Digo eu, enquanto olhava de relance para o meu reflexo no espelho adordano com flores douradas. O vestido que Maxon escolheu tem uma fina alça e desliza pelo o meu corpo até um palmo e meio acima dos joelhos. O corte é reto e há uma camada de tecido transparente e escuro que caia sobre ele. Simples, mas elegante. Acho que fora sua mãe que me deu.

–Vocês são um belo casal. - Diz ela de forma simpática, me fazendo sair de minhas divagações. Abro o maior sorriso do dia e Maxon me acompanha.

–Gentileza sua. - Responde Maxon olhando para ela, logo depois seus olhos castanhos focam em mim. - Mas com uma mulher dessas do lado, qualquer homem se torna um príncipe.

Corei as bochechas e decidi não falar nada sobre o comentário de Maxon, mas no fundo me perguntei se ele falava sério ou só queria impressionar a garota.

–Você é muito gentil - respondo ela com um sorriso um tanto constrangido. Candice suspira de forma discreta e foca seus olhos nos meus cabelos por alguns segundos. Pouco tempo depois, um homem vestindo uma calça social escura, uma camisa social branca e um colete também branco com adornos dourados apareceu. Em seu pescoço havia uma gravata borboleta vermelha.

Ela sorri mais uma vez para mim e para Maxon, e então sua atenção volta-se para o cara.

–Pierre, acompanhe-os até a mesa 36.

Pierre nos olha com um sorriso discreto nos lábios.

–Por aqui, por favor. - Murmura em voz baixa, fazendo sinal para que a gente o acompanhasse. O lugar era imenso, a decoração se resumia basicamente a dourados e vermelhos, volta e meia podíamos ver espelhos reluzentes. O homem nos levou até a área de fora do restaurante, onde havia um lago imenso, onde árvores com flores rosinhas o ladeava. O ar agradável amenizava um pouco o calor da noite e eu, definitivamente, estava encantada.

Nos sentamos em uma mesa pequena, de dois lugares. Maxon arrastou a cadeira para trás para que eu sentasse e então ficamos um de frente para o outro. Pierre nos perguntou o que queríamos comer e meu suposto noivo murmurou nomes em frânces e eu mal entendi o que ele dizia. Bem feito pra mim, que não prestava atenção nas aulas que a Dona Consoela me dava.

–Muito bonito. - Falo assim que Pierre dá as costas para nós, ainda olhando ao meu redor.

–Eu sei que sou bonito. - Retruca com sorriso de lado.

Bufo, mas não respondo nada. Meu sorriso idiota falava por si só.

Um garçom volta trazendo a entrada e uma bela garrafa de champanhe, servindo-nos logo em seguida.

–Obrigado. - Maxon diz e o rapaz que devia ter a minha idade sorri e pede licença antes de partir. Agora ele está olhando para mim sem parar, um pequeno sorriso espreitava em seu rosto.

Ergo uma sobrancelha.

–O que foi?

Maxon toma um gole de champanhe e se faz de desintendido.

–O que foi o quê?

–Você está me encarando, pensei que tivesse perdido alguma coisa no meu rosto.

Ele suspira antes de responder:

–É que você combina muito com esse lugar.

Mordo o lábio inferior e dou uma garfada em algo que eu só vi uma vez na vida. Até que era gostoso. Eu não sabia o que ele queria dizer com aquilo, e não iria perguntar.

–Entendi.

Maxon solta uma risada abafada e quando fito o seu rosto há uma espécie de contentamente contido, mas logo suas sobrancelhas ficam franzidas e ele olha para o guardanapo de papel diante de si.

–Algum problema? - O questiono, observando seu rosto de forma atenta.

–Na verdade, gostaria de falar sobre o nosso beijo.

Fico surpresa por um momento e como me mantenho em silêncio por um bom tempo, ele continua:

–Gostaria de me desculpar novamente. - Ele batia levemente o garfo na borda do prato de porcelana enquanto falava. - Não quero que pense mal de mim ou qualquer coisa do tipo.

–Olha só, eu sei que isso faz parte do contrato. Se a gente não se beijasse na hora, talvez estaríamos levantando bandeira, e isso seria péssimo pra mim e pra você. - Eu digo num jato. Maxon parece achar graça da forma que me expressei, mas não riu.

–E no fim nem foi ruim, acredito. - Afirma com um ar brincalhão.

–Não. - Falo sem pensar, fazendo Maxon abrir um sorriso largo e inclinar a cabeça para o lado.

–Você deve já ter beijado muitos caras para poder comparar, então encaro isso com um grande elogio.

Solto um suspiro constrangido e me mantenho encarando a comida ao murmurar:

–Na verdade, não muitos.

–Não? - Fui incapaz de olhar para o seu rosto, mas sua voz transmitia incredulidade.

–Não, na verdade você foi o segundo.

–Que pena. - Diz, parecendo um pouco desapontado.

Agora me obrigo a olhá-lo.

–Pena por quê? - Questiono com a testa franzida.

–Teria sido o prazer de ter lhe dado o primeiro beijo de sua vida.

Começo a rir.

–Aff, Maxon. - Balanço a cabeça e alguns fios de cabelo acabaram indo parar em meus olhos. Sopro eles até que voltem para o lugar. Maxon ainda me olhava, agora com os cotovelo cravados na mesa, um de cada lado do prato, e seu queixo repousava nas mãos cruzadas. - Você estaria querendo demais, não acha? - Concluo eu.

Ele concorda com a cabeça.

–Pior que eu acho que realmente seria querer demais. - Diz, e então seus olhos fitam ao longe e ele volta-se a tornar as costas e eretas e encostá-las na cadeira.

–E você? Já beijou muitas garotas? - Pergunto toda curiosa. Uma parte de mim gostaria que ele estivesse empatado comigo, a outra pouco se importava.

–Algumas. - Afirma com a voz risonha.

–Hum.

O restante da noite fora agradável, a conversa fluiu sem nenhum assunto constrangedor, e pareciamos contentes com a presença um do outro.

Maxon está deitado no sofá, respirando de forma tranquila enquanto eu me remexo toda na cama, bufando por não conseguir pegar no sono. Talvez seja culpa por aceitar com que ele durma no sofá que, mesmo sendo grande e confortável, não se comparava à uma cama de verdade. Empurro a coberta fina com os pés e me levanto apressada, indo em direção à geladeira e bebendo uma garrafinha inteira de água gelada em poucos segundos. Assim que acabo, jogo-a na lixeira onde estava escrito "Plásticos". Quando volto pra cama, sinto os olhos de Maxon cravados em mim.

–Perdeu o sono? - Me pergunta em voz baixa.

–Nem cheguei a achá-lo, na verdade. - Ele sorri para mim e eu acabo sorrindo de volta. - E você?

Ele dá de ombros.

–Acho que não estou muito acostumado a ouvir ruídos durante a noite. - E solta uma risadinha.

–Do que está falando? - Estreitei os olhos.

–Você não para de se mexer, America.

Com uma careta, digo:

–Desculpa.

Ele se levanta e senta na beirada da minha cama.

–Você fica muito bem a meia luz, sabia?

Rio de leve.

–Papo de fotografo?

–Papo de desenhista. Posso desenhar você? - Pergunta animado.

Penso por um momento.

–Tá bom, não temos nada melhor pra fazer mesmo.

Talvez até tivesse.... argh, America! Para!

Enquanto eu me sentava na cama, Maxon pegou uma folha de papel e lápis de cor e outras coisas. Ele traçava os traços na brancura do papel de forma rápida e firme, volta e meia seus olhos me encaravam por alguns segundos e então voltavam a prestar atenção no desenho. Em algumas ocasiões, seu olhar fora tão insistente que me fizeram corar as bochechas, e eu nem sei o porquê.

–Isso, America!

–Isso o quê? - Indago confusa.

–Você fica muito bem com as bochechas rosadas. - Provocou e eu queria ficar com raiva e jogar o travesseiro nele, mas apenas acabei rindo e desviando o olhar.

Um bom tempo depois, ele terminava de pintar os cabelos com um laranja escuro.

–Gostou? - Me pergunta com um sorriso.

Pego o desenho e analiso, ficou perfeito. Maxon tinha muito talento.

–Muito. Você poderia ser desenhista. - Propus.

–Prefiro a tal de politicagem. - Retruca, rindo um pouco. Ele abre a boca em um O perfeito, bocejando.

–Já com sono?

–Uhum. - Diz, já guardando suas coisas e indo em direção ao sofá.

–Espera aí. - Chamo, quando ele se vira para mim e dou duas palmadinhas no colchão da cama. - Pode dormir aqui comigo, não tem problema.

Maxon abre um sorriso divertido.

–Já que você insiste. - Murmura com as sobrancelhas arqueadas.

Dois minutos depois estávamos deitados na cama, um com o rosto voltado para o outro. Maxon está com os olhos fechados, enquanto sua voz saia um pouco sonolenta.

–America?

–Tô aqui.

Ele sorri.

–O contrato...quero que saiba que eu não participei de nada, meu pai é fissurado em status e quer tanto quanto eu que eu me torne o futuro governante. Eu nunca desejei que você fizesse algo contra a sua vontade. - Maxon solta um suspiro pesado e agora sua expressão já não trazia mais sorriso algum, e sim seriedade.

–Não tem problema. Não me arrependo de ter te conhecido.

–Não mesmo? - Apesar de parecer contente, suas palavras sairam enroladas.

–Não, na verdade...eu gosto muito de você.

Espero que ele diga alguma coisa, mas Maxon começa a ressonar baixinho, a respiração está calma e ritmada. Acho que ele não me ouviu, dormiu antes de saber. Bom, talvez seja melhor assim...mesmo eu não tendo dito nada demais.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado...