Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 30
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Gente, gostaria de pedir desculpa pela demora. Essa semana tive alguns problemas pessoais que acabaram drenando meu ânimo para escrever. Ainda estou um pouco abalada, mas, como já tinha esse capítulo quase pronto, decidi termina-lo para postar. Me perdoem pela demora. Espero conseguir postar o próximo mais rapidamente.
Sem mais, espero que gostem desse.



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Eu achei que estava fazendo algum avanço com o Animal, mas, desde aquele episódio da cozinha que ele se aproximou um pouco demais de mim, ele voltou a se fechar.

Há dias que ele não fala direito comigo. O nosso jogo de dominó e xadrez noturno foi pro espaço. Ele tem me evitado e falado apenas o necessário comigo. Será que eu fiz algo de errado? Sempre que eu tento puxar uma conversa, ele inventa uma desculpa e sai.

Hoje, porém, eu vou parar de me preocupar. É minha folga, meu tornozelo tá novinho em folha e eu vou fazer uma caminhada até a cascata com a Isabel. Ela, assim como eu, sempre gostou dessas coisas ecológicas. O dia tá de sol e eu quero é nadar. O Moacir vai cuidar da Titília para mim e eu vou é aproveitar.

São 9 da matina e eu combinei com ela dela me encontrar na entrada da fazenda. O que eu não esperava é ver o patrão vindo em minha direção com uma cara de poucos amigos. Cadê o desprezo que ele estava por esses dias?

—Você, mulher maluca, perdeu a cabeça?!-Ele gritou.

—Ora, agora veio falar comigo?

—Vim tentar colocar um pouco de juízo na sua cabeça desmiolada.

—Não mude de assunto. Você tem me ignorado por dias e agora vem aqui reclamar não sei por quê.

—Eu vim aqui reclamar porque você é desmiolada. Você estava há poucos dias com o tornozelo ruim e agora o Moacir me diz que você vai em uma caminhada pelo meio do mato. Enlouqueceu!

—E desde quando você se importa comigo? Eu tenho tentado manter uma conversa sociável com você há dias e há dias você foge de mim como o bicho foge da cruz. O que te fiz de errado? Qual é o problema?

Ele, finalmente, abaixou o olhar e pareceu um pouco envergonhado. Acho que o atingi no ponto. Dá-lhe, Sofia.

—O problema não é você, sou eu. –Ele falou, pouco mais alto que um sussurro.

—Então me diga o que foi. –Pedi, falando tão calma quanto ele.

—Eu sou complicado, Sofia. Eu acho que acabei falando demais e sendo um pouco inconveniente com você.

—Você não foi e não falou demais. Falou até pouco para o meu gosto. Ricardo, eu não quero o seu mal, muito pelo contrário. Eu te considero já como um amigo. Não se feche tanto, isso não é bom para ninguém.

—Me desculpa.

—Você também me desculpe. Eu sei que acabei perguntando mais que o necessário, às vezes. Será que podemos esquecer isso e voltar a ser como antes? Sinto falta de nossas conversas sobre História e partidas de dominó e xadrez.

—Claro. Também sinto falta de nossas conversas. O Moacir nunca gostou muito de História.

Ele me deu um sorriso torto e eu senti vontade de abraça-lo, mas me contive. Se um sussurro o afastou de mim, um abraço fará ele me despedir. Compenso isso abraçando uma árvore pelo caminho.

—Vamos? –Ele perguntou.

—Oi?

—Você não vai caminhar até a cascata?

—Vou. Essa é minha intenção.

—Então vamos.

—Vamos?

—Sofia, você nunca fez essa trilha antes e acabou de melhorar de uma torção no tornozelo. Eu não posso simplesmente te deixar ir sozinha para se perder ou torcer o pé de novo. Não quero trabalho. É mais fácil te acompanhar do que aturar policiais, bombeiros e guardas em minha propriedade procurando uma mulher maluca perdida na mata.

Essa é nova. Acho que vou gostar de provoca-lo um pouquinho mais. Ele é muito orgulhoso para falar que está preocupado por mim. Admitir isso. Eu já o conheço um pouco bem para sabe que essas palavras são uma preocupação disfarçada de ironia.

—Eu não vou sozinha.

—Não?

—Não. Eu vou com a Isabel, minha amiga.

—E imagino que ela será forte o suficiente para te carregar se você machucar o tornozelo, de novo.

—Ela não é. Mas, se precisa de uma desculpa para nos acompanhar, eu adoraria ter sua presença.

—Eu não preciso de desculpa. Sou livre para andar por onde eu quiser. Estarei esperando na entrada do portão.

Ele saiu irritado e eu comecei a rir. É, isso vai ser mais divertido do que eu imaginei.

Depois de um tempo a Isabel chegou, mas ficou meio apreensiva de entrar na propriedade do Animal para quem ela já trabalhou.

—Tem certeza que o Animal não vai reclamar, Sofia? Ele é chato pra cacete. Acho melhor entrarmos pela mata aqui mesmo e achamos o caminho para a cascata. –Ela falou.

—O Ricardo não é tão ruim. Ele não vai se importar.

—Não era assim quando eu trabalhei aqui.

—Você só precisa saber como lidar com ele.

Continuamos andando e, de longe, eu avistei o Animal parado em frente ao portão, com uma enorme mochila nas costas, um facão na cintura e um galho como apoio nas mãos. Será que ele acha que vamos acampar?

—Quem é aquele, Sofia? Empregado novo? Ele também vai com a gente? –Isabel perguntou, apontando para o Animal. Coitada, não o reconheceu com o cabelo mais curto e sem a barba.

—Quase isso. Ele também vai nos acompanhar, espero que não se importe.

—Não me importo. Será até bom termos alguém para conversar e olhar. Esse empregado até que é meio bonitinho, não é?

Eu não aguentei e comecei a rir. A Sofia me olhou como se eu fosse louca. Tá, talvez eu seja, mas ela vai cair para trás quando se tocar quem é.

—Do que você está rindo, Sofia?

—Você já vai perceber.

—Eu conheço ele?

—Conhece.

Nos aproximamos e a Isabel ficou sem palavras quando se tocou quem é.

—Como vai, Isabel? Espero que tenha conseguido algo melhor que aqui. –O Ricardo comentou.

—Consegui. –Ela sussurrou, sem tirar os olhos dele.

—Podemos ir então, senhoritas? Eu ainda quero voltar hoje. –Ele falou enquanto começava a caminhar para a mata.

A Isabel me segurou e deixou ele se afastar um tanto bom da gente antes de falar, baixo, comigo.

—Aquele é o Animal?

—É.

—O que você fez com ele, mulher?

—Apenas cortei o cabelo dele.

—O quê?! –Ela gritou e o Ricardo olhou para nós.

—Se continuar gritando assim ele vai perceber.

—Como você cortou o cabelo dele?

—Ele me pediu. Lembra que eu já trabalhei tosando cães? Conheço uns truques.

—Sofia, o que você fez com esse homem? Esse não é o mesmo Animal para o qual eu trabalhei. Ele está mais parecendo um cordeirinho manso que um animal feroz.

—Domei ele um pouco.

—Vocês estão...

—Não. Nossa relação é profissional.

—Por que ele está te acompanhando então? Não é a sua folga?

—É, mas ele não quer que eu me perca e nem que torça o tornozelo, de novo.

—Ele se preocupando por seus empregados? Isso é novidade para mim. Ele nunca nem me deu bom dia.

—Ele também era assim comigo, no começo, mas agora nos entendemos.

—Vejo que sim. Você já tá trabalhando aqui um bom tempo. É sério, o que você fez para ele?

—Nada, Isabel.

—Ainda não acredito que é ele. Se não fosse pela cicatriz no olho, nem o teria reconhecido.

—Ele é um bom homem.

—Tão bom que eu não aguentei trabalhar para ele...

A partir dali passamos a conversar sobre outras coisas. O Ricardo seguiu na nossa frente, sem falar uma palavra. Vez ou outra parávamos um pouco, tomávamos uma água e descansávamos. Depois de quase duas horas de caminhada, chegamos a uma cascata e um lago. Eu surtei com a beleza do lugar. A cascata estava bastante cheia, já que choveu ontem. A Isabel também surtou um pouco, mas não gritou e nem deu pulinhos como eu.

—Sofia, sossega! Quer torcer o tornozelo, de novo? –O Ricardo reclamou.

—Não sei como consegue ficar tão parado perante essa beleza, Ricardo.

—Eu já estive aqui antes e não sou louco para ficar gritando por isso.

—Eu decidi ignorar ele enquanto ele se sentou em um tronco, próximo ao lago. Eu tirei meus sapatos, minha roupa e mergulhei. Estava com um maiô por baixo. Também se não tivesse, mergulhava de roupa mesmo. A água estava meio gelada, mas era bom poder nadar. A Isabel também estava com um maiô e me seguiu, depois de uns minutos.

—Você jura que vai ficar aí, emburrado e não vai molhar nem os pés? –Provoquei.

—Eu não sou louco para entrar nessas águas. –Ele falou.

—Qual a lógica de ir ver um lago, uma cascata se não para dar um mergulho. Vai me dizer que você não sabe nadar?

—Eu sei nadar, mas não vou nadar aí e nem molhar meus pezinhos. Isso é coisa sua. Meus gostos são outros. E só estou aqui para que não se perca e me dê mais trabalho depois.

—Chato.

—E você é alegre demais.

Eu decidi ignorar ele e fui nadar. Nadar? Quanto tempo não faço isso? Eu fiquei um bom tempo nadando, mesmo a Isabel desistiu e saiu antes de mim.

—O peixe não vai mais sair da água não? –O Animal reclamou.

—Saio se você molhar os pés.

—Então você vai morrer enrugada nessa água de tanto esperar.

Eu não resisti e joguei um pouco de água nele. Ele se levantou, irritado. Eu ria de chorar e a Isabel me olhava com os olhos esbugalhados.

—Como ousa? –Ele falou.

—Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé.

—Eu poderia te despedir por isso.

—Não hoje. Hoje é minha folga e aqui somos apenas dois amigos, não patrão e empregada.

—Você vai pagar por isso, Sofia.

Eu continuei rindo e, depois de um tempo, sai da água. Me arrumei de novo, comi uns biscoitinhos com a Isabel enquanto escutava ela falar que eu era louca por tratar o Animal assim e depois fomos embora. Dessa vez, o Ricardo fez questão de que fossemos na frente.

—Sofia, como você pode tratar seu patrão assim? –Isabel falou.

—Hoje ele não é meu patrão.

—Mulher, ainda quero a receita do que você fez com ele.

—Eu não fiz nada.

Continuamos caminhando um pouco mais e paramos para descansar mais a frente. Eu me sentei um pouco afastado da Isabel, mas, de repente, caiu uma enxurrada de água onde estava. Olhei para trás e vi que foi o Ricardo sacudindo uma árvore que estava com a água de chuva.

—Ricardo! Isso não se faz. –Reclamei.

—Falei que você iria me pagar. Não preciso entrar num rio para te molhar. –Ele falou, com um sorriso no rosto.

Isabel apenas nos olhou, abismada. Ela ainda não entendia essa amizade e, para ser sincera, nem eu. A partir dali a caminhada foi mais tranquila até a casa. O Ricardo até convidou a Isabel para um café, mas ela não aceitou.

—Obrigada por me acompanhar hoje, Ricardo. –Agradeci.

—Sem problemas.

—Bom, eu vou tomar um banho e me deitar um pouco. Não estou acostumada a andar tanto e as minhas pernas estão me matando.

—Compreensível depois do seu tempo parada por causa do tornozelo. Devia ter começado com uma coisa mais leve.

—Devia, mas eu sou teimosa.

—Pegue uma bolsa de água quente e coloque sobre as pernas depois do banho. Isso aliviará um pouco a dor.

—Pode ser.

—Bom descanso.

—Obrigada.

Eu já ia me afastando, mas não me contive e o chamei de novo.

—Ricardo?

—O que foi, Sofia?

—Xadrez mais tarde?

—Se você não estiver muito cansada.

—Espero que não.

—Até mais então.

Eu me afastei e não pude deixar de conter um sorriso. Acho que as coisas estão começando a melhorar.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Comentários, críticas e sugestões sempre serão bem vindos.
Obrigada por lerem.
Forte abraço e até mais!



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