Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/664666/chapter/3

Acordei com o dia amanhecendo. Dormi mal. O bilhetinho desaforado ainda estava atravessado na minha garganta. Esse animal iria me ouvir. Fui para a cozinha, não funciono sem café e, para minha surpresa, já estava pronto e quentinho. Estranho. Não me importa quem fez, o que sei é que vou beber. Peguei um bom copo, adocei e fui para a sala. O Moacir já estava de pé.

–Bom dia, Sofia! –Ele me cumprimentou.

–Bom dia. Foi você que fez o café? –Perguntei, tomando uma golada. Estava bom.

–Não, foi o patrão.

Até engasguei. Como aquele Animal sabe fazer um café desses?

–Aquele animal?

–Sim, aquele animal, como o chamam, sabe fazer um bom café. –Ele respondeu. Parece até que leu meus pensamentos.

–Impressionante. Por falar nele, onde ele está? Tenho umas coisinhas pra falar com ele.

–O que o Ricardo fez agora?

–Ele me enviou uns bilhetinhos malcriados. Que vontade de fazer ele engolir esses papeizinhos...

–Ele te escreveu? –Ele perguntou, com surpresa.

–Escreveu e de uma forma bem arrogante. Com certa zombaria até.

–Nossa! Parece que o senso de humor dele está voltando.

–Humor... Até parece que ele tem humor. E você ainda não me disse onde ele está.

–Ele saiu.

–Quê?! Logo agora que até levantei cedo para tirar satisfações.

–Ele tem coisas importantes para fazer.

–Sim, como plantar maconha.

–Oi?!

–Não é nada, é um dos meus devaneios. O que o patrão faz?

–Coisas que são importantes para ele.

–Como o quê?

–Como coisas. Talvez um dia, se ele quiser, ele te conte. –Ele disse, rindo, antes de sair.

E essas “coisas”? Começo a achar que me enfiei em uma furada. Isso tá me cheirando a coisa ilegal. Só espero não ir presa caso a polícia descubra algo. Sai pensamentos ruins! Por que eu tenho que ter essa mente fértil? Agora vou ficar encucando isso até descobrir. Droga!

***

Depois de minha habitual arrumação pelos cômodos, fiz o almoço, mas o Animal não apareceu. Estranho. Desde que estou aqui ele sempre foi pontual com o almoço. Sem precisar servi-lo e nem lavar louças, aproveitei para sair um pouco. Não aguentava mais ficar enclausurada dentro dessa casa.

Finalmente, depois de alguns dias, tirei um tempo para conhecer melhor esse lugar. Era lindo, sem dúvidas. Ele tinha um pequeno haras com 6 cavalos puros sangues. Belíssimos animais. Tinha também uns bodes e umas cabrinhas, galinhas e até porcos, mas, gado mesmo, só 2 vacas para termos leite sempre. Pela extensão desse lugar, pensei que seria para criação de gado para venda. Pelo que vi, eles bichos daqui são de estimação e não de criação.

–O que faz por aqui. Sofia? O patrão te deixou sair? –João, um simpático empregado que sempre levava ovos e leite para a casa todo dia, perguntou.

–Eu nem vi aquele animal hoje, João. Ele nem apareceu pra almoçar. Ele é sempre tão pontual.

–Acostume-se. Isso é rotineiro dele. Há vezes que ele some e fica uns dois, três dias na mata.

–E o que ele tanto faz lá?

–Não sei. Somos proibidos de pisar naquela área. Lá, só ele pode ir.

–Ele também tem uma regra dessa com relação ao sótão. Esse cara é meio estranho. Um dia, se ele não me despedir antes, ainda tomo coragem e vou lá ver os segredos dele. E qual aquela da cicatriz no olho dele? Já viu?

–Impossível não ver. Ele não fala sobre a vida pessoal e ninguém tem coragem de perguntar, mas ouvi dizer que foi em um acidente há anos atrás. Só não sei que acidente foi esse.

–Vai que foi alguma vingança de seus inimigos, alguma dívida dele.

–Inimigos?!

–Do jeito que ele vai pra aquela mata, já estou até achando que ele planta maconha escondido. Pode ter se envolvido com algum criminoso. Já vi casos assim nos jornais.

Ele me olhou e, não aguentando mais, soltou o riso. Ora essa, é uma possibilidade real!

–Sofia, não viaja. O patrão é estranho, mas não acho que chegue a tanto.

–Mas da onde ele tira o dinheiro para manter isso? Desde que cheguei ainda não o vi trabalhar fora. De que ele vive, então?

–Sei lá e, contanto que ele me pague em dia, nem me interessa. Vamos voltar ao trabalho, menina. Você está com uma imaginação muito fértil.

Ele voltou a tratar dos animais e eu fui para a casa tentar achar o Moacir e ver se ele soltava algo. Esse aí também sabe dos podres do patrão.

–Moacir! –O chamei ao encontra-lo na sala, lendo.

–Oi, querida. O que aconteceu?

–Eu que te pergunto. Onde está o Ricardo?

–Não sei, por quê?

–Ele não veio almoçar. A comida já está mais que fria.

–Não se preocupe com isso. Se ele aparecer e estiver com fome, ele se vira.

–O que ele tanto faz naquela mata? O João disse que ele costuma passar dias lá.

–É assunto pessoal dele e te aconselho a não perguntar nada. A última que teve coragem ele colocou na rua.

–Quanto mistério!

–São coisas dele e ele só não gosta de falar. Preza por sua privacidade.

–E você sabe o que é, não é?

–Sei.

–Mas não vai me contar?

–Não.

–Nem um pouquinho?

–Nem um pouquinho. Deixa de curiosidade, Sofia. O Ricardo não é mau, é apenas reservado.

–E grosso, estúpido, arrogante. –Completei, com certa raiva.

–Ele é bom, só dê uma chance. Ele pode ser difícil de lidar, mas é a melhor pessoa que já conheci. Um verdadeiro amigo.

–Só se for seu.

–Só não seja tão dura com ele.

–Mas ele pode ser comigo e com os outros empregados?

–É o jeito dele. Talvez um dia você o entenda.

Ainda acho que não. Não posso entender pessoas que se acham superiores e tratam as outras com desprezo. Mas, juro que ainda descobrirei os segredos sórdidos desse aí. Deve ser algo bem ilegal.

Continua.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ainda Vou Domar Esse Animal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.