Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Fala, gente!
Mais um capítulo. Espero que gostem. :)



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Os dias passaram lentamente depois do incidente com o Jaime. O Ricardo se fechou em si, de novo. Eu continuei com minha rotina normal até hoje. Hoje o Moacir volta. Preparei um bom bolo de cenoura, o favorito dele e ainda espalhei uns balõezinhos pela casa. Tá, tá um pouco infantil e com cara de festa de criança, mas é o melhor que consegui fazer em meia hora. O Animal bem que poderia ajudar, mas não, se enfiou na mata e nem mais vejo a fuça dele. Que bela recepção para o amigo que o atura há anos...

–Você drogou, dopou ou matou o Ricardo para conseguir fazer isso? –O Moacir apareceu na porta, olhando tudo em volta.

Eu larguei o que estava fazendo e o abracei. Finalmente meu amigo, a pessoa que evitaria minha loucura por solidão voltou.

–Ele está enfiado na mata, nem viu ainda. –Falei, o soltando do abraço.

–Senti sua falta, Sofia.

–Eu também senti a sua. Já sabe das novidades?

–Que o Ricardo esmurrou o Jaime? Já, o João me contou.

–Peste! Eu falei pra ele não dizer nada que eu queria contar.

–Ele não me disse os detalhes. Sou todo ouvidos. Sei que esse mês você deve ter ficado bastante calada. –Falou, com um sorriso.

–Calada até demais... Enfim, eu não sei muito da história, mas foi o seguinte: cheguei de carro e peguei o Ricardo se atracando com o Jaime. Eu sei que corri e me coloquei na frente da briga. O Animal parecia um touro enfurecido vindo pra cima do outro, até bufava...

–Um “touro enfurecido” que foi parado por uma vaca mansa. Sofia, que merda são esses balões pendurados? –Ele, o Ricardo, apareceu não sei de onde e me pegou no flagra.

–Não brigue com a moça. Ela só queria me recepcionar. –O Moacir apaziguou.

–Já que você não se lembrou que seu amigo chegava hoje, eu lembrei. Fiz uma pequena recepção para ele. –Falei.

–Eu não esqueci da chegada dele, apenas não gosto desses sentimentalismos desnecessários. Faça o favor de estourar e retirar esses trecos, sim, Sofia? –Ele falou, puxando uma cadeira e se sentando.

–Não vou retirar. Tive trabalho para encher isso e pendurar!

–Não vai?!

–Não. Eu quase me matei para ter fôlego e encher isso.

–Não seja por isso.

Ele se levantou, pegou uma faca e começou a estourar todos os meus balões. Não acredito nisso! O Moacir, rindo, colocou as mãos nos meus ombros para impedir que eu fizesse algo. Depois de terminar, ele ainda teve a ousadia de pegar uma vassoura e me entregar.

–Faça o seu trabalho. Varra essa cozinha que está imunda. –Falou, se sentando novamente na cadeira.

–Coopere, Sofia, por mim. Não quero ver vocês dois brigando logo no primeiro dia que eu voltei. –O Moacir cochichou.

–Por você. –Resmunguei e comecei a varrer.

O Moacir se sentou na cadeira de frente para o Animal e começaram uma conversa animada, me ignorando totalmente, como se eu nem estivesse ali presente.

–Como está a Mariana? –O Animal perguntou.

–Bem e reclamando que você não foi vê-la. Ela mandou agradecer o quadro. Disse que, assim que as férias da faculdade chegarem, ela vem te ver. Já que Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé.

–Sua filha é louca como você, mas sempre será bem vinda e fico feliz que ela tenha gostado do quadro.

–Ela também te mandou uma coisa. Espera aí.

O Moacir se levantou, foi para a sala e voltou de lá com um livro. Tentei ler o título, mas já estava dando muita bandeira prestando atenção na conversa dos dois.

–Agradeça a ela por mim. –O Animal falou ao pegar o livro.

–Esse você não tem não, não é? Ela ficou na dúvida de qual comprar.

–Não tenho. Mais um para a coleção. Sofia, arrume um lugar da estante junto com os outros. –Disse, me estendendo o livro.

Eu peguei o maldito livro e fui para a biblioteca. Acho que é apenas uma forma de me afastar da cozinha, já que os dois começaram a rir assim que saí. Não resisti e olhei o assunto do livro e falava sobre a Revolução Farroupilha. Não sabia que ele gostava de história do Brasil. Enfim, ele é estranho e não duvido de mais nada. Larguei aquilo lá e voltei para a cozinha. Para minha surpresa, os dois “bonitinhos” partiram o bolo e nem me esperaram... Do Animal não falo nada, mas o Moacir bem que poderia ter um pouco de consideração.

–O bolo está delicioso, Sofia. –O Moacir elogiou.

–Um pouco duro e com muita cobertura, mas não tendo nada melhor, dá pra comer. –O Animal deu o seu arzinho da graça.

–Obrigada, Moacir. Se precisarem de mim, estarei limpando a sala. –Falei, com um sorriso forçado. Não estou com saco para discutir com o Animal.

Eu me afastei daqueles lá. Estava de bom humor para discutir por grosserias. Depois, quando o Animal se enfiasse novamente na mata, eu ia conversar com o Moacir.

***

Não sei quanto tempo exatamente passou até que o Moacir viesse falar comigo, mas calculo pouco mais que uma hora, já que consegui escutar umas quinze músicas, mais ou menos, até ele aparecer.

–Música e nenhum reclamo do Ricardo. Que houve aqui em minha ausência?

–Eu canto mal, segundo ele, por isso posso ligar o rádio desde que não cante.

–Que avanço para ele.

–Bastante... Moacir, aquilo que ele enviou para sua filha era um quadro?

–Nossa, direto ao ponto! Essa é a Sofia que conheço. –Disse, fingindo surpresa.

–Era ou não? –Perguntei, impaciente.

–Era.

–E o que tinha na pintura?

–Sabia que a curiosidade matou o gato?

–Você me deixou um mês sozinha com esse bipolar, acho que mereço algumas respostas.

–Era uma pintura da minha filha quando tinha uns 10 anos e montada num cavalo. Satisfeita?

–Não. Ainda acho isso estranho dele ser pintor. Eu nunca vi nenhuma pintura pela casa...

–Ele não é pintor profissional. A pintura é apenas uma distração para ele.

–E o que ele faz?

–Ele era desenhista industrial.

–Desenhista industrial?! E o que isso é, exatamente?

–Ele desenhava produtos. Era designer. Trabalhava desenhando ônibus.

–Ônibus?

–Há alguns anos atrás, mas também já trabalhou como designer de relógios. Está vendo esse no meu pulso? –Perguntou, levantando a manga da camisa para eu ver melhor. –É um desenho dele.

–Não acredito! Esse relógio é bonito e sofisticado demais para ser desenhado por alguém meio bronco como ele.

–Não se deixe enganar pela aparência pouco cuidada e pelo jeito dele. O Ricardo é alguém extremamente culto.

–Não parece.

–Você acha que alguém que fosse “bronco”, como diz, teria uma biblioteca com alguns volumes em linguagem original? Já parou para reparar naquele lugar?

Eu o olhei e, realmente, não havia pensado nisso. Sim, já reparei naquele local milhares de vezes, afinal, sou sempre eu que sempre tem que limpar lá, mas ele tem razão. Há livros e conhecimento demais para um bronco.

–Acho que tem razão.

–Eu sei. Por isso sempre te digo: dê uma chance ao Ricardo. Ele não pé esse bicho de sete cabeças que todos pintam.

–Por que ele é assim, então?

–Ele teve seus motivos.

–Isso é uma máscara que ele usa?

–Não deixa de ser. O Ricardo já foi uma pessoa boa, gentil.

–Isso eu não duvido. Eu vi como ele agiu com o Cuzco aquele dia que o Jaime machucou ele. Nunca pensei em ver tamanha atenção dele com um animal. Só não acredito ver essa atenção com as pessoas.

–Trate-o diferente e talvez consiga. Use a ironia dele contra ele. Leve na brincadeira as piadas e as grosserias que ele fala.

–Se eu fizer isso, estarei na rua. Ultimamente tenho evitado rebater muito ele.

–Se ele quisesse te mandar embora, já teria feito.

–O que aconteceu com ele, Moacir?

–Eu não posso falar. Até queria te contar, mas não posso.

–Foi sério?

–Foi, mas pare de me perguntar, mulher! Daqui a pouco eu acabo falando demais.

–Essa é a intenção.

–Sofia, vá limpar a casa e deixe de tentar investigar as coisas.

–Está no meu sangue. Não posso evitar.

–Você devia é ser detetive. Vai por mim, com essa sua curiosidade, você está no ramo errado. –Ele falou rindo, antes de sair.

***

Depois do jantar pronto, servi o Ricardo e o Moacir na sala.

–Junte-se a nós, Sofia. –O Moacir pediu e o Ricardo até se engasgou.

–Será uma honra. –Falei me servindo e puxando uma cadeira.

–Moacir! –O Ricardo falou.

–Quê?! A pobre Sofia sempre janta sozinha e, depois da desfeita que você me fez hoje, estourando meus balõezinhos, nada mais justo. Sente-se, querida.

Eu me sentei e pude ver o olhar de ódio do Animal para mim e para o Moacir.

–Tem pintado muito, Ricardo? –O Moacir perguntou.

–Isso não é da conta de vocês. –Ele respondeu de forma grosseira e vi um sorriso se formar nos lábios do Moacir.

–Como está sua filha, Moacir? –Perguntei.

–Ela está bem. Sentindo falta do tio Rick que nunca mais ligou pra ela, mas bem.

–Tio Rick? –Perguntei, segurando o riso.

–Sim, tio Rick, não é, tio Rick? Ela reclamou pra caramba que você não sai mais de casa e tem anos que não te vê.

–Poupe-me, Moacir. –O Animal reclamou.

–Poupo nada. Ela sente falta de cavalgar com o tio dela, sente sua falta. Acho que já passou bastante tempo e que já tá na hora de você seguir em frente pelas pessoas que ainda te amam, não é? –O Moacir falou num tom mais sério.

–Conhece os meus motivos e não vou discutir com você. Boa noite! –Ele falou, se levantou e foi para o quarto. Pelo estrondo da porta, o Moacir conseguiu tocar em uma feriada dele.

–O que foi isso? –Perguntei.

–Eu falei demais. Retire a mesa para mim, Sofia? Perdi a fome. –Ele pediu antes de se levantar e sumir também para um dos cômodos.

Aconteceu alguma coisa de muito séria com o Ricardo, tenho certeza. Esse aí deve ter um passado muito negro, mas que eu vou descobrir, nem que seja a última coisa que eu faça.

Continua.


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