Quando sai da sala de aula no último dia de aula, escutei comentários maldosos novamente sobre a minha pessoa mesmo sem ter feito nada para as garotas em questão. Na verdade, nunca fiz mal a ninguém.

— Aquela menina é ridícula. — ouviu uma de suas colegas de classe dizer sobre mim, enquanto apontava para mim de uma forma extremamente indiscreta. — Só porque tem dinheiro acha que não somos boas o suficientes para conversar com ela e fica se isolando, aquela egocêntrica. — a que falou suspirava e a outra ria do comentário. — Olhe só, nem no último dia de aula ela sequer deu adeus a alguém!

Não, não é isso! Era tudo o que passava pela minha cabeça, mas, sinceramente, nunca tive coragem nenhuma de contradizer a ninguém. É, sou uma pessoa extremamente covarde. Nem demonstrar raiva e insatisfação no meu rosto eu consegui naquele dia. E dar adeus a quem? Não tinha amigos nenhum, exceto talvez por uma pessoa, e não tinha talentos para isso e nem tanto meu primo Neji deixaria-me aproximar de alguém.

E, como sempre, ele me salvou.

— Hey, parem de falar assim da Hinata! — exclamou Uzumaki Naruto, o garoto loiro dos olhos mais azuis que Hinata já conhecera. — Qual o problema em ser tímida?! Isso não significa que ela não quer ser amiga de ninguém, droga. — resmungou o menino olhando feio para as duas garotas que falavam mal de mim.

— Ah, que seja, entrometido. — falou uma delas e saiu da escola junto com a outra pisando duro.

Ninguém se metia com Naruto. Tinham quatro motivos:

Ele mesmo: por ser um barraqueiro inacreditável, nunca deixando levar desaforo para casa e as discussões sempre terminavam na diretoria;

Uchiha Sasuke: era o menino mais desejado da escola, mesmo que não desse a mínima com isso, qualquer um que o incomodasse era trucidado pelas suas fangirls e ninguém gostaria de ter uma rixa com o melhor amigo de um Uchiha, por serem uma família muito poderosa em todo o mundo;

Haruno Sakura: a menina mais inteligente, leal e agressiva da escola. Se você irritasse um amigo dela, a irritava também, fazendo com que a garota nunca te ajudasse nada em questões de estudo ou te desse uma surra inacreditável, sendo você homem ou não. Francamente, Sakura parecia um gorila vestido de mulher.

Anbu Sai: com um comportamento extremamente ácido e sagaz, ninguém em sã consciência faria nada que desagrade Sai, ou ele acabaria com a sua vida social e até mesmo psicológica em um piscar de olhos. Quem sabe em uma outra vida ele não fizesse parte de alguma organização que fizesse investigaçõese interrogações?

Olhava encantada para o meu salvador. Os amigos de Naruto achavam isso uma coisa totalmente normal ver o loiro defendendo qualquer pessoa inocente que seja, pois esse era o seu jeito de ser. Mas para mim significava o mundo. O Uzumaki era a única pessoa no mundo que a defendia e de certa forma parecia me entender. Claro que muitos viam que eu era tímida e não metida como as meninas que Naruto espantou acreditavam, mas infelizmente esse não é o único jeito de deixar uma pessoa com problemas de convívio social ficar para baixo. Eu ouvia diariamente perguntas que fazia-me ficar completamente triste, apreensiva e irritadiça.

“Por que você é assim?”

“Você tem que aprender a falar igual gente!”

“Não precisa ser tímida, ok?”

“Você fica vermelha a toa, qual o seu problema?”

“Se continuar a ser assim, nunca terá amigos.”

Não era como se eu quisesse ser desse jeito, eu apenas era e sou. E jamais mudaria. Motivos? Tinha diversos. Traumas de infância por ser muito frágil e chorona, pressões familiares, olhares tortos onde quer quer passava. Para alguns isso não era muita coisa, mas para mim é o fim do mundo, por ser uma pessoa fraca e covarde.

Sai dos meus devaneios enquanto observava Naruto me olhar com uma certa preocupação. Estaria eu fazendo algum tipo de careta? Tentei olhar de volta nos olhos do menino, mas não consegui por mais que três segundos, voltando meus olhos para as minhas mãos.

— O-obrigada Naruto-kun. — agradeci ao loiro sentindo minhas entranhas praticamente entrarem em combustão por falar com o garoto e logo minhas bochechas começaram a queimar intensamente, me deixando corar.

O garoto deu um sorriso maior que o mundo para mim, deixando-me completamente deslumbrada, e se ainda fosse possível (e era), mais envergonhada. O menino colocou os braços por detrás da sua cabeleira loira espetada de forma relaxada.

— Não precisa agradecer, Hinata! — exclamou o menino. — Essas meninas enchem o saco até mesmo no último dia de aula, mas que cacete! — ele xingou as duas com um cenho franzido. — Eu sei que você é tímida, Hinata, mas você não pode deixar essas pessoas serem assim com você! Você não merece isso. — olhou seriamente para mim e abaixo a cabeça triste.

— Não é como se eu quisesse não responder, Naruto-kun. — respondi-lhe com um sorriso triste e uma voz magoada.

Naruto olhava para mim com uma expressão indecifrável. Sempre quis saber o que significava aquela cara que ele sempre fazia, mas nunca tive nenhum tipo de dica ou algo assim. De qualquer forma, agradava-me não ser pena. Isso seria como uma facada.

— Você ao menos já tentou? — sua pergunta me deixou surpresa. — Ou só pensa mentalmente no que poderia dizer, jamais sequer cogitando a possibilidade de falar? — aquilo era a mais pura verdade. — Cara, estou filósofo hoje! — exclamou sorrindo.

— Você está certo. — concordei com ele, ainda me sentindo mal. — Mas não é fácil.

Não poderia fazer isso de um dia para o outro. Tudo bem que eu ouvia esse tipo de coisa havia anos, mas não posso simplesmente começar a ser desbocada de uma hora para a outra, ainda mais com a minha personalidade introvertida.

— Nunca é fácil desafiar o seu medo, Hinata. — deu um sorriso doce para mim. — Você tem que me prometer uma coisa. — ele começou, me deixando curiosa.

Prometer o que? Ele não me considerava uma amiga, considerava? Não conversávamos muito, apenas quando alguém me amolava ou quando Sasuke, Sai e Sakura decidiam sentar nas cadeiras da frente da escola, e isso não era algo muito usual… Mesmo sem ele saber, era o meu amigo. Mas eu, amiga dele? Jamais havia pensado em tal coisa. Não que eu não quisesse, é claro.

— Naruto-kun? — olhei para o menino meio confusa com suas palavras, incitando-o a dizer-me o que desejava.

— Prometa que nunca mais vai deixar ninguém te tratar como um ser inferior, você não é isso! — exclamou para mim de um jeito que me assustou. — Ou ao menos tentar. Mas tente de verdade!

Meu coração se aqueceu ao escutar as palavras do loiro que estava ao meu lado. Aquele tipo de promessa não era o algo que uma pessoa faz com alguém apenas conhecido. Talvez não me considerasse realmente uma amiga, mas dava a entender que importava comigo e isso já era o bastante para mim que não tinha nada.,

— Eu, uhm… — fiquei sem saber o que dizer, era como se minha garganta houvesse secado e o meu cérebro não se lembrasse das palavras certas ao se dizer, mas, como sempre, Naruto me acalma quando ergue o mindinho para mim, tentando selar a promessa. — Prometo. — falei com ele e depois entrelaço o mindinho dele com o meu, sentindo pela primeira vez a pele quente do menino que sempre amei em segredo.

— Ótimo! — exclamou olhando para mim com um sorriso animador. — Não podia deixar de fazer essa promessa antes de ir embora. — espere ai… O quê?! — Vou me mudar de Konoha para fazer faculdade em Tokyo. — confidenciou-me. — Mas eu vou voltar é claro. — apressou-se a dizer, provavelmente ao perceber a expressão desconfigurada do meu rosto. — Não se esqueça, promessa é dívida! Eu vou cobrar um dia.

Olhei meio desesperada e desorientada para Naruto. Não sabia o que dizer, fazer, pensar. Ele iria embora. Anos sem vê-lo, ou até mesmo nunca mais o ver, afinal, como posso afirmar que ele iria me procurar depois de anos? Também não tinha o telefone dele, e jamais teria coragem de pedí-lo.

— Obrigada. — agradeci Naruto forçando-me a olhar o tempo todo nos seus olhos, demonstrando a minha gratidão. — Por tudo, você sabe.

Tentei sorrir, mas acho que acabou saindo uma careta ou um sorriso extremamente melancólico, porque depois de ter o agradecido, o loiro me abraçou de abruptamente.

— Não precisa de agradecer. — murmurou para mim, sempre modesto.

Esse era um dos motivos que o amava. Não se achava em momento algum, ao menos quando estivesse disputando com Sasuke, mas imagino que seja apenas uma brincadeira dos dois… Quando ele me soltou do abraço, senti algo quebrando em mim, porque ele virou as costas, acenando para e indo embora.

— Até algum dia, Hinata! — ele disse virando o rosto para me olhar.

— Adeus, Naruto-kun. — acenei baixo enquanto disse em uma voz quase inaudível, com um tom extremamente melancólico.

Aquela fora a última vez que eu o vira.

~♦~

Konoha, cinco anos depois

~♦~

— Acho que com o estardalhaço que a Ino fez no facebook você já deve estar a par da situação, não é? — com toda a sinceridade, não faço a mínima ideia do que Sakura está falando.

Retirei a Ino do meu feed de notícias simplesmente porque eu não suportava a quantidade de roupas e bolsas da channel que ela compartilhava. Tento não mostrar o constrangimento por ter feito isso com a melhor amiga de Sakura, que desde que Naruto fora embora virou a minha “salvadora” na faculdade e fora dela. Bem, eu fiz enfermagem e ela medicina, logo, nos vemos muito. Sinceramente, não sei como consegui fazer amizade com ela, fora uma coisa completamente repentina… Talvez Naruto a pediu para… Não, ele não faria algo assim tão grande por mim.

— É claro. — gaguejo mas a empolgação da mesma é tão grande que não percebe nada fora do normal.

Ainda bem. O quão irritada ela ficaria se descobrisse que eu praticamente bloqueei sua melhor amiga? Não quero nem pensar na gritaria que Sakura faria...

— Sei que você e Ino não são muito chegadas uma na outra. — comenta casualmente, enquanto mexe distraída nas suas madeixas róseas. — Mas eu mexi uns pauzinhos e ela deu-me um convite do casamento dela e espero que você vá! — o tom de Sakura, para variar, é mandão e sei que não teria como negar o pedido dela. — Mas francamente, nunca imaginei aqueles dois juntos… — murmurou pensativa com um sorriso divertido nos olhos. — Eles brigavam tanto na escola… — quem seria? Naruto brigava muito com ela, estremeço só de imaginar que Ino poderia casar com a minha paixão incubada. — Sinceramente, eu nem sei como isso funciona direito. Quero dizer, os dois sempre que estão juntos fazem uma cara emburrada… — oh céus, por favor, não seja o Naruto. — E o que eles tem de comum?! — Sakura continua a tagarelar, francamente, não sei como ela e a Yamanaka conseguem arrumar tanta coisa para comentar. — Acho que algo no cabelo e só.

Arregalo os olhos. Cabelo. Naruto tem cabelo loiro. Ino também. Sakura retira o convite na bolsa e não demora a me entregar. Trêmula, abro o convite rosa choque – típico da loira – da forma mais rápida e desesperada para ler o nome dos noivos com um grande aperto no coração. Não, Naruto não. Por favor, não...

Ino Yamanaka & Shikamaru Nara

Oh meu deus! Esse drama todo para ser o Shikamaru… Tento recompor-me do desespero que a minha amiga havia feito no meu coração e ela olha para mim desconfiada.

— Credo, que desespero é esse para abrir, Hina? — ri da minha reação ainda olhando torto para o meu semblante aliviado. — Eu hein, que coisa mais esquisita… Tá até parecendo o Naruto! — gargalha do próprio comentário alheia do fato de que só de ouvir esse nome o meu coração acelera.

Dou uma risada sem graça e sei que Sakura vai deixar o assunto para lá, mesmo tendo a certeza de que tinha algo por trás disso até porque ela é uma das pessoas mais espertas que conheço.

Pensando bem, no caso do matrimônio… Shikamaru não tinha um caso com a Temari? E o que diabos o cabelo dele tinha a ver com o da Ino? Bem, não o vejo a anos. Imagino o garoto preguiçoso com as madeixas descoloridas e seguro a risada. Talvez Sakura havia referido-se ao fato dos dois sempre estarem com um rabo de cavalo. É, definitivamente era isso.