Você quer brincar na neve?

Frozen

“Anna,

Ainda não acredito que quase te matei. Se não fosse aquele sacerdote dos trols... Não sei o que faria se você tivesse morrido por minha causa. Por causa desse poder de gelo idiota de que nós tanto gostávamos.

Eu não queria ter que me isolar de você e do resto do mundo, mas é preciso. Não quero te machucar de novo. Não quero machucar ninguém.

Sei que o papai mandou fecharem os portões e as janelas e lamento por isso. Você sempre teve um espírito tão livre e nós estamos trancando isso por minha causa. Tudo o que te deixamos foi um castelo enorme e vazio.

Não posso mais falar com você. Então, vou ter que me contentar em escrever essas cartas. Não vai ser a mesma coisa que conversar ou brincar contigo, mas é a única coisa que posso fazer agora. Eu consigo aguentar isso, certo? Queria que você soubesse do que aconteceu para me dizer que eu consigo. Mas você não sabe, e continua perguntando se eu quero brincar na neve.”

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“Anna,

Hoje é seu aniversário. O tempo passa rápido quando se está isolada. Você está crescendo, e eu não estou aí fora para te ver. Posso escutar nossos pais e os empregados cantando parabéns daqui. Estou cantando também.

Mais cedo, você me perguntou de novo se eu queria brincar na neve. Em cada um de seus aniversários, nós passamos o dia inteiro brincando. Eu devia brincar com você hoje também... Mas não posso, Anna. Queria que você entendesse isso.

Os parabéns acabaram. Que presentes você ganhou? Como é o bolo? Está gostoso? Está tirando muitas fotos? Talvez mamãe as mostre para mim mais tarde. Adoraria ver como você está crescendo. Seria um consolo para a situação que estou passando agora: meus poderes estão crescendo e ficando mais descontrolados. Papai me mandou usar luvas. Esconder. Não sentir. Não deixar que ninguém saiba. O que farão comigo se souberem? Me chamarão de monstro, de aberração? Às vezes, fico com medo do que pode acontecer. Mas sou a mais velha e a futura rainha; tenho que aprender a ser forte. E espero que você também seja.

Feliz aniversário, minha pequena princesa.”

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“Anna,

As coisas estão ficando cada vez mais difíceis. Meu poder está saindo mais do controle a cada dia e não sei como lidar com isso. Você ainda quer brincar na neve. Eu também quero. Quero usar meus poderes para algo bom, como fazer uma pista de patinação, ou montar um boneco de neve. Lembra daquele que montamos, Olaf? De vez em quando eu tenho vontade de montá-lo aqui no meu quarto, para diminuir minha solidão, mas então eu me lembro daquela noite horrível e começo a chorar. Olaf não ajudaria em nada aqui.

Você quer brincar de qualquer coisa, não é? Montar um boneco de neve, andar de bicicleta pelos corredores e descer pelas escadas... Fazíamos muito isso, né? Não sei se eu ainda sei como fazer sem cair.

Queria você soubesse que eu escuto seu canto. Escuto cada letra, cada nota. Sua voz está ficando mais bonita a cada ano. Onde aprendeu a cantar assim? Eu tenho vontade de te responder, mas isso ia fazer você insistir mais ainda.

Só espero que saiba, no fundo do coração, que eu ainda te amo.”

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“Anna,

Meu poder continua crescendo. Meu quarto está começando a virar uma caverna de gelo. Sempre que sinto que ele vai sair do controle, repito aquele mantra do papai. Esconda. Não sinta. Não deixe que saibam.

E quanto mais penso nele, mais penso que deveria parar de escrever essas cartas. Emoções fortes servem como um impulso para esse gelo, e eu sinto muitas coisas quando escrevo para você. Talvez seria melhor se eu simplesmente parasse com isso. Você nunca vai ler mesmo.”

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“Anna,

Eu sei que disse que não escreveria de novo, e consegui por um bom tempo, mas não está dando para evitar.

É meu aniversário de vinte anos hoje e você veio para me dar os parabéns. Ainda fico surpresa com sua voz: tão madura, tão bonita. Você já tem dezessete anos. Deve estar linda.

Sinto muito a sua falta, Anna. Sinto falta da sua risada, da sua alegria, de brincar na neve com você. Adoraria poder voltar no tempo. Ou, melhor ainda, acabar com meus poderes. Eu os sacrificaria para poder falar com você de novo.

Será que, se você os descobrisse de novo, ficaria animada como da primeira vez que eu te mostrei? Bem... Isso é algo que eu só posso imaginar. E que continue assim.”

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“Anna,

Como sabe, papai e mamãe vão viajar por duas semanas. Assuntos importantes. Fui me despedir deles, numa das poucas vezes que saí do quarto, e acabei vendo você. Não era minha intenção, a ideia era eu sair e voltar num horário que você não estivesse por perto, mas eu te vi, conversando com uma empregada. Você sorria e a moça também, certamente contagiada por você. Paralisei ali. Foi bom te ver desse jeito de novo, mesmo que tenha sido só por um minuto e você não tenha me visto.

Agora que papai e mamãe estão fora, você vai ficar ainda mais solitária. Os empregados têm muitas coisas para cuidar no castelo para poder te fazer companhia. É verdade que fala com os quadros? Aqui também é bem solitário. Agora que nossos pais estão fora, as únicas pessoas que verei nas próximas duas semanas serão os moradores do reino, pela janela. Não é uma maravilha, mas é tudo o que eu tenho agora.

Parece que meu poder nos afetou de formas parecidas, afinal.”

~~~

“Anna,

Fiquei sabendo sobre nossos pais. Estou arrasada. Eles sempre foram os únicos a conseguir me manter sob controle. Eu sinto tanta dor, Anna. Sei que você também sente e lamento por não poder ficar ao seu lado nesse momento.

Você parou de me chamar. Acho que finalmente desistiu. É bom que pare de insistir. Mas se é bom, por que isso me deixa ainda mais triste?

Esse quarto nunca esteve tão gelado. Não queira entrar aqui.

Como não posso falar com você, só me esta desejar que você seja forte o suficiente para conseguir dar a volta por cima. Não deixe que isso a faça cair, Anna. Não você...”

– Elsa?

Paro de escrever na mesma hora. Anna me pegou de surpresa dessa vez. Ela bate na porta e me chama de novo. Me seguro para não atende-la.

“Por favor, me escuta

Todos perguntam sem parar

Ela está cantando. Sua voz melodiosa chega aos meus ouvidos e me fazem ir até a porta. Minha mão para diante da maçaneta.

E me encorajam para te dizer

Mas espero por você

Me deixa entrar

Pare, Anna. Por favor.

Só temos uma a outra, o que vamos fazer?

Temos que decidir.

Pare...

Encosto minhas costas à porta e escorrego para o chão, onde fico encolhida enquanto minha irmã canta.

Você quer brincar na neve?”

Abraço meus joelhos e afundo o rosto entre eles, caindo num choro silencioso pela milésima vez. Eu não devo responder. Não devo sentir. Mas, dessa vez, eu quero sentir. Então, mesmo que inconscientemente, respondo de forma quase tão melodiosa quanto Anna:

– Sim, eu quero brincar na neve.