[Giulia: Agora a coisa vai ficar interessante. Luiza: Sei...]

Eu estava na fila para pagar meu almoço, quando reparei em um menino olhando para mim. Ele era alto e tinha um porte físico muito vantajoso, se é que vocês me entendem. [Sofia: Ou seja, ele era gostoso.] Ele estava me secando e eu me atrapalhei um pouco ao pegar minha bandeja e andar até a mesa onde minhas irmãs estavam.

– Vocês estão vendo isso? – eu perguntei nervosa.. Meninos me encarando sempre me fazem sentir mal, sendo gato ou não. Parece que eu sou uma presa que eles querem comer. [Giulia: Tá isso não ficou legal, deixa eu reformular], parece que eu sou um objeto que eles podem ficar olhando descaradamente. E se ele vier falar comigo? E o pior é que eu não consigo desviar o olhar, toda hora olho para o mesmo ponto.

– Não – Sofia respondeu com toda sua inocência, ou cegueira. [Sofia: Nem vem, você tem mais grau que eu. Eu: Detalhes].

– Sofia! Tem um menino muito gato secando nossa irmã ali. – Luiza aponta nada discreta para o canto onde ele estava apoiado na pilastra. [Luiza: Nenhuma de nós é verdadeiramente discreta. Eu: Bom, eu sou mais discreta que isso. Sofia: Eu também. Eu e Luiza: Não é não, Sofi, desilude.] – Viu agora?

– Vi – minha irmã balançou a cabeça enquanto eu ficava cada vez mais vermelha, e olha que é difícil me deixar vermelha. – Eu aprovo.

– Aprova o quê? – Eu perguntei incomodada.

– Uai, vocês dois juntos, formam um belo ship!

– Sofia! Eu nem sei quem é ele. E se for um estripador. [Sofia: Acho que o que você quis falar foi... Eu: Todos sabem, deixa quieto. Está muito no início da história para as pessoas escutarem isso, elas podem se assustar!]

– Se fosse eu falaria vem ni mim e abriria as... – Luiza foi interrompida pela chegada de mamãe.

– Abriria o quê, filha? Continue.

– A bolsa, caso algum bandido me roubasse. Não tentaria resistir. – Luiza falou com uma cara de alguém me tira daqui (!), enquanto eu e Sofia segurávamos o riso.

O resto do almoço correu normalmente. Eu me esqueci do menino e só fui notar na hora que saímos da praça de alimentação que ele não estava mais lá. Na nossa escola à tarde acontecem diversas atividades, incluindo o time de futebol e as líderes de torcida. Como era início do ano os testes para entrar nas equipes foram naquele dia. Sofia pretendia entrar para a liga feminina do futebol enquanto eu e Luiza queríamos ser líderes de torcida.

– Giu, você não acha que vai fazer muita coisa não? – Minha irmã me perguntou quando estávamos esperando para fazer os testes, já prontas na arquibancada.

– Não, ballet eu tenho só três vezes por semana, jazz duas e eu encontraria a equipe de líderes de torcida depois da aula todo dia. Eu dou conta. – respondi com simplicidade. Não que eu seja super inteligente ou algo do tipo, mas eu consigo me organizar bem.

– E eu aqui com minha natação. – Luiza resmunga do meu lado.

– MUITO BEM MENINAS! - uma mulher alta e forte sopra o apito - Venham para cá, quem vai fazer o teste para líder de torcida hoje. Eu sou a treinadora Denise. Vocês são quinze, somente dez vão passar. Fiquem enfileiradas, eu chamarei uma a uma e vocês vão fazer a série ensinada pelo vídeo mandado junto com as inscrições. Alice Lima.

A mulher chamou uma por uma para dançar as mesmas duas oitavas, umas eram impressionantes de tão flexíveis, outras prefiro nem comentar... [Sofia: Eu adorei a menina que caiu, ri muito. Eu: Tadinha. Luiza: Tadinha nada, ela é muito chata, odeio ela].

– Giulia Silva Darling – a treinadora me chamou e eu me dirigi ao centro da quadra.

Minha série não foi excepcional, mas pelo menos eu não errei a dupla pirueta. Não sou a mais flexível de todas, entretanto tenho ritmo e posso melhorar [Luiza: E como melhorou também depois do que aconteceu. Giulia: Sem spoilers, por favor. Sofia: Foco]. Luiza foi a penúltima a apresentar e se saiu muito bem em minha opinião. [Luiza: Ai brigada, miga. Eu: Nada. Sofia: Esqueceram-se do foco? Eu sou a próxima, quaro falar logo!]

A treinadora falou que os resultados saem amanhã e que quem passou já podia ir para o treino. Nós sentamos na arquibancada e agora era a vez de Sofia fazer seu teste para a equipe de futebol. Sendo pequena, Sofia corria muito rápido e se esquivava bem com a bola, marcando vários gols. Enquanto observávamos nossa pithuca correr para lá e para cá eu percebi que o menino do shopping estava na quadra da escola. Cutuquei Luiza para que ela visse e ela disse que ele devia ser novato e estava tentando ser do time masculino. Nossos olhares se cruzaram por um instante e eu logo desviei. [Sofia: ai que romântico. Luiza: Menos, Sofia. Eu: Deixem-me acabar, daqui a pouco chega sua hora Sofia, calma].

– Oi – eu me assustei com a aproximação repentina do menino do shopping.

– Oi – respondi sem jeito – Você é novo na escola?

– Sou, mudei para a cidade faz pouco tempo, por causa do trabalho do meu pai. Sou Leo – ele disse me estendendo a mão.

– Giulia – respondi simplesmente, Luiza fez um barulho com a garganta e eu complementei – E essa é minha irmã gêmea, Luiza.

– Muito prazer – ela estendeu a mão por cima de mim.

– O prazer é todo meu. Agora o difícil vai ser saber quem é quem de vocês duas, são tão iguais. – ele disse me fazendo rir.

– Olha acho que o teste da nossa irmã mais nova, Sofia, acabou. Vou lá falar com ela. – Luiza fala.

– Espera – mas ela já tinha descido correndo a arquibancada. Vaca, me deixou sozinha com o menino. [Luiza: Você adorou. Eu: shiu]. – E ela desceu. Então – eu disse me virando para ele – Como vai a vida?

– Boa, eu acho. – ele respondeu com uma cara muito fofa de ponto de interrogação. – Mas eu queria te explicar uma coisa. Hoje no shopping eu não estava te secando, e que eu acho que você tem algo especial, assim como eu. Não sei se me entende... [Sofia: Minha vez! Eu: Perai, Sofia, me devolve essa joça! Logo na parte mais tensa da conversa. Sofia: Agora o microfone é meu! Então vamos ao que interessa].