Daquele dia em diante sua carreira tinha mudado para sempre, ela foi de vento em polpa, Monica ainda se lembrava como se fosse ontem do momento da aprovação, tinha marcado sua história na carreira da dança, não tinha como esquecer a emoção, a felicidade e o sentimento. Sem contar que foi no mesmo dia em que fora pedida em namoro, duas datas comemorativas importantes juntas.

Fazia exatos dois anos que estava dançando pela Le Ballet e nada era como antigamente, logo no começo assim que iniciaram as aulas a adaptação foi um pouco puxada, suas aulas eram integrais e emendavam em longos ensaios até as 18 horas, de segunda a sexta, vira e mexe tinham apresentações, então quase não parava mais em casa, começou a ganhar realmente bem e a guardar mais ainda suas economias.

O pessoal lá era legal, o mais severo de todos, era o professor Bernardo, no qual lhe aprovou há dois anos, ele dava as aulas de coreografia, e qualquer ruído, descuido ou desatenção em sua sala resultavam em horas de sermão, e coreografias extras para o final de semana. No fundo ele tinha um coração ótimo, e com o tempo Monica foi percebendo isso. Não demorou muito para ser escalada para equipe de apresentações e foi ele próprio que a colocou, desde então vinha sendo mais cobrada ainda. Viajou para muitos lugares, conheceu inúmeros bailarinos renomados, e a cada dia era uma nova etapa que concluía.

Logo no começo e aproveitando o nome que a Le Ballet carregava, Monica teve uma idéia, desde que tinha voltado do Rio trazia a lembrança das duas irmãzinhas e seus sonhos de fazerem balé, foi pensando nisso que criou coragem de ir até a diretora da academia de dança, e apresentar um projeto de financiamento da carreira de balé para crianças sem condições de pagamento.

No começo a diretora hesitou um pouco, mas Monica estava decidida a convence - lá, e uma vez que já tinha pesquisado tudo e com a ajuda do Cebola e da Lemon conseguiu apresentar um projeto no qual crianças se inscreviam, eram avaliadas e uma vez aprovadas, a Le Ballet financiaria  junto a escolas de balé local, tudo relacionado a aula, desde matriculas e roupas até transporte, alimentação e custos adicionais.

Como a Le Ballet era uma academia profissional e não uma escola, o projeto social teria que funcionar externamente, preparando alunos para um dia tentarem ingressar na mesma.

Era incrível, alem de ativar o lado social e responsável da Le Ballet, poderiam ajudar milhares de crianças com o mesmo sonho que ela.

A diretora demorou um pouco a aceitar, e precisou chamar a coordenadora geral, bem como os sócios da academia, e após uma longa conversa juntamente as diretoras de algumas escolas incluindo a Lemon, o contrato foi fechado.

Demorou um pouco para colocarem tudo em prática e isso custou algumas reuniões longas, com as escolas inscritas que ofereceriam um desconto na mensalidade para os alunos inscritos no programa, mas pouco mais de 6 meses e o projeto já estava funcionando.

Chamava-se Balé para todos. Quando Marcos ficou sabendo da inclusão do projeto em sua escola e que o nome do programa carregava a Monica como idealizadora seu coração se encheu de orgulho, Monica precisou da ajuda dele para conseguir encontrar novamente as irmãs e as inscrever no projeto, deixou ele encarregado disso, e em menos de dois meses as duas já estavam estudando na escola do Rio de Janeiro sob os seus cuidados, ela tinha certeza que se tornariam grandes bailarinas.

 Semanas depois Monica recebeu em casa um desenho que a fez emocionou demais, leu no remetente: Bea e Aline, abriu com as mãos tremulas e lá estava o desenho que ela entendeu muito bem em sua simplicidade. Era ela com o vestido rosa de balé de mãos dadas com as duas, igualmente vestidas, no canto lia-se te amamos tia Monica. Essas coisas sinceramente não tinham preço, desejou por instantes que seu pai pensasse dessa forma nem que fosse por alguns segundos, seus olhos inundaram de lágrimas, e ela chorou emocionada.

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Seu namoro com o Cebola estava incrível tinham acabado de completar dois anos, e ambos amadureceram muito com tudo que passaram, algumas discussõezinhas aconteciam, mas, nada fora do normal.

Ele agora ocupava um lugar ao lado do Ricardo como professor de coreografia, este continuou no cargo, porém focado em desempenho no palco.

Cebola continuava a dar aulas de manhã na ONG e agora de tarde na Lemon, sem contar os inúmeros pedidos de coreografia que recebia para entregar em menos de uma semana, o que lhe rendia uma boa grana extra.

Marcos permaneceu como professor no Rio de Janeiro, ele e a aluna preferida nunca perdiam o contato, e vira e mexe Monica ia visitar seus pais e conseqüentemente ele na escola. Agora estava namorando, uma tal professora de balé na qual Monica nunca ouvira falar, ele tinha prometido a apresentar da próxima vez que Monica fosse ao Rio, esta estava bem ansiosa, pois seria a primeira vez que Marcos a apresentaria para uma de suas affairs.

Por falar em visitas a seus pais, no começo foi bem difícil a aceitação do namoro inesperado, quando finalmente os dois criaram coragem para os visitarem, Monica foi decidida a bater o pé pela sua escolha.

Foi um pouco complicado e Dona Luisa teve que conter seu pai nas primeiras vezes, bem como o Fabio que quando soube surtou. Mas com o tempo as coisas por lá foram se ajeitando. Até hoje ainda não era de total vontade do pai o seu namoro, mas tratavam o Cebola até que bem, e já tinham percebido que ele só queria o melhor para sua filha.

Monica teve que segurar ou pelo menos tentar, o Cebola algumas vezes que trombaram com o Fabinho pelas ruas do Rio, ele nunca desistia de provoca-lo. Fabinho deu algumas crises de ciúme, mandou mensagens, ligou e até apareceu em São Paulo em um dia no qual o Cebola o botou para correr rapidinho, bem como a Camila, que tentou em uma tarde que estavam no parque, partir para cima da Monica.

Tudo isso aconteceu bem no começo, com o passar do tempo as coisas foram voltando ao lugar. Não que o Fabinho tenha aceitado ser trocado pelo Cebola, longe disso, mas não apareceu mais por São Paulo, e nem lhe mandava mais mensagens. Monica só sabia noticias porque sua mãe lhe contava que ele continuava fazendo planos para conquista - lá, o que deixava o Cebola bem atento.

Magali, Denise e Monica continuavam morando no mesmo local, como todas estavam ganhando bem mais, as contas foram ficando mais sossegadas, e nem pesava mais tanto assim. Tinham trocado alguns moveis e personalizado os quartos, estava do jeitinho que elas queriam, continuavam amigas como sempre, não que ao houvesse discussões, mas nada que a amizade não falasse mais alto.

Denise continuava comunicativa, agora na faculdade de Publicidade e Propaganda, estava cursando o terceiro semestre, seu namoro com o Xaveco ia bem, e em noites de sexta quase sempre os casais se encontravam para papear, taí o lado ótimo das três namorarem melhores amigos, os passeios eram sempre juntos.

Magali estava no segundo ano de Nutrição, e tinha sido efetivada na Lemon a pouco tempo, ela e Cascão planejavam noivar em breve, e estavam guardando dinheiro para isso. Quando anunciaram para a turma todos ficaram eufóricos, pois seria o primeiro casamento que aconteceria entre eles.

Ambas ainda dançavam balé quando conseguiam tempo.

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Em uma tarde, meados de Setembro, Monica saiu do seu ensaio, um tanto quanto cansada e foi encontrar o Cebola para jantarem, nesse dia ele lhe propôs uma idéia que ainda não tinha lhe passado na cabeça.

Enquanto comiam em um dos barzinhos preferidos dele, eles começaram a conversar sobre várias coisas, Monica lhe contou seu dia, e como foi difícil a coreografia com barras, que ela teria que aprender em menos de um mês para o próximo espetáculo, e em meio a conversa, Cebola tocou no assunto que há tempo vinha pensando.

Propôs então que dessem entrada em um apartamento, Monica ficou em choque por aproximadamente um minuto e quanto retomou a cor do rosto, abriu um sorriso de orelha a orelha. Claro que ela aceitou, não que ela nunca tinha pensado nisso, mas não tinha parado ainda para fazer esses planos. Na semana seguinte já começaram a procurar, em torno de duas semanas depois encontraram um ainda na planta, o preço estava bom, Monica consultou o arquiteto e engenheiro da família e quando menos esperavam a chave já estava em suas mãos. Foi tudo tão espetacular e emocionante que ela mal conseguia expressar. A obra era prevista para dali um ano e meio, tempo suficiente para fazerem tudo que queriam, e colocarem em ordem as economias.

Com seus projetos a mil por hora, e agora o apartamento que vira e mexe iam dar uma olhada para opinar em algo, e ver como estava ficando, eles mal tinham tempo para parar em casa, mas estavam amando essa nova etapa do namoro. O projeto de balé para todos estava a mil maravilhas e a Le Ballet a nomeou como responsável pelo mesmo, em agradecimento a visibilidade social que a Academia tinha alcançado.

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Alguns meses depois quando estavam esbarrando nos três anos de namoro, Monica ligou para o Cebola apreensiva com outra das suas idéias mirabolantes na cabeça, foi em uma conversa com uma amiga do balé que a idéia surgiu, e ela precisava conversa sobre a mesma, Cebola a encontrou um pouco mais tarde em uma lanchonete, e enquanto comiam, Monica apresentou outro projeto dessa vez algo que fez o namorado se surpreender. A idéia era ótima, e super viável,  outra vez resolveram embarcar juntos no novo desafio, apertando economias e dividindo as despesas.

Na verdade, me atrevo a dizer que, essa sede de realizar sonhos e conquistar objetivos juntos, os unia mais ainda.

Não demorou muito para começarem a investir dinheiro no novo projeto, e aos poucos a idéia foi ganhando forma. Proprietários de uma unidade de escola de dança, onde começariam a lecionar aulas mixando os dois ritmos por eles dançados, isso era mate mais do que já imaginaram, passaram alguns meses apertados, claro, gastos com o apartamento, contas do dia a dia e agora com a reforma do imóvel onde seria a escola, mas tinham certeza de que era mais um sonho se realizando.

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Cerca de um ano depois, Monica estava parada ao lado do Cebola na frente da mais nova escola do bairro do Limoeiro, em cima da entrada em uma placa muito bem colocada, lia se o nome “No Ritmo”, o bairro quase que todo se encontrava ali, culpa da Denise que já estava para se formar e aproveitou o talento para fazer uma bela ação de marketing para divulgar a abertura da nova escola de dança do local.

Monica palestrou por alguns minutos ao lado do Cebola que explicou qual seria o propósito da escola, em resumo a escola abriria de segunda a sexta no horário comercial, oferecendo aulas de Balé e Hip Hop em horários mesclados, de manhã teriam balé ministrado pela Monica, a tarde Hip Hop ministrado pelo Cebola e nas sextas durante todo o dia, aulas de coreografia mista o que juntaria os dois ritmos. Com esse novo empreendimento Cebola saiu da Lemon e da ONG assumindo totalmente a direção do local, Monica agora mais experiente e fluente na Le Ballet, tinha aulas apenas nas tardes de segunda a quinta, tendo o tempo matutino e a sexta feira livre para as aulas, a não ser em dias de apresentações, mas nesse caso Cebola assumiria a aula em seu lugar. Monica antes mesmo de inaugurar, já integrou seu projeto da Le Ballet a respeito de bolsas em sua nova escola, assim que abrissem as matriculas já estariam disponíveis.

Era até que grande o local, tinham salas grandes, espaçadas com vestiários dos dois lados, no chão colocaram o piso próprio para a dança, as salas eram rodeadas de espelhos, e barras, com aparelhos de som suspensos por prateleiras todas novas, tinha também uma cantina, com mesas para os horários vagos.

Continuou palestrando sob aplausos, quando com um susto percebeu o Cebola pedindo atenção com o outro microfone.

Começou a discursar.

— Bom pessoal, quero dizer que de uns anos para cá venho aprendendo muito sobre valores na vida, sobre fazer o bem e colher o bem, venho realizando vários sonhos dos quais não imaginei que um dia realizaria, vejo que hoje sou um homem com valores e princípios, diferente do moleque que eu era há tempos atrás. E cara quando Deus nos dá alguém para dividir do mesmo sonho, é sensacional, lutar juntos, olhar na mesma direção, compreender, respeitar e por fim realizar aquilo que tanto queríamos, é um ano especial demais para nós dois Mo,completamos 4 anos juntos, nosso apartamento sai, nossa primeira escola de dança juntos sai, e quero marcar mais ainda esse ano especial – Ele continuou a falar ansioso sob gritos e assovios – Casa comigo?

Monica achou quer perderia a força da perna e desmaiaria sob o salto que tremeu quando ouviu aquele pedido. Levou as mãos a boca ouvindo milhares de pessoas gritarem, quando abriu os olhos novamente se viu diante de um anel que brilhava a luz do Sol.

— Aceito, eu aceito, te amo – Ela respondeu se encolhendo e chorando no peito dele que a abraçou sorridente.

— É pessoal, ela aceitou – Cebola gritou para a multidão que assoviava alto.

Colocou o anel ansioso no dedo dela que tremia, a olhou novamente e a beijou docemente.

— Te amo! – Cebola concluiu emocionado.

Monica recuperou a fala um pouco depois e ainda emocionada e chorosa, caminhou ao lado dele para abrirem a grande porta do empreendimento juntos, mal teve tempo para encostar na porta quando ouviu uma voz que custou a acreditar.

— Filha – Seu Sousa chamou caminhando com sua mulher em direção a ela.

— Pai, Mãe? – Monica se surpreendeu – Não acredito que vieram, que honra – Ela correu para os abraçar.

— Ah filha, não sabe que orgulho nos da – Luisa cumprimentou o Cebola junto do seu marido.

— Ah mamãe não precisavam vir até aqui, eu disse, sei que o papai é tão ocupado – Monica falou sorridente.

— E acha que eu ia perder o sonho de ver minha filha se tornando empreendedora, sempre soube está no seu sangue – Sr. Sousa brincou por incrível que pareça com um sorriso nos lábios.

— Pai... – Monica riu o abraçando – Você sabe que ainda sou bailarina né? Trabalho para a Le Ballet e darei aula de balé aqui.

— Eu sei, me orgulho de você filha – Ele falou virando se para o Cebola – E de você também.

Cebola apertou sua mão sentindo que pela primeira vez o sogro lhe falara a verdade.

— Estou noiva – Monica lhes mostrou o anel.

Seu pai de repente soltou a mão do Cebola.

— Precisamos conversar – Seu pai falou para ele forçando para não sorrir.

Cebola olhou preocupado, e segundos depois todos caíram na gargalhada.

Monica não sabia o que lhe reservaria os próximos anos, mas estava totalmente grata por tudo que tinha conquistado e estava conquistando. Com certeza era mais do que tinha sonhado, abriu a porta da escola com um sorriso no rosto e numa faixa pendurada no teto lia-se “mantenha seus sonhos sempre No Ritmo da felicidade”.