A Darkland Tale escrita por DarrenShanLover


Capítulo 1
O BURACO




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O BURACO

 

            - Humpf... – falei, irritada.

            - Não adianta reclamar, a gente não vai voltar para casa assim tão cedo viu? – disse minha mãe.

            Suspirei e saí andando.

            Meus pais haviam tido a grande idéia de fazer um piquenique em uma clareira que haviam descoberto perto da chácara dos meus tios. Era, sem dúvidas um lugar maravilhoso. O sol estava a pino e as árvores eram lindas e fáceis de escalar, não ficava muito longe da estrada e a grama era verde, macia e limpa.

            Eu poderia ficar ali sonhando o dia inteiro.

            Imaginando histórias que poderiam acontecer naquele local, os personagens, os conflitos, até conseguiria escrever um pequeno livro, se tivesse muita inspiração.

            Mas, não, não queria me perder em histórias. Eu queria ir para casa, iria ler meus livros e assistir alguns animês.

            Cheguei perto da árvore mais próxima, o tronco era retorcido e forte, perfeito para escalar. Como não tinha outra opção, eu iria pelo menos ficar em um lugar legal, pensando.

            Não foi difícil escalar, e o galho que eu havia encontrado era perfeito para sentar, minhas costas ficaram perfeitamente acomodadas no tronco.

            Dali eu podia ver meus pais, que não estavam longe e minha irmã mais nova. Seu nome era Charlotte e ela era apenas um ano mais nova do que eu. No entanto, ela era da minha altura, quase mais alta do que eu e havia mechas vermelhas em seu cabelo.

            Ela fazia tudo o que eu fazia, isso explica as mechas. Ano passado me deu na telha de cortar o cabelo um pouco abaixo do queixo e deixar algumas mechas brancas mais compridas do que o resto do cabelo, minha franja também é branca, enquanto o resto do meu cabelo é castanho. Charlotte não teve coragem de cortar o cabelo, mas infernizou nossa mãe até conseguir fazer umas mechas.

            Ela olhou para os lados, me procurando.

            - Aqui. – eu disse.

            Ela olhou em minha direção, sorriu. Catou alguns biscoitos e disparou até a árvore que eu havia subido.

            Com dificuldade, ela subiu na árvore e sentou-se em um galho ao meu lado, ainda com os biscoitos. Ela olhou pra mim com um sorriso.

            - Oi. – ela disse.

            - Oi. – respondi friamente.

            - Você queria estar em casa, certo?

            Olhei para ela, encarando fundo seus olhos. Ela estremeceu. Meu olhar causava isso nas pessoas, já que eu usava lentes de contato roxas.

            - O que você acha? – perguntei.

            Ela olhou para baixo.

            - Olha, tente se divertir, ok? – depois olhou em volta. - Olha só que paisagem linda, Alice!

            - É. – eu respondi simplesmente. Eu gostava da paisagem, mas não queria me deixar levar por sua magia. Eu queria imaginar histórias, contos... Mas não queria me deixar levar por eles, não hoje...

            Levei as mãos à nuca, acomodando-me e fechei os olhos por um instante, posso dizer que Charlotte fez o mesmo.

            Fiquei ali escutando o vento e o farfalhar das folhas.

            De repente, uma brisa sacudiu meus cabelos, e, ao fundo, ouvi uma música. Era tênue, fraca e estava tocando quase como que com esforço para chegar aos meus ouvidos. Era uma melodia alegre, porém sinistra, parecia vir de uma caixinha de música. Continha a sensação de mistério e de maravilha, era linda, mas assustadora. Tudo o que uma boa história tinha que ser. Se continuasse ouvindo aquela música, podia inventar bilhões de histórias. De qualquer gênero.

            Abri os olhos. De onde estava vindo?

            Olhei para o chão e depois para a própria árvore. Não, devia estar mais longe. Será que eu conseguiria achar a tal caixinha de música? Charlotte ainda estava de olhos fechados.

            Olhei para baixo, calculando precisamente a distância do galho até o chão. Concluí que poderia pular sem muito esforço. Me levantei com cuidado e afastei-me do tronco. Tomei coragem e pulei.

            Quando aterrissei Charlotte abriu os olhos, acho que pelo barulho.

            - Aonde você vai?

            - Eu... eu ouvi alguma coisa, vou descobrir o que é.

            - Que coisa?

            - Uma música, não ouviu? – perguntei

            Charlotte balançou a cabeça em negação.

            - Bem, eu vou procurar de qualquer jeito.

            - Espere! – disse Charlotte. – Eu vou com você!!!

            Ela se matou para descer da árvore, eu até disse para ela pular, mas ela tinha medo. Quando estava de novo ao meu lado espanou as roupas e disse:

            - Pronto, vamos?

            - E os biscoitos? – perguntei.

            - Ahhhh.

            Ela havia os esquecido no galho da arvore.

            - Acho que vou ter que voltar para pegá-los.

            - Ah, não! Eu não vou esperar mais! Você já demorou um século descendo da árvore, depois a gente pega!

            Ela olhou hesitante para a árvore, depois voltou a olhar para mim.

            - Ok, mas vamos logo então.

            Eu comecei a andar para longe dos meus pais, em direção à floresta. Ela não era assim tão fechada, na verdade era bem aberta, mas minha mãe tinha que se preocupar.

            - Para onde vão? – ela disse.

            - Vou ver um negócio ali. Não vou muito longe. – respondi.

            - Não mesmo. – ela disse.

            Depois eu me virei e caminhei para o lado onde eu havia ouvido a música. Charlotte me acompanhou. As copas das árvores eram iluminadas pela luz dourada do sol, e a grama continuava macia e limpa, não parecia que apenas a alguns metros dali existia uma rodovia, suja e... Bem, não dava para imaginar que existia qualquer coisa urbana perto dali. Uns dez passos depois, eu parei. Será que era ali dali que a música vinha? Eu não escutava mais nada.

            - Droga. – eu disse baixinho.

            - Hã... O que você está fazendo?

            - Shhh. – eu disse.

            Eu havia mesmo perdido o rastro? Não. Eu fechei os olhos de novo, me concentrando em ouvir apenas a música. Nada. Fechei os olhos ainda mais. Ali! Para a direita! Era para lá, eu podia ouvir a música! Abri os olhos e exclamei:

            - Para essa direção!

            Comecei a andar para a direita e Charlotte me acompanhou novamente. Eu estava determinada em encontrar aquela caixinha de música.

            De repente, Charlotte parou.

            Eu olhei para trás desconfiada.

            - O que foi?

            Ela não respondeu imediatamente.

            - Acho... acho que eu vi uma coisa.

            - O que? – perguntei.

            - Um... um coelho!

            - Coelho? – perguntei, agora realmente desconfiada. Um coelho? Aqui? – Tem certeza?

            - Tenho!!! Olhe!!! – ela apontou para a esquerda.

            Olhei. De fato lá estava um coelho. Era um coelho branco, tão branco que a neve se sentiria suja perto dele. Havia alguma coisa amarrada ao seu pescoço. Não consegui distinguir o que era exatamente. Mas poderia se ele estivesse mais perto.

            Ele estava nos encarando com seus olhos vermelhos, não parecia estar com medo.

            - Vem, coelhinho, vem. – chamou Charlotte docemente, se ajoelhando no chão.

            O coelho estava obedecendo, chegando perto de Charlotte, que estava com os braços abertos, querendo o segurar no colo.

            - Não! – eu disse. – Você não sabe se ele está doente ou se vai nos morder!

            Mas foi o tempo de as palavras saírem da minha boca e o coelho saltou nos braços da minha irmã. Ele se aninhou lá e Charlotte começou a fazer carinho em sua cabeça. Ele, ao invés de atacar ou rejeitá-la, como pensei que faria, na verdade baixou a cabeça, como se estivesse pedindo mais carinho. Ele devia ser domesticado.

            - Ah... que fofo! – disse Charlotte. 

            De repente ela parou e com um olhar de dó, remexeu os pelos que cobriam o pescoço do animal. Separando os pelos nós pudemos ver o que estava preso ao seu pescoço. Não era uma coleira, como eu havia pensado, era, na verdade, a corrente de um relógio de bolso.

            - Quem faria isso com um pobre e fofinho coelho? – perguntou Charlotte, visivelmente chateada.

            Com cuidado ela desenrolou a corrente do coelho e segurou o relógio de bolso, olhando-o com cuidado.

            - Uau! – eu disse.

            Era realmente um relógio lindo, era folheado à prata e parecia ser muito caro, sua corrente, é claro, também era prata.

            - Deixe-me ver. – eu disse, e tomei o relógio das mãos de Charlotte.

            Ele estava fechado.

            - Será que eu consigo abrir? – perguntei.

            Charlotte deu de ombros, ela estava muito mais interessada no coelho.

            Eu tentei abrir, é, estava meio duro. Forcei mais a tampa. Nada. Que raiva! Dessa vez eu forcei legal a tampa, que abriu de repente com um “clack!”. Deixei o relógio cair no chão, será que eu o tinha quebrado?

            Me agachei no chão para pegar o relógio de novo.

            Eu congelei. Estava ouvindo a música de novo, estava mais perto dessa vez, muito mais alta. Estendi a mão e peguei o relógio. O encostei ao ouvido. Era dele que o som estava saindo!

            Me virei para Charlotte, que ainda estava acariciando o bichinho.

            - Olhe! Era daqui que vinha a música! – virei o relógio para ela.

            Ela parou de acariciar o coelho, que olhou para ela como quem dizia “ou! Quero mais!”, mas minha irmã não deu atenção. Ela olhou para mim e disse:

            - Eu não estou ouvindo nada.

            -Nossa, seus ouvidos devem estar ruins, apesar de a música estar meio baixa mesmo.

            Ela deu de ombros e começou a brincar com o coelho de novo, que ficou muito feliz com o fato.

            Eu olhei para o relógio, de onde ainda saía a música. Havia uma pequena manivela de se dar corda à música do lado direito e outra manivela para ajustar os ponteiros do lado esquerdo. Os números estavam escritos na ordem anti-horária, e os ponteiros rústicos também não estavam seguindo o sentido horário. Apesar disso, o relógio estava marcando onze e meia, apenas três minutos atrasados do que o meu relógio de pulso, mas uma diferença como essa não é nada.

            Que da hora!

            - Hey, olhe Charlotte! Que estranho... O relógio gira no sentido anti-horário!

            Quando eu disse isso, uma brisa fria e morna ao mesmo tempo nos atingiu, ela sacudiu nossos cabelos e levantou as folhas caídas do chão. O relógio se fechou e a música parou. Droga, ele se fechou no meu dedo indicador! Deixei o relógio cair no chão.

- Ai!!! – gritei.

O vento deve ter assustado o coelho, ou eu... pois assim que a brisa cessou, ele pulou dos braços da minha irmã para o chão e se enfiou em um buraco ao lado de uma árvore.

            - Ou!!! – Charlotte gritou, mas isso só assustou o coelho ainda mais.

            Coloquei o dedo na boca, tentando amenizar a dor, porque raios as portas ou coisas que tem dobradiça sempre se fecham nesse dedo?! Já era a terceira vez na semana. Minha irmã se levantou e espanou as roupas. Ela olhou para mim e disse:

            - Viu?! Você o espantou!

            - Eu? Eu??? Ele xe axustou com o vento! – eu disse, sem tirar o dedo da boca.

            - Humpf... Ta... Agora eu tenho que achar ele de novo. – ela disse ranzinza.

            Charlotte começou a caminhar em direção do buraco em que o coelho havia se enfiado.

            Eu tirei o dedo da boca, estava vermelho, eu o sacudi um pouco tentando, de novo, amenizar a dor. Procurei o relógio por entre as folhas, ele estava bem do lado do meu pé. Eu o peguei e prendi na calça, depois o enfiei no bolso da frente.

            Quando me voltei para Charlotte ela estava olhando para o buraco, com as mãos na cintura. Eu me juntei a ela.

            O buraco não era exatamente pequeno. Se quiséssemos, eu e Charlotte juntas poderíamos atravessá-lo. O estranho também é que ela não era horizontal, ele descia um pouco inclinado para a vertical, como um escorregador. Não consigui ver se tinha fundo, pois estava escuro.

            - Droga...Como vamos achá-lo agora? – minha irmã murmurou.

            - Tem certeza de que ele foi parar ali?

            - Tenho, eu vi!

            - Hm... Bem, vamos embora. Mamãe já deve estar preocupada com agente, e, aliás, você não vai levá-lo para casa mesmo, não é? – eu dando uma de irmã mais velha.

            - Ah... – ela gemeu, olhando para mim com um olhar suplicante.

            Eu balancei a cabeça e indiquei para que voltássemos para onde nossos pais estavam, afinal, eu queria ir embora, e já havia conseguido o que eu queria. Eu tinha o relógio. E ele era demais! Ta, eu sei fui meio egoísta... Mas, de qualquer forma, o que eu disse era mesmo verdade, ela não podia levar o coelho para casa e nossos pais já deviam estar se mordendo de preocupação.

            - Ok... – ela suspirou e começou a andar para longe.

            Quando ela deu um passo, escorregou em alguma coisa e caiu no buraco!


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo vem em breve!!! Espero que tenham gostado!!!



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