Narrado por Charlie

A última coisa que eu esperava era vê-lo. Ainda mais tão de perto.

Quando Cody me trouxe e disse que ia levar Jas pra casa – não imaginei que Tommy ficaria aqui.

Quer dizer, já faz muito tempo que ele não vem aqui.

— Da licença, por favor.. – pedi assim que ele ficou mais perto de mim.

— Não! – Tommy falou decidido.

Olhei-o nos olhos – tive medo e desviei o olhar, medo de ceder, de não resistir a ele.

Quer dizer, o cara que eu era apaixonada estava bem aqui, perto de mim, sem camisa e ainda me encarava de perto.

Era difícil.

Mas ao mesmo tempo, me lembrava daquela maldita aposta.

— Tommy.. se afasta.. – pedi quando dei um passo para trás e ele deu um para frente mantendo a pouca distância entre nós.

— Porque eu deveria fazer isso? – perguntou cínico.

Ele voltou a ser o mesmo idiota de sempre.

— Porque eu não quero você perto de mim! – falei.

— Então porque ainda está aqui? – ele sorriu com deboche.

— Idiota… – me virei pronta para sair da cozinha.

Mas ele pegou em meu braço e me encostou contra a parede – seu corpo ficou na frente do meu, me prensando sem ter pra onde ir.

Ele estava perto demais, era difícil raciocinar logicamente – eu sentia falta dele, de sentir seu toque…

Se concentra Charlie!

— Eu vi você hoje… – ele falou olhando em meus olhos, parecia magoado e com raiva – vi você com aquele idiota!

— O que? – perguntei sem entender.

— Sei que você não é burra.. quer dizer, tenho minhas dúvidas depois do que vi hoje! – suas mãos estavam na parede acima da minha cabeça, ele olhava-me e sua raiva parecia aumentar a cada segundo.

Sustentei seu olhar – eu já estava irritada com ele – ele estava sendo grosseiro e eu não queria vê-lo.

Mas de repente me lembrei do que tinha acontecido essa tarde – Scott havia me beijado, mas como ele poderia ter visto..?

— Não vai me responder? – perguntou sem desviar seu olhar do meu.

— Você está falando do Scott…? – perguntei ainda receosa e confusa.

— Tem algum outro babaca que você beijou essa tarde? – seu maxilar estava travado, ele tentava conter a raiva. Eu sabia disso.

— Eu.. eu.. – a verdade era que eu não sabia o que dizer, eu estava confusa.

Tinham se passado dois meses desde tudo, e eu ainda não sabia lidar com isso – com ele, com a nossa relação – se é que existiu uma relação entre nós. – a única coisa que eu sabia, era que ainda existia muita mágoa, mas eu sabia também, que ainda não tinha esquecido ele, e beijar Scott foi uma forma que encontrei de tentar seguir em frente. – talvez não fosse certo, mas eu não via mais saídas.

— Você o que? O que queria com aquilo? – ele falou alto, me assustei e desviei o olhar do seu.

— Eu não queria nada! – falei sem olha-lo, reprimia as lágrimas que queriam descer mordendo o lábio inferior.

— Olha pra mim! – ele pediu autoritário – Charlie! 

— O que é?! – virei olhando em seus olhos.

Minha garganta estava seca, meus olhos marejavam – eu não queria que ele me visse assim.

— Porque? – ele perguntou, via extrema mágoa em seu olhar.

— Não era pra você ter visto… – falei baixo, de forma triste.

— Porque? Você queria se vingar? Queria me magoar também? – ele perguntava com desespero atrás de respostas.

— Não. – falei negando com a cabeça – eu não magoar você… Eu não sabia que você estava lá..

— Mesmo assim, porque fez aquilo? Charlie, você não gosta dele! – Tommy falou, engoli em seco, porque era verdade.

Seu olhar não parecia mais transmitir tanta raiva, ele estava magoado, mas ainda sim ele olhava-me como na noite em que passamos juntos, olhava-me com carinho.

Seu rosto se aproximou do meu – senti sua respiração perto da minha – ele olhou para os meus lábios e depois voltou a fitar meus olhos.

— Diz pra mim que gosta dele! Diz que você não me deseja mais, diz Charlie! – ele sabia que eu não poderia dizer aquilo.

— Eu não posso dizer… – falei olhando-o – eu não gosto dele… Não poderia, não conseguiria. – fechei meus olhos e pude sentir seu hálito mais perto do meu, eu o queria, mas eu não conseguia perdoa-lo, não agora. – não consigo perdoar você, Tommy! Eu sinto muito. – falei ainda de olhos fechados.

Senti sua presença por alguns segundos, antes de abrir os olhos e ter certeza que ele havia ido embora.

Soltei a respiração pesada e deixei que meu corpo escorregasse pela parede até eu me sentar no chão.

Lágrimas molhavam minha bochecha, o choro era silencioso, eu estava esgotada demais.

Senti meu celular vibrar no bolso da minha calça, olhei no visor pra ver quem era – Katie.

Já estava na hora – eu não podia perde-la também.

— Só vem pra cá! – atendi o telefone dizendo somente essas palavras e desliguei.

(…)

Katie veio sem ao menos questionar o que havia acontecido – ela chegou rápido, assim que me viu sentada no chão da cozinha ela me abraçou.

— Me perdoe, Charlie – falou começando a chorar.

— Me perdoa também. – falei ainda abraçada com ela.

— Vamos sair daqui antes que alguém chegue… – Katie pediu e eu a interrompi.

— Você tem razão.. Cody não pode me ver assim. – falei me levantando com a ajuda dela.

— O que aconteceu? – ela perguntou me seguindo.

— Eu vou te contar, lá no meu quarto.

Subimos as escadas e me certifique de fechar bem a porta.

Me deitei com a cabeça do colo da Katie, ela permaneceu sentada me ouvindo.

— Você beijou o Scott e ele viu?! – ela perguntou surpresa.

— Infelizmente. – respondi.

— E você disse que não consegue perdoar ele..?! 

— Sim.. – falei – eu queria perdoa-lo, Katie. Mas toda vez que eu olho pra ele eu lembro daquela aposta, e de quanto eu valia pra ele. – ela olhava-me triste.

— Eu tenho certeza que ele mudou… Que ele gosta de você! – Katie falou.

Forçei um sorriso triste pra ela – era difícil acreditar nisso, por mais que eu quisesse muito.

— Não.. Harris eu já disse não! – minha mãe entrou no quarto falando no telefone, com ninguém menos que meu pai, as vezes ele ligava pra saber se estávamos vivos ou se queríamos passar as férias com “ele” (na verdade a gente ficava sozinho, porque pouco víamos ou saiamos com ele quando estávamos lá em Nova York) então eu e meu irmão simplesmente paramos de ir. – garotas, fiz lanches pra vocês, vamos descer?! – ela perguntou, mas pareceu mais como uma ordem.

Até que uma ideia veio a minha mente – não deixei nem Katie responder minha mãe.

— É o papai? O que ele quer?! – perguntei me sentando na cama.

— Harris eu já disse… – ela voltou sua atenção pra mim, estranhando minha pergunta – espere um minuto por favor. – o mesmo de sempre Charlie, ele sempre liga nas férias pra saber se vocês querem ir pra lá…

— Eu quero! – falei, ela me olhou sem entender. – eu quero ir… – mamãe me olhava confusa e Katie olhava-me sem entender nada.

— Harris eu te ligo mais tarde. – ela falou desligando o telefone e vindo até mim. – o que você disse, Charlie? 

— Eu quero ir pra casa dele.. olha seria bom passar um tempo em Nova York, e lá também tem ótimas universidades, quem sabe eu poderia estudar lá… – falei, ela tentava absorver toda informação.

A verdade era que ficar longe de tudo isso seria melhor pra mim. Um bom tempo longe de Tommy poderia resolver as coisas.

— Mas você nunca quis ir pra lá… Não estou te entendendo, filha.

— Eu quero mãe, seria bom pra mim! – insisti.

— Faz assim, você pensa por um tempo, e me diz a resposta. – falou receosa.

— Eu já estou decidida! Mas se prefere assim… – falei.

— COMO ASSIM NOVA YORK? – Katie gritou depois que minha mãe saiu do quarto.

— Meu pai mora lá, seria bom pra mim, tem ótimas universidades… – ela me interrompeu.

— Você está fugindo! você não pode fazer isso…!  – falou indignada.

— Se você contar pra alguém, Katie… eu não vou perdoa-la novamente! Se contar pra ele.. – falei em tom de aviso.

Ela me olhou irritada, mas no final cedeu.

— Não vou contar pra ele, eu prometo. – falou.

Quem sabe assim – longe dele – as coisas não melhorassem? Talvez eu estivesse fugindo dos meus problemas – segundo Katie – mas aquilo pra mim, era o melhor agora.

A distância, era melhor agora.

E eu já havia tomado minha decisão!