A prometida do rei escrita por Vindalf


Capítulo 9
Capítulo 9




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Bena ainda tentava absorver o impacto de tudo que o rei lhe dissera. O povo de Erebor estava passando fome! Ela queria falar alguma coisa, mas foi interrompida pela porta abrindo. Era a Lady Dís. Bena fez uma reverência:

— Milady.

A anã sorriu:

— Olá, criança. Irmão. Como ela está?

— Não houve mudança, minha senhora — disse Bena. — Ao menos a febre está controlada.

— Ela não está piorando, e isso é bom. — A dama sorriu para Bena, depois se virou para o rei. — Irmão, Balin reuniu o Conselho. Eles o esperam.

— Muito bem. — Ele reuniu alguns papéis, depois se voltou para Bena. — Voltarei assim que possível.

A menina assentiu, e o rei saiu com seus papéis. Lady Dís disse a Bena:

— Pedi que trouxessem água quente e toalhas para banhar Lobélia. Óin garantiu que isso ajudaria com a febre. Poderia por favor trazer roupas limpas para trocarmos?

— Oh, que ótima ideia. Volto já.

Criadas trouxeram água quente, e as duas mulheres lavaram a desacordada Lobélia. Lady Dís observou que Bena teve cuidado todo especial com os pés da prima. Embora fossem robustos, pés hobbits eram bem sensíveis.

Limpa e refeita, mesmo inconsciente, Lobélia parecia ainda mais adorável. Lady Dís comentou em voz alta e Bena concordou. A dama anã observou:

— Fico imaginando se sua prima é algum tipo de beldade entre seu povo.

— Oh, ela é, sim — Bena confirmou. — Acho que alguns corações ficaram partidos quando ela seguiu rumo a Erebor.

— E quanto a você? Não deixou nenhum coração partido por lá?

Bena fez um som de auto-menosprezo:

— Dificilmente, confesso. Como uma órfã sem qualquer atributo extraordinário, não sou nenhum troféu ou beldade para ninguém.

— Não diga essas coisas a seu respeito. Você é uma jovem atraente com uma mente afiada. Qualquer homem tiraria a sorte grande se a desposasse.

— É muito gentil, milady.

— Por favor, me chame de Dís. Em breve seremos parentes.

— E por favor me chame de Bena, não de Verbena.

— Por que não?

— Eu tive uma tia muito malvada que me chamava de Verbena. Agora não suporto meu próprio nome.

Lady Dís sorriu, compreensiva:

— Então talvez devamos achar um novo nome para você. Um em Khuzdul. Algo como... Bahin.

— Bah... Hin?

Bahin — Dís pronunciou de maneira correta. — Significa amiga. Como prima da futura Rainha, você é considerada amiga de toda a montanha.

— É uma grande honra!

— E meu irmão disse que gosta muito de conversar com você. — Bena imediatamente se avermelhou. — Ele desenvolveu uma grande afeição por você.

A moça sorriu, constrangida, e replicou:

— Sua Majestade é muito gentil. E é um bom rei. Pensa sempre em seu povo em primeiro lugar.

Dís observou Bena por alguns segundos e então explicou:

— Vou lhe contar algo sobre meu povo. Todos os khazâd consideram honra um conceito sagrado. Para nós, tem um valor incomensurável. Thorin precisa manter sua honra cumprindo o compromisso com seu povo. Ele vai se casar com sua prima como está obrigado por sua honra, e garanto que ele honrará esse casamento. Meu irmão jamais vai desrespeitar sua rainha.

Bena garantiu:

— Eu jamais pensaria que o rei pudesse fazer tal coisa.

— Talvez eu não tenha deixado claro minha mensagem. Hobbits acreditam no Forjado?

— Forjado?

— Forjado — repetiu a dama. — Anões creem ter uma pessoa que os complete totalmente, sua outra metade. Cada anão tem o seu, forjada pelo Criador em pessoa. Hobbits têm uma crença semelhante?

Bena pensou um momento e respondeu:

— Alguns hobbits acreditam em almas gêmeas. Segundo creem, a Senhora Verde Yavanna também fez uma alma gêmea para cada hobbit. Eles compartilham a mesma alma, portanto são perfeitos um para o outro. Mas nem todos acreditam nisso.

— Você acredita?

— Costumava não acreditar. Mas agora estou inclinada a crer nisso, sim.

Lady Dís deu um sorrisinho antes de comentar:

— Você tem todo o jeito de uma mulher apaixonada. Posso ver pela luz em seus olhos que alguém habita seu coração. Talvez alguém no Shire.

Bena se avermelhou e tentou não entrar em pânico. Será que dava para ver? Teria ela sido tão óbvia em suas afeições? Oh não!

— Lamento dizer que não é esse o caso. — Bena se esforçou para parecer o mais neutra possível sem mentir. — Não estou apaixonada por ninguém no Shire. Mas creio que cada um tem um grande amor na sua vida. Um Forjado, como disse.

Dís sorriu com afeição para a mocinha e comentou:

— É muito bom acreditar no amor. Ele nos dá esperança, faz de nós pessoas melhores.

— É mesmo?

A princesa de Erebor olhou-a e comentou, em tom de confidência:

— Veja só o que fez com meu irmão. Ele está mais calmo, parece estar em paz e contente. Também sorri mais. Nunca o vi assim. Fez um mundo de diferença – para melhor.

Bena sentiu o coração partir-se. O rei tinha se apaixonado por Lobélia. Que hobbit sortuda! Ela não só seria uma rainha, como tanto desejava, mas também teria um marido amoroso e dedicado. Bena não tinha dúvida de que Rei Thorin seria um marido amoroso se estivesse apaixonado. Pena que era o mesmo homem por quem Bena se apaixonara.

A princesa ainda olhava Bena, talvez esperando algum tipo de resposta. A mocinha fez a primeira pergunta que lhe veio à cabeça:

— Também foi assim para a senhora? Contentamento e paz?

Dís quase se engasgou num sorriso antes de responder:

— Estranhamente, não foi assim. Não mesmo. Foi paixão e fogo. Ele me fazia sentir viva. Eu podia sentir meu sangue ferver! Oh, era poderoso! — O sorriso dela se tornou triste e os olhos adquiriram um tom saudoso. — Talvez por isso eu tenha me sentido morta por dentro quando Mahal chamou meu marido para o Salão de Nossos Antepassados.

— Eu sinto muito — disse Bena, capaz de entender a dor de um amor para sempre perdido. — Posso fazer uma pergunta?

— É claro, querida.

— Eu queria saber se- com o tempo... isso melhora? Quero dizer, a dor?

Dís suspirou e respondeu:

— Eu me concentrei nos meus filhos. Eles eram jovens e precisavam de mim. Oh, eu senti falta de Víli, terrivelmente. Ainda sinto, é claro. Mas acho que, com o tempo, eu comecei a me sentir apenas meio morta.

Meio morta.

Bena passaria toda uma vida aprendendo como era se sentir meio morta. Ela acreditava ter encontrado seu Único, sua alma gêmea, e ele era um homem que ela jamais poderia ter.

Dís continuou:

— Também com o tempo, eu descobri que momentos sombrios não duram para sempre. É preciso ter fé.

A princesa sorriu para Bena, que se esforçou para devolver o sorriso. Mas não tinha coração para isso.

A conversa foi interrompida pela chegada de Fíli e Kíli. Conforme prometeram, eles vinham visitar Lobélia todos os dias. Eles saíram quando Bilbo chegou, pois Óin não aprovava muitos visitantes de uma só vez. Silêncio era essencial para a recuperação da jovem hobbit.

Depois chegou o rei, trazendo livros para Bena, para que ela pudesse passar o tempo. Ela agradeceu muito pela gentileza. Na verdade, ela ficou tocada pelo gesto dele.

Lady Dís saiu com a promessa de mandar trazer sopa quente para Rei Thorin e Bena. Quando ela se foi, eles ficaram sozinhos, num silêncio agradável: Bena com seus livros e o rei com suas tarefas.

Eram nessas horas que Bena secretamente se dedicava a um prazer proibido. Já que o rei estava tão distraído com seu trabalho, ela podia encará-lo o quanto queria. Ela ficava de costas para a porta, assim as pessoas pensavam que ela estava lendo. Ninguém a via. Era uma grande oportunidade de olhar seu amor, e ela não sabia quando poderia fazer isso de novo.

Não havia ninguém ali para notar o jeito como ela observava o rei e seu régio nariz. Ou suas majestosas tranças nem sua barba convidativa. Oh, como Bena desejava agarrar aquela barba e beijá-lo por tanto tempo e tão profundamente que seu cérebro gravaria o cheiro e a textura daqueles lábios sensuais. E depois ela mergulharia a mão naquela volumosa crina de cabelo, e então ela finalmente saberia se eram fios tão sedosos quanto pareciam ser.

Se Tio Bilbo pudesse ouvir aqueles pensamentos, ele certamente teria jogado um balde de água gelada nela e ainda a teria deixado de castigo por no mínimo um mês. Mas tais pensamentos podiam ser escandalosos e impróprios o quanto Bena quisesse, pois eles eram dela e somente dela. Ela não falaria deles com ninguém. Bena levaria tais pensamentos consigo de volta ao Shire e viveria deles, como se fossem alimento para sua alma; memórias de um lindo rei com cabelos majestosos e contas encantadoras de metal para prender suas tranças.

Também era emocionante pensar nesses atos tão impróprios. Era tão excitante fazer coisas proibidas! Bena se sentia um pouco liberada, livre de seu disfarce prolongado. Em sua mente, ela podia ser sincera com seu coração. Em sua mente, ela podia liberar todas as suas mais louças fantasias e dar vazão ao amor que sentia por Sua Majestade. Ela queria que ele pudesse ser Sua Majestade, dela e somente dela.

Ela estava totalmente focada em Thorin. Naquele momento, cada célula de seu ser estava comprometida, dedicada a adorá-lo, seu coração silenciosamente despejando todo o amor que ela não podia proclamar em voz alta. Aquele era o único instante em que podia amá-lo, mesmo que só com os olhos. Nada mais importava no mundo para Bena. Ela estava totalmente concentrada e distraída.

Portanto, seu coração e seu rosto estavam sinceramente abertos ao amor de sua vida quando uma voz vinda das suas costas quase a matou de susto:

— Thorin?

Era Lady Dís. O coração de Bena falhou de susto. Ela não ouvira a princesa entrando no quarto.

Alheio às aflições da moça hobbit, o rei de Erebor se virou para trás e respondeu:

— Sim, irmã?

Dís pareceu um pouco distraída ao responder:

— Balin... Balin diz ter uma reunião irritante à qual você não pode faltar.

— Excelente — disse ele, aliviado. — Reuniões são irritantes, mas minha cabeça dói de tantos relatórios. Poderia fazer companhia à Srta. Verbena?

Bena se apressou em dizer:

— Oh, não há necessidade, Majes-

— Bobagem — disse a princesa. — Tenho certeza de que Bena vai gostar de um papinho entre garotas.

O rei assentiu com um meio sorriso e saiu, levando um punhado de papéis. Bena virou-se para Dís:

— Milady, eu falei sério. Deve ir, se tem coisas a fazer. Tenho livros, não há necessidade de me fazer companhia.

A senhora fechou a porta antes de se sentar ao lado de Bena e revelar:

— Na verdade, querida, eu gostaria de falar com você sem medo de ser ouvida ou interrompida.

— Mesmo?

— Eu preciso lhe perguntar uma coisa, se não se importa por eu perguntar.

— Claro que não.

De maneira casual, a dama indagou:

— Pretende deixar sua prima casar-se com meu irmão mesmo com plena consciência de que ele é o amor de sua vida?

Bena empalideceu. Ela sabia! Isso era claro, ela sabia, mas como?

Não importa. Negue. Negue tudo.

Quase sem fôlego de tão assustada, Bena respondeu, sem conseguir encarar a anã:

— Eu... Lamento... Não sei do que está falando.

— E eu lamento, mas está falhando miseravelmente ao tentar mentir a esse respeito — Dís olhou para a moça, olhos cheios de afeição. — Vai continuar negando?

Negue. Negue tudo.

— Eu-eu — Bena gaguejou. — Desculpe... Mas eu realmente não...

Dís a interrompeu, numa voz gentil e compreensiva:

— Eu a observei agora mesmo e vi o modo como olhava para Thorin. Você encarava meu irmão, e a luz em seus olhos... Somente pessoas apaixonadas têm essa luz. Posso reconhecer isso em qualquer lugar.

A dama do povo anão não era pessoa fácil de ser enganada, e Bena sabia que era tolice tentar. Ela suspirou e implorou:

— Não conte a ninguém, por favor.

Os olhos azuis de Dís reluziram de animação.

— Então é verdade.

— Eu juro que não tive intenção! — Bena ficou aflita. — Ninguém pode saber, especialmente titio! Por favor, por favor!

— Calma, criança. Não direi a sequer uma alma. Mas você está numa pequena... encrenca, eu diria.

Bena garantiu:

— Não precisa se preocupar. Nunca vou fazer nada a esse respeito. Jamais. Não há ameaça ao acordo de comércio ou ao casamento real. Prometo à senhora.

Dís a encarou com tristeza e indagou:

— Jogaria fora sua felicidade?

Bena evitou olhar para ela e disse, de modo triste:

— Ao menos o rei estará feliz. A senhora mesmo falou: ele parece contente e calmo desde que começou a corte. É óbvio que ele se deu bem com Lobélia. Eles têm uma corte auspiciosa, portanto o casamento deve ser cheio de felicidade. Fico contente.

Dís suspirou alto e chegou mais perto da mocinha, observando:

— Talvez tivesse sido melhor que você não tivesse vindo. Teria sido poupada de tanta dor.

— Titio jamais teria deixado isso acontecer, e se tivesse, eu provavelmente nunca o perdoaria. Eu queria fazer parte de uma das suas aventuras desde que era uma menininha.

— Mas a que preço?

— Por favor, não pense que eu me arrependo de ter vindo a Erebor. Nem um pouco. Estou feliz por tê-lo conhecido. Estou feliz por conhecer o que é o amor, mesmo sem poder vivê-lo do mesmo jeito que viveu com seu marido. Mas ao menos poderei dizer às pessoas: "Sim, o amor existe, e é a coisa mais maravilhosa e mais intensa que eu conheci em toda a minha vida". É, sim.

Dís sorriu para ela, e tomou as mãos dela entre as suas, dizendo:

— Oh, criança, sua criança preciosa. Eu gostaria de ajudar. Mas infelizmente eu não conheço os sentimentos de meu irmão. Posso confessar algo a você?

— Confessar?

— De início eu me opus a toda essa coisa de casamento arranjado. Na verdade, eu expus minhas objeções de maneira bem explícita.

Bena não tinha dúvida que Dís nunca se furtaria a explicitar qualquer objeção que tivesse. A senhora continuou:

— Senti que não era justo com meu irmão. Ele nunca se preocupou com amor. Nunca teve um interesse sério muito menos uma pessoa especial. Nem esperava ter, tanto é que nomeou meus filhos como herdeiros. Depois disso, ter um casamento arranjado imposto sobre ele... Thorin merece ser feliz. Vou confessar outra coisa: você poderia fazê-lo feliz. Ele gosta de conversar com você, ele mesmo me disse. É importante que esposos se deem bem e sejam amigos.

Bena disse:

— Se ele tem mesmo sentimentos de amor por Lobélia, então fico contente, pois minha prima não conhecerá um marido frio e indiferente. Sua Majestade sempre a tratou com extrema gentileza.

— E Lobélia está animada com as núpcias vindouras?

— Bem... — Bena disse com sinceridade. — Talvez animada seja um exagero, mas ela diz que não vai desistir do casamento.

— Ela sabe? Sobre seus sentimentos, digo.

— Não, Yavanna proíba! Se ela soubesse, poderia pensar que estou tentando roubar sua sorte grande. E titio...

— Acha que Bilbo faria oposição?

— Claro que faria! Lobélia foi prometida ao rei, e tem toda a questão política com o Thain do Shire. Oh, minha Senhora Verdejante, seria uma confusão e tanto!

— Sim — suspirou a dama. — Parece mesmo uma confusão e tanto.

Bena deu de ombros. — E não há absolutamente nada que se possa fazer. Por favor, Lady Dís, eu lhe suplico: não deixe ninguém saber.

— Prometo que nada direi a meu irmão. Não se preocupe.

As duas mulheres trocaram sorrisos por um segundo, e tudo ficou tão quieto que elas ouviram um ruído suave vindo da cama. Lobélia se mexia — ela estava acordada! Bena correu até a cama:

— Lobélia? Prima, pode me ouvir?

A hobbit mais velha a encarou e chamou, em voz rouca:

— Bena?...

— Espere, por favor. Vou trazer algo para beber.

Ela pegou um cálice com água e a ajudou a tomar uns goles.

— Melhorou?

— Sim... Obrigada.

— Como se sente?

— Confusa. O que houve?

— Você caiu e dormiu durante alguns dias. Deu um grande susto no titio.

Dís garantiu:

— Ficamos muito preocupados, mas agora já passou. É melhor eu buscar Óin para examiná-la.

— Sim, e dizer a titio também.

— É claro. Com sua licença.

Bena chamou:

— Milady! Obrigada.

Ela não falava sobre avisar Bilbo, e Lady Dís sabia disso. A dana dos anões sorriu para a hobbit e respondeu:

— Não tem o que agradecer, minha querida.


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Notas finais do capítulo

A SEGUIR: A montanha está sob ameaça de guerra



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