Serena escrita por Maria Lua


Capítulo 21
Maldito fumante


Notas iniciais do capítulo

Desisti de pedir desculpas por meus atrasos... Sou incorrigível. Estive ocupada no fim de semana por conta do aniversário de meu namorado, e de ontem para hoje tive uma infecção urinária terrível, mas estou melhor e (MAIS UMA VEZ) prometo tentar me consertar. Boa leitura!
Música para o capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=lcOxhH8N3Bo&index=10&list=FLE69oZMJkKx88STCeXpTDCg&shuffle=12
Um pouco dramática demais? Claro! Adoro drama!



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Vinte e duas horas se passaram. Inacreditavelmente eu estava contando. Fiquei na cama em tempo integral – foi lá que comi, e apenas isso. Não li, não assisti nada, sequer tomei um banho. Ficava deitado na cama olhando para cada canto do lugar que chamei de casa. Era a minha única! Está certo que sempre serei bem vindo à casa de meus pais, apesar de que hoje o meu quarto muito provavelmente tenha se tornado uma academia. Mas... Esse quarto me acolheu durante alguns meses, e todos os pontos altos da minha vida ocorreram nele.

Eu conseguia ver as memórias na frente de meus olhos: via Serena entrando encharcada, tirando a camisa em cima de mim, indo ao banheiro, a noite do incêndio, a primeira vez dela aqui, o nosso primeiro beijo... E tudo se voltava a ela. Não sabia que filmes havia assistido ali além de Before Sunrise – com ela – e nem das provas que corrigi, que elaborei, as malas que desarrumei... Nada disso. E agora... Estava no fim.

Resolvi, então, dar uma volta pelo colégio em tributo ao que passou. Eu me senti tão nostálgico com essas lembranças de Serena que resolvi passar por todos os lugares em que estivemos juntos – o pátio, a cantina, a sala de aula, o banheiro, o corredor dos professores... Todos os lugares em que escrevemos uma história foram visitados por mim. Passou exatamente uma hora quando decidi que seria melhor voltar. A essa altura já devem ter nos mandado arrumar as malas, esvaziar os quartos. Talvez tenham até mesmo posto gasolina no tanque de meu carro, vai saber.

Eu não havia notado antes, mas o pátio estava vazio. Fui andando, andando, e ia vendo mais movimentos. Senti-me como no primeiro dia na instituição – passava e era encarado. Comentavam, apontavam, mas com uma expressão diferente no olhar. É claro que mencionavam o incêndio. O incêndio tinha, basicamente, apagado as suspeitas da Serena e eu como casal, juntamente com as chances dessa estipulação se tornar um fato.

Fui me aproximando do quarto dos professores quando vejo um aglomerado de pessoas – alunas, professoras, todos que deveriam estar na sala de aula em plena quarta-feira. Foi quando consegui entrar na multidão que vi o meu quarto, com a porta completamente escancarada. Corri até lá ao ver a diretora na porta com algumas senhoras. Ao olhar lá dentro vi alguns oficiais da área – não aqueles rígidos, mas alguns seguranças que rondavam a área vez ou outra.

– Ei, ei, ei! O que está acontecendo? – falei afobado, sem saber o que estavam vasculhando ali dentro. Quando tentei entrar me mandaram ficar lá fora. – Diretora Wilkes! O que está havendo?!

– Calma Humphrey... Procedimento padrão. Já revistamos o quarto de Violet sem nenhum problema, e nada que a incriminasse foi encontrado. Agora estamos aqui esperando o mesmo resultado. – falou.

– Eles não vão achar nada. O que acontece depois? – eu estava aliviado, porque como não iriam encontrar nada talvez houvesse chance de permanecer no colégio.

– Bom... Discutiremos depois sobre isso, mas posso te adiantar algo. A Violet que me propôs isso. Convenceu-me de que devêssemos julgá-los com base em provas, e não suposições, e logo seriam inocentados. Isso ainda está sendo conversado. O oficial é que ambos serão retirados daqui se não houver um culpado oficial, mas foi aberta a possibilidade de uma permanência mútua. – ela sorriu. Eu fiquei mais tranquilo. Ela gostava de mim, o que me dava mais chances de ficar, já que a diretora lutaria por minha permanência.

Passaram-se uns vinte minutos até que os oficiais chamaram a diretora Wilkes lá dentro. Eu estava confiante. Sorria, inclusive, com a esperança entupindo minhas veias. Olhei em volta e notei que Violet sorria também. É... Ela, por fim, havia se sensibilizado. Conseguiu uma maneira de nos manter aqui. Não era tão má pessoa no final de contas.

A diretora saiu do quarto um pouco decepcionada. Isso murchou o meu rosto de qualquer jeito. Algumas mulheres do conselho se aproximaram para saber o que ela tinha a dizer, mas não foi preciso. Ela falou em alto e bom tom a notícia que acabaria com o meu dia.

– Foram encontradas algumas caixas de cigarro, da mesma marca dos encontrados no dia do incêndio, o que incrimina o Sr. Humphrey instantaneamente. Violet... Você continua conosco na instituição. Charles, querido, eu sinto muito... Talvez se você houvesse confessado antes a punição fosse menos severa, talvez um afastamento temporário... Poderia alegar acidente. Mas... – ela falou, mas eu a interrompi.

– Não acredito no que a senhora está me falando. – falei incrédulo.

– Humphrey, contra fatos não há argumentos. – ela tentou.

– Não, Wilkes, não é isso que está acontecendo aqui. – falei em tom alto, demonstrando revolta. Olhei para Violet, que permanecia imóvel sem expressão alguma. – É claro que a Violet armou para mim. Eu não fumo! Ela fuma, sempre foi um péssimo hábito dela. Todos podem confirmar, eu nunca fumei em minha vida! Isso não é meu. – apontei para os cigarros nas mãos dos oficiais.

– Fique calmo... – uma das senhoras solicitou.

– Não! Não vou ficar calmo! Não podem me pedir pra ficar calmo! Estão cometendo uma grande injustiça! – eu falava aos berros, enfurecido. Sentia minhas veias saindo pela testa, palpitando em meu pescoço. Decerto eu estava vermelho. Enfurecido. Indignado.

– Charles Montecchio Humphrey! Faça o favor de conter-se para não piorar a sua situação! – a diretora Wilkes falou comigo. Nunca antes a havia visto gritar, e muito menos se cruel com alguém. Foi então que parei. Percebi a cena que estava fazendo. Isso é algo que nunca foi de meu feitio, nunca foi a minha cara, o que mudou? Em quem o amor me transformou? Desde quando eu tenho garras? – Oficiais, por favor, fiquem do lado de fora do quarto enquanto ele arruma as suas coisas e o escoltem até o carro depois. O quero fora daqui o mais rápido possível.

Senti todo o meu corpo afundar no chão. Meus pés estavam travados, assim como meus olhos e meu coração. Ah, pobre coração... Havia parado de bater. Mas que diferença fazia? Ele só terá utilidade nos próximos três anos se eu permanecer aqui... O que está fora de cogitação. E só uma coisa passava por minha cabeça: Serena. Serena. Serena. E Serena. Serena Doolitle era a minha única preocupação no momento.

Quando comecei a caminhar ouvi uma voz atrás de mim que me fez repensar meus passos.

– Ainda não. O Charles não fez nada. Os cigarros são meus, fui eu quem causei o incêndio.


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