A Escolhida escrita por Pharah


Capítulo 42
Quarenta e dois


Notas iniciais do capítulo

pensei que eu fosse demorar mais, mas escrevi para me ocupar, e acabei escrevendo um capítulo. espero que esteja bom



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/660000/chapter/42

 

Uchiha Sasuke

Era ascendente: dois de maio de 1524, Segunda-feira

 

Quando a nossa carruagem finalmente para em frente ao castelo, suspiro aliviado. Não suportava mais usar trajes de guerra, fazer decisões que poderiam matar milhares ou salvar milhares, até mesmo escutar as divagações irritantes do rei de Suna, ou sentir vontade de esmurrar a cara do príncipe do país do Arroz, Neji. Finalmente estava em casa. Meu sentimento não era tão feliz quando deveria, afinal de contas não havia mais ninguém a me esperar. Meu pai estava morto, e junto dele, uma parte de mim fora embora. A minha inocência e esperança por um mundo perfeito. Sakura também havia retirado algo de mim. A vontade de amar. Termino as minhas divagações e me viro para as duas garotas que haviam me seguido fielmente para a guerra.

— Tenten, Karin. Antes de entrarmos no castelo preciso dizer algo as duas. —olho para as duas sério.

Não posso mais adiar esse momento. A hora de escolha chegou, e será hoje. As duas parecem ansiosas, mas seus olhos continuam fixados em mim. Karin segura a barra de seu vestido e Tenten coloca as duas mãos por trás de suas costas.

— Certo. — Tenten responde firme.

— Sim, majestade. — a voz de Karin sai amorosa.

Irrito-me um pouco com esse amor em sua voz. Ela não deveria se sentir assim em relação a mim. Nunca lhe prometi nada, nunca lhe dei nada. Nem ao menos uma promessa. A guerra fora um local difícil, e discutimos por muitas vezes. Enquanto Tenten ajudava o exército, Karin só se importava com a minha condição. Não sou egoísta a esse ponto, embora não a odeie. Sei também que é uma boa pessoa, mas não tem o que é necessário para governar um país.

— Tive tempo o suficiente ao lado das duas para descobrir qual mais se encaixa com o perfil de uma rainha... E esse perfil é seu, Tenten. — digo sem rodeios.

Tenten abre um sorriso orgulhoso e me olha como se fôssemos parceiros de guerra. E, de certa forma, era apenas isso o que tínhamos. E não poderia ser melhor. Depois da desilusão que havia tido com Sakura meu coração não se abriria mais para ninguém. Suspeito que mesmo se eu quisesse mais alguém para amar não conseguiria. Eu ainda amava Sakura. Mas a odiava ainda mais pela sua traição.

— É uma honra, majestade!

— Ainda não a coroei. Preciso descobrir e ler o relatório de Sakura para obter a minha decisão final, não se exalte. — minto.

Sabia que Sakura ia fazer um ótimo trabalho, dada a sua astúcia. Conseguira me ajudar a acabar com uma iminente guerra civil, além de me enganar completamente. Mas ainda sim, jamais conseguiria governar com uma pessoa tão suja dessa forma. E seria deveras doloroso ter qualquer contato com ela por um tempo duradouro. Meu coração poderia falhar.

— Tens razão. Imagino que os dois queiram conversar. — Tenten sai, para que eu pudesse ter uma privacidade com Karin por uma última vez.

Quando olho em seus olhos, percebo que ela chora copiosamente e nem se dá o trabalho de esconder a sua tristeza. Ela respira fundo, e após fungar mais uma vez, se dirige a mim.

— Por quê?! Eu cuidei tanto de ti durante esses meses! Eu te amei! — ela me acusa, dolorosa.

Não posso amar uma pessoa de volta apenas porque ela me amou. Isso não faz sentido. Amar não é por merecer, até gostaria que fosse simples assim. Minha vida seria muito mais feliz. Meu olhar para Karin é duro; sei que se eu tiver um pingo de empatia ela se agarraria a isso como se existisse algo entre nós e não quero que ela sinta uma dor prolongada, ou que se iluda.

— Karin... Eu não estou procurando uma pessoa para preencher o meu coração. Quero uma rainha que cuide bem de Konoha.

Ela arfa, insatisfeita com a minha resposta. Parece lutar contra si mesmo, provavelmente tentando achar uma resposta que me satisfaça. Mas isso não é um teste. Eu já havia decidido, e nada me faria mudar de opinião, principalmente uma Karin chorosa.

— E quem vai cuidar de vossa majestade?! — ela indaga desesperada.

Respiro fundo tentando não me irritar com ela. Karin não tinha culpa de ser movida pela emoção e não pela razão. São tipos diferentes de pessoas, e está tudo bem em não ser como eu. Mas ela não serve para mim, eu sei disso. Também suspeito que, mesmo com tanto tempo juntos em uma guerra, ela ainda criava expectativas de que eu fosse um príncipe encantado perfeito, e eu jamais seria essa pessoa.

— Consigo me cuidar sozinho. Não preciso de ninguém, ou de você. Sinto muito. — dito isso vou embora.

Sem esperar a resposta de Karin, pois sei que isso ia ser algo ruim para a própria dignidade da garota. Pois mesmo ao me afastar ainda escuto o seu choro, alto e doloroso. Como de um coração partido. E eu sei o quanto dói. Olhar apenas seria pior.

Quando entro no primeiro hall do palácio, Kushina me espera com um sorriso convidativo. Há mais alguns guardas no local, mas todos de confiança. No mais, estamos sozinhos. Diferente do que pensei, ela não parece muito preocupada com nada e nem possui nenhum papel de buracracia em suas mãos. Acho que reservou esse momento apenas para me ver. Vou até ela devagar, mas feliz por ter pelo menos uma pessoa me esperando.

— Sasuke! Hã, quer dizer, vossa Majestade! É tão bom te ver depois de tantos anos... — ela diz se atrapalhando.

É incrível como a família Uzumaki é toda parecida, com a exceção de Minato. Falando nisso, fico surpreso por Naruto não estar aqui também, mas pelo que sei ele havia ficado muito ocupado depois que casou. Sim, eu perdi o casamento do meu único amigo. Mas sei que ele entende e de forma alguma havia ficado triste. Também era uma excelente aquisição tanto para Konoha quanto para o país de Arroz, que agora estavam mais juntos que tudo, já que Hinata era, de fato, uma Hyuga.

— Kushina-san. Temos muito o que conversar. — minha voz sai grave e mais séria do que ela espera.

Ela dá uma pequena careta de desgosto, já inconformada que eu queira conversar sobre protocolos e acontecimentos da guerra. A única diferença entre ela e Naruto é que ele provavelmente me xingaria gritando, mas Kushina não faz isso.

— Bem, sim. Mas podemos falar sobre todos os protocolos mais tarde? Eu prometi a seu pai e sua mãe que cuidaria de vossa mercê como se fosse meu. — ela me conta com um sorriso caloroso.

Fico muito feliz ao ouvir isso, mas não consigo demonstrar, desacostumado com essas declarações de afeto. Sinto as minhas bochechas repuxarem, mas as prendo com os dentes, por dentro, envergonhado da minha ação.

— Hmpf. O que quer falar então? — digo resmungando.

— Nossa, mal voltou da guerra e já está mal humorado feito o pai... — ela dá uma risada fraca, lembrando-se de Fugaku, um bom e velho amigo, também o antigo rei. — Deve ser coisa de Uchiha, acredito. Bem, depois de todo o alvoroço da guerra e que finalmente acabou... E com a criança, também. Imagino que já saiba quem vai escolher para reinar contigo? — ela parece empolgada com o assunto e fico bastante confuso.

Um parafuso a menos havia sido posto na cabeça dos Uzumaki? Como isso seria um assunto a ser tratado com tamanha leveza? Eu havia sido traído por Sakura, a pessoa que meu próprio pai havia escolhido como sua favorita. Era tão cobra quanto o próprio Orochimaru, que havia simplesmente sumido no meio da guerra, largando grande parte dos seus soldados do seu país, algo muito suspeito. Todos não tinham uma estâmina normal, sempre mais cansados, indispostos. Aprisionamos alguns e observamos que todos eles haviam sido postos em algum tipo de experimentos em suas próprias águas e comidas do país. Isso era horrível. Talvez havia fugido por exatamente isso? No final da guerra, encontramos um esconderijo dele, e lá jazia o seu corpo queimado. Um covarde.

— Certamente. — respondo, finalizando as minhas divagações, que extrapolaram a pergunta.

Ela parece ainda mais animada e me entrega um envelope, o qual ainda não abro. Olho para ele bastante intrigado, mas antes que eu de fato abra. um guarda exaltado aparece ao nosso lado.

— Kushina-sama! Naruko mordeu o terceiro pretendente a noivo! — ele diz, desesperado. — Ah, saudações, majestade! Perdão por intrometer.

— Tudo bem. — digo.

Kushina muda de semblante, com a testa enrugada de raiva. Uma veia salta sobre a testa, demonstrando a sua mais pura fúria. Bem, Uzumaki's... Não há muito o que falar além disso. Tanto quanto para a mãe e quanto a filha.

— Mas que diabos?! O que eu fiz com estes filhos para me darem tanto trabalho? Mais tarde conversamos, Sasuke. — ela diz, já seguindo o guarda. — Não abra o envelope agora, quero ver sua reação! — ela já diz um pouco longe, gritando para que eu possa escutar.

— Certo. — digo para ninguém em especial, pois ela já não estava mais aqui.

.

.

.

 

♦♦♦

 

 

Jamais iria esperar que liberassem logo ela para conversar comigo em meu novo quarto. O antigo quarto de Fugaku. Ele estava diferente, assemelhando-se muito com o meu quarto antigo, exceto que tinha um tom mais maduro e luxuoso. Logo após tomar um longo banho e me higienizar, escuto a porta sendo aberta bruscamente. Sem nem ao menos uma batida. Intrigado, espero que a porta seja aberta.

— Sasuke-kun... — ela sussurra o meu nome.

Sinto o peso de sua voz e controle sobre o meu corpo, visto que até as minhas vísceras doem, mas não consigo identificar se era raiva, saudade, mágoa ou tristeza. Talvez todos juntos. Tento manter o meu rosto impassível, mas não consigo. Sou uma pessoa que guarda rancor.

— Sakura, ein? Depois daquela carta, como ousas continuar no castelo? — indago com uma voz cheia de escárnio.

Ela se assusta com a minha resposta e o tom de voz. Seus olhos se arregalam, e vejo uma nuance de confusão em seu semblante, me deixando ainda mais irritado. Iria posar-se de boa moça agora?

— O que está querendo dizer com isso?! — ela indaga, ríspida. — Falas como se eu tivesse feito um filho sozinha! — sua voz sai aguda no final pelo excesso de irritação.

Respiro fundo, tentando não gritar. Sou um rei e não vou me rebaixar assim por alguém que havia me machucado tanto assim.

— Seria muito mais fácil para mim se esse fosse o caso! — exclamo, desgostoso.

Seus olhos enchem de água, e sua expressão é de pura decepção. Ela balança a cabeça, em negação, depois de limpar uma única lágrima que cai em um dos olhos.

— A guerra o mudou... Ou será que sempre fostes assim? — ela indaga, mais para si mesma do que para mim.

Claro, uma atriz nata. Quase fico afetado pelas suas palavras, mas lembro-me da carta e do laudo médico comprovando que eu não poderia ter sido o pai. A própria Kushina havia sido testemunha e Sakura mandou a carta porque quis. Estaria ela ficando louca? Ou tentando me afetar por algum motivo?

— Não tenho paciência para isso agora. Suma da minha frente.  — respondo, usando um tom autoritário.

Em um lapso de decaimento, sinto uma dor ao ver a sua expressão de desespero, mas antes que eu fale algo para ela, Sakura desaparece, fechando a grande porta do meu quarto com um baque inacreditável.

.

.

.

 

♦♦♦

 

 

Ninguém no palácio aparece mais para me ver, após eu ler todos os longos relatórios. Acredito que exatamente por isso. Eram tanta coisa para fazer, que deixaram-me sozinho no escritório do rei, agora meu, para resolver tudo sozinho. Exceto, é claro, por algum Uzumaki. A porta é aberta descaradamente, e eu imaginei que fosse Naruto, mas era sua irmã, Naruko. Seus olhos estavam vermelhos e em volta dele também, uma clara evidencia de que havia chorado muito. Não me surpreendo, uma vez que havia mordido alguém importante e sua mãe deveria ter dito algo severo. Seus cabelos loiros estavam presos por dois rabos de cavalos laterais, como sempre, e os olhos azuis brilharam ao me ver.

— Oh, soberano rei, deixe-me beijar seus pés. — Naruko faz um bico horrível em minha direção.

Com todos os diabos, o que tinha de errado no cérebro dos Uzumaki? Acho que nem Tsunade poderia me responder a essa questão, era um mistério.

— Naruto fazia exatamente a mesma coisa com meu pai. E como ele, nunca achei graça nessa brincadeira. — zombo de sua brincadeira, fazendo a criança franzir o cenho.

— Mamãe estava certa. Você tá carrancudo. — ela acusa, apontando o seu indicador em minha direção.

Naruko infla suas bochechas, que já eram grandes, para demonstrar sua insatisfação. Ah, crianças... Não costumo me dar muito bem com elas, mas como Naruko era uma cópia perfeita de Naruto, conseguia lidar.

— Não fico triste ao ouvir isso de uma mordedora de meninos. — ela ri do meu comentário, orgulhosa de seu feito. — Naruko, isso não tem graça.

Ela faz descaso do meu comentário, ainda com um sorriso satisfeito. Tenho certeza de que ela está se lembrando do momento da mordida, pois seus lábios dão leve tremidas para o lado, indicando que está se segurando para não rir novamente.

— Tem sim! Ele queria pegar nos meus peitos. E eu não tenho nem doze anos ainda!

Olho para a garota cética. Iria averiguar a situação, pois Naruko ainda é uma criança. Caso o garoto seja uma criança também, uma severa conversa com os pais e um devido castigo com a criança bastaria, pois crianças nem sempre tem noção do que estão fazendo. Mas caso o garoto seja velho o suficiente para entender a seriedade de um assédio. Estará ferrado.

— ... Tudo bem, talvez você tenha alguma razão nisso tudo.

Ela concorda comigo, não muito surpresa da minha resposta. Naruko sabe como guardo rancor e sou vingativo, então esse deveria ser o motivo o qual ela estava me falando isso de antemão.

— Fala isso pra minha mãe! Ela tá um saco! Nem o Naruto me defendeu dessa vez! — ela reclama, desgostosa.

Bem, Naruto provavelmente não tinha ouvido direito, preocupado em ser lerdo ou com qualquer outra coisa, pois tenho certeza de que caso ele soubesse o motivo da mordida defenderia sua irmãzinha com unhas e dentes.

— Era de se esperar que ele ficasse adulto algum dia. — minto apenas para provocá-la.

Naruko franze o cenho para mim e cruza os braços, numa tentativa dramática de dizer que não gostou do que eu disse.

— Humpf! Vocês são uns chatos. — ela conclui.

— É o que se espera de adultos, pirralha.

Naruko mostra a língua para mim. Céus, se qualquer outra pessoa visse um rei discutindo com uma pirralha teimosa como Naruko ririam de mim. Minha reputação iria para os ares. Mas eu sentia saudade de situações cotidianas como essa, portanto a prolonguei.

— Bem, vou-me embora. Ver essa papelada toda me deu sono. — ela vai em direção da porta, mas antes que saia, olha para mim sorrindo. — Sentimos a sua falta, Sasuke.

Sorrio para a criança, que sai saltitante.

.

.

.

 

♦♦♦

 

 

Apenas percebo que havia adormecido com as papeladas quando escuto um guarda entrando no escritório. Olho para ele, intrigado, e ele me encara pálido, como se pedisse socorro.

— Majestade, ela insiste em falar com você, inclusive me deu um soco na cara. Converse e controle essa mulher, eu imploro!

Pensei que fosse uma Kushina enfurecida por eu ter encorajado Naruko, mas quando uma Sakura em prantos chega, assoando o nariz inchado de tanto chorar, fico espantado e nervoso. Por que ele não a havia rechaçado? Até parece que um guarda treinado teria medo de um civil desarmado. Isso me cheirava estranho. Alguém havia dito a ele para que não a tratasse mal.

— Choras como se eu tivesse feito algo... A sua infidelidade causou isso. — falo, jogando na cara.

Prefiro enfurecê-la do que continuar olhando para Sakura chorando. Isso me afeta, mesmo que eu repugne essa minha parte. Ainda havia em mim um amor por ela, ainda que isso não fizesse sentido nenhum. Mas rancor também, e me apego a isso.

— INFIDELIDADE?! — ela grita, irritada. — Estas de brincadeira comigo? Queria que abortasse o nosso filho apenas para não haver um bastardo? Se eu quero cuidar do meu filho, tenho todo o direito.

Dou um riso irônico, debochando de sua audácia. Bastardo? Hah, como se ela fosse rainha...

— Bastardo? Quem disse a ti que será uma rainha? Tenten cobre o cargo muito melhor que ti.

Ela me olha, ressentida, mas sacode a cabeça, como se tivesse tentando ignorar o que eu tinha dito. Respira fundo, e olha para cima, forçando seus olhos para não caírem mais nenhuma lágrima.

— Pare de jogos, e eu não me importo com isso agora! Apenas quero o meu filho de volta, me devolva!

Ela me acusa, e volta a chorar. Sakura treme, desesperada, e sei que ela se quebrou de verdade. Não tem como ela, nem mesmo uma atriz excepcional, fingir uma dor tão pura e horrível como essa.

— O quê?! — indago, confuso.

— Raptaste o seu filho apenas para não ter um bastardo?! Covarde! — ela grita, indo em minha direção.

Algo na minha cabeça diz que Sakura está pronta para me bater, assim como havia feito com os guardas. A diferença é que eu sou o rei, e não deixaria que isso chegasse a ser necessário.

— Meu filho? Eu recebi a carta, Sakura... Não era meu, estava no laudo e assinado como testemunha ninguém menos que Kushina. Ou estás tão insana que esqueceu o que me mandou?

Ela me olha como se eu é que estivesse louco por aqui. Ela massageia as têmporas, como se estivesse passando mal.

— Não sei do que está falando... Pois a pergunte! O filho é seu... E ela mesmo me disse que lhe deu uma pintura dele...

Lembro-me do envelope que a matriarca do Uzumaki havia me dado, e abro sem delongas. Uma pintura do artista oficial do palácio, Sai. A criança tinha um rosto rechonchudo e um pouco desafiador. Lembrava muito a mim, e até mesmo as pinturas antigas de Fugaku. Algo no meu coração dói, e eu me sinto mais uma vez enganado.

— Isso é... Impossível... — sussurro. — Não era para ser um Uchiha.

— O seu nome é Itachi. — ela me diz.

Continuo entrando em negação. Não fazia sentido... O laudo, a carta, tudo dizia o contrário. O que estava acontecendo?

— Mas Sakura... A carta dizia algo completamente diferente, e o laudo também. — paro de tratá-la mal.

Não sei mais o que está acontecendo, e eu ainda a amo. Caso eu tenha sido enganado junto a ela, eu deveria pedir as minhas mais sinceras desculpas, além de ter desperdiçado dias da minha vida remoendo uma dor que nem existia.

— Me mostre. — ela diz.

Pego a carta nos meus pertences. Não sei o porquê, mas não havia jogado fora. Acho que era para quando tivesse qualquer recaída por Sakura pudesse me lembrar o que ela supostamente tinha feito comigo. Mas agora sabia que podia não ser bem assim. Entrego a carta para Sakura, e nossos dedos se encostam brevemente. Sua mão está gelada, e ainda trêmula. Ela analisa a carta e o laudo por algum tempo, e seu rosto começa a mesclar entre desespero e fúria.

— Foi alterada. Não escrevi isso! Olhe a quantidade de fuligem em um laudo médico! — ela me mostra, horrorizada. — A equipe do castelo não é tão desleixada assim, isso é uma certeza. Treinei com eles esse tempo todo e tenho prioridade para falar sobre. Quem fez isso?!

Sim, eu sabia. Sakura havia se tornado uma curandeira com esses anos, e de acordo com Tsunade, uma exímia curandeira. Também tinha conhecimento de que eles não colocariam fuligem em um laudo médico, mas imaginei que a carta tivesse se sujado no caminho para a guerra. Mas parando para pensar, como um envelope devidamente selado sujaria por dentro e ficaria limpo por fora?

— Eu não sei... Por que alguém faria isso? — indago, sem saber mais o que falar.

Ela respira fundo, e me olha com o rosto mais ameno que poderia nessa situação.

— Ainda não acredita em mim? Já disse, pergunte para Kushina, ou até mesmo Naruto.

Bem, eles não citaram Sakura em nenhum momento em cartas, fora comentários breves de que ela estava se dando bem no castelo. Isso havia me irritado, mas pensei que fosse uma demonstração de que ela não se importava e que eu deveria seguir em frente. Vejo o quão cego estava. A reação de Kushina condizia com a história de Sakura, e me sinto muito culpado. Ela era uma vítima como eu. Claro que eu confirmaria a história com a Uzumaki, mas por agora, devo desculpas a única garota que amei. E ainda amo.

— Sakura... Eu... Me perdoe... — sussurro, quebrado.

Ela me olha nos olhos e limpa uma lágrima que teima em cair. Estou muito chateado com a história toda, e agora que descubro tudo isso ainda tenho de lidar com o fato de que meu filho que eu ainda nem havia conhecido tinha sido raptado. E Sakura, quem cuidou dele sozinha desde o princípio estava me confortando. Isso é errado.

— Está tudo bem. — ela finaliza. — Podemos discutir tudo isso depois. Acho que a guerra não o fez bem, e não faz sentido questionar a própria carta e laudo que eu mesma havia mandado. A letra era igual a minha.

Ela tinha razão, mas Sakura nunca havia feito nada que eu pudesse discordar dela ou sequer duvidar. Com todos os diabos, quase havia morrido por mim, quando fomos negociar pela guerra civil!

— Sim, mas eu devia ter acreditado na sua palavra. — falo arrependido.

— Devia. — ela concorda. — Eu teria acreditado em você, mas esqueça. Agora precisamos encontrar o nosso filho... Nosso Itachi.

Seus olhos voltam a se encher de água, e sei que está muito preocupada com seu filho. Quem não estaria? Eu, que nem o conheço ainda, certamente estou. Mas o que deveríamos fazer agora é nos perguntar: quem, quando, e por que?

— Tens ideia de quem pode ter feito isso? — indago.

Ela parece ponderar o que eu digo, mesmo preocupada e triste.

— Bem, eu pedi para que Sasori enviasse a carta... Ele disse loucuras como fugirmos juntos... — seus olhos se arregalam. — Só pode ser ele.

Sasori... Eu me lembrava desse nome. Era um guarda que a rondava algumas vezes. Sabia que tinha algo errado nesse homem, e não era apenas um ciúmes infantil.

— Vamos informar os guardas. — digo, e saímos juntos do escritório.

.

.

.

 

♦♦♦

 

 

— Majestade! Procuramos nos aposentos do guarda e não o encontramos ou nada que possa ter uma pista de seu paradeiro ou a da criança! — o guarda informa, e Sakura funga, desesperada.

— Nada?! — indago, irritado.

Ele me olha sem ter certeza de que deveria me mostrar. Suas mãos, trêmulas, me entregam um anel.

— Bem... Encontramos isso.

Observo o anel atentamente, e quase solto uma exclamação audível. Não podia ser verdade... Ele fora queimado!

— Um anel. Com uma cobra?! Isso é o símbolo do rei cobra! — falo assustado e ao mesmo tempo furioso.

Sakura me olha, cética. Acho que não sabe muito bem o que acontecera na guerra, e é normal. As pessoas haviam sido informadas sim de tudo o que havia acontecido, mas não de forma tão realista e detalhista. Tudo fora montado como se tivéssemos sido vitoriosos e heroicos, como se guerrear não fosse tão ruim assim. Uma mentira necessária. Ninguém ia querer saber o cheiro de morte, os traumas deixados. Não mesmo.

— Mas ele não morreu na guerra?! — me questiona.

— O seu corpo foi queimado. — confirmo. — Pode ter sido uma sósia.

Como não havia visto isso antes?! Bem, a maioria do seu exército havia sido dizimado ou rendido, mas parecia mesmo que eram menos que o normal... Como fui tolo e inexperiente! Bato na parede, frustrado.

— Preparem imediatamente o fechamento da cidade, e do país. Ninguém sai, ninguém entra. Irei escrever uma carta para todos os distritos, e vários mensageiros partirão para cada um deles, inclusive para Suna e o país do Arroz. Informe Minato e todos os estrategistas, chame Tenten!

Sakura reage com o nome da Tenten, mas não diz nada a mim. Sei que o mais importante agora não é assegurá-la de que não vou por a garota como rainha; apenas a chamei porque era uma exímia estrategista de guerra. Talvez fosse de perseguição também. Mas nesse momento, tudo que Sakura queria era o filho de volta. O nosso filho.

— O que eles vão fazer com o nosso filho, Sasuke?! — ela desaba em lágrimas, finalmente quebrando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se tem algum erro grotesco de gramática ou concordância me avisem please.
Comentem ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Escolhida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.