Um peso, duas medidas escrita por Miaka


Capítulo 7
Arrependimento


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! ♥ Muito obrigada mais uma vez a todos que estão acompanhando! Estou muito feliz com o andamento da fic e peço perdão pelos maltratos ao Ja'far. Prometo que a rainha ainda brilhará!



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Atônito, Ja’far permanecia a encarar aquela porta que havia sido deixada aberta por um furioso Sinbad. Hinahoho havia saído imediatamente atrás de seu rei, indignado com o que acabara de assistir. Já Ja’far não conseguia esboçar nenhuma expressão, apesar das lágrimas formarem trilhas por seu rosto.

“Eu te odeio, Ja’far!”

Aquelas palavras ecoavam sem parar em seus ouvidos, apesar de ele não conseguir acreditar de que aquilo tinha sido real. Sin jamais lhe diria algo assim, não é? Afinal, se amavam… não se amavam? Como poderia odiá-lo?

–--xxxx---

Marchava pelos corredores sem rumo. Com a expressão carrancuda que carregava, nenhum dos servos que o encontrasse tinha coragem de questionar o que havia acontecido com vossa majestade. Ele mesmo não via ninguém ao seu redor. Apenas queria sair dali, de perto dele... O que havia feito? Ja’far não merecia aquelas palavras tão duras. Na verdade o que mais queria era dar meia volta e ir pedir desculpas. Onde estava com a cabeça? Quando deixara seu emocional dominá-lo e de uma forma tão ruim?

Parou próximo a uma das sacadas, onde se apoiou, ofegante. Cobriu o rosto com as mãos e balançou a cabeça. O que estava fazendo? Não era assim.

Definitivamente ele não era uma pessoa assim.

Será que havia se conscientizado da besteira que fizera?

Sinbad virou para trás e descobriu o rosto para fitar Hinahoho para, em seguida, evitar encará-lo. Não tinha coragem. Sentia-se envergonhado. O robusto homem não fraquejou. Continuou a fuzilá-lo com seu olhar, cruzando os braços para intimidar mais seu rei. Ele, além de qualquer um ali, estava mais do que farto daquela situação.

– Vá se desculpar com o Ja’far! - Hinahoho ordenou firmemente, independente de ser subordinado ou não de Sinbad.

Tsc, preciso ficar sozinho. - o moreno desconversou, farfalhando os próprios fios púrpura.

– Se continuar desse jeito, você realmente vai ficar sozinho, Sinbad! - ele foi categórico. - Duvido que Ja’far queira continuar ao seu lado se continuar se mostrando uma pessoa arrogante e estúpida! Você não é assim! O que está acontecendo?!

Ao ouvir o questionamento de Hinahoho, Sinbad mordiscou o lábio inferior. Cabisbaixo, balançou a cabeça, recostando-se na mureta da sacada.

Como responderia algo que também não sabia?

– Está magoando muito o Ja’far. Acha que uma hora ele não vai cansar?

Aquela pergunta fez o coração de Sinbad falhar uma batida. Arregalou os olhos dourados alarmado com o levantamento daquela possibilidade.

– Acha que porque é rei de Sindria, ele não pode cansar e ir embora um dia?!

– Ele disse que ficaria sempre comigo… - ele reuniu forças para sussurrar: - até o fim…

– Cuidado porque esse fim pode estar bem próximo. - Hinahoho foi impiedoso. - E por sua culpa!

Não. Aqueles que o seguiam, em especial seus generais, o seguiam porque o amavam. Eram uma família. Ja’far e ele costumavam discutir tanto em relação a trabalho, por que ele o abandonaria? Era só mais uma briguinha, não?

Não. Definitivamente não era só mais uma briguinha.

Havia feito coisas horríveis e dito coisas piores ainda para aquele que dedicara sua vida a trabalhar ao seu lado. Aquele que fizera Sinbad redescobrir o amor.

– Abra seus olhos, Sinbad! Eu não sei o que está acontecendo, mas…

– Eu beijei a Hakuei! Melhor, a Arba, Hina.

Sinbad subitamente interrompeu seu amigo e fez aquele desabafo. Precisava por aquilo para fora. Sentia que ia sufocar se não expusesse aquilo. Expôs entre lágrimas aquele verdadeiro lamento.

Os olhos azuis de Hinahoho cresceram. Não poderia acreditar no que estava ouvindo.

– Não sei o que aconteceu, me lembrei da Serendine… Quase me entreguei a ela. Me sinto um monstro perto do Ja’far agora! No entanto, quando o vejo sinto raiva, algo que não sei explicar!

– Sinbad… - Hinahoho contorceu o rosto um tanto quanto preocupado ao ver a angústia na expressão de seu rei. - Oe, não é alguma magia daquela bruxa?

– Não, Hina! Eu quis beijar ela! Eu… eu senti vontade de beijá-la e o fiz!

– Sin?

Os dois se surpreenderam ao ouvir aquela voz. Hinahoho virou para trás e Sinbad se alarmou ao ver o albino ali, a parte superior de seu uniforme cobrindo os ombros por cima da blusa branca de linho. Ja’far tremia, não sabia se devido à debilidade ou à aflição que sentia ao ouvir aquela declaração terrível. Seu mundo girava. O rei de Sindria, por sua vez, se perguntava o que faria. Ja’far descobrira da pior forma seu pecado.

– Ja… Ja’far! - Sinbad gaguejou. - Eu… eu posso explicar…

– Então é isso…

Pela segunda vez, Ja’far queria voltar no tempo. Para antes de quando Sinbad disse que lhe odiava e para antes do momento em que decidiu sair atrás dele. Preferia ser enganado, vendado pela mentira. A realidade era extremamente cruel a ponto de não querer tê-la conhecido.

Estava mais pálido que o normal. Cerrou os punhos com o pouco de força que tinha, pois seu corpo e sua alma se encontravam extremamente fracos.

Sinbad havia beijado Hakuei. Hakuei não, Arba. A bruxa que haviam colocado dentro de seu próprio lar havia seduzido aquele que há tantos anos era seu grande amor. Agora tudo fazia sentido. Os maltratos, a prisão…

– Você quem mandou que ela fosse me matar, não é?

– Tsc, do que está falando, Ja’far? - Sinbad estalou a língua, revoltado com a tão grave acusação.

– Era um plano de vocês para me tirar do caminho, certo? - Ja’far prosseguiu, a voz trêmula se perdendo entre soluços.

– É claro que não!

Sinbad desviou de seu amigo e se aproximou daquele que mal parecia reconhecê-lo. A decepção parecia ter aberto um imenso vale que separava os dois. Os olhos verdes marejados refletiam o rosto daquele que fora capaz de lhe trair.

Dando dois passos para trás, Ja’far sentiu as mãos do moreno segurarem seus ombros.

– Confie em mim, Ja’far! Jamais faria mal a você!

– Eu já entendi tudo, Sin…

– Não, você não entendeu. - Sinbad contestou. - Aliás, não era nem para estar fora da cama, Ja’far. - ele suspirou.

– Eu entendi tudo, Sin. - Ja’far se apoiou no corpo do mais alto, por mais que quisesse tirá-lo da sua frente. - Você está tendo um caso com a Arba.

– Não! Eu justamente não sei o que me levou a fazer isso, Ja’far! Por favor! - o moreno capturou as maçãs do rosto do albino. - Eu não amo a Arba! Eu amo você! Fiquei confuso, não sei o que aconteceu que acabei a beijando… Lembrei da Serendine...

O rei tentava, exaustivamente, explicar de todas as formas de que era tão vítima quanto seu ex-conselheiro, mas parecia que Ja’far não ouvia mais nenhuma explicação. Ele tinha certeza, agora tudo se encaixava. Só podia ser uma maldição daquela…

– SINBAD-SAMA!

As esmeraldas encontraram Ren Hakuei. A moça vinha apressada, parecendo já estar há algum tempo à procura de Sinbad, esse que não tentou disfarçar a irritabilidade que sentia ao ver a mulher.

– Ficou de jantar comigo. Estava preocupada já que não apar...

Rápido demais. Hakuei só pôde ver a lâmina que vinha rapidamente na direção de seu rosto. O reflexo de desviar foi imediato, não era nem um pouco difícil para a grande Arba fazer aquilo, mas aquele rapaz, tão petulante, havia criado a situação perfeita. Saiu do centro daquele alvo, mas se permitindo ser atingida de raspão no rosto.

– Aaaaahh! - um grito agudo ecoou pelo corredor.

Sinbad e Hinahoho estavam simplesmente atônitos ao seguirem aquela linha escarlate e chegarem até Ja’far. O albino tinha as linhas amarradas no braço saudável e um sorriso sarcástico em seu rosto. Ofegante devido ao esforço que não devia estar fazendo, sentiu seus joelhos baterem ao chão.

– Ja’far!

Devia repreendê-lo, mas estava preocupado demais com ele. Sinbad agachou-se para amparar aquele que ria com malícia.

– Q-que aconteceu?

A primeira princesa de Kou estava apoiada à parede, a mão livre tocando com as pontas dos dedos o filete de sangue que o ferimento causara. Hinahoho fora a seu socorro, preocupado.

– Piranha, você que está… destruindo tudo aqui! - Ja’far ria em meio as arfadas.

– Ja’far, você… - Sinbad segurou a mão do alvo.

– Me solte, Sin! - ordenou, rapidamente o fitando para voltar a encará-la. - Desfaça a magia que está deixando o Sin assim, ou juro que a mato!

Sinbad arregalou os olhos. Aquilo estava indo longe demais. Não podia dar a entender que sabia que Ren Hakuei, na verdade, era Arba. Mas Ja’far parecia determinado.

– Magia? - ela questionava com os olhos marejados. - Eu… não sei do que está falando! Não sei porque me odeia tanto, Ja’far-san! - ela chorava de forma teatral.

– Por favor, Hina, leve a Hakuei-sama para que cuidem desse ferimento! - Sinbad não estava com paciência para lidar com aquela ardilosa mulher.

– Não! - Ja’far se apoiou no moreno para se levantar. - Eu vou matá-la, Sin! Ela está destruindo nosso lar e… a gente!

– Sinbad-sama, o Ja’far-san está louco!

– LOUCA É VOCÊ, SUA BRUXA! CANSEI DE VOCÊ BRINCANDO COM…

– Ja’far, chega, por favor! - Sinbad interrompeu os gritos do albino. - Acalme-se!

A princesa, amparada por um aflito Hinahoho, que não sabia se prosseguia se desculpando com ela, ou se envolvia naquela nova briga que começava entre os dois, apenas sorriu por baixo da manga do kimono rosado.

Mostre a esse seu empregadinho nojento o que você quer de verdade, Sinbad…

Sinbad franziu o cenho sentindo a cabeça latejar. Não tinha tempo de se preocupar com aquilo, afinal, tinha de conter Ja’far.

– SE ME IMPEDIR, SIGNIFICA QUE QUER ELA, NÃO É? É VERDADE, NÃO É?!

As acusações de seu ex-conselheiro pareciam pequenas centelhas que estavam prestes a dar início a um fogaréu.

– Já disse que não tem nada a ver! Você precisa se acalmar, Ja’far!

– Diga a verdade! Sei que não presta mesmo! NUNCA PRESTOU! - Ja’far estava fora de si ainda pelo fato do beijo somado a Sinbad a defender. - SABE O QUE É? É QUE NA VERDADE O QUE QUER MESMO É VIVER COM ESSA VAGABUNDA!

Era a gota d’água.

Ren Hakuei, por sua vez, não conseguiu esconder o sorriso.

Ela sabia muito bem o que estava por vir quando os cinco dedos de Sinbad estapearam o rosto de Ja’far. Os olhos verdes perderam o foco. Estava em choque ao se ver algo daquele violência.

Sinbad, por sua vez, permaneceu ali, com os dedos entreabertos vendo a vermelhidão que começava a surgir no rosto do atônito Ja’far. O que tinha feito?
JA’FAR!

O rei subitamente o abraçou de forma firme para que ele não tentasse se soltar, mas Ja’far nada fez. Apenas sentia o rosto arder. Apenas tentava assimilar tudo o que estava acontecendo. Aquela bruxa… era culpa dela. Ela estava lhe matando junto com o amor que Sinbad sentia por ele.

– ME DESCULPA! POR FAVOR! EU NÃO SEI PORQUE FIZ ISSO!

A satisfação daquela mulher era evidente, até mesmo descarada. Como era fácil manipular Sinbad. Pensava que teria tanta dificuldade. Só podia contemplar, orgulhosa, o circo que havia formado.

– JA’FAR, ME PERDOA!

Não havia resposta. Não havia força para dizer nada.

Sinbad segurou as maçãs do rosto do albino e o forçou a encará-lo.

– Por favor… - ele suplicou.

Mas ele não esperava ser arrancado de Ja’far da forma tão agressiva que foi. Aquela mão que era anormalmente gigante capturou a barra de suas vestes e o empurrou violentamente contra a parede. Engoliu seco ao ver os olhos azuis que faiscavam, tamanha raiva que Hinahoho sentia.

– O QUE PENSA QUE FEZ?! DIZ QUE O JA’FAR ESTÁ FORA DE SI, MAS QUEM EU VEJO AQUI TENDO ATITUDES COMPLETAMENTE INSANAS É VOCÊ! PERDEU O JUÍZO DE VEZ?!

Ele não tinha papas na língua. Sem rodeios, Hinahoho inquiria Sinbad, que não sabia o que responder, sentindo-se incapaz de controlar suas próprias atitudes. O que estava fazendo? Era o que mais se perguntava. Mas não tinha o que dizer para ele, não havia desculpas, não havia palavras que pudessem explicar o porquê de ter agredido Ja’far.

Permanecendo ajoelhado no chão, os olhos marejados desfocados seguiam na direção da mulher que ria sem pudor. Hinahoho e Sinbad estavam preocupados demais em sua discussão para vê-la forjar melancolia naquele sorriso de orelha a orelha.

Caminhou em direção ao albino que não reagiu. Ficou no mesmo lugar, os braços caídos nas laterais do corpo. Será que ela o mataria? Em seu âmago, ansiava por aquilo, afinal… Sinbad o odiava a ponto de fazer o que tinha feito.

Que fizesse logo, desejou.

Sentia o corpo debilitado a reclamar alto não só pela agitação, mas pela aflição, pela dor tanto física quanto a de seu coração. Via a bruxa se aproximar cada vez mais, passo a passo, enquanto seu mundo foi tomado pela escuridão.

– JA’FAR!

Sinbad se alarmou ao ver o corpo de seu ex-conselheiro ir ao chão. A aflição lhe trouxe forças capazes de sobrepujar a do homem tão forte, nativo de Immuchakk. Afastou-o para se aproximar do alvo, tomando-o em seus braços.

– Oe, Ja’far! JA’FAR!

–--xxxx---

– Ja’far-sama não devia se esforçar. Não podia ter saído da cama ainda.
Sinbad ouvia as palavras de um dos jovens médicos da corte que terminava de examinar o rapaz que trouxera de volta ao quarto às pressas. Assentiu com os ombros caídos.

A culpa lhe corroía a cada segundo ao ver Ja’far de volta àquela cama. A respiração curta e ofegante dele demonstrava o quanto seu sono era inquieto. A brancura típica do rosto foi tomada por um tom avermelhado mais forte do que a sequela deixada pelo tapa que recebera.

O rei lutou para permanecer naquele quarto frente a um Hinahoho que, indignado, não queria permitir que seu rei ficasse próximo mais do albino, independente de desafiar ou não sua majestade.

– Ele ainda vai demorar a acordar? - o moreno questionou.

– Ele está bastante debilitado. Não devia ter febre, mas creio que seja pelo esforço que fez estando tão ferido… - ele concluiu.

Ou porque tinha sido vítima de um rei estúpido… - Sinbad pensava consigo mesmo. Suspirou pesado.

– Mas não se preocupe. - prosseguiu o rapaz notando a apreensão do rei de Sindria. - É melhor que o Ja’far-sama não acorde por ora. Vai ajudar na recuperação dele. O próprio corpo está obrigando ele a descansar, afinal, está sempre tão dedicado ao trabalho!

Ele sorria, nitidamente em admiração e respeito a Ja’far. Eram aqueles sentimentos que seu ex-conselheiro despertava nas pessoas. Mesmo tão rígido em seu trabalho, Ja’far era extremamente querido. Como pudera ter feito aquilo com ele?

– Levantou-se e fitou de canto o albino ainda adormecido.

– Cuide do Ja’far, por favor. E… não deixe que ninguém além dos generais venha vê-lo, ok? - ele temia por Arba após tudo o que Ja’far fizera.

Foi tudo o que Sinbad disse antes de se dirigir à porta dos seus próprios aposentos e sair.

Recostou-se na porta e suspirou. O melhor a fazer era ir dormir, precisava descansar, mas como conseguiria dormir com tantas coisas em mente? O rei sabia muito bem do que ele precisava.

Seguiu até sua sala, agradecendo pelo fato dos corredores, em sua maioria, estarem vazios devido ao horário. Já passava das onze quando chegou passava pela mesa de Ja’far, na sala a qual antecedia a sua. Àquela hora, provavelmente estaria ainda trabalhando enquanto Sinbad estaria o convencendo a ir para a cama. Ja’far se negaria a ir, mas depois de uma, duas carícias e alguns beijos, Sinbad facilmente o levaria para seu quarto.

Mas não. Naquela noite tudo estava tudo vazio. Os candelabros apagados, a pena depositada dentro do tinteiro enquanto pergaminhos se acumulavam sobre a mesa que era sempre tão bem arrumada.

Evitou encarar mais aquele lugar e prosseguiu a sua sala.

Poucos candelabros acesos eram o suficiente para que chegasse até sua mesa e abrir uma gaveta na qual guardava algumas garrafas de vinho. Assim que levou a mão para buscar uma das bebidas, ele travou. Lembrava-se de como Ja’far odiava que bebesse. De como reclamava.

– Mais uma vez vou fazer algo que você odeia… Me perdoa...

Tirando uma das garrafas de lá, sem dificuldades a abriu. Não vendo a necessidade de usar a taça que tinha sobre a mesa, ele tomou de uma vez um longo gole direto da garrafa. Sentia o gosto amargo rasgar sua garganta, mas não se importou. Apenas tomou mais fôlego e bebeu mais. Era disso que ele precisava: beber. Era a única forma viável de esquecer como estava se sentindo sujo. Queria desinfetar seus lábios que haviam tocado nos daquela mulher.

Todos estavam certos. Desde que receberam Arba em Sindria, não haviam tido mais paz. Como poderia ignorar tudo o que passara junto com Ja’far e até mesmo… acusá-lo de algo tão grave. Afinal, quando pensou que tudo estava perdido, que sua vida não tinha mais o menor sentido após a morte de Serendine, Ja’far o fez redescobrir o amor. E mesmo assim jamais fora capaz de assumi-lo em tantos anos juntos.

– Tsc, eu sou um monstro, Ja’far...

Sinbad farfalhava os cabelos com a mão livre, enquanto que a outra equilibrava a garrafa que já chegava ao seu fim. A bebida já começava a fazer efeito.

Bateu forte com o punho fechado sobre a mesa antes de pegar mais uma garrafa, essa que foi mais difícil de abrir, afinal, o rei já não estava muito certo de seus atos. A rolha escapou uma, duas, três vezes de sua mão e arrancou risadas dele mesmo em sua confusão. Assim que conseguiu, novamente levou o gargalo até a sua boca, deixando boa parte do líquido escorrer por seus lábios, manchando suas vestes alvas sobre as mais escuras.

– Mas… mas eu vou me desculpaaaar com você! Eu voooou! - o moreno jogou as pernas por cima da mesa, chutando alguns pergaminhos e um dos candelabros, felizmente, apagados ao chão. - Vamos viajar! SÓ VOCÊ E EU! - ele gritava como se falasse com o próprio Ja’far. - Como fazíamos antigamente, lembra? - perguntou. - E eu vou te comer em cada canto que formos e você vai me perdoar! E quando voltaaaarmos… eu prometo que vou trabalhar o dia tooodo! E você não vai mais reclamaaar e depois vou te comer de novoooo e de noooovo…

O rei parou por um instante, piscando e olhando ao redor. Onde estava Ja’far? Estava agora mesmo falando ali com ele. Droga! Devia ter saído para revisar algum documento, para variar ignorando sempre que falava da relação de ambos.

– JA’FAAAAAARRRRR!!!!

A visão turva fazia com que as luzes dos candelabros fizessem rastros de luz que dançavam de um lado para o outro. Trocava as pernas, sem soltar a garrafa que bebericava constantemente, apoiando-se ao batente da porta quando chegou à ante-sala.

– VOCÊ TÁ AÍ, NÉÉÉÉ??

– Estou, Sin…

A resposta fez Sinbad abrir um sorriso, o máximo que pôde, estando fora de si devido à bebedeira. Cambaleou até a mesa de onde vinha aquela voz onde estava seu amado. Sentado ali, trabalhando exaustivamente até altas horas da noite. Aquela imagem angelical que ele tinha prazer em corromper com sua luxúria. Deslizou a língua pelo lábio inferior já prevendo possuí-lo ali mesmo, como tantas vezes fizera. A adrenalina de poderem ser pegos misturada ao desejo de ter Ja’far em seus braços.

Já cheeega de trabaaalho por hoooje! - Sinbad ordenava varrendo com o braço os poucos objetos que havia sobre a mesa. - Agora vai cumprir as ordens do seeeu reeeei aqui. - ele ria batendo com a palma da mão na mesa.

– Mas eu tenho taaanto trabalho para fazer ainda, Sin…

– Eu não me importo!

Sinbad se esticou, debruçando-se na mesa agora completamente limpa e puxou o braço que acreditava ser Ja’far. Não houve a menor resistência quando abocanhou aqueles lábios. O corpo frágil rapidamente foi jogado sobre o mogno.

– Eu vou acabar com você hoje, Ja’far…

– Será um prazer, Sin...

A bruxa deslizou o indicador verticalmente pelos lábios do rei. Aquela que, aos olhos de Sinbad, era seu fiel conselheiro e amante, acabava de capturar Sinbad em seus braços como um passarinho que caíra numa tola armadilha.

Aquela noite mudaria para sempre a vida de ambos.


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Notas finais do capítulo

É, a situação saiu completamente do controle e eu espero - ter junto com Sin - as rédeas para por tudo no lugar ainda - ou não? XD
Lembrando, críticas, sugestões, puxões de orelha, tudo é sempre bem-vindo!



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