Um peso, duas medidas escrita por Miaka


Capítulo 15
Confronto II


Notas iniciais do capítulo

Apesar de soar estranho, o título Confronto II veio com base no primeiro confronto entre Arba x Ja'far, com esse nome - se não me engano o capítulo 4 (?). Enfim... momentos decisivos nessa novela mexicana! Muitissimo obrigada por todo o feedback essa semana, me senti muito feliz e tenho de responder mtas reviews! Obrigada mesmo por acompanharem até aqui, pessoal! Falta pouco!



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Por um breve momento que mais pareceu uma eternidade, Ja’far ficou a encarar aquele homem que sorria, os braços abertos a lhe receber.[1]

Como se seus pés estivessem congelados no assoalho, não conseguia dar um passo sequer. Tremia como uma criança assustada diante daquele com quem costumava ter tanta intimidade. O temor de que, naqueles poucos meses em que estavam distantes algo havia mudado, falava mais forte.

Foi quando seus pensamentos foram interrompidos pela gargalhada do moreno.

Ja’far piscou, confuso, ao ver Sinbad se apoiar com a mão livre no batente da porta, os fios púrpura bagunçados cobrindo seu rosto. Então notou a garrafa de vinho que ele tinha em uma das mãos, já quase no fim.

Tomou fôlego como se quisesse buscar forças antes de falar algo, buscando coragem para dar o primeiro passo quando seu rei ergueu o rosto e o encarou.

— Chegou mais cedo hoje, Ja’far?

— Hm?

O alvo arqueou uma sobrancelha. Sinbad não parecia surpreso de encontrá-lo ali, inclusive parecia estar a sua espera já.

— Geralmente só apaaaaaarece quando estou indo pra terceira… - o moreno sacudiu a garrafa em mãos. - Deeeeeeeessa vez mal cheguei na metade da segunda e já tááááá aqui…

Pela forma como Sinbad prolongava a fala, Ja’far podia concluir tudo.

Se ver seu rei tomado pelo àlcool já lhe incomodava normalmente, vê-lo assumir que estava se entregando à bebida diariamente, lhe tiraria do sério. Mas não era hora para aquilo.

Caminhou firmemente, a expressão séria trazendo receio até mesmo a Sinbad.

Enquanto seus punhos fechados coçavam na ânsia de estapeá-lo e reclamar, chorar, tudo o que Ja’far pôde fazer foi abraçá-lo firmemente.

— J-Ja’far… - Sinbad gaguejou, confuso ao ver o mais baixo envolver seu corpo com os braços e afundar o rosto em seu peito. - O que...

Não pôde responder nada.

A única coisa que queria era ficar ali, sentindo o perfume daquele homem misturado ao cheiro do álcool. Como sentira sua falta! Como pensava que jamais estaria novamente naqueles braços fortes, tão quentes que, aos poucos, iam lhe envolvendo de forma tão delicada.

Era como se quisesse se esquecer de qualquer problema, de qualquer coisa que tivesse os afastado. Agarrava-se ao corpo de seu rei como se jamais pudesse soltá-lo sentindo os dedos longos afundando por seus cabelos, trilhando a nuca de baixo para cima, causando arrepios dos quais Ja’far sentia tanta falta.

— Sin...

Ele ergueu o rosto para encará-lo. Soltou-o por um instante para segurar cada maçã de seu rosto e ver-se refletido nas gemas douradas que, ao encará-lo, acabaram transbordando.

— Eu errei tanto, Ja’far… - o rei declarou sem soltá-lo de seu abraço. - Eu te amo tanto! O que eu fiz com a minha vida? - digo… a nossa vida? - era nítido o quanto ele estava angustiado.

Ja’far piscou, um pouco em dúvida se Sinbad dizia aquilo com sinceridade, ou devido ao efeito do álcool. Mas ele conhecia muito bem aquele que tanto amava. Quando a bebida entrava, a verdade saia. - o ditado era certo.

— Nada do que aconteceu importa mais, Sin. - ele deslizava os polegares pela barba cerrada do moreno. - Eu vim para te libertar daquela bruxa…

— Não tem como, Ja’faaar… - ele prolongava as vogais ainda sob o efeito da bebida. Interrompeu seu parceiro, desolado com a própria situação. - Eu fui um estúpido! Bebi hoje como faço todos os dias agora pra te esquecer… - Sinbad pausou. - Não é irônico? - ele riu. - Bebo para te esquecer e você aparece na minha frente toda noite!

Engolindo a seco ao ouvir aquelas palavras, Ja’far se manteve firme. Precisava de muita sensatez naquele momento, mas o sentimento falava mais alto.

— Você quer me esquecer, Sin? - ele precisava se certificar.

— É tudo… tudo o que posso fazer… - o moreno se afastou sutilmente. - Em breve vou ser pai e… amanhããããã vou estar casado com aquela bruxa asquerosa! E tudo isso porque eu… não acreditei em você! Porque eu acreditava que estava tudo sob meu controle! Por causa do meu orgulho, como seeeempre!

— Sin…

Ja’far acompanhava os passos incertos de seu rei um tanto quanto receoso, cercando-o com medo de que naqueles tropeços ele fosse ao chão. Mas Sinbad conseguiu chegar até a cama onde se sentou e voltou a encará-lo.

— Me sinto um monstro! - confessou deixando as mãos penduradas entre os joelhos abertos. - Penso coisas horrorosas desejando que essa criança não nasça e que essa mulher morra! Como posso desejar isso a um filho meu? Ja’far, o que eu me tornei?!

Sinbad desabafava deixando seu ex-conselheiro completamente encurralado. Ele estava completamente entregue à frustração e ah, como Ja’far compreendia seus sentimentos! Como queria dizer que tudo ficaria bem… Mas não era verdade, não é? As coisas não estavam indo nada bem.

 Mas gostaria de acalmá-lo, de dizer que Sinbad podia se tranquilizar porque ele assassinaria a bruxa com ela aquela criança. Ele não teria que sentir culpa alguma, afinal, teria sido o trabalho do assassino sujo que fora seu conselheiro um dia.

— Se naquele dia em que me disse que não concordava com a vinda dessa mulher para cá eu tivesse ponderado, sido mais racional…

— Sin…

— Se eu tivesse acreditado em quem amo!

Os dois ficaram a se encarar. Não havia nada que um pudesse dizer para consolar o outro. Tudo o que podiam fazer era lamentar aquela tragédia que assolara suas vidas.

— Se eu… - Sinbad prosseguiu. - tivesse coragem de assumir meu amor por você...

Ja’far sentiu seu coração acelerar. Cerrou os punhos sem saber o que dizer, desviando as esmeraldas daquele que o encarava e se declarava da forma mais genuína.

— Desde que a Serendine morreu… - ele soluçava. - brinco com concubinas na sua frente, fazendo com que até mesmo se rebaixe a cuidar perfeitamente delas para mim. Vivendo uma mentira com medo do que vão dizer de mim… de nós… Sou um covarde, Ja’far! - Sinbad cobriu o rosto com as mãos, envergonhado ao se ver chorar copiosamente. - Eu nunca tive coragem de expor o quanto te amo! De me casar com você!

O alvo estava extremamente atordoado ao ouvir aquelas palavras. Casar? Isso era algo que jamais havia passado por sua cabeça, afinal, amava outro homem, aliás, um homem extremamente poderoso, com uma alta posição e que, obviamente, jamais assumiria ter um caso. Agora Sinbad estava ali falando se arrepender de não ter lhe proposto matrimônio, de não tê-lo assumido. Será que era isso que havia faltado em sua relação? Um compromisso…

— Eu nunca pensei que um dia seria tão infeliz… - Sinbad prosseguiu. - Pensava que ser rei, fazer meu povo feliz, tudo isso era o suficiente para me satisfazer, mas… mas tudo isso não vale nada sem você, Ja’far…

— Sin...

Ja’far caminhou até o moreno que não escondia suas lágrimas, chorava feito criança.

Seu coração doía. Não bastava vê-lo tão desleixado e nitidamente entregue? Subitamente Ja’far desejou não ser amado por Sinbad. Que amasse Ren Hakuei, ou melhor, Arba, mas que fosse feliz casado com ela, com seu filho…

 Ele concluía que o amor era algo realmente curioso.

 Era capaz de sacrificar seu sentimento pela felicidade dele? Sim…

— Eu… eu te prometo que vai ficar tudo bem… - ele tentava conter as próprias lágrimas quando capturou uma das mãos que Sinbad usava para esconder o rosto.

— Não tem como. - o rei de Sindria soluçava. - Eu te perdi, Ja’far… e me perdi também assim que percebi que não posso viver sem você! - os dedos entrelaçavam nos dele. - Eu te amo!

Não houve tempo para que Ja’far dissesse nada.

Além de sentir seu coração palpitar ao ouvir aquelas palavras que jamais esperou ouvir de Sinbad, sentiu seu pulso ser puxado com força. Acabou perdendo o equilíbrio, sendo aparado pelos braços fortes de seu rei, que agora estava deitado na cama com seu ex-conselheiro debruçado sobre si. O rosto tão branco foi tomado pelo rubor ao se ver tão próximo do de Sinbad. Era simplesmente inevitável…

Tomou a iniciativa e, suavemente, tocou seus lábios nos do moreno que não reagiu. Ficou a encarar Ja’far lhe beijando, mordiscando sua boca até que tivesse coragem de encaixá-la perfeitamente na dele para que sua língua sentisse seu sabor.

Admirado com o fato de Ja’far ter tomado a iniciativa, Sinbad se animou mais e cerrou os olhos para aprofundar aquele beijo enquanto que a perna do alvo, entre as suas, se atritava com suas partes íntimas. Era como se Ja’far estivesse nitidamente demonstrando o que queria, ainda mais quando não recuou no momento em que seu rei começou a desabotoar a blusa de linho branca que ele usava por baixo do uniforme de Sindria.

Ja’far, por sua vez, questionava-se o que estava fazendo. Apenas desejava aquele homem, apenas queria se esquecer de todos os desentendimentos e se ver possuído por Sinbad naquela cama. Aquela cama que só pertencia a ele e a Sin. Quando, normalmente, se entregaria assim ao mais puro desejo e à luxúria?

Sentia-se sujo ao pensar no que estava fazendo. Precisava de uma motivação.

Foi quando tateou pelos lençois a garrafa largada por Sinbad, pausando aquele beijo e carícias tão intensas apenas para levar o gargalo até os lábios e beber uma boa quantidade daquele vinho. Sim, era isso que usaria de incentivo, de combustível para não recuar. Para fazer jus ao que Sinbad precisava e consequentemente, lhe oferecia.

Voltou a beijá-lo de forma voraz, o líquido rubro escorrendo pelos lábios de ambos que compartilhavam agora do mesmo sabor. Estava decidido a se entregar da melhor forma que poderia quando subitamente sentiu os braços do moreno, que o segurava com tanta firmeza, amolecerem e deslizarem por seu corpo, caindo lateralmente sobre a cama.

— Hm? - ele se afastou, assustado. - Oe, Sin! - chamou lhe sacudindo.

Os olhos de seu rei estavam fechados e ele nitidamente roncava. Era claro, havia bebido muito mais do que deveria. Não era a primeira vez que algo assim acontecia.

Ja’far teve vontade de pegar seu household vessel e matar Sinbad ali mesmo, ainda mais quando sentiu aquele o volume rígido entre suas pernas.

Tsc, bêbado! Vai me deixar na vontade!

Ja’far saiu de cima de seu rei rapidamente, ajustando suas roupas que haviam ficado completamente desalinhadas, assim como seus cabelos. E ao se ver no espelho, parecia enxergar outra pessoa ao se lembrar do que estava fazendo há segundos atrás.

Respirou fundo e voltou a encarar Sinbad.

Parecia um anjo adormecido. Era impossível não deixar um sorriso escapar ao ver aquele rosto maduro que, quando descansava, lembrava do menino pelo qual se apaixonara.

Suspirou antes de se dirigir à cama e ajeitar o travesseiro sob a cabeça de seu amado e cobri-lo corretamente para que não sentisse frio durante o sono.

Talvez não fosse se lembrar do que tinha acontecido aquela noite e, certamente, seria melhor assim...

Afastou os fios púrpuras do rosto de Sinbad e, carinhosamente, beijou sua fronte.

— Eu juro que vamos voltar a ser felizes, Sin. Eu juro.

Saiu dali não antes de revirar uma das cômodas e levar consigo uma manta para se esconder, já que a que trouxera de Kou havia ficado na sala de reunião quando foi descoberto por Pipirika.

Assim que fechou as portas duplas dos aposentos de seu rei, olhou de um lado para o outro, certificando-se de que não havia ninguém ali. O mais prudente a fazer agora era ver como estava Yamuraiha e tentar fazer algo por ela…

Mas estava estranhando. Àquela hora da noite Arba não havia voltado para o quarto e descoberto o vestido rasgado? Imaginava que ela faria um tremendo escândalo ao encontrar seu feito. Devia se resguardar. Se ela ainda estivesse na prisão com Yamuraiha…

O melhor a fazer era se trancar em seus aposentos e pensar bem em como agiria no dia seguinte, afinal, os convidados da cerimônia de casamento de Sinbad e Hakuei deviam chegar no máximo pela manhã.

Pensando nisso, refletia se o melhor não era matar aquela bruxa enquanto ela dormia. Mas ao pensar que ela poderia esperar um filho de Sinbad, parecia perder qualquer determinação. Se houvesse um jeito, algum jeito…

Para sua surpresa, seu quarto estava com a porta entreaberta.

Adentrou despreocupadamente e fechou a porta atrás de si, permitindo-se suspirar em alívio ao ver que estava seguro ali. Descobriu os fios alvos e se virou para se dar conta de que não estava sozinho.

— AH! - ele pulou involuntariamente. - Que susto! - Ja’far levou uma mão ao centro do peito. - H-Hinahoho-san! Como...

Só então Ja’far notou que estava sendo descoberto por mais uma pessoa. O robusto homem tinha os braços cruzados e não parecia nem um pouco surpreso com sua aparição, como se já soubesse que estava ali.

— Pipirika o contou, não é? - ele desviou o olhar.

— Não, Ja’far. Por incrível que pareça, não foi ela. - ele coçou a nuca. - Você se encontrou com muitas pessoas hoje, não é?

— Eu… eu estava me escondendo…

— E posso saber por quê?

Azuis e verdes se encontraram. Ja’far sabia que se revelasse qualquer plano seu, Hinahoho seria contra. Primeiramente porque temeria pelo seu bem e além de tudo… Era óbvio, ninguém era a favor de matar a princesa de Kou, por mais que soubessem que, na verdade, ela era aquela bruxa.

— Eu tenho meus motivos. - ele repetiu a resposta inicial que deu a Pipirika.

— Não vá fazer uma besteira, Ja’far… - o mais velho aconselhou. - Já falou com Sinbad?

Ja’far desviou o olhar e contorceu os lábios.

— Estava bêbado.

— Desde que você foi embora ele anda assim. - explicou.

— E O QUE VOU FAZER?! - Ja’far explodiu. - É CULPA MINHA? QUER QUE EU ME SINTA CULPADO?! EU FUI PRATICAMENTE EXPULSO DA… - e notando como gritava, Ja’far cobriu os próprios lábios, ruborizando. - Me… me desculpe…

Hinahoho suspirou pesado, caminhando até o alvo para tocar seu ombro, antes de partir.

— Por uma vez só… Pense na sua felicidade e não apenas na dele.

Talvez o general jamais pudesse imaginar o peso que aquelas palavras que proferira teriam.

Ja’far permaneceu a encarar o chão. Hinahoho tinha razão. Devia pensar em sua felicidade, não? O homem tantas vezes mais alto que ele o deixou sozinho em seus aposentos sem dizer mais nada. Havia sido o suficiente.

— Obrigado, Hinahoho-san.

—------xxxxxxxx------

Os primeiros raios de sol da manhã iluminavam uma Sindria que acordava mais cedo… E o motivo para isso não eram os diversos preparativos e todo o trabalho de decoração para a cerimônia de casamento mais importantes daquele país, mas um grito que estridente ecoou por todo o palácio, chamando a atenção de todos que estavam ao redor.

 Mas assim que os serviçais mais próximos seguiram a fonte daquele brado, as portas dos aposentos de Ren Hakuei se abriram. A expressão furiosa de longe lembrava o sorriso sempre calmo, doce - e falso - que ela costumava portar. Em suas mãos trapos de seda, rendas e linhas se misturavam enquanto saia dali a marchar à procura de seu futuro marido.

Seguiu até a ala administrativa do palácio sendo observada por todos que encaravam assustados àquela cena. Lágrimas de ódio escorriam pelo rosto alvo da mulher, que escancarou a porta do escritório que antecedia o que pertencia ao rei daquele país.

Mal conseguiu dar o primeiro passo adentro quando o par de safiras encontrou aquele que estava sentado sobre a mesa que costumava ser sua, ao menos nos últimos meses. As pernas cruzadas e um sorriso cínico emolduravam o rosto vitorioso do alvo que a encarava.

— Procurando algo, piranha?

O que Ja’far fazia ali? Agora tudo fazia sentido…

De início pensou que o que acontecera a seu vestido tinha sido obra de alguma das criadas que costumava maltratar, mas não.

Mas era a hora de se manter racional. Era o momento ideal de fazer um dramalhão para Sinbad, abrir o berreiro e condenar de vez as atitudes de Ja’far. Mas ao mesmo tempo, sentia-se no limite.

Acreditava que, finalmente, após a partida a Kou, via-se livre dele, mas não. E pelo o que parecia, pela forma desafiadora que o ex-conselheiro a fitava, ele tinha algum plano.

E ela também tinha um. Era hora de dar um ponto final àquilo.

— O gato comeu a sua língua? Ou ela está doendo porque não aguenta nem  mesmo chupar o Sin direito? - Ja’far questionou, sem tirar aquele enorme sorriso do rosto.

— Ora, seu...

Arremessando aquele monte de trapos ao chão, a mulher cruzou os braços, furiosíssima. Mas tinha de ser prudente. Devia chegar ao outro lado daquela mesa, onde havia algo que deixara ali por questões de segurança.

— O que faz aqui? - ela tentou esconder as lágrimas, não queria parecer uma derrotada. - Cansou de ir brincar com meu irmãozinho?

— Irmãozinho? - Ja’far se levantou e deu dois passos à frente. - Ou seria seu filhinho? - ironizou.

Enquanto Ja’far andava ao seu redor, a bruxa gargalhou. Escondia o rosto com a longa manga rósea enquanto sua risada ecoava pelo amplo lugar. Satisfeita ao ver Ja’far se afastar de seu objetivo, foi a vez dela se recostar naquela mesa.

— É, tem razão. - ela continha o riso. - Meu filho de verdade, não é?

— Diferente dessa farsa que está fazendo com o Sin! - Ja’far completou, assumindo um tom mais sério.

Foi o suficiente para a mulher rir mais uma vez. Quase não conseguia recuperar o fôlego para começar a bater palmas. A atitude dela irritava Ja’far de uma forma que, provavelmente, ele não saberia descrever.

— Ah, Ja’far… Como suspeitava! Você realmente era a pedra no meu sapato nesse país de tolos, idiotas que vivem numa ilusão de felicidade que chega a dar pena fazer o que faço. - ela ria, Ja’far a encarando seriamente. - É óbvio que eu não vou dar um filho ao seu rei. E é uma pena porque, afinal, não é você que vai dar um, não é? Afinal, há quanto tempo vocês tentam?

A bruxa sabia muito bem como pisar na ferida. Ja’far estalou a língua, sentia as mãos coçarem para puxar seu household vessel e atacá-la sem dó. Ainda mais agora que se sentia tranquilo. Apesar da ofensa que lhe era feita, não havia alívio maior do que ouvir de que Sinbad não seria presenteado com um herdeiro que teria o mesmo sangue daquela miserável.

— E como esse país é infestado de tolos iludidos, Ja’far, seu rei - ela enfatizou - é o rei dos tolos! - a “princesa” ria. - Enganei a ele perfeitamente, enchendo-o de dúvidas e arrependimentos! Mas o mais tolo de todos foi você, Ja’far, que não suportou a minha mentira e partiu daqui, deixando tudo em minhas mãos!

— O quê?! - o alvo arqueou a sobrancelha.

— Isso mesmo… - ela aproveitou para dar a volta na mesa, deslizando as unhas bem feitas pelo mogno escuro. - Sinbad nunca foi para a cama comigo. Eu o enfeiticei, mas não foi o suficiente para que se rendesse a mim. Não fui capaz de destruir o relacionamento de vocês. Sabe quem o destruiu, Ja’far? Vocês mesmos.

Havia um misto de emoções em Ja’far. Alívio, indignação e, principalmente, arrependimento.

Era duro perceber que aquela mulher estava completamente correta.

Se Sinbad tivesse acreditado em suas palavras…

Se Ja’far tivesse cedido mais e compreendido Sinbad…

Como nunca perceberam o quão frágil era aquele relacionamento que julgavam, supostamente, sendo tão forte?

— Mas agora...

Os olhos esverdeados refletiram a lâmina da espada que a mulher tirava debaixo da mesa. Arregalaram-se ao vê-la girar aquela arma, com uma mão só, e com uma maestria sem par.

— … não tem mais volta, Ja’far. - ela deu a volta na mesa para encará-lo de frente. - Vou matá-lo aqui e agora! Assim você não irá sofrer vendo eu me tornar a rainha do país que nunca foi seu! Nossa história acaba aqui!


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Notas finais do capítulo

[1] Li isso três vezes, incluindo quando escrevi e só conseguia imaginar o Sin de folhinha.
Eu confesso que fiquei triste em decepcionar vocês que já esperavam a reconciliação agora! E eu estava LOUCA para revelar que o Sin e a bruxa nunca foram pra cama! A cada vez que eu via vocês xingando ele - como tbm faço - eu ficava com os dedos coçando pra dizer que o Sin foi canalha, mas nem tanto! HAHAHA! Espero que estejam gostando!



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