Um peso, duas medidas escrita por Miaka


Capítulo 13
Regresso


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Uffa, mais um capítulo e está sendo doloroso concluir essa fic que começou como uma ideia do nada e com o apoio de todos vocês que lêem, eu fui estimando mais e mais e me dedicando toda semana! ♥ Eu espero que na próxima fic sinja que estou planejando vocês estejam comigo novamente! Saber que vocês curtem o que escrevo é meu grande combustível para escrever! ^^



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 As letras bastante curvadas e delicadas desfocavam devido ao intenso tremular das mãos que seguravam aquele belíssimo convite.

— Minha irmã vai se casar com o Sinbad-dono! Que notícia maravilhosa!

 Extremamente emocionado, Hakuryuu declarava entre lágrimas que ele não conseguia conter, o que tornava mais difícil para Aladdin, após saber de toda a verdade, de que a mulher que estava em Sindria não era Ren Hakuei e sim a odiosa mãe do jovem imperador.

 Ja’far, por sua vez, estava sem ação. Preocupava-se com o bem-estar de todos seus amigos e, claramente, de seu amado rei, mas um sentimento egoísta só podia fazê-lo sentir frustração ao receber aquele convite. Tudo estava bem em Sindria? - era a pergunta que ele se fazia dia e noite e agora tinha a resposta. Tudo estava ótimo em Sindria, ainda mais com os preparativos do casamento da primeira princesa de Kou com o rei Sinbad.

— Ja’far-dono? Algum problema?

 Os olhos esverdeados piscaram como se o ex-conselheiro de Sindria saísse de um transe. Encarou um preocupado Hakuryuu e, sem nada dizer, lhe entregou de volta aquele pergaminho. Sabia que se passasse um segundo a mais com aquilo em mãos, o destruiria naquele misto de fúria, confusão e, principalmente, decepção.

— Sente-se bem? Está tão pálido. - Hakuryuu analisou.

— S-sim… - o alvo respondeu sem ao menos ouvir o que havia sido questionado.

— Ah, já sei! Ja’far-dono deve estar preocupado em não estar lá para ajudar a preparar tudo para a cerimônia, não é? - presumia o jovem. - Não se preocupe. Vamos o mais rápido o possível para Sindria!

 Ja’far apenas assentiu, completamente desorientado, antes de dar meia-volta e praticamente marchar para longe dali.

— Ja’far-dono?

— Não se preocupe, Hakuryuu-oniisan! - Aladdin foi mais rápido, impedindo que o jovem o seguisse. - Vou ver o que aconteceu com o Ja’far-oniisan!

 Seguiu apressadamente para seus aposentos. Tanta coisa passava por sua cabeça. E se Sinbad estivesse realmente feliz com aquela bruxa? Talvez crer que seu rei estivava sob algum enfeitiço fosse um mero álibi para acalmar seu coração, para convencer a si mesmo de que aquele sentimento tão forte que havia entre eles não havia morrido.

— DROGA!

 Tomado pela raiva, Ja’far lançou-se à cama e a esmurrou com força. Sentia vontade de gritar, quebrar tudo o que tivesse ali, mas não queria fazer um alvoroço.

— É realmente estranho ver uma pessoa tão calma como você assim, Ja’far-oniisan.

 Ainda de bruços se virou para trás, surpreso ao ouvir a melodiosa voz do garoto que sorria de forma melancólica diante da evidente angústia de Ja’far.

— A-Aladdin-kun!

 Ja’far tentou se recompor rapidamente, sutilmente secando os cantos dos olhos que foram incapazes de conter algumas lágrimas.

— Não precisa esconder o que está sentindo de mim. - ele desviou o olhar. - Entendo que queira poupar o Hakuryuu-oniisan. Pobre coitado! - suspirou. - Quando souber que não é a Hakuei-oneesan que está com o Sinbad-ojiisan

— Eu preciso ir para Sindria, Aladdin-kun! - Ja’far se levantou. - Justamente para evitar mais problemas! Preciso impedir esse casamento!

 Aladdin permaneceu em um enigmático silêncio que incomodou Ja’far. Mais do que nunca, ele precisava de um apoio. Então, após ponderar um pouco, o magi decidiu falar.

— Não tem medo de chegar em Sindria e ver as coisas piores do que quando você fugiu de lá?

 Aquela pergunta colocava Ja’far contra a parede.

 Ele mordeu o lábio inferior, pensativo.

— O meu maior erro foi ter fugido. - sussurrou. - Seja o que for que está acontecendo lá, preciso encarar de frente!

— E se o Sinbad-ojiisan realmente querer se unir à Hak…. digo, à Arba? - Aladdin o interrompeu.

— Então eu vou lutar pelo amor dele. Eu vou… provar que mereço ser amado por ele! - Ja’far disse extremamente determinado.

 Aladdin sorriu, animado pela forte convicção que via em Ja’far.

— Mas eu irei com você, Ja’far-oniisan.

— Hm? - ele arqueou uma sobrancelha. - Não precisa! Fique aqui cuidando de tudo com o Hakuryuu-kun.

— Não posso deixar que vá sozinho enfrentar aquela bruxa! Mesmo que aja da maneira correta, não sei o que a Arba pode fazer para tirá-lo do caminho dela e… Isso é um assunto meu. Eu preciso fazer com que as maldades dessa mulher cheguem ao fim!

 Ja’far ficou a encará-lo por um tempo antes de se pronunciar.

— Eu prometo que irei me cuidar. Por favor, conte comigo.

 Aladdin ficara angustiado. O alvo permanecia a recusar sua ajuda e o magi sabia mais do que ninguém que não havia como Ja’far enfrentar aquela mulher.

 Prometo que não me excederei e irei apenas até onde é seguro! Por ora fique aqui protegendo o Hakuryuu-kun e Kou. Eu odiaria que chegasse lá e o Sin, do jeito que está, fizesse algo contra você. - explicou.

— Ja’far-oniisan

— Pela nossa amizade, Aladdin-kun.

 Ele estava jogando baixo. Não havia saída para o magi a não ser suspirar e assentir.

— Partirei hoje mesmo. - Ja’far anunciou. - Mas por favor, não faça anúncios. Não quero que ninguém em Sindria saiba.

— Ja’far-oniisan… - a preocupação nos olhos azuis era evidente.

 O alvo se aproximou e, sem cerimônias, abraçou o garoto, que nada entendeu. Afastou-se em seguida para encará-lo.

— Muito obrigado pelo tempo que passei aqui, Aladdin-kun. Estava muito magoado com tantas coisas ruins e passar esse tempo com você, o Hakuryuu-kun, realmente foi algo muito bom! Obrigado por me receberem tão bem!

— Não teria como ser diferente com o Ja’far-oniisan. - o magi sorriu abertamente. - Cuide-se, por favor.

— Conte comigo.

 

—---------xxxxxxxxx---------

Passava das sete quando cruzou os corredores da área de convivência do palácio. Muitos já haviam se retirado de seu serviço, afinal, a noite de Sindria combinava com festejos e bebida - mas há muito não se via nada parecido. Em especial o rei daquele país, aquele que conduzia inúmeras festas e era o último a sair delas, era o primeiro que estava a caminho de seus aposentos. Por mais que se afundasse no trabalho pesado, algo que nunca havia feito, os dias demoravam muito mais do que o normal para passar. Sem Ja’far ao seu lado, fugindo daquela bruxa com quem se casaria em poucas semanas, Sinbad sentia-se perdido. A liberdade que sempre fora sua companheira para viajar todo o mundo e conquistá-lo lhe fora tirada de uma maneira extremamente cruel. Aquela mulher havia se tornado uma âncora pesada demais graças aos seus erros irreparáveis. Não podia suportar a ideia de que teria um filho daquela bruxa. Era um castigo divino, ele tinha certeza. E refletindo sobre isso, parecia que todos os esforços de sua vida, realizações e conquistas haviam sido em vão.

 Fechou a porta atrás de si e suspirou, como se tentasse retirar o imenso peso que sentia em seus ombros. Inútil. Todo dia ele tinha de acordar e ver o outro lado de sua cama vazio, aquele que futuramente seria ocupado por Arba. Como sentia falta de Ja’far. Como sentia vontade de abandonar tudo, ir atrás dele e fugir. Faria de tudo para voltar àqueles tempos em que era feliz por tê-lo consigo.

 Lembrava-se daquela manhã e não conseguia conceber tudo aquilo que estava acontecendo em sua vida.

 As portas de seu escritório se abriram e atraíram sua atenção, por mais indiferente que tentasse parecer ao notar quem adentrava portando aquele sorrisinho cínico. Pipirika, que estava de pé ao lado de seu rei e acabara de trazer novos contratos para o mesmo, rosnou ao ver a moça ali.

— Espero não estar incomodando!

 Ele não respondeu, voltando a encarar os pergaminhos abertos sobre sua mesa, nem meso notando que, atrás da princesa de Kou, adentravam o ambiente duas servas que carregavam com dificuldade uma grande caixa.

— Vim falar do nosso casamento.

 Novamente Hakuei não recebeu nenhuma resposta, mas não se irritou por tão pouco. Ela estava com algo muito mais interessante ali para rebater a indiferença e frieza com a qual Sinbad lhe tratava desde que descobrira sua "suposta gravidez".

— Acho que pode cancelar as costureiras que iam fazer meu vestido! Eu disse que queria algo bem típico de Sindria, maaaas… acho que podemos economizar com isso.

— Pode adiantar esses documentos para mim, Pipirika? - ele permanecia a ignorá-la.

— Sim, majestade. Agora mesmo.

— Pode me fazer um favor e me trazer um chá? Minha cabeça começou a doer do nada.

— Claro! - Pipirika sorriu. - Com licença, já volto.

 A mulher bastante alta recolheu alguns pergaminhos e deu meia-volta, o nariz empinado ao passar por aquela que jamais aceitaria como sua rainha.

 Hakuei, melhor, Arba apenas riu com desdém daquela que considerava uma mera criada.

— Está ocupado? Posso ir mais tarde em seus aposentos e podemos conversar melhor… - ela tentou se insinuar.

— Não. - Sinbad depositou a pena no tinteiro, recostando-se na cadeira para encará-la seriamente. - Estou ocupado, mas prefiro tratar desses assuntos agora. Mais tarde quero descansar. - ele pausou. - Porém, já disse que não precisa de economias. O que quiser que seja feito, será feito.

— Mas é que… - ela corou. - faço questão de que acate meu pedido.

 O momento mais esperado pela bruxa chegou. Ela se virou de costas e retirou a tampa da caixa de veludo azul marinho para retirar de lá um belíssimo vestido de noiva. Enorme, rodado e repleto de rendas e provavelmente o mais lindo que Sinbad já tinha visto… no corpo da noiva mais linda também.

 Os olhos dourados cresceram, a pele bronzeada empalideceu.

 Nada diferente do que a moça já esperava, em especial quando, pincelando-o pelas extremidades, o moldou por cima do seu corpo, como se o vestisse.

— Não é lindo?! Não acha que ficarei linda nele?!

 Sinbad subitamente se levantou tomado pela raiva, marchando em direção à mulher.

 Ela deu um passo para trás, ainda forjando inocência ao ter aquela veste em mãos.

— DE ONDE TIROU ISSO?! - o moreno vociferou.

— E-estava num quarto com algumas coisas antigas! Eu estava mexendo e…

— VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE TOCAR NESSE VESTIDO!

 E sem medir agressividade, o rei de Sindria arrancou a belíssima peça das mãos da princesa de Kou.

— Eu sei que é da sua ex-noiva, mas… eu pensei que ficaria feliz em me ver usando ele também! Eu vou fazê-lo feliz tanto quanto ela, Sinbad-sama! - ela escondia o riso.

— Cala a boca! Você nunca chegará aos pés dela! Já chega! Irei me casar com você, mas não sou obrigado a aguentar suas tiranias! Será rainha desse país! Não é suficiente? Por que está procurando me perturbar mais e mais?! Quer me enlouquecer?!

— S-Sinbad-sama!!!!

 Era difícil para a bruxa esconder a gargalhada que tinha de conter para forjar aquela expressão chorosa ao ouvir palavras tão duras de seu futuro marido.

— Eu a desonrei, então estou cumprindo meu papel de pai assumindo esse filho e me casando com você! Não é o suficiente ter estragado a minha vida!?
Ele estava no limite. Estava cansado de ter de se submeter àquela mulher e sofrer suas provocações constantemente.

 As criadas, por sua vez, estavam chocadas, mas ao mesmo tempo prendiam o riso ao ver aquela odiosa mulher ser humilhada. Aquilo não passou impune à perspicaz Arba.

— Tudo o que fiz foi tentar lhe dar amor, Sinbad-sama! Mas até quando vai se remoer por seu relacionamento com o Ja’far-san?!

 As mulheres arregalaram os olhos, assim como Sinbad. Praticamente todos entendiam o que havia entre o ex-conselheiro e seu rei, mas como os respeitavam muito e eles jamais assumiram o romance, aquilo era um assunto proibido e até mesmo escondido.

— D-do que está falando? - o moreno corou, como lhe faltava sempre coragem.

— Eu estou tentando lhe tirar de um relacionamento proibido e… - a morena abraçou a si mesmo. - nojento! - completou.

 Era a gota d’água.

— SAIA DAQUI! NÃO OUSE FALAR UMA PALAVRA SOBRE O JA’FAR! CHEGA!

— Você não o ama, Sinbad-sama! Ama a mim, mas está cego! - ela rebeteu.

— JÁ MANDEI SAIR DAQUI!

— P-por favor, Hakuei-sama!

 Uma das servas intervinha, receosa após ouvir os gritos de seu rei, sempre tão calmo e doce. Era a primeira vez que o viam levantar a voz daquela forma. Um sentimento de pena e resignação era o que sobrava da corte e do povo diante da situação dolorosa de seu governante.

— Vai se arrepender muito ainda do que está fazendo, Sinbad-sama!

— ISSO É UMA AMEAÇA? - Sinbad não deixou barato.

 Azuis e dourados ficaram a se encarar, nenhum deles hesitando e sim desafiando um ao outro.

— Entenda como quiser!

 Foram as últimas palavras da mulher antes que se retirasse.

— VAGABUNDA!

 Sinbad farfalhava os fios púrpura. Como sentia vontade de sair com um navio e ir buscar Ja’far em Kou. Fugir de tudo… Fugir. Não, não era assim que era. Sabia que Ja’far jamais o perdoaria, ele mesmo - ainda mais por ele sempre temer que Sinbad terminasse em uma situação parecida. Mas como se livraria dela, ainda mais carregando uma criança inocente agora? Quanto mais pensava, mais notava que não tinha saída. O que restava era tentar lidar o melhor possível com aquela bruxa insuportável se quisesse ter um pouco de paz em sua vida.

—---------xxxxxxxxx---------

 Uma semana se passou e Ja’far se via coberto por um capuz que, além de protegê-lo do forte sol do qual havia desacostumado naqueles poucos meses em Kou, escondia sua identidade. Sendo um país turístico, a população não estranhava muito a presença de alguém assim. Poderia ser um visitante estrangeiro com uma cultura diferente para cobrir todo o corpo.

 Faltava menos de uma semana para o casamento do rei Sinbad e da princesa Hakuei e todos pareciam bastante animados com aquela festividade que se aproximava - após um período de intensa quietude no reino. E, claro, era um assunto que estava na boca de todos.

— Finalmente! Pensei que não teríamos herdeiros do nosso rei! - um transeunte comentava.

— Ora, nosso rei é exigente! Estava à espera de uma moça que fosse uma esposa à altura de um homem como ele. - a mulher ao lado comentava com um risinho.

— E não é por nada, com todo respeito à vossa majestade, mas a futura rainha é uma belíssima dama!

 Ja’far suspirou disfarçando próximo à uma barraca de frutas. Voltou a cobrir o rosto e seguiu seu caminho. Se aquela bruxa já havia conquistado até o povo de Sindria… Sentia calafrios só de pensar o que poderia estar acontecendo no palácio. Aliás, era com isso que tinha que se preocupar agora. Se não queria ser identificado ou notado, como entraria no palácio? Tinha de pensar.

 Encarou a imponente e bela construção um tanto quanto melancólico. Quando foi que aquele lugar deixou de ser aquilo que reconhecia como lar?

 Uma mão grande e pesada tocou em seu ombro. Seu imediato reflexo era puxar seu household vessel e atacar quem fosse, mas precisava agir friamente.

— Posso ajudar? Está perdido?

 Aquela voz…

 Ja’far se virou para trás, menos receoso, para encarar o ruivo que era bem mais alto do que ele.

 “Masrur…” - chamou mentalmente.

— Na-não, obrigado.

 Certificando-se de que abafava sua voz com aquele grosso tecido cor-de-terra, Ja’far respondeu tentando desviar dos olhos escarlate do fanalis.

— Precisa de ajuda para entrar no palácio?

 Um tanto quanto atônito ao ver que Masrur oferecia exatamente o que ele queria, o alvo, inconscientemente, o encarou. Não era do feitio do general ser tão falante daquela forma.

— Não se preocupe, eu… eu estou apenas…

— Não complique mais as coisas, Ja’far-san. - o ruivo o interrompeu num sussurro quase inaudível.

 Sentindo um arrepio cruzar sua espinha, Ja’far suspirou desolado. Seu disfarce tinha sido tão falho assim?

— C-como soube que era eu? - o ex-conselheiro perguntou cabisbaixo e puxando a parte do capuz que cobria seus lábios para revelar as sardas em seu rosto.

— Esqueceu-se de que sou um fanalis? Sinto seu cheiro.

 Ja’far riu em desmazelo, mas ao mesmo tempo admirado.

— É, acho que subestimo demais nossos generais. - comentou.

— Por que não avisou que estava voltando, Ja’far-san? E… por que está se escondendo assim? - Masrur indagou.

— Eu… tenho meus motivos, Masrur… - ele desviou as esmeraldas. - Me desculpe, mas pode me ajudar? Eu estou aqui para ajudar o Sin!

— Ja’far-san...

 O alvo se curvou como se implorasse pela confiança do fanalis que permanecia em silêncio. Talvez, depois de tantos desentendimentos e aquela absurda tentativa de matar Sinbad, Masrur não fosse mais capaz de confiar nele - e com razão, pensou Ja’far.

 Aquela certeza se concretizou quando, ainda encarando o chão, viu a sombra do ruivo dar meia-volta. Reergueu-se para ver as costas largas do robusto rapaz. Como suspeitava, Masrur não o ajudaria. Certamente poderia acreditar que estava desequilibrado como Sinbad havia dado a entender e que poderia até mesmo voltar a tentar matar seu rei…

— Não vem?

 Ja’far piscou ao ouvir as palavras do fanalis. Masrur o ajudaria então?

— Masrur! - ele cerrou os punhos e voltou a se curvar, mesmo que o ruivo não o visse naquele momento, estando de costas. - Muito obrigado!

 Seguiram até o palácio praticamente em silêncio. Masrur já era, por natureza, bastante calado, mas era nítido que estava acontecendo algo muito estranho e ao cruzarem os portões, onde o general apenas passou na companhia daquele “forasteiro” sem dar a menor satisfação, já podia sentir a diferença de ambiente que havia ali. Parecia que quem vivia atrás dos muros do palácio de Sindria sabia muito bem o quanto aquele matrimônio não era algo benéfico, tão diferente de sua demais população. O clima era de bastante trabalho, como sempre, porém as pessoas não pareciam tão felizes como costumavam ser antes, daquele jeito que Ja’far sabia muito bem que só existia em Sindria e graças a Sinbad.

 Mas a série de estranhezas que ele encontraria estava apenas começando…

Oe, Masrur!!!!

 Um emburrado Sharrkan surgia marchando acompanhado da sempre sorridente Pisti.

 Ja’far ajeitou melhor o capuz e tentou esconder algumas mechas brancas que tentavam escapar e suspendeu o tecido que cobria seu rosto até um pouco acima do nariz para ocultar as sardas tão características dele.

— Algum problema, senpai? - o fanalis estranhou.

— Você saiu bem na hora em que prometeu me ajudar com toda aquela papelada! - o moreno cruzou os braços para demonstrar o quão chateado estava. - Onde foi a essa hora?

— Fui fazer a ronda que faço todo dia pelas ruas. - ele foi direto.

— Que os guardas façam isso! - Sharrkan explodia. - Desde que o Ja’far-san foi embora e aquela mulherzinha de quinta se declarou conselheira não fazendo droga nenhuma, o trabalho ficou todo para nós! E não bastava o Ja’far-san abandonar o barco, a bruxa velha também evaporou daqui!

 Ja’far arqueou uma sobrancelha. Sabia muito bem como Sharrkan costumava apelidar Yamuraiha e se tinha algo que havia o deixado inquieto era não ter notado a presença da barreira da maga quando adentrou o território de Sindria.

— Me… me desculpe, senpai.

— Ah, não ligue para ele, Masrur! Todos sabem que o Sharrkan-san está com dor de cotovelo desde que a Yamu-san foi embora!

 Como Yamuraiha tinha ido embora? Ja’far não conseguia esconder a aflição ao ouvir aquilo.

— Eu não tenho saudade de quem foi embora sem nem se despedir! Sumiu! Espero que o navio dela para Magnostadt tenha naufragado! Aquela idiota!!!!

 Era impossível não notar o quanto Sharrkan estava afetado por aquilo, choroso ao falar da partida de Yamuraiha que… segundo eles havia ido embora sem se despedir?

— Ela não despediu nem da majestade! Você acha que se despediria de um bobo como você? - Pisti ria provocativa.

— Ora, sua…

 A loirinha correu para fugir de um furioso Sharrkan, dando meia-volta naquele homem encapuzado, escondendo-se atrás dele para então arregalar os olhos rosados de forma curiosa.

— Ei, ei, Masrur-san, quem é esse seu novo amigo?

Hm?

 Ja’far notou que o fanalis não saberia o que responder e também já havia abusado demais da benevolência de Masrur. Rapidamente abaixou a cabeça para se curvar sutilmente.

— Muito prazer, sou um estudante que veio de Parthevia. Estava perdido e o Masrur-san me ajudou, me conduzindo até aqui.

 Uma breve troca de olhares entre eles era o suficiente para que o ruivo agisse de acordo com a trama do ex-conselheiro.

— Ah, sim! Nossa, Parthevia é frio assim para você andar todo coberto? Não está com calor? - Pisti indagou curiosa, chegando a puxar de leve o capuz que ocultava Ja’far.

— Na-não, é que sou bastante sensível ao calor! - o alvo rapidamente puxou de volta o longo manto. - Se me dão licença, vou me apresentar. Já estou atrasado!

 Temeroso, Ja’far rapidamente se curvou e correu na direção do jardim interior, sendo assistido pelos três, que se entreolharam com um sorriso de canto. Era óbvio demais que haviam reconhecido seu amigo.

— Definitivamente agora as coisas vão mudar. - Pisti estava animada.

— Não sei se fico contente com a volta do Ja’far-san e com a determinação dele em tirar nosso rei das garras daquela bruxa, ou fico extremamente preocupado… - Sharrkan comentou angustiado.

—---------xxxxxxxxx---------

 Ja’far seguia apressado pelos corredores internos. Estava imensamente grato a Masrur, mas definitivamente, não queria envolver ninguém naquela trama. Ele tinha de ser rápido e fazer as coisas de seu jeito. Envolver seus demais amigos só traria mais problemas a eles e isso era o que Ja’far mais gostaria de evitar. Estava aflito. O que havia acontecido com Yamuraiha? Por que sentia um mau pressentimento? Conhecia muito bem a maga, ela não partiria sem razão alguma, sendo tão fiel e leal aos seus amigos e em especial a Sinbad. Algo estava muito estranho.

 Seguiu pelas escadarias e chegou até os corredores dos aposentos de hóspedes. Pelos comentários dos generais, era óbvio que aquela bruxa não estava trabalhando e sua hipótese estava mais que correta…

 A porta dos aposentos que Ren Hakuei ocupava estava entreaberta e Ja’far já podia ouvir aquela voz irritante a ralhar com as servas. 

— Não vê que está me atrapalhando? Ajuste isso direito!

 Olhou por entre a fresta e viu a moça trajando um belíssimo vestido rodado, nitidamente feito dos mais caros tecidos e adornado com pérolas e rendas. Diante de um espelho ela se ajeitava com o auxílio de três servas.
Não está muito bom, mas tudo bem! Agora saiam daqui de uma vez para eu me trocar!

 Ja’far rapidamente se escondeu do lado oposto da porta ao ouvir os passos daquelas que saiam assustadas, afinal, desde que o noivado entre Sinbad e ela fora anunciado, diversos servos tinham sido dispensados, se desagradavam a futura rainha. Um tanto quanto nauseado pela atitude arrogante daquela bruxa, Ja’far permaneceu a observá-la, vendo-a se despir com o sorriso mais cínico em seu rosto. O belo corpo era asqueroso aos olhos do ex-conselheiro. Era o momento perfeito, a distração ideal. Não se preocupava em ser covarde e atacá-la pelas costas. Tudo o que lhe importava era findar a vida daquela bruxa. Daquela que havia lhe tirado sua paz, seus amigos, seu país, seu amor… Por Sinbad e, por que não, pelo sentimento egoísta que nutria ele, estava pronto a acabar com a vida de Arba ali mesmo.

— Falta bem pouco...

 A lâmina deslizou por baixo do manto e ele a agarrou com a firmeza costumeira, pronto para um rápido assassinato.

 Voltaria a ser o assassino indigno e sujo pelo bem de Sinbad.

 Pelo seu bem.

 Pelo bem de todos.

— Adeus, Arba!


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Notas finais do capítulo

Eeeee é hora do Ja'far agir. Mas será ele capaz de matar a bruxa ali? Muito obrigada por lerem e acompanharem, pessoal!!!



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