Um peso, duas medidas escrita por Miaka


Capítulo 1
Abandono


Notas iniciais do capítulo

Depois de muito planejamento, eu não sabia como começar a fic quando, do nada, tudo surgiu na minha cabeça e pá! Espero que gostem e mandem sugestões, criticas, sempre são muito bem-vindas, pessoal! ^^



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– NÃO! NÃO, NÃO E NÃO!

A voz do sempre tão calmo e silencioso braço-direito e general de Sindria ecoou pela sala de reunião.

Sendo alvo de pares de olhos arregalados que estranhavam o rompante daquele que se levantou e espalmou a mesa redonda na qual se reuníam, Ja’far ofegava. Seus dedos sutilmente iam se fechando e, inconscientemente, amassando os pergaminhos abertos sobre aquela superfície, reflexo da intensa raiva que surgira após o último anúncio feito por seu rei na reunião daquela manhã.

Sinbad, que tinha seus dedos cruzados sob seu queixo, soltou um longo suspiro e desviou o olhar, mas todos esperavam que ele dissesse algo após aquela reação tão abrupta de seu mais fiel general e amigo.

– E quais seriam as razões para que não fizéssemos isso, Ja’far?

– Tsc, - ele estalou a língua e encarou furioso seu rei. - será que enlouqueceu de vez?! - cuspiu o albino. - Está me dizendo que vai pôr aquela vagabunda debaixo do nosso teto?! No nosso lar?!

– Ja’far, meça seu palavreado! - Sinbad o repreendeu, aliás, por algo que jamais precisava fazê-lo. Ja’far era extremamente cordial. Mas o que tinha diante dele agora era aquele molequinho de vinte anos atrás que xingava, falava pelos cotovelos e matava como ninguém.

– E você meça suas atitudes e sua sanidade, Sinbad!
O fato de Ja’far não utilizar o costumeiro apelido que apenas ele e alguns mais íntimos usavam, trouxe uma nova onda de surpresa que fez os demais generais se entreolharem. Sinbad sentiu calafrios ao se ver chamado assim e encarado por olhos verdes tão furiosos.

– Parece que se esqueceu de tudo! - prosseguiu vociferando. - De tudo o que passamos para chegar até aqui! Para constituir esse país! Todos os nossos sacrifícios! Tudo o que perdemos! TUDO O QUE ELA LUTOU TANTO PARA QUE CHEGÁSSEMOS AQUI!

– JÁ CHEGA!

Sinbad interrompeu levantando-se ao ver o quão longe Ja’far chegara.

E diferente dos outros que não compreenderam muito bem do que falavam, Hinahoho, Drakon e Masrur abaixaram a cabeça, cientes de quem Ja’far falava. Aquela perda que ele nunca havia superado. Aquela que certamente era a motivação para tanto trabalho árduo, além do próprio Sinbad.

– O que estou fazendo é para o próprio bem de Sindria! Não ouse dizer que estou ferindo a lembrança dela! Temos capacidade de nos cuidar e o melhor a fazermos agora, infelizmente, é trazer nosso inimigo sim, para debaixo do nosso teto! Eu respeito que discorde, Ja’far, mas é uma decisão que cabe, unicamente, a mim!

Ja’far engoliu o choro que sempre surgia ao falar de Rurumu. Mais ainda ao ouvir as palavras severas de Sinbad.

– Então… então é assim? - ele questionou, a voz trêmula, um tanto quanto descrente de que estava sendo desautorizado na frente de todos daquela forma.

– Por favor, vocês dois, isso está saindo dos limites. - Hinahoho decidiu interferir vendo o clima pesado que se instaurara ali.

– Com certeza, Hinahoho! - Sinbad aproveitou para cruzar os braços. - Mais do que ninguém, A VOCÊ o Ja’far deve desculpas por ter usado de algo tão precioso nesta reunião! - enfatizou o moreno.

– Oe, Sinbad! Não foi isso que eu quis diz…

– Vossa majestade tem razão, Hinahoho-san. - Ja’far cerrava os punhos ao encarar o homem tão robusto. - Minhas sinceras desculpas. - o albino se curvou. - E peço desculpas também ao Sinbad-sama e aos demais generais e amigos que… presenciaram minha atitude egoísta e rude…

– Ja’far-san

Todos estavam simplesmente sem ação após toda aquela cena. De um lado Sinbad se mantinha inflexível, altivo e encarando um Ja’far cabisbaixo que decidira se resignar. As bochechas alvas estavam coradas pela vergonha. Mas, mais do que tudo, pela atitude de Sinbad e ao se lembrar da noite anterior…

x------x

Os gemidos e os rangidos da enorme cama do rei era tudo o que se podia ouvir naquele quarto. Do lado de fora, uma garoa fina e atípica para o clima tropical de Sindria, fazia tremer os corpos banhados de suor. Encaixado perfeitamente naquele corpo esculpido, Ja’far jogava a cabeça para o lado, dando espaço para que Sinbad abocanhasse a curva de seu pescoço. De olhos cerrados, delirava ao sentir aquele membro enorme dentro de si enquanto que as mãos grossas exploravam cada canto de seu corpo.

Intenso era a melhor palavra para descrever uma noite de amor com seu rei. Mais uma de tantas em que se entregava em seus braços. E estando prestes a darem seu passo crucial na guerra que Kouen declarara a Hakuryuu, toda aquela tensão precisava ser descarregada. Era uma necessidade de ambos se doarem um ao outro para que pudessem seguir em frente.

Ja’far afundava os dedos finos nos fios púrpura, porém, com a chegada daquela sensação incrível que só Sinbad podia lhe dar, ele transformava os longos cabelos de seu rei em rédeas que ele puxava assim que o orgasmo o atingira.

As pernas que cercavam a cintura de seu amado se fecharam no momento em que Sinbad também o agarrou com força, abraçando-o de forma que Ja’far não pudesse ao menos tentar se soltar. Foi quando o albino sentiu aquele líquido quente lhe invadir e, sem poder se segurar mais, também soltou o seu que banhou o peitoral de seu rei.

Gemeram em uníssono, extasiados, cravando suas unhas na pele um do outro como se quisessem deixar a marca daquela necessidade que tinham um do outro que havia sido saciada, ao menos temporariamente.

Terminaram aquele ato procurando um pelos lábios do outro, ambos ainda de olhos fechados, desfrutando da sensibilidade aguçada que aquele prazer os proporcionava.

E daqueles leves beijos trocados, escaparam gargalhadas quando encararam um ao outro.

– Você não tem jeito mesmo, não é? - sentado e ainda encaixado sobre o colo de Sinbad, Ja’far recostou a fronte na do moreno.

– Eu? E você que faz anos isso comigo e ainda fica sem graça quando terminamos? Aliás… até quando começamos.

– Na-não é verdade! - gaguejou Ja’far, corado.

– Está vendo? Está mais vermelho que um tomate. - Sinbad apontou.

– Bobo...

Ainda rindo, mas com um sorriso contente predominando, Ja’far saiu de cima de seu amado e se deitou na cama, cobrindo o corpo nu com um dos vários lençois de seda estampados.

Por mais que fazer amor com seu rei fosse um hábito, sempre recato, o albino costumava cobrir seu corpo.

Sentia-se exausto. Aquele dia havia sido extremamente longo, com a chegada da princesa Ren Hakuei a Sindria em meio àquela emergência.

E perspicaz como era, Sinbad não deixou de notar a preocupação estampada no rosto de Ja’far.

– Que cara preocupada é essa? - ele perguntou, afagando os fios brancos.

– N-nada… É que estamos aqui à vontade, enquanto… bem, enquanto aquela mulher está a solta pelo palácio.

– Ja’far, não podemos escoltá-la. Ela nem tem ideia de que sabemos quem ela é na verdade… E, fique tranquilo, ela não seria louca de fazer algo contra qualquer um de nós.

– Tsc, não sei. Por que ela pediria para irmos salvar o irmão, sendo que o Hakuryuu-kun foi matá-la, digo, matou Ren Gyokuen…

– É para isso que estamos mantendo ela do nosso lado… Ja’far…

Sinbad pausou. Estava receoso e o albino sentia aquilo em seu tom de voz, tamanha era sua conexão com seu rei.

Tantos anos convivendo lado a lado como parceiros, household vessel e rei, amigos e amantes, havia sido o suficiente para que formassem um elo único. Ja’far, que até então estava deitado de costas para o moreno, o encarou.

– Eu pretendo manter Ren Hakuei, digo… a Arba em Sindria.

– O QUÊ?!

Os olhos verdes se arregalaram e Ja’far se levantou de sobressalto.

– Está louco?! Como assim manter ela aqui? Devíamos era dar um jeito de…

– Ja’far, você sabe muito bem que não temos como matá-la. - Sinbad o interrompeu. - O melhor que podemos fazer é… se aproveitar da mente doentia dessa mulher e trazê-la para o nosso lado!

– Há! - Ja’far riu ironicamente. - Não é possível, Sin! Pensei que não tivesse passado de meia-taça essa noite. Onde está a garrafa que entornou? Porque não é possível que esteja sóbrio falando essas asneiras! E mesmo que, ok, seja o mais sensato trazer essa vadia para Sindria para a vigiarmos, como faria isso? Hakuei-sama é uma princesa de Kou e com o Hakuryuu-kun sendo o atual imperador e irmão dela, ele deve querer ela do seu lado!

– Isso eu já resolvi. - Sinbad suspirou coçando a nuca.

Agora era a parte mais dificil.

– E como?

Mais uma pausa e aquilo dava calafrios em Ja’far. Verdes e dourados se encaravam. As esmeraldas ansiosas inquirindo as gemas de ouro hesitantes.

– Eu vou me casar com Ren Hakuei.

Um vão se abriu sob Ja’far.

Ele podia jurar que o mundo ao seu redor girou mais rápido do que ele podia acompanhar.

A pele alva, talvez impossível de ficar ainda mais branca, empalideceu de uma maneira que assustou até mesmo Sinbad.

Não era sério. Não podia ser sério! Sinbad ia se casar com Hakuei? Aquele mesmo homem que…

– Oe, Ja’far! - Sinbad segurou seus ombros e o encarou preocupado. - Está bem?

Ja’far piscou, parecendo ter saído daquele transe para imediatamente empurrar o moreno e se levantar da cama.

– Isso é brincadeira, não é?! - o albino tremia. - Me diz!
Ja’far, você mesmo já compreendeu que não temos como trazer a Hak… digo, a Arba para perto de nós para vigiarmos ela sem um motivo e o melhor que podemos fazer é tramar um compromisso. - Sinbad se levantava e o seguia.

– VOCÊ ACABA DE ME FODER E ME DIZ QUE VAI SE CASAR COM UMA VAGABUNDA PSICOPATA?! - Ja’far saíra de si. - E VOCÊ QUER QUE EU ACHE ISSO NORMAL? EU SOU UM MERO PASSATEMPO PRA VOCÊ?!

Sinbad suspirou. Ele esperava uma reação ruim, mas não tanto vindo de alguém que costumava ser tão sensato e centrado como seu subordinado mais fiel.

– Ja’Far, você sabe muito bem o que significa para mim! Sabe que eu me casar com essa mulher será a mesma coisa que nada! Um mero acordo políti…

– Um acordo político? Casar-se com ela? Dormir com ela? Ter filhos com ela? ISSO É TUDO POLÍTICA, SINBAD?!

– Ja’far!

O moreno capturou o pulso de um alterado Ja’far que gesticulava, simplesmente atordoado com aquelas palavras, com tudo o que estava acontecendo. Será que havia adormecido após fazerem amor? Era um pesadelo? Só podia ser. Por favor, tinha que ser um pesadelo - ele pedia mentalmente.

– Escuta, Ja’far!

– Me solta, Sin… - ele tremia, fraquejando sob o toque de seu rei.

– É por Sindria, Ja’far...

Ao ouvir aquelas palavras, que Sinbad julgava como um santo remédio para confortar o coração de Ja’far, ele só pôde rir ao mesmo tempo em que as lágrimas começaram a cair. Não podia mais contê-las. Não tinha como. Aquela realização de que não era nada para Sinbad era algo que ele não podia lidar. Anos de devoção, de trabalho, de dedicação e amor eram resumidos à nada.

– Você… você me dá nojo, Sin… - soluçou. - Deixe-me ir para os meus aposentos, por favor. - ele tentava se soltar, mas era inútil, sendo Sinbad bem mais forte que ele.

– Por favor, Ja’far, tente compreender! Você acha mesmo que quero me unir a uma louca dessas? Você sabe que… que faz tempo que eu desisti de me casar desde… aquele incidente anos atrás e que, desde lá só você existe para mim! Podemos superar isso juntos! Vamos continuar juntos e enfrentar isso!

– Eu imploro, Sin! Chega! - Ja’far exclamou aos prantos. - Chega de suas chantagens, de seus jogos psicológicos, de sua manipulação! Tudo é por Sindria! TUDO! Nada é pelo Ja’far e… eu sempre estou a mercê de suas atitudes… Sempre estou aqui para catar os ossos, para secar suas lágrimas, para cuidar de você… - ele tremia. - para ser fodido e largado como um nada na sua cama! Valho menos que uma concubina barata!

– Ja’far, não diga isso! Você não está entendendo! Nada entre nós vai mudar!

– Ah, e eu vou ser o amante do rei de Sindria? Já não basta vivermos essa merda de relação escondida, vendo você cercado de vagabundas em toda festinha para você provar sua masculinidade?! JÁ CHEGA, SIN! CHEGA!

E extremamente frustrado, Ja’far conseguiu se soltar de seu rei para então recolher suas vestes espalhadas pelo chão e, ainda enrolado naquele lençol, ser indagado por Sinbad.

– Aonde vai? Vamos dormir! Está exausto. Amanhã temos um dia cheio! Temos que organizar tudo para viajarmos para Balb...

A porta se fechou na cara do rei de Sindria, que suspirou pesado ao se ver solitário naquele quarto. O que estava fazendo, perguntava a si mesmo. Ja’far deveria concordar com ele, afinal, ambos queriam o bem daquele país que construiram com tanto trabalho e carinho, além do sacrifício de tantas pessoas amadas.

x------x

– Vou me retirar. Com licença. - anunciou Ja’far.

– Oe! Oe! - Sharrkan se levantou e foi até a porta, impedindo o albino de passar. - Ja’far-san, está tudo bem! Não tem que se martirizar pelo o que aconteceu! Você tem seus motivos e tudo, mas… não creio que a vossa majestade não queira sua presença na reunião! Está tudo bem! - ele tentava amenizar a situação. - Não é, majestade?

Sinbad voltou a se sentar e fitou sério Ja’far, que nem ao menos ousou encará-lo. Os demais não tinham nem coragem de se envolver, inclusive admiraram Sharrkan pela coragem de tentar argumentar naquele tremendo fogo cruzado entre os dois.

– Deixe que o Ja’far vá, Sharrkan! Não quero que ninguém permaneça contra sua vontade aqui! Nunca obriguei vocês a nada e não é agora que farei isso! Se Ja’far quer ir e não se sente à vontade com as minhas decisões, não posso impedi-lo!

Aquelas palavras severas fizeram o moreno se arrepender intensamente em ter se envolvido. Parecia ter piorado ainda mais as coisas.

– Tem toda razão, vossa majestade. - Ja’far levantou o rosto segurando as lágrimas. - Afinal, tudo o que faz é por Sindria, não é? - a mão trêmula foi até o topo de sua cabeça e agarrou o keffiyeh que carregava o brasão do país que tanto amava. - Pois então QUE SE FODA SINDRIA!

E ao pronunciar aquilo, Ja’far atirou o adorno esverdeado ao chão, cuspindo ali mesmo antes de começar a marchar até a porta. Os generais não sabiam o que fazer e estavam extremamente perturbados ao ver aquele que mais exibia zelo e carinho por aquele país pronunciar palavras tão agressivas e baixas daquela forma. Foi quando os passos de Ja’far foram interrompidos por um soco que Sinbad deu sobre aquela mesa.

– Quero que prendam o Ja’far agora! É uma ordem!


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Notas finais do capítulo

Pessoal, o que acharam? Gostaram? Odiaram? Por favor, mandem críticas, sugestões, tudo! ^^ Obrigada por terem lido e acompanharem a fic!